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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Friday, July 30, 2004

Anatomia de Michelangelo



A edição de Agosto (2004) da revista Aventuras na História traz uma reportagem que achei absurda de fantástica. Chama-se “Lição de Anatomia” e traz o seguinte cabeçalho : “Pesquisadores brasileiros acreditam ter desvendado um mistério de quase 500 anos, envolvendo uma das obras mais conhecidas de Michelangelo. Eles afirmam que os afrescos da Capela Sistina, no Vaticano, escondem partes do corpo humano dissecadas pelo mestre do renascimento”.

A teoria foi desenvolvida pelos pesquisadores Gilson Barreto e Marcelo de Oliveira (pesquisadores da Unicamp) e diz que Michelangelo escondeu nos afrescos verdadeiras lições de anatomia vinculadas a diversas simbologias.

Reproduzo abaixo algumas das aulas de anatomia do mestre.

Para quem quiser saber mais existe o livro “A Arte Secreta de Michelangelo”, de Gilson Barreto e Marcelo G. Oliveira., Arx, 2004-07-29



Wednesday, July 28, 2004

Lady Death



O jornal Zero Hora publicou nos últimos três dias uma seqüência de reportagens falando do caso de uma garota de Caxias que previu a própria morte em sonho. O que me chamou a atenção no caso, tirando o lado fantástico que alguns podem não acreditar, foi o fato de que ela, ao prever sua morte, assumiu um comportamento perturbado e angustiado. A que se deveria isto ? Ela estaria angustiada diante de que ? ...do sentimento de finitude ?...da falta de esperança ? .. da percepção da falta de um futuro ? ... do sentimento de separação dos entes queridos ?....

Semana passada assisti ao filme “Minha vida sem mim” que conta a história de uma garota que descobre ter um câncer incurável e tem somente mais dois meses de vida. Ela não conta isto a ninguém e decide aproveitar o resto do seu tempo para viver algumas experiências e tentar preparar um ambiente confortável para sua família continuar a viver sem ela. É um filme melancólico mas que aponta para uma esperança na continuidade após a separação inevitável.

Ontem li uma história do Sandman que mostrava uma mutante indestrutível (ao estilo X-Men) que buscava desesperadamente um meio de morrer e assim acabar com sua infelicidade absoluta. Para ela a morte significava a ausência de consciência, o esquecimento e o abandono.

Também me lembro de um livro da Lya Luft onde a personagem, uma garota, ao observar a avó morta no caixão, via no rosto da defunta uma sabedoria, um mistério que ela -a garota- só iria alcançar e decifrar quando estivesse na mesma situação.

Com certeza existem muitas outras possibilidades de encarar a “visita inevitável”, tais como visões científicas, pragmáticas, religiosas, filosóficas, naturais, místicas, mitológicas, etc.. ou então bem simplistas e diretas como disse Woody Allen : “.. não tenho medo da morte. Só não quero estar lá quando isto acontecer”

A figura abaixo reproduz a capa do LP (e depois CD) "Closer" do Joy Division; um disco fundamental.




Tuesday, July 27, 2004

Just ´cause you feel it...




Impressão e sentimento são a mesma coisa ? Têm o mesmo sentido ? Podemos dizer que a impressão é uma prévia do sentimento ? Onde termina um e começa o outro ? Creio que a princípio temos a convicção imediata para afirmar que o sentimento é verdadeiro e a impressão não. Mas isto é uma verdade absoluta ? A nossa necessidade de acreditar não pode fazer com que tomemos meras impressões por sentimentos verdadeiros ? Uma música do último CD do Radiohead (Hail to the thief ) me fez refletir muito sobre esta questão. A música chama-se “There, There” e diz, em determinado trecho “Just ‘cause you feel it, doesn’t mean it’s there…” , ou seja –em tradução livre- : “..só porque vc sente algo, não quer dizer que este algo exista...”.

Esta frase é muito interessante e pode ser aplicada em diversas situações na vida, tais como : amor, amizade, relacionamentos, casamento, profissão, coleguismo, atração, rejeição, gostar, não gostar, etc.

Quantas vezes aconteceu de pensarmos ter sentimentos concretos, bons ou ruins, em relação a alguma situação ou pessoa e depois descobrirmos que era tudo invenção ou impressão da nossa parte ? Ou então, pior, acharmos que alguma pessoa tem sentimentos concretos a nosso respeito, também bons ou ruins, e depois descobrirmos que era tudo criação da nossa mente ou da mente dela ?

Particularmente, em termos negativos, sei que tenho a capacidade de criar impressões mentais que me aprisionam e me fazem assumir sentimentos negativos em relação aos outros, muitas vezes sem que os mesmos saibam do que está acontecendo. Já passei por várias situações onde isto aconteceu e depois, quando a bomba estourou, o que se revelou era apenas a falta de diálogo que deixaram de acontecer nos momentos certos. Estas situações revelaram-se típicos casos de impressões que tornaram-se sentimentos concretos mas que não tinham valor ou fundamento algum. Por outro lado, também sei de situações onde causei impressões negativas que geraram um “não gosto dele” em várias pessoas - algumas carregaram este sentimento durante muito tempo e outras o carregam até hoje. Normal. Isto vai continuar a acontecer das duas maneiras com todo mundo. Mas é bom lembrar que “..just ‘cause you feel it, doesn’t mean it’s there…”

Monday, July 26, 2004

Calliope

Para iniciar este Blog escolhi publicar um pequeno trecho de uma história do Sandman, chamada Calliope. Já a tinha lido há muitos anos atrás quando toda a saga do Lorde dos Sonhos (Morpheus) foi publicada aqui no Brasil. Porém ao relê-la agora, num determinado trecho acabei refletindo sobre o processo e as motivações que levam ao desenvolvimento de um blog. Nesta história conhecemos Richard Madoc, um escritor que havia lançado um livro de sucesso no passado mas que agora está em profunda crise por falta de inspiração para iniciar um novo romance. Buscando superar este problema, ele então faz um trato com um velho escritor de sucesso, chamado Erasmus Fry, que, em troca de receber alguns objetos bizarros, lhe promete um presente que trará toda a inspiração da qual ele necessita. No início da história Madoc recebe, de um jovem admirador, um Triquinobezoar – algo que Fry havia pedido. O Triquinobezoar consiste de um bolo de fios de cabelos retirado do estômago de uma moça que sofria da Sindrome de Rapunzel (esta síndrome fazia com que ela chupasse e engolisse seus longos e belos fios de cabelos). Madoc recebe o Triquinobezoar e leva-o a Fry que fica maravilhado com o objeto e revela então qual é o presente prometido.

Este presente é nada mais nada menos do que a própria musa inspiradora Calliope, uma habitante do Olimpo que Fry havia capturado há 50 anos e que vinha mantendo cativa em sua casa. Durante todos estes anos de prisão Calliope foi obrigada, além de ser estuprada sistematicamente por Fry, a inspirá-lo com idéias para diversos romances que fizeram grande sucesso e lhe trouxeram toda a fama e fortuna que ele buscava. Porém agora, já no fim da vida, Fry não vê mais necessidade em manter a musa cativa e a entrega a Madoc.


Os quadrinhos reproduzidos aqui, mostram exatamente o momento no qual Fry entrega Calliope a Madoc e faz uma revelação.










Esta história apresenta duas questões que considero presentes, em maior ou menor escala, na mente de quem publica um blog : uma é a necessidade da busca de inspiração constante para a criação dos textos, e outra é saber até onde -em qual grau- podemos nos revelar através de um blog. Sem entrar na questão da inspiração - que é obviamente necessária para qualquer um que pense em criar textos periódicos -, acredito que o cuidado que temos em publicar somente aquilo que pode ser revelado sobre nós faz com que surja a tal mentira natural de todo escritor citada por Fry. Para mim, em termos de blog, esta mentira é conseqüência direta da necessidade que temos de nos apresentar aos outros como pessoas interessantes e cativantes; é nossa necessidade de sermos aceitos e queridos pelos outros. Esta necessidade de projetar uma imagem “do bem” faz com que desenvolvamos um processo de criação de uma persona publica (alter ego ?) simpática e agradável que, de certa forma, esconde nosso verdadeiro eu. Tudo aquilo que pode nos comprometer perante os outros - como confissões íntimas, angústias profundas, desejos secretos, necessidades emocionais e sexuais -, acabam ficando fora do perfil do “nosso ser” projetado na Internet. Eu não pretendo ser diferente neste blog. Por isto, o que se verá aqui é muito do que eu sou e do que penso, mas, com certeza, não estarei inteiramente representado.

Talvez volte a este assunto no futuro.