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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Monday, November 20, 2017

Lobão em Porto Alegre


Com uma péssima mediação do produtor musical Ticiano Paludo (que não abriu possibilidade para participação do público – apenas eu e mais outra pessoa tivemos oportunidade de fazer perguntas), Lobão falou ontem sobre seu livro “Guia Politicamente Incorreto dos anos 80 pelo rock”, no último dia da Feira do Livro em Porto Alegre.

Apedrejando sem só os medalhões da MPB (como Chico, Caetano, Gil, Marisa Monte e outros), Lobão mostrou que está aqui para incomodar e não para fazer o estilo baba ovo.

O cara é punk mesmo.

Particularmente não concordo com tudo o que ele fala – além de achá-lo tri egocêntrico - mas admito que ele é o único que não tem receio de mandar tudo à merda, mesmo que tenha que pagar alto preço por isto.

Monday, November 13, 2017

Teatro - Bernarda



Qual a possibilidade de misturar uma peça clássica e fortemente simbólica de Federico Garcia Lorca ("A Casa de Bernarda Alba" escrita em 1936), com músicas POP interpretadas pela Madonna e mais referências à serpente do Paraíso dar certo?

Pouquíssima é claro.

E isto se confirma ao vermos a montagem de “Bernarda” que esteve em cartaz até ontem no Teatro Renascença.

Não sei de onde a diretora Graça Nunes tirou que criar um imbróglio destes resultaria num prato apetitoso. O que é uma pena realmente pois a montagem está coberta de méritos, porém todos desconectados uns dos outros.

Vejamos :

A trilha musical é praticamente toda em cima de músicas que Madonna gravou. Isto é curioso uma vez que nem todas músicas apresentadas são composições dela, o que levanta a questão : qual a intenção da diretora ao utilizar tanto canções da Madonna como intérprete, como em “Fever” e “Bedtime Story”, quanto como compositora, como em “Like a Prayer”? Por exemplo, ao ouvirmos “Bedtime Story” devemos fazer uma referência à Madonna ou à Bjork? E o patético é que quem não conhece as letras em inglês não consegue de modo algum conectá-las à ação e fica tipo “que cantora foda!” - a extraordinária Gabrielle Fleck cantando e arrasando em cena-, e a coisa fica por isto mesmo. Isto sem dizer que cada uma das intervenções musicais quebra completamente o ritmo, a emoção da peça, gerando repetidos buracos e novos recomeços que são verdadeiros pé no saco.

Já a inserção de textos referentes a tentação da cobra sobre Eva no paraíso também soa desconectada, apesar da beleza da coreografia e da performance da Angela Spiazzi. O texto dito por ela realmente é muito bom, mas não cria liga nem com a música pop da Madonna nem com o texto do Lorca, soando mais como uma espécie de apêndice cravejado de “sedução ao pecado”.

O texto original - ou as partes que vimos aqui, uma vez que “Bernarda” traz excertos do original – é defendido por um grupo de atrizes excelentes. Quer dizer, quase todo o grupo, pois a performance de Aline Vargas é lamentável, tadinha. Muito me surpreende que as limitações da moça não tenham sido tratadas durante os ensaios a fim de não expô-la ao constrangimento estilo “vergonha alheia”. Mas as demais estão ótimas, com destaque absoluto para Rosangela de Britto (Bernarda), Elaine Segura (Poncia), Roberta Pochmann (Martírio) e Martina Fensterseifer (Adela). Infelizmente, mesmo que o grupo de atrizes guerreiras lute para manter a dignidade do texto fenomenal de Lorca, ele é constantemente agredido pelas invencionices “madônicas” e “serpênticas” nele injetadas.

 Que m...

Enfim, com toda esta dinâmica “interpenetrada”, o que temos pela frente são três ações correndo em paralelo todo o tempo: a Madonna cantando, a Serpente “tentando” e a Bernarda causando, o que cria um estranhamento e afastamento totais diante da ação. Repito : o que é uma pena, pois cada um destes elementos funciona muito bem se desfrutados separados uns dos outros (isto sem falar da belíssima encenação).

Resumindo, o que temos em “Bernarda” é uma tentativa de “reforçar”, de “empoderar”, de ressignificar o que já era naturalmente poderoso.

Porém á verdade é que o resultado é apenas uma trip megalomaníaca, cheia de intenções “causadoras” que resultou linda, porém pífia.