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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Monday, May 16, 2011

Filme - Priest

Com ecos de Blade Runner, Mad Max, John Ford (literalmente calcado em Rastros de Ódio), Priest é uma beleza para quem curte quadrinhos, terror e um bom filme de ação.

História :

Para combater os vampiros numa guerra, travada desde tempos imemoriais, a Igreja (como comandante da Terra), cria um exércido de “Padres”, uma tropa de elite especializada em combater os filhotes de Drácula. Este exército de superhomens e mulheres acaba por derrotar os dentudos, mas caem no ostracismo após a vitória final.

Quando o filme inicia, os Padres estão debaixo do fiofó da sociedade, em subempregos e totalmente desacreditados (a margem total). Mas eis que os vampiros estão com planos de voltar às luzes (noturnas é claro) , e os Padres têm que voltar à ativa, mesmo que o alto clero seja contra.

O filme é tri bom (os confessionários automáticos são geniais), com um elenco ótimo, especialmente a participação em papel pequeno - mas fundamental - do Stephen Moyer, o super vampiro Bill Compton, da série “True Blood”.

A ação é ininterrupta, a direção de arte é fantástica, a maquiagem expressiva (os “Familiares” parecem clones do Marilyn Manson), enfim diversão pura.

Que venha logo a sequencia.

Cotação : ótimo

Link IMDB

Filme - Tirza

Filme que a Holanda enviou para concorrer ao Oscar 2011.

Achei pretensioso na tentativa de construção de uma obra “adulta”, “chocante”, “impactante” .

Uma miscelânea de “assuntos sérios” tipo : “conflitos conjugais”, “conflitos familiares”, “incesto”, “pedofilia”, “pobreza do terceiro mundo”, “mortes”, “arrependimento”, “redenção”, “educação dos filhos”, “final de vida”, “impotência” , “inutilidade da cultura”, “terrorismo”, “intolerancia religiosa” e outros tais – com uma assim chamada “surpresa final” daquele tipo “veja como enganamos voces até agora !” - e tu diz “ ah, tá, então era isto ?” – abobalhado com a facilidade do absurdo da situação (tipo, “explica” mas não convence ).

Ou seja, tudo se resume a muito tempero para pouco sal.

Com uma boa cena aqui e outra ali, o filme é ruim no conjunto.

Pífio na sua tentativa de impressionar.

Cotação : ruim

Link para dados completos no IMDB


Filme - Sobrenatural


Uma típica família classe média americana muda-se para um belo lar.

Mãe (compositora) - uma Rose Byrne cada vez mais esquelética - , pai (professor) e três filhos, sendo um um bebê. Tudo muito limpo, muito clean, muito home sweet home.

Só que o mal (o invertido, o pés pra trás) está à espreita e logo a belo conjunto começa a ser perturbado por sons e movimentos estranhos (objetos movem-se sozinhos). Para piorar o quadro, um dos filhos sofre uma queda e entra em uma espécie de sono profundo (que não é coma).

Os pais desesperados acabam se envolvendo com padres, médiuns e parapsicólogos para tentar recuperar o filho do "Nosso Lar", não sem antes descobrirem que uma maldição maior já os rondava.

O filme impressiona por ser tão ruim. Resume-se àquele tipo de crime "artístico" que representa o fim de carreira dos envolvidos (até do vendedor de pipoca do cinema).

Os personagens esforçam-se para agir estritamente dentro dos limites da imbecilidade, da estupidez. Não há como se identificar com o drama, com o sofrimento da bela família. Tudo acaba virando piada.

Pra se ter uma idéia, o demônio mais malvado tem todo o fisic du role de uma drag-queen (bem tipo Priscila A Rainha do Deserto), tanto que se chama The Lipstick Face-Demon.

Acreditam?

Cotação : Uó (mas serve para dar algumas risadas )

Link completo para a bobagem :

Sobrenatural (Insidious) - IMDB

Saturday, May 14, 2011

Livro - 3096 Dias / Natascha Kampusch


Na manhã do 2 de março de 1998, Natascha Kampush, de 10 anos deixou sua residência no distrito vienense de Donaustadt para ir a escola e não retornou. Capturada por
Wolfgang Priklopil, um ex engenheiro da Siemens, Natasha passou os próximos 8 anos enclausurada na casa do seqüestrador onde passou por toda a sorte de humilhação psicológica e graves agressões físicas.

Agora ela relata estes anos de martírio no livro “3096 Dias”, recente lançamento no mercado brasileiro.

Obviamente não é uma leitura light, fácil, tranqüila. Ao contrário, o livro é apavorante, assustador. As descrições dos sofrimentos pelos quais ela passa são terríveis. Vivemos com ela cada segundo, cada minuto, cada hora. Cada dor, cada tormento nos impacta como um soco no estômago. Uma menina de 10 anos, isolada, enterrada numa cela escura, à mercê de um adulto doente é o retrato de um pesadelo inimaginável.

Mas Natasha nos desafia a, em meio a todo o horror, abrirmos os olhos para a complexa teia psicológica que se cria entre ela e o seqüestrador. Dentro da sua mente infantil, debaixo de forte pressão, ela começa a construir frágeis ferramentas de sobrevivência que servem como âncoras de esperança para sua alma, corpo e espírito torturados. E para isto ela desenvolve, entre outros mecanismos, uma “simpatia” pelo seqüestrador, uma espécie de "compreensão" e " aceitação" dos seus atos, o que depois vai lhe causar várias acusações e julgamentos públicos.

Ela questiona o que é o "bom" e o que é o "mal' quando fala sobre o comportamento e atitudes do seu algoz . A dicotomia, a diferença entre o preto e branco, noite e dia, feio e bonito, bondade e maldade cai por terra quando ela afirma, baseada na sua experiência, que o ser humano é cinza, cheio de nuâncias, uma Babel na tempestade - nem totalmente bom, nem um monstro total - . Isto é a mais pura verdade, mas quem quer se ver assim ?

O mundo, a vida, tudo fica mais confortável quando temos tudo claramente definido, claramente rotulado e etiquetado. O julgamento, o conceito, o veredito, é fácil. A sentença sai na hora, quentinha. Porém, quando nos deparamos com o labirinto humano, com o angu da existência, vemos que os matizes se confundem, que a dualidade cai por terra e caímos num complicado que nos surpreende e tira o tapete debaixo dos nossos pés. - Natasha chorou quando soube que Priklopil havia cometido o suicídio -

A jovem não nos poupa e faz com que, ao olhar para sua história, nós nos questionemos também sobre o que vem a ser a prisão do corpo e a prisão da mente. O corpo pode estar preso e a mente não ? Ou, ao contrário, o corpo estar livre a mente aprisionada ? Para isto ela dá um exemplo categórico : qual seria, em última análise, a diferença entre apanhar de um carcereiro numa cela ou de alguém próximo, sob a luz do sol de uma respeitável residência ?

Em ambos os casos existe a agressão, em ambos os casos existem as vítimas. Porém quem tem o corpo impedido de movimento, não tem alternativa, mas quem tem a oportunidade de escapar (de mudar uma realidade incômoda) porque não o faz ? Assim vemos que, mesmo com a possibilidade de se afastar fisicamente de um tormento (seja pequeno, médio ou grande), muitas vezes uma cela na mente é mais eficaz em impedir uma libertação do que uma porta fechada.

Natasha é minuciosa, fria e implacável ao relatar seu padecimento nos anos de cativeiro. Sentimos com ela seu espirito e carne fustigados, atormentados, dilacerados. Com ela somos tragados a um abismo de pavor onde a unica saída parece ser a morte.

Mas, ao mesmo tempo, vivemos com ela cada pequena vitória, cada pequena conquista, cada pequeno passo na crença na vida, os quais, no final das contas somaram-se e serviram de suporte para que enfim ela se libertasse.

Um livro poderoso

Cotação : Excelente

Links com matérias sobre Natasha

Isto é :

Veja :




Thursday, May 05, 2011

Pequena Abelha - Chris Cleave


Tirado das capas do livro :

“Uma obra de arte : perturbadora, excitante e muito comovente” – The Independent; “Uma história arrebatadora” – The New York Times; “Impressionante” – Peple; “Vai extasiar você” – The Washington Post; “Belamente escrito” – The Sunday Tribune...

Apresentação do livro : “Não queremos lhe contar O QUE ACONTECE neste livro. É realmente uma HISTÓRIA ESPECIAL e não queremos estragá-la. AINDA ASSIM, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte : Esta é história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então uma delas precisa tomar uma decisão terrível (...). Dois anos mais tarde, elas se reecontram. E tudo começa... Depois de ler este livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes dia o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como esta narrativa se desenrola”

Com tantos comentários deste tipo, quem não ficaria interessado neste livro ? Ainda mais sabendo que a obra foi finalista em vários prêmios literários Europeus.

Mas, de verdade, qual foi minha impressão ?

Bem , primeiro fica evidente a boa intenção do autor em trazer à luz questões políticas, econômicas e sociais da Nigéria, através da terrível história da Abelinha (ou Pequena Abelha).

Isto conta ponto.

O que me incomodou – e muito – foi o tom pesado de drama, de tragédia, de tristeza da história. Isto temperado com muitas passagens virtuosas, nobres. Muitas passagens onde os personagens demonstram coragem, força de espírito, valentia.


São tantas “cenas dramáticas” que o livro avança perigosamente na área do piegas, do dramalhão – do novelão - total.

Particularmente não sei dizer se gostei ou não – estou mais para o “não gostei” -

Se recomendo?

Diria que somente para aqueles que gostaram, por exemplo, do ‘Caçador de Pipas’ e principalmente do “O menino com o pijama listrado”. Confesso que não é o meu tipo de leitura preferido, porém acredito que tenha seu valor.

Cotação : ruim (ou bom – depende o ponto de vista)

Obs :

Diz que a Nicole Kidman comprou os direitos e vai protagonizar um filme baseado no livro. Porém uma passagem ela estará impedida de interpretar. É quando Sarah, a inglesa chiquérrima, se olha no espelho e percebe que “ Havia bolsas debaixo dos meus olhos e vincos novos e profundos na minha testa. A máscara estava finalmente rachando...”

Gente, fala sério ! Botozada do jeito que ela tá, alguém acredita que ela ainda pode gerar alguma expressão facial ?

Monday, May 02, 2011

Filme - O primeiro que disse


É inacreditável que alguma bicha goste desta porcaria chamada “O primeiro que disse”.

Li em diversos sites gays que o filme é “hilário”,” humano”,” bonito” entre outras atrocidades.

O filme não é nada disso e se resume a uma única palavra : homofóbico.

Disfarçada de um pseudo liberalismo a obra ataca, torpedeia, agride, estupra a comunidade gay, com comentários, diálogos e piadas absolutamente infames, podres, lamentáveis.

Senão vejamos : o roteiro conta a história de dois irmãos,Tommaso (Riccardo Scamarcio) e Antonio Cantone (Alessandro Preziosi), filhos de uma tradicional e rica família de Lucce, pequena cidade do interior da Itália, onde o primeiro – que mora em Roma, mas está visitando a familia – confessa a Antonio que irá revelar à familia que é gay no jantar que irá ocorrer.

O que acontece então é que Antonio, antes da confissão de Tommase, aproveita o tal jantar e confessa ele ser gay, o que ocasiona sua expulsão de casa pelo pai Vincenzo (Ennio Fantastichini).

Nesta situação, e porque o pai passa mal – quase morre - , a bicha numero 1 (Tommase) faz a linha hetero e acaba assumindo a empresa da família.

Daí pra diante, a barbaridade oscila (ou tenta) entre drama, romance e comédia, sem atingir nenhuma das propostas.

O desfile de personagens é patético : o pai é um personagem nojento, escroto. Expulsa o filho gay de casa, sem direito a nada, em nome da tradição familiar. – a sequencia dele no café, quando imagina que todos estão rindo da sua situação, dá vontade de jogar o que tiver a mão na tela – A mãe é uma boboca de marca maior. A avó – a matriarca humana – é ridícula. A bicha-hetero é covarde total. As “bichas amigas” são estereotipadas até o último pentelho.

Enfim, nada sobra.

O final é vergonhoso, podre, na sua tentativa de “recuperar os laços emocionais", através das belas cenas de “amor familiar”. É ofensivo , é agressivo, é repugnante.

As bichas que porventura gostam deste filme, são aquelas que pensam sobre si mesmas como “inferiores” e agradecem de joelhos qualquer migalha de pseudo-amor que recebem,

Cotação : Uó total

Sunday, May 01, 2011

Bethania e as Palavras




















Não, não vou me posicionar contra ou a favor da Bethania estar autorizada pelo governo, através da lei Rouanet , a buscar na iniciativa privada os tais de 1,3 milhões de reais para montar um blog de poesia.

Sobre isto tenho minha opinião e prefiro não me manifestar. O que quero falar é sobre o encontro “Bethania e as palavras” que teve sua primeira edição aqui em Porto Alegre ontem à noite.

Dentro de um formato simples, enxuto, apenas com dois instrumentistas -excelentes é claro -, o espetáculo é um misto de música, poesia e textos de livros que de fazem parte do universo emocional e afetivo da diva.

E que universo !

Definitivamente não é sempre que vemos num mesmo espetáculo um desfile de imortais como Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Carlos Drumond de Andrade, Capinam,, Villa –Lobos, Ferreira Gullar, Amália Rodrigues, Manuel Bandeira, Chico, Caetano, Renato Teixeira, e tantos outros.

Dividido em “temas”, se é que se pode chamar assim, o ritual inicia com uma invocação a Iansã, deusa dos raios, ventos e tempestades. Com força e gentileza, a dona da casa nos convida a penetrar no mundo mágico das palavras, da escrita.

Genipapo Absoluto (Caetano), - juntamente com textos de Jorge de Lima, Guimarães Rosa e Antonio Vieira - vêm em seguida, no resgate afetivo e na afirmação da importância, poder e necessidade da poesia.

O sertanejo, - sua saga, sua história, suas dores, sofrimentos, afetos, valores, sua mitologia enfim - , é retratados em dois blocos distintos. Um mais, como dizer, “do interior” – com “Vou danado pra catende” (Ascenso Ferreira),” Trenzinho Caipira” (Villa-Lobos), “Trem de Ferro (Manual Bandeira), etc - e outro que mostra o sofrimento, o desalinho, o estranhamento do matuto obrigado a migrar para a grande cidade – com “Lamento Sertanejo” (Gil), Patativa do Assaré, Último pau de arara (J. Guimarães).

O incrível é que o link, a ponte entre estes dois blocos se dá com “Francisco, Francisco”, de Roberto Mendes e Capinam, e “Águas e Mágoas do Rio São Francisco” (do Drumond), o que dá o tom exato de uma das causas do padecer do sertão. Emocionante.

Mas como a poderosa acredita e sonha, o tema “sertão” se encerra de forma sublime e engraçada com “ABC do Sertão” (Luiz Gonzaga)

Depois de um brevíssimo intervalo instrumental – no qual ela não sai do palco - Bethania volta matadora.

Ai meu Jesus!

De uma tacada só ela, totalmente impiedosa – sem cuspe nem vaselina – vai de “Poema de um funcionário cansado” (Ramos Rosa), “Nenhuma saudade já me resta” (Fernando Pessoa), “Solidão” (citação da “Dança da Solidão” do Paulinho da Viola ) , Mestre, meu mestre querido (Pessoa), “Estranha forma de vida” (Amália Rodrigues”), “Velha Chácara” (Manuel Bandeira) e vários outros nesta linha “saudade”, “lembranças”, “desamor”, “desespero”, “cortar os pulsos”.

E o problema é que a bandida, a malvada, não facilita e mastiga, rumina cada palavra com o destemor exato para sangrá-las e atingir as alma dos incautos. Os blocos assassinos se encerram com uma das minhas poesias preferidas : “`Poema do Menino Jesus (Alberto Caeiro)”, que já vi ela interpretar outras vezes, sempre me fazendo debulhar em lágrimas - e ontem não foi diferente... Fazer o que ?? Fiasco puro. – Nada como a discrição da escuridão do teatro para restabelecer a make-up.

Logo surge a memória cristã em homenagem a Nossa Senhora, com as belíssima “Ladainha de Santo Amaro” (Mabel Veloso – irmã de Betha) e “Romaria” (Renato Teixeira).


Entrando no mundo dos amores, das paixões ( o que é a cara dela), somos brindados com Fausto Fawcet, Bruna Lombardi, “Meu Primeiro Amor” e principalmente com Guimarães Rosa - “Diadorim e Riobaldo”. Não é sempre que podemos estar diante de uma obra mastodônica como esta. Guimarães extrapola qualquer conceito de bom, ótimo ou excelente em arte. Guimarães é mais do que um “escritor”, um “autor”. É um artesão, um bruxo , um abençoado, que utilizou (reinventou) as palavras para interpretar, decodificar, explicitar a alma, o espírito e tudo o que representa, tudo o que significa ser humano. Soberbo, pra dizer o mínimo.


O negro e o Indio, as matas e o caipira “são lidos” através Craveirinha, Castro Alves, Joubert de Carvalho, Capinam e outros. Bethania brilha especialmente em “Os Sapos” (Manuel Bandeira) - engraçada e lírica ao “imitar as vozes” dos diferentes sapos.

Por fim, no estilo “sou brasileiro e me orgulho”, nosso país, suas origens portuguesas, e tudo o que representa nossa língua – nossa, nação, afirmação e realidade - encerra o espetáculo nas vozes de Moraes Moreira, Caetano, Vinicius e outros.


A diva é ovacionada – os da fila do gargarejo jogam pétalas de rosas a seus pés (quer coisa mais “deusa” ? )- , sai do palco e retorna para um bis improvisado (pelo menos foi o que ela representou) e acaba com o povo com “Mensagem” (Isaurinha Garcia) e “Todas as cartas de amor (Fernando Pessoa).

Depois disto ? ... Um jantar com vinho Cabernet...

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