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Wednesday, May 16, 2018

Filme Closeness - Tesnota



 Uma garota oprimida por camadas de preconceitos.

Primeiro, por ser mulher.

Segundo, por ser pobre.

Terceiro, por saber que sua mãe prefere seu irmão à ela.

Quarto, por pertencer a uma minoria étnica (judia) numa cidade de maioria islâmica.

Quinto, por viver numa comunidade machista, patriarcal.

Sexto, por namorar, para absoluta desaprovação de todos, um rapaz da etnia Kabardiana (islâmica).

Este é o quadro de vida de Ilana em “Closeness”, filme de estreia de Kantemir Balagov premiado em Cannes em 2017 com o troféu FIPRESCI (Fédération Internationale de la Presse Cinématographique).

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Ilana (Darya Zhovner, uma atriz iluminada – me lembrou muito uma Sigorney Weaver novinha) é uma garota vivendo com sua família (os Koft), em situação precária em Nalchik, uma cidade deprimente no Cáucaso do Norte (Russia) em 1998.

Logo de cara fica evidente que Ilana é muito mais próxima de seu pai Avi (Artem Tsypin ) do que de sua mãe Adina (Olga Dragunova).

Tanto que é ela quem trabalha com o pai na oficina mecânica da família, ao invés do seu irmão David (Veniamin Katz).

Ilana tem espírito rebelde – usa o tempo todo uma jaqueta com a figura de um leão nas costas- e, neste seu papel de “filho homem” – o que significa aceitação e reconhecimento naquele lugar -, ela se afasta da feminilidade usando roupas e trejeitos masculinos; tanto que no início do filme fiquei confuso quanto ao sexo daquele “mecânico”.

Também ela namora Zalim (Nazir Zhukov) e só anda com rapazes Kabardianos – o que praticamente só significa se embriagar em muquifos de quinta – . Isto, é claro, bem longe dos olhos da família.

Numa noite de festa, para comemorar o noivado de David com Avi (Atrem Cipin), David e Avi são sequestrados por Kabardianos que pedem resgate em valor bem acima do que a família pode pagar.

Os Koft, sabendo que não contariam com a ajuda efetiva da polícia na busca do seu filho e da namorada, buscam apoio na comunidade judaica, somente para passar por humilhações e exploração (acabam vendendo a oficina por valor bem inferior para conseguir parte do resgate).

Na busca desesperada para conseguir o resto do dinheiro, Avi (o pai amoroso) e Adina (a mãe intolerante) acabam usando Ilana como “moeda de troca".

O que a filha é, o que ela quer e o que ela necessita é irrelevante.

Mas Ilana não se entrega e acaba manifestando sua rebeldia através da única coisa que é realmente sua.

(sem spoiler)

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Ilana é um personagem gigantesco e complexo.

Vamos da afeição ao asco diante das suas atitudes e ações surpreendentes.

Num verdadeiro embate silencioso com o universo ela é muitas.

Com o pai, busca afeição e amor.

Com o irmão, alterna momentos de raiva e absoluta ternura.

Com o namorado vai da agressão física à entrega emocional.

Já com a mãe, o buraco é mais embaixo.

Ciente de que Adina prefere David `a ela – além de expô-la à negação da sua felicidade -, Ilana é um verdadeiro turbilhão de emoções em relação à mãe.

Uma coisa tipo “entre tapas e beijos”, se bem que aqui a coisa tá mais pra “tapas”.

Tanto que a garota passa o filme todo buscando contato físico com o pai, com o namorado e com o irmão – até de forma agressiva em algumas situações – mas, em nenhum momento, chega perto da mãe.

A coisa é super punk e leva a um final ambíguo que impressiona.

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Aliás, “impressionante” é um termo menor para definir “Closeness”.

Eu fico mais para “Apavorante”

O filme tem uma sequência absurdamente chocante com cenas reais de soldados russos sendo torturados e mortos na guerra da Chechênia naquele que ficou conhecido como “Massacre de Dagestan" (https://en.wikipedia.org/wiki/Dagestan_massacre) .

Achei totalmente desnecessária e confesso que não tive estômago para assisti-la por completo.

Pena que este expediente sensacionalista tenha sido usado, pois , sem ele,  “Closeness” tem méritos suficientes para ser uma obra impactante e inesquecível.

 Super.

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