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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Saturday, December 29, 2012

Filme - A ultima casa da rua



A ultima casa da rua

É  quase inacreditável  que uma atriz tão promissora como a Jennifer Lawrence tenha concordado em participar deste lixo.

Porém, segundo consta, ela teria aceitado em atuar nesta josta antes de encantar o planeta com suas performances em “Inverno da Alma” e “Jogos Vorazes”.  

Só assim se justifica esta sua pisada feia na bola.

Não sei qual foi a leitura que ela – e os outros atores – fizeram do roteiro antes de aceitar  ganharem um troco neste longa, mas realmente , se acharam que  estavam embarcando num projeto  decente,  o tiro saiu pela culatra.

Até que a certo ponto, o filme vai bem.

Mãe, Sarah,  (Elisabeth Shue – ótima) , recém separada, e a filha Elissa, (Jennifer Lawrence) mudam-se para uma casa no meio de uma espécie de parque florestal

Ali é a base para ambas começarem uma nova vida, numa nova cidade (novo emprego, nova escola, novos amigos, etc).

Jennifer e Elisabeth
Porem, o  vizinho delas é Ryan (Max Thieriot)  um garoto soturno e arredio que teve os pais assassinados pela irmã Carrie Ann, que todos julgam estar morta.

Só que Carrie Ann está “viva”, e Ryan a mantem numa espécie de prisão, da qual a garota foge várias vezes para ... o que mesmo ? 

- a gente pensa uma coisa, mas.... - 

Não vou dizer  mais nada,  mas afirmo  que tudo é extremamente frouxo,  gratuito.

Nada faz sentido. 

As motivações e ações dos personagens não são explicadas ( a idéia  da agressão na Disputa de Bandas saiu de onde ? ),  e não conseguimos simpatizar com ninguém em cena (se bem que eu gostei mais da Sarah, esta sim com algum miolo na cabeça).

Mas, pelo menos, o  que se espera de um thriller é muito suspense e sustos, sendo que isto certamente não ocorre aqui.

As cenas “tensas” seguem a cartilha mais babaca  do gênero, o que só provoca  bocejo e indiferença.

Tipo, "agora vai acontecer tal coisa"... e acontece mesmo.

O roteiro do David Louka  guarda vários “segredos”  e reviravoltas para surpreender e impressionar os incautos (só que tudo é muito mal explicado, ou nem é )

O Reflexo do Medo
 Mas para quem viu o excelente “O Reflexo do Medo”  (numa atuação espetacular da Sondra Locke) de 1973, fica logo óbvio qual é a “grande surpresa”

A idéia central ( a motivadora do "trauma") é absolutamente a mesma.

A cópia é tão descarada que o final da “Ultima casa...”  pretende recriar   o impacto da revelação da  última cena do  “Reflexo do medo”, o que  só funciona  para quem não conhece o clássico de 1973.
Sondra Locke em "O Reflexo do Medo"

Em "O reflexo .." o final fecha coerentemente - e assustadoramente - com tudo o que foi visto antes, situação que "A ultima casa " passa longe. 

Lamentável

Tudo bem, Jennifer é uma atriz sublime, um grande talento com um futuro promissor.

Vamos fazer de conta que ela não participou desta bomba.

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Trailer abaixo


Trailer do "Reflection of Fear"

Friday, December 28, 2012

Filme - O impossivel

O impossivel - Poster

Vou dizer uma coisa : se o que acontece com a família no  filme “O impossível” realmente aconteceu, ( o filme seria baseado em fatos reis),  é realmente quase impossível de acreditar.

A ação ocorre antes, durante e após, o terrível tsunami que devastou a costa da Tailandia  em 26 de Dezembro  de 2004.

A onda chegando
Hospedados num chiquérrimo resort, a família Bennet (Henry e sua esposa Maria, mais os filhos Lucas, Thomas e Simon), são atingidos pelo vagalhão monstruoso e, obviamente, são separados pelas águas destruidoras.

A partir daí acompanhamos a dor e a luta dos sobreviventes em procurar saber o que aconteceu com os demais membros da família.

O diretor espanhol Juan Antonio Bayona (do ótimo terror  “O orfanato”), apoiado num roteiro perfeito, comprova o talento ao montar uma narrativa assustadora e altamente emocionante.

Os atores estão nada menos que magníficos. Falar da Naomi Watts e do Ewan McGregor é chover no molhado.  Penso que poucos atores poderiam dar tanta credibilidade à dor pela qual os personagens passam.
Ewan McGregor detona

A grande novidade aqui é o Tom Holland, o garoto que faz o Lucas (o filho mais velho). O guri realmente detona. 

No início até que achei ele meio ruinzinho. Porém, a medida em que o longa avança, o personagem cresce de maneira admirável, e o jovem ator demonstra uma maturidade invejável.  Merece concorrer ao Oscar de coadjuvante.

"O Impossível" vem na linha dos filmes desastres, gênero no qual acompanhamos  dramas pessoais tendo como pano de fundo uma tragédia natural (tipo “O destino de Poseidon”), ou acidental (tipo “O inferno da Torre”). 

Porém aqui, sabemos que o desastre realmente aconteceu, o que causa um impacto maior nos espectadores.

As cenas das pessoas atingidas pela onda são terríveis, assustadoras, sufocantes. Muito piores do que qualquer filme de terror.   

Naomi Watts e Tom Holland
Os espectadores quase são afogados junto com os personagens.   

Porém o mérito do diretor é não explorar muito a grandiosidade do evento ( o que poderia fazer as cenas nas ondas renderem muito mais – se  fosse esta a intenção ), e sim focar a fragilidade, a pequenez  do corpo diante da força da natureza.

Depois, quando acompanhamos os dramas dos sobreviventes, o cenário é desolador, cruel.

Porém , ao mesmo tempo, vemos a força da solidariedade, da ajuda verdadeira entre as pessoas.  Testemunhamos o esforço para salvar vidas e minimizar as dores dos feridos.

Neste cenário quase pós apocalíptico, além da família Bennet, vemos o drama de vários outros personagens, o que aumenta toda a tragédia apresentada.

Já aviso que o filme  tem muita cena para chorar. Eu me lavei em várias. 

Naomi Watts e Tom Holland
A criatura tem que ser muito cínica para não derramar nenhuma lágrima (ou se emocionar profundamente) diante do que acontece na tela.  

A sequência final de reencontro familiar é devastadora e, volto a dizer, impossível de acreditar se  for verdadeira.

Mas porque não seria ? Se for, só tenho a comentar que o destino existe.

Filmaço. Um dos melhores do ano.

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Trailer abaixo 



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Segue abaixo, crônica da Marta Medeiros, publicada dia 02/01/2013, no Jornal Zero Hora, onde ela comenta o filme e a metáfora "tsunami"

Tsunami como metáfora - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 02/01

A palavra tsunami só entrou no meu repertório a partir da tragédia acontecida na Tailândia. Antes disso, se eu a vi escrita em algum lugar, devo tê-la confundido com alguma sobremesa, quem me garantiria que não era uma prima do tiramisu?

Pois tsunami, descobri, era outra coisa, possuía um significado trágico. Águas revoltas emborcando corpos, afogando vidas, eliminando gente num ataque surpresa. Você imagina que está no paraíso (à beira-mar, quem não está?) e de repente é arrastado para as profundezas com tal violência que, se conseguir escapar, não voltará o mesmo. Quem sobrevive, coleciona cicatrizes e traumas. Ou seja, tsunami passou a ser a metáfora ideal para todos aqueles momentos em que somos atingidos por uma força exterior capaz de deixar nosso mundo fora de lugar.

Seu marido saiu de casa, um tsunami. Demissão coletiva na empresa, um tsunami. Seu filho foi vítima de um assalto com arma, um tsunami. Todas as vezes em que você disse para si mesmo “não sei se vou segurar a onda”, era porque um tsunami estava passando por cima da vida satisfatória que você tinha antes.

Eu, que sempre fui fascinada por água, que sonho frequentemente com o mar e que costumo comparar a vida a um barco à deriva, passei a usar e abusar do termo tsunami para descrever abalos emocionais. Até que fui assistir ao filme O impossível, que reproduz o que aconteceu a uma família em férias naquele fatídico 26 de dezembro de 2004, e botei meus pés de pato de molho.

Amores terminam, pessoas adoecem, perde-se o emprego, e tudo isso modifica destinos, mas há que se levar em conta que esses são tsunamis razoavelmente previsíveis. É muito improvável que, durante toda uma vida, você não padecerá de algum infortúnio. Doerá, mas sabe-se que são através dessas dores que amadurecemos. Sofrer é péssimo, ninguém deseja nem merece, mas há que se reconhecer algum valor terapêutico nisso.

Já um tsunami de verdade faz sofrer de uma forma bem menos didática. O filme, principalmente no início, é de um realismo de embrulhar o estômago. Do meio para o fim, ele apela um pouco para o melodrama – a trilha sonora avisa a plateia: hora de chorar, pessoal! Mas é nas cenas iniciais, em que um inocente banho de piscina no hotel se transforma num terror absoluto, que a gente se dá conta de que quase nada do que vivemos em nosso cotidiano se compara a essa brutal agressão pela qual se é atingido de um segundo para o outro.

O que é pior: a dor física ou a dor emocional? Quando ambas acontecem ao mesmo tempo, a catástrofe é completa. Fiquei muito impressionada com o que assisti, porque não era apenas um filme, e sim um convite a entender o que sentem as vítimas de um drama que atinge o corpo por dentro e por fora. Tsunami como metáfora? A partir de agora, usarei com mais parcimônia.

Chacinas em escolas são tsunamis. Assassinato de um filho é um tsunami. Já para as nossas dores de cotovelo, frustrações profissionais e tristezas congênitas, a analogia prescreveu. Temporais: é isso que cai sobre nós de vez em quando, amém.

Wednesday, December 26, 2012

Filme - Tropicalia

Poster Tropicalia
Extraordinário documentário do Marcelo Machado, que retrata a gênese, vida e “morte” do movimento que mudou  a cultura tupiniquim. 

Ironicamente, o filme começa com Caetano declarando, num programa de televisão português do final dos 60´s, que o Tropicalismo ja tinha morrido e que já não havia sentido em continuar a remexer em suas cinzas.

É claro que isto não era (e não é) verdade. 

O Tropicalismo misturou radicalmente -   num grande caldeirão de idéias, conceitos e estilos  -,  várias formas de arte (musica, cinema, teatro,  artes plásticas, etc),  numa proposta de manifestação artística que transgrediu e quebrou de forma definitiva as barreiras entre o erudito e o popular.

Deste modo vemos no documentário a importância de  Glauber Rocha com o "Terra em transe",  a  ousadia de José Celso Martinez Corrêa com a  montagem  de "O rei da vela" ( de Oswald de Andrade ), e também o trabalho do artista plástico Hélio Oiticica - a quem se deve a criação do termo "Tropicália", título de uma instalação vista no Museu de Arte Moderna carioca e que batizou a canção de Caetano Veloso em torno da qual se construiu o disco "Tropicália ou panis et circensis", espécie de manifesto musical do movimento.

Nesta trupe cabem ainda : Os mutantes, Rogerio Duprat, Tom Zé, Torquato Neto, Gal Costa, Jorge Mautner, Rogerio Zganzerla e outros.

Sem esquecer de  Chacrinha, Jorge Ben, Roberto Carlos, a Jovem Guarda, capoeira, samba, forró, baião, o rock, tudo batido numa centrífuga antropofágica ( novamente Oswald ) que definiu (e define) uma estética integrada,  fundamental e mirabolante que é a cara do Brasil
.

Infelizmente tal estética ainda é rejeitada por milhões de “conhecedores”, “eruditos”, “intelectuais”  - e outras aberrações do gênero - , que desprezam e ignoram o popular, tachando de ridículo e inferior tudo o que consideram “brega”.

De qualquer forma, capitaneado por Caetano e Gil, o  tropicalismo foi um soco na cara do conservadorismo nacional, na pureza das “belas artes”, e - o que dá outra dimensão a sua história -  com todo o movimento ocorrendo em plena ditadura militar.

Isto,  conforme a história registra,  acarretou a perseguição e o exílio dos dois mentores.

E o filme, além de falar sobre o Tropicalismo,  traça um excelente panorama do efervescente ambiente sócio-político da época.

Uma época de repressão e contestação, de perseguição e busca de liberdade.

Uma época de enfrentamento político e social. Uma época utópica, sonhadora. Uma época de mudanças definitivas. Uma época de transformação de comportamento, de quebra de barreiras, dogmas e velhos conceitos.

Analisando a atualidade, certamente não vivemos numa sociedade libertária, onde o humano é valorizado pela sua natureza.

Porém é inegável que movimentos revolucionários como a Tropicália, hippies, e qualquer outro que vise a libertação e integração do humano, lançaram  sementes que geraram novas idéias, conceitos e estéticas que resultaram em novos comportamentos e evolução social.

Ágil, surpreendente (algumas imagens são fabulosas pelo ineditismo), altamente informativo e emocionante (especialmente Caetano cantando “Asa Branca”),  o documentário do Marcelo Machado   é uma obra para  ver e rever sempre.

Fantástico, para dizer o mínimo.
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Trailer do filme


Tropicalia com Caetano


Gil e os Mutantes – Domingo no Parque


Gal – Divino Maravilhoso