Hino do Blog - Clique para ouvir

Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Tuesday, November 22, 2005

Como estás ?

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“Como estás? “...


uma pergunta destas significa exatamente o que? Se ouvirmos esta indagação de alguém isto significa que o outro realmente está interessado em nós? Mostra que o outro está disposto a nos escutar, a nos ouvir, está aberto aos nossos comentários? Pelo que tenho observado, isto pode ser muito relativo.


Explico : conheço algumas pessoas que usam esta pequena pergunta no início de um encontro, no início de uma conversa apenas para, digamos, “quebrar o gelo”, apenas como um preâmbulo para criar um espaço que elas querem utilizar para compartilhar conosco um discurso que já têm programado.

Várias vezes passei por esta situação : o outro, chega e pergunta sobre sobre nossa situação –aparentemente interessado-, porém, à medida em que falamos sobre nossos assuntos, percebemos nele uma certa inquietação, um certo nervosismo que demonstra claramente sua impaciência para que acabemos logo com nossa lenga lenga e abramos a oportunidade para ele iniciar a sua. Ás vezes esta demonstração de urgência é tão explícita que o outro corta nossa fala com comentários desviantes demonstrando claramente que não está sintonizado na “conversa”.

Como agir numa situação destas? Conhecendo já como a ação ocorre em algumas pessoas, procuro responder com um rápido “tudo bem” e devolver a pergunta : “E tu como estás? “... Assim se abre o portal da alegria. A “deixa” é agarrada na hora e passamos a ouvir todo o discurso entalado na garganta alheia. Uso esta estratégia em vários momentos e se quero falar alguma coisa minha deixo o outro esgotar totalmente sua fala até ficar sem assunto; daí calmamente procuro iniciar o meu de forma mais tranquila.

Mas esta estratégia nem sempre funciona pois existem pessoas que realmente não conseguem ouvir e logo se lembram de outro assunto urgente que nos interessa muito.

Daí só o silêncio e a concordância podem ser nossas respostas.

Monday, November 14, 2005

Curtas MIX BRASIL

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O portal http://www.portacurtas.com.br está apresentando alguns curta-metragens do Festival da Diversidade Mix Brasil 2005 . São filmes que apresentam, nas mais diversas abordagens, questões da sexualidade. Comento abaixo alguns dos que vi (clique nos links para acesso aos curtas)

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Medo de quê?

Diretor : Reginaldo Bianco

Uma obra-prima. Animação pura, direta, simples que conta a história de um garoto que se descobre gay. O curta mostra os diversos conflitos pelos quais um gay passa até assumir sua identidade : problemas com a família, sexualidade, preconceitos, perda de amigos, descoberta da violência, resistência, dores, etc. Realmente vale a pena. Este filme deveria passar em horário nobre e ser adotado em todas as escolas do país. A mensagem final é belíssima.

Textículos de Mary e Outras Histórias
Diretora :Flávia da Rosa Borges

Justiça feita à única banda de punk-rock-homocore da história da MPB. Infelizmente o grupo já acabou mas fica este registro da sua trajetória, da sua arte verdadeiramente vibrante, transgressiva e chocante. A Texticulos nasceu, cresceu e morreu maldita. Dificil de gostar, esta banda agradou mais os rockeiros radicais do que a própria comunidade gay –diziam que vários gays ficaram chocados com as performances e letras explícita do grupo-. Eu, como fã, fiquei emocionado ao ver este filme. Obrigatório.

Mais sobre o Texticulos de Mary e sobre a Musica Gay Brasileira pode ser encontrado no link abaixo

Se você é o cara que flertava comigo no ponto de ônibus, veja esse filme

Diretor : Thiago Alcântara

Dois rapazes flertam um com outro numa parada de ônibus todos os dias mas não se falam. Um dia um deles não aparece mais e o outro, Bernardo, arrepende-se de não ter provocado um encontro. No desespero Bernardo parte para uma solução radical : escrever uma mensagem em notas de dinheiro juntamente com seu número de telefone na esperança de encontrar o tal rapaz da parada. Porém o que acontece é que, com a circulação das notas, várias pessoas acabam ligando para ele e deixando na sua secretária eletrônica os mais variados comentários e conselhos sobre sua busca. O final é genial.


Salete

Diretor : Camilo Cassoli

Na verdade uma entrevista com a Drag Salete Campari, uma paraibana que sonha em ganhar o Oscar da Academia de Hollywood. O curta mostra ela se preparando para um show enquanto recorda sua infância, seu fascínio em descobrir o mundo dos transformistas através da televisão, sua chegada a São Paulo, sua trajetória artística, relação com a família, etc. O curta tem um quê de inocência misturado com falta de noção que acaba fascinando. Acaba sendo curioso acreditar nos sonhos da Salete de conquistar o mundo. No final ela até improvisa um discurso de agradecimento para o momento em que receber o Oscar.

Outros :

Homofobia : bom. Meio pretensioso mas interessante.

Masturbação : muito bom. Rápido, rasteiro e eficaz.

Travecastein : engraçadinho. Um pouco acima da média

Sexo Explícito : bom. Técnica de stop-motion só com roupas.

Jogos : sem noção. Vai do curioso ao ridículo e acaba em nada (mas as cenas de lesbianismo são muito boas)

O Amor no Tempo da Cólera : sem noção dois. Um cara domina o outro e acabam transando. Nada vezes nada com resultado pífio.

15:35 for fun : absolutamente ridículo. Sexo explícito verdadeiro desprovido de sentido. Inacreditável que alguém faça um filme destes.

Monday, November 07, 2005

No meu tempo...

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“Um dos problemas de uma longa vida é perder a perspectiva de seus contemporâneos e começar a ver tudo em termos de história. Todos passam por isto, embora nem sempre a clareza deste dilema lhes ocorra. Ter vivido mais do que nossos contemporâneos nos coloca tão fora da turma como quando éramos a aluna nova no novo colégio, no terrível e crucial pátio de recreio. Não contamos mais o tempo no ritmo que queremos, mas no do que lembramos, prefaciando cada lembrança com o fatal “no meu tempo...”, como se o tempo fosse de alguém e como se fosse mais seu então do que agora”.

Com este parágrafo suscinto e verdadeiro a excelente jornalista Ana Maria Bahiana inicia a resenha do novo disco de Paul McCartney (Chaos and creation in the backyard) publicada no último número da revista Bizz.

Conforme ela afirma, realmente esta questão (perder o link com o contemporâneo) é um processo pelo qual todos passamos com maior ou menor consciência. A medida em que avançamos na idade surgem outros interesses, outras necessidades, outras responsabilidades que, muitas vezes, vão nos afastando ou transformando muitas das motivações das nossa vida.

Isto está errado? É um problema?

Penso que a questão, a discussão se faz em cima do quanto isto nos incomoda.

O SAUDOSISTA

Para muitos de nós pode ser tranquilo, natural, assumir um comportamento saudosista com o qual nos identificamos. Deste modo podemos passar a adotar comentários do tipo “no meu tempo...” ou “na minha época..”. Particularmente não acho errado isto, nem um pouco. O que apenas me incomoda é quando este tipo de fala é acrescida de “.. é que era bom...”, ou seja, completando : “... no meu tempo é que era bom..”. Não concordo com este tipo de frase de maneira alguma; me soa pretensiosa, superior. Acho um desrespeito com as novas gerações.

O INCOMODADO

Por outro lado, para muitos outros esta perda de link com o contemporâneo pode incomodar. Pode trazer a sensação, conforme descrita pela Ana, de estar num colégio novo como aluna nova que não sabe como se encaixar numa turma que vive num universo com regras, jogos, falas e comportamentos diferentes. Esta é a sensação de parecer anacrônico, fora de moda, ultrapassado....antigo ou velho enfim. Acredito que este grupo de pessoas sofre mais pois sente realmente o crescer da distância, da separação.

O RENOVADO

Poderíamos dizer que existe uma terceiro universo de pessoas mantem o interesse no que está rolando, nas novidades. Procuram se informar, se atualizar. Tentam acompanhar o ritmo e a dinâmica dos acontecimentos, das idéias. Tudo isto independentemente de querer provar alguma coisa, de querer parecer “moderno” ou “atual”. A motivação aqui é manter a mente aberta à novidade, ao aprendizado, ao conhecimento. Mas este também é um processo difícil pois requer uma constante renovação, um constante repensar, um constante rever conceitos. Requer a prática de um exercício árduo de difícil realização; muitas vezes de luta com a própria acomodação da mente....E não é todo mundo que está disposto a praticá-lo.

Thursday, November 03, 2005

Falso cais ( para John Fowles)

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Oculta tesão, oculto desejo
Mar de ressaca no olhar
A busca do outro
Encontro ilusório

Engano de gozo
Vazio da pele
Mentiras transversas
Nova partida

Falsa viagem
Falso cais
Falsa ilha
Falsa chegada

Caminhos inúteis
Revelação de monstros
Teias de perdição
Sem redenção

Wednesday, November 02, 2005

Autor ou Obra ?

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O que vale mais, o autor ou sua obra? Pode-se dizer que a obra exprime o autor ou um está desassociado do outro? Onde começa um e termina outro? O quanto podemos ou devemos separar um do outro? Estive fazendo estas indagações ao ler o extraordinário livro "Viagem ao fim da noite" de Louis-Ferdinand Celine, um dos maiores escritores do século passado e também, de certo modo, um monstro genocida.

Celine alcançou os píncaros da gloria em 1932 ao publicar "Viagem ao fim da noite" , uma obra-prima que quebrou, inverteu a lingua francesa. Foi um um escândalo. Diante da novidade os críticos não conseguiram enquadrar o livro em qualquer estilo até então conhecido. Celine ocasionou uma revolução literária e obteve fama e reconhecimento instantâneos.

Porém, com a ascenção do nazismo na Europa e a consequente invasão da França, Celine tornou-se um vil e ativo colaboracionista. Durante a ocupação francesa, escreveu e publicou três furiosos manifestos anti-semitas que pregavam o extermínio dos judeus de forma irrestrita. Quem os leu, diz que os conteúdos eram mais terríveis que os discursos do próprio Hitler
(estão até hoje proibidos de circular). Com o final da guerra Celine se tornou um pária e acabou seus dias maldizendo a humanidade.

Mas voltando a questão inicial, podemos ou devemos separar o autor da obra? O caso de Celine é exemplar : pode-se ler sua magnifica obra sem pensar que existe um monstro por trás?

Não tenho esta resposta mas o exercício de pensá-la é interessante.