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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Tuesday, July 08, 2014

Livro–A Culpa é das Estrelas

a culpa e das estrelasComecei a ler e larguei.

Não me entusiasmei.

Dei um tempo (alguns meses) e retomei.

Gostei.

Gostei principalmente do tom nada melodramático da trama (que por si só já é uma tragédia), da postura dos personagens (que nunca se entregam à autocomiseração), do motivação da ação (literatura - o que deve ser louvado), da relevância das novas tecnologias e suas reflexos (games, internet, email, redes sociais), da linguagem “simples” e “juvenil” ( mas nem tanto, como podem alguns preconceituosos supor).

A história é contada a partir do olhar da Hazel, umaa culpa e das estrelas1 garota de 16 anos condenada pelo câncer, e seu envolvimento com Gus (um garoto que ela conhece no grupo de apoio aos portadores de câncer) e mais uns poucos personagens (família, um escritor, um amigo, uma amiga meio perua).

Neste núcleo, afastado da sociedade dita “normal” (e sim voltado para a impermanência, finitude e morte próxima ) não há grandes cenas de conflito, não há grandes dramas, não há choradeira e desespero.

Todos que estão envolvidos na tragédia mantêm-se -aparentemente - positivos (se é que alguém pode isto) diante do cenário.

E as relações se sustentam - estoicamente - na dor, no sofrimento, no apoio, no viver bem ao máximo, no realizar desejos e sonhos imediatos.

É louvável o talento de John Green, que borda uma trama “simples” porém universal  :  vida e morte.

“Simples” ?

Impossível ficar indiferente.

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Monday, July 07, 2014

Musical–Crazy For You

crazy for youUma noite nada propícia para sair de casa. Porto Alegre, 03 de Julho 2014. Quinta feira. Inverno, chuva torrencial, frio do cão. Teatro longe pra caralho (SESI). Trânsito uó. Correria total.

Qual o evento ? “Crazy for You”. Musical de 1992, baseado em Girl Crazy (musical de 1930), com musicas de Ira e George Gershwin. No elenco a diva Claudia Raia e o fantástico Jarbas Homem de Mello, a mesma dupla que arrasou no Cabaret.

E lá fomos nós.

Adaptada por Miguel Falabella e dirigida por José Possi Neto, a trama conta a história do playboy e dançarino frustrado Bobby Child (Mello). Ele sonha com os Índicepalcos, mas acaba sendo enviado, por sua mãe dominadora, para uma cidade dos cafundós dos EUA com a missão de cobrar uma dívida referente ao teatro local. Lá, ele se envolve com a comunidade dos matutos e apaixona-se pela esquisitona Polly (Claudia). Seduzido, ele tem a ideia de criar um espetáculo para salvar o lugar da falência. A partir daí um divertido jogo de erros se estabelece, tudo sublinhado por canções ótimas e coreografia nada menos que fantástica, com muito sapateado e acrobacias.

Alguns momentos são especiais, principalmente com a Polly cantando “Someone to watch over me” (me levou às lágrimas) e a sequencia de dança do final do primeiro ato, “I got Rhythm “. Fascinante.

A produção é impecável, o elenco excelente e a música soberba. O que se pode pedir mais?

No fim das contas, mesmo debaixo de mau tempo na ida e na volta do teatro, a peça valeu cada segundo.

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Video com um trecho da peça (I Got Rhythm)

Vídeo – “I Got Rhythm”, com Gene Kelly (Filme : Um Americano em Paris)

Claudia Raia arrasando em “Alguem que olhe por mim” (Someone to watch over me)

“Someone to watch over me” com Amy Winehouse

“Someone to watch over me” com Lea Salonga

Thursday, July 03, 2014

Livro–“Sem medo de falar – Relato de uma vítima de pedofilia” (Marcelo Ribeiro)

marcelo ribeiro sem medo de falar capa“Fui abusado na infância”. Só quando consegui pronunciar esta frase para minha mulher, aos 42 anos, é que pude começar a viagem em busca de meu passado. Ele estava enterrado pelo sofrimento, pela vergonha e pelo medo de falar. O silêncio é o melhor amigo da pedofilia.

Não sofri um abuso apenas sexual – o que já seria muito. Também fui abusado moral e psicologicamente. Sofri violência física. Minha família foi induzida à mentira e aos subterfúgios que me afastaram de meus pais e meus irmãos. Quase perdi minha mulher que é tudo para mim.

A história começa quando eu, ainda menino, comecei a cantar no coral da cidade onde morava com meus pais e meus seis irmãos (...)”

Assim começa “Sem medo de falar – Relato de uma vítima de pedofilia” (Paralela – 2014)  de Marcelo Ribeiro, onde o autor, num corajoso exercício de resgate da sua integridade, relata os abusos físicos, morais e sexuais que viveu sob o jugo do sórdido maestro do coral (vinculado à Igreja Católica), de uma cidade do interior de MG, do qual participou da infância à juventude.

Neste “ambiente cultural” , criado e administrado na verdade como bem delimitado universo no qual o mestre musical reinava absoluto – impondo regras, limites, exigências, ameaças, castigos físicos e recompensas - , Marcelo, além de – obviamente – aprender música, foi alvo da ação criminosa do dirigente que, em movimentos muito bem orquestrados (lentos e certeiros), enredou o garoto numa relação de domínio absoluto (moral, emocional e sexual), na qual o monstro extravasou sua perversidade.

Hábil em manipular a inexperiência e confusão do adolescente, a fera disfarçada de cordeiro (mas que era alvo de “reconhecimento” social pelo seu “trabalho relevante”) , lançou o jovem num trágico pesadelo de culpa e silêncio que resultou (já depois de ter abandonado o coral) num adulto torto, imperfeito, preconceituoso e “destruidor” (ele não conseguia manter a estabilidade das relações amorosas e familiares).

Nesta condição, Marcelo acaba num processo de “perda” (emocional e material) e tormento que culmina numa poderosa experiência extra- corpórea (e eu acredito 100 % nisto, pois passei por algo semelhante que foi um turning point definitivo (sic) na minha vida – e só quem vivencia isto acredita ), a partir da qual ele inicia sua dolorosa trajetória de reconstrução.

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Alternando trechos auto biográficos (indo da indignação ao “perdão”, passando por suas ações de denúncias perante a igreja e judiciário, com transcrições de reportagens sobre pedofilia na Igreja Católica e diversos comentários sobre o assunto (morais, sociais, psicológicos e jurídicos) , “Sem medo de falar..” é um libelo contra o abuso , contra charlatanice, contra a inoperância das autoridades e, sobretudo, um vigoroso alerta para este mal que se esconde muitas vezes nas mais respeitáveis instituições (igrejas, família, escola).

Livraço.

Entrevista com Marcelo aqui

Filme - Amnesia : The James Brighton Enigma

600full-amnesia -the-james-brighton-enigma-posterAmnesia: The JAMES BRIGHTON ENIGMA (Amnésie: L'Enigme James Brighton ) é um filme canadense (2005) independente, baseada em fatos reais (dizem), mas com alterações de nomes e lugares reais.

Já no título somos instigados pelas duas palavras : amnésia e enigma. Sim, pois mesmo que o protagonista, a partir de determinado momento, “se lembre de tudo”, isto não é suficiente para elucidar “seu enigma”.

A história é uma versão de um fato que teria ocorrido em 1998 : um jovem nu e ferido é encontrado em um terreno abandonado em Montréal. Levado para um hospital, descobre-se que ele sofre de amnésia total (sua única “recordação” é saber ser gay).

Sob tratamento, ele tem flashes sobre seu passado, incluindo lembrar seu nome, James Brighton (Dusan Dukic) , que não são suficientes para que ele recupere integralmente a memória.

James então é adotado – depois de aparecer num programa de televisão - por um professor de linguística, Felix (Norman Helms), membro de uma ong GAY - que o leva para morar consigo. Felix o introduz na comunidade gay de Montreal, na qual ele se torna uma espécie de queridinho devido a sua história triste e aparência frágil.

Porém nem todos compram o drama do rapaz e suspeitas sobre a veracidade do seu drama começam a surgir.

Desmentindo esta possibilidade, James topa ser entrevistado por diversos programas de televisão, na ânsia de ser reconhecido por alguém (família, amigos) e assim traçar seu caminho de retorno ao lar. No entanto as piores suspeitas sobre sua personalidade parecem se confirmar, quando sua história aparece num programa sensacionalista dos EUA e ele é então reconhecido como Matthew Honeycutt, um americano acusado de alguns delitos leves.amnesia-the-james-brighton-enigma

Com esta revelação, ninguém mais tem certeza se ele é real ou se é apenas um fingido.

Sua mãe o busca no Canadá e o traz para casa nos EUA, onde ele continua a afirmar não reconhecer nem a cidade nem os parentes, ambos mergulhados na cultura religiosa pentecostal local. O único ser vivo do qual se lembra é o cachorro da família (vejam só, que ironia).

Aos poucos ele vai se enquadrando, porém o aumento dos pesadelos e dos angustiantes flashbacks revelam gradativamente um passado de problemas psiquiátricos, agravados por uma repressora comunidade religiosa (seu irmão é um pastor evangélico), que resultou em (provavelmente) colapso nervoso, delinquência, fuga -um interlúdio amoroso -, e violência homofóbica.

Confrontado com este cenário caótico, o rapaz parece finalmente encontrar um caminho – doloroso é verdade - para esclarecer tudo e finalmente saber quem é

Mas será que é isto o que ele quer? Será que o que ele se lembra é verdade? Será que ele continua a fingir?

Será...?

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559Bem,

No fim das contas “Amnesia...” é um filme irregular, com um roteiro capenga com  algumas subtramas paralelas que não são explicadas de forma satisfatória.

Mas nem tudo está perdido e o filme tem seu valor. Porém só vale ver se não se esperar muito.

Mas se não ver, não se perde nada.

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Trailer