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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Friday, February 17, 2006

Foto do ano

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Um bebê toca suavemente a boca de sua mãe. Uma imagem que poderia ser belíssima revela-se trágica. A mão em questão é pequena, descarnada, cadavérica. O gesto, intuitivo, busca alimento na boca da mulher. O roçar suave diz “você tem alguma coisa para eu comer? Tenho fome e não sei o que fazer”. A face da mãe, com olhos fundos e desesperançados, mostra a dor da impotência em atender à necessidade do filho(a).

Só isto. Um movimento simples e breve que revela toda a agonia daqueles que passam fome em qualquer local do planeta.

Esta imagem –bela e terrível ao mesmo tempo- foi clicada pelo canadense Finbarr O'Reilly e ganhou o prêmio de foto do ano do “World Press Photo”, o mais prestigiado evento fotográfico do mundo.

James Colton, o presidente do júri, falando sobre a foto ao anunciar a lista dos premiados : “Esta imagem tem tudo : beleza, horror e desesperança. É simples, elegante e comovedora”.

Concordo completamente.

Conhecer as fotos vencedoras nas mais diversas categorias desta premiação é uma experiência intensa. Temos imagens belíssimas –algumas esportivas por exemplo- lado a lado com registros chocantes de dor, morte e violência ao redor do mundo.

Link para os resultados :

http://www.worldpressphoto.nl/


Dados da competição :

Fotógrafos : 4.448 fotógrafos

Imagens : 83.044

Países participantes : 122

Sunday, February 12, 2006

Brokeback Mountain (caminhos do desejo)

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Antes de iniciar a sessão de Brokeback Mountain eu e uma amiga estávamos discutindo sobre as dificuldades de vida das pessoas que não assumem suas emoções, paixões ou desejos.

Refletíamos que estas pessoas, além de causarem mal a sí próprias, acabam também por afetar seu meio social (casamento, filhos, amigos, etc); sendo que, muitas vezes, este meio não percebe ou não entende o que está acontecendo. Ou então percebe, mas faz questão ou prefere manter-se calado ou neutro a fim de não suscitar embates ou dores.

Falávamos de duas situações específicas : gays mal assumidos que acabam, por força do preconceito, buscando um relacionamento “normal” e pessoas casadas -ou comprometidas- que acabam tendo histórias ou até mesmo grandes paixões paralelas – muitas vezes por toda a vida-.

Mas eis que o filme começa. Não vou falar sobre o enredo pois acredito que todo mundo já tá careca de saber que a princípio –e vendo de uma forma bem simplista- Brokeback conta uma história de amor entre dois cowboys que nasce quando eles passam alguns meses retirados em uma bela montanha cuidando de ovelhas..

Mas a coisa não é bem assim. Sim, eles se apaixonam; sim, eles transam; sim eles se separam; sim, eles se reencontram, e assim por diante (até parece um novelão). Mas a obra começa a tomar uma dimensão épica emocional a partir do momento em que estes cowboys voltam para a sociedade “normal” e começam a constituir famílias, ter filhos, desenvolver relações profissionais, sociais,etc.

Então, gradativamente (num ritmo quase oriental), o filme passa a acompanhar a saga de cada um e cresce muito. A penosa necessidade de ocultar um amor proibido e, ao mesmo tempo, desenvolver uma vida social regrada é mostrada com uma riqueza de nuances e situações que perturbam.

Econômico nas falas, e sabiamente fugindo do estereótipo do bem e mal, Brokeback Mountain contempla as ações dos personagens, mostra suas ações e motivações sem julgar. É impressionante o universo emocional que se vê na tela. Esposas, amantes, filhos, pais -e, obviamente, os protagonistas- são afetados, são feridos pelo romance proibido direta ou indiretamente.

E porque tudo isto? Porque todo este sofrimento? Neste ponto o filme é revelador: quando não assumimos nossos desejos, nossas vontades e necessidades acabamos, em maior ou menor grau, nos frustrando, nos machucando e arrastando nesta negatividade pessoas ao nosso redor.

Sim, mas e daí? Onde está a culpa? De quem é a culpa por isto acontecer?

A princípio pode-se pensar que aquele que não se apropria do seu querer e parte para a ação é o errado. Aquele que não busca sua felicidade de maneira concreta acaba se desviando do caminho correto. Mas isto pode ser assim tão simples? A resposta pode ser tão imediata?

Mesmo que se possa pensar ao contrário, vivemos numa sociedade que não nos assegura o direito de chamarmos para nós mesmos as rédeas da nossa satisfação de forma positiva. O peso do medo de ser alvo de preconceito –sexual ou moral- é enorme. O julgamento, a perseguição a hostilidade subjuga e traz temor. A força das tradições, das regras sociais é feroz.

E como fica então o embate entre o desejo e o preconceito? Como fica o querer individual e a opinião alheia? As respostas podem ser muitas: encontros fortuitos, amantes, traições, romances e paixões paralelas quando se busca algum tipo de realização. Ou então, frustração, sofrimento e doença, quando a luta é para abafar e ocultar os sentimento -às vezes até para nós mesmos-.

Brokeback Mountain mostra tudo isto –e muito mais- de uma maneira soberba. Mas definitivamente não é uma obra para o grande público. Com ritmo lento, com pouquíssimas cenas de explosões emocionais, Brokeback traça um turbilhão de sentimentos que nos leva a refletir sobre o caminho que damos aos nossos desejos reais..

E mostra que quando este caminho não foi escolhido por nós, acaba por nos enredar numa teia de frustrações, mentiras e sofrimento que nos traga e fere juntamente com quem está ao nosso redor.

Filmaço!!

Friday, February 03, 2006

Mattew Sheppard - O Projeto Laramie

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Na noite de 6 de Outubro de 1998, Mattew Sheppard, um estudante de 21 anos foi sequestrado, brutalmente espancado, torturado e deixado para morrer amarrado a uma cerca num campo próximo a cidade de Laramie (Wyoming – EUA).

O motivo? ... Ser gay.

Nesta noite, Mattew estava em um bar (Fireside Lounge) quando encontrou Aaron McKinney e Russell Henderson (ambos com 21 anos). McKinney, um viciado em anfetaminas, estava buscando uma forma de conseguir mais drogas e Mattew, bem vestido e aparentando ter dinheiro (na verdade era de uma família abastada), parecia ser a presa ideal.

De acordo com McKinney, Mattew solicitou uma carona até sua casa pois tinha bebido demais. Porém ao entrar no carro dos rapazes o jovem teria se revelado gay e feito algum gesto de assédio em direção a McKinney. Isto bastou para McKinney agredi-lo com uma coronhada e exigir sua carteira.

Mattew entregou os 30 dólares que tinha consigo mas isto não foi suficiente para a agressão parar. McKinney continou a agredir o rapaz que acabou sendo levado para um local deserto no meio de um campo onde a selvageria cresceu, agora com a participação do motorista Henderson.

O garoto implorou por sua vida inutilmente. Alucinados, seus algozes o espancaram ao ponto de causar-lhe uma fratura craniana que se extendeu da parte posterior até a frente da sua cabeça.

Depois de satisfeitos, os dois torturadores partiram deixando Mattew amarrado a uma cerca sob uma temperatura enregelante.

Dezoito horas mais tarde um ciclista passou casualmente pelo local e descobriu o corpo de Mattew ainda vivo. A princípio o ciclista achou tratar-se de um espantalho, porém, para sua surpresa, ao chegar perto viu tratar-se de uma pessoa.

O rosto de Mattew estava totalmente sujo exceto nos locais onde as lágrimas escorreram.

Levado para um hospital, já em coma profundo e sem chances de recuperação, Mattew sobreviveu até o dia 12. O crime teve uma repercussão imensa na época causando polêmica em todos os EUA.

Esta história verdadeira é contada no excepcional filme “The Laramie Project” da HBO filmes que assisti ontem (mais uma vez baixei da Internet via Emule).

Com um elenco fabuloso, “The Laramie Project” , num misto de realidade e ficção, narra a história de um grupo de teatro que viaja até Laramie para entrevistar os moradores locais. A intenção do grupo é pesquisar e levantar material para a montagem de uma peça sobre o crime.

Assim, através de aproximadamente 200 entrevistas, pouco a pouco o grupo vai tomando conhecimento das várias posições e opiniões dos moradores a respeito do assassinato.

Dos que se dispõem a conversar, ninguém se revela a favor da brutalidade ocorrida porém vários demonstram fortes traços de homofobia ao criticarem, de forma velada ou ostensiva, o estilo de vida da vítima.

Por outro lado, outros tantos –amigos, professores e outros gays e lésbicas da cidade- refletem a maneira como foram afetados pelo crime com ações positivas. Militância, defesa dos direitos humanos e união acabam surgindo entre estas pessoas corajosas.

Com várias cenas comoventes (sim, chorei algumas vezes... fazer o que?), o filme revela-se um poderoso caldeirão de emoções (ódio, impotência, coragem, amor, perdão, etc).

É particularmente especial a cena onde o Padre da cidade conversa com um gay e uma lésbica do grupo teatral. Este padre revela que, na sua opinião, toda a vez que alguém usa as palavras “bicha”, "veado" e “sapatão”, de forma depreciativa, já está plantando uma semente de violência na sociedade (isto é muito verdade. Concordo integralmente).

Outra cena emocionante é quando o pai de Mattew apresenta-se diante do tribunal de julgamento de McKinney (Henderson já tinha sido condenado à prisão perpétua).
O julgamento já tinha sido encerrado, Mckinney recebeu o veredito de culpado e só estava aguardando a sentença do juiz (era certo que seria condenado à morte).

Diante de todos, o pai de Mattew lê a seguinte carta (fiz algumas adaptações):

“Meu filho Matthew não parecia um vencedor. Ele era um pouco descordenado e usou aparelho nos dentes dos 13 anos até o dia que morreu.

Entretanto, em sua vida tão breve, ele provou que era um vencedor (aqui o pai estaria se referindo às militâncias de defesas dos direitos humanos nas quais Mattew estava envolvido).

Em 6 de Outubro de 1998 meu filho tentou mostrar ao mundo que ele poderia vencer de novo. Porém em 12 de Outubro de 1998 meu primogênito e herói perdeu. Em 12 de Outubro de 1998 meu primogênito e herói morreu 50 dias antes de completar 22 anos.

Eu fico imaginando agora a mesma coisa que pensei quando o vi no hospital. O que ele se tornaria? Como ele mudaria sua parte do mundo para fazê-la melhor?

Oficialmente Matt morreu em um hospital em Fort Collins, CoIorado. Mas, na verdade, ele morreu nas cercanias de Laramie amarrado a uma cerca.

Você, Sr. McKinney, com seu amigo Sr. Henderson deixaram ele lá sozinho, mas ele não estava sozinho.

Estavam com ele velhos amigos. Amigos com quem ele cresceu.

Vocês devem estar pensando que amigos são esses.

Primeiro, ele tinha o belo céu noturno e a lua... e as mesmas estrelas que ele costumava ver pelo telescópio.

Então ele teve a luz da manhã e sol brilhando sobre ele. E todo o tempo ele estava sentindo o perfume dos pinheiros da Snowy Range.

Ele também ouviu o vento.... pela última vez ouviu o belo o sempre presente vento de Wyoming .

E ele tinha mais um amigo com ele. Ele tinha Deus.

E eu me sinto melhor sabendo que ele não estava sozinho.

O espancamento, a hospitalização e funeral de Matthew trouxeram a atenção do mundo para o ódio.

O bem está vindo do mal. As pessoas disseram: Basta!

Eu sinto saudade do meu filho mas eu tenho orgulho de poder dizer que ele era meu filho.

Judy, minha esposa, foi citada como sendo contra a pena de morte. Foi dito que Matt seria contra a pena de morte. Ambas afirmações estão erradas.

Eu também acredito na pena de morte. Não há nada que eu gostaria mais do que ver você morrer, Sr. McKinney.

Entretanto, chegou a hora de começar o processo de recuperação de mostrar piedade por alguém que se recusou a mostrar a menor piedade.

Sr. McKinney, eu vou lhe dar sua vida por mais difícil que seja fazer isso. Por causa de Matthew.

Cada vez que você comemorar Natal, aniversário, dia da independência, lembre que Matt não está.

Toda vez que acordar na sua cela na prisão lembre que você teve a oportunidade e a condição de parar seus atos naquela noite.

Você me roubou algo muito precioso e eu nunca lhe perdoarei por isso.

Sr. McKinney, eu lhe dou a vida em memória de alguém que não vive mais.

Que você tenha uma vida longa a qual deverá agradecer a Matthew por cada dia dela.

Muito obrigado.”

Wednesday, February 01, 2006

Psitacismo e Infidelidade

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Cala a boca, louro! - Papagaio indiscreto imita grunhidos e revela traição da namorada do dono

Papagaio é um perigo. Como se não bastassem o psitacose e a gripe aviária - doenças que o bicho pode transmitir -, há também os casos de psitacismo, o ato de repetir palavras sem saber o seu significado.

Pegue-se como exemplo o caso do louro Ziggy, residente em Londres e criado com carinho pelo inglês Chris Taylor. Era só Susy Colins, a namorada do dono, pegar no celular para que o bicho desandasse a chamar o nome "Gary". E o fazia com entonações amorosas, com a intimidade própria dos amantes. O problema é que Chris não conhecia nenhum Gary, e Suzy também jurava não saber de quem se tratava.

A situação ganhou intensidade quando alguém falou o nome na tevê e o pássaro se empolgou, repetindo o chamado e acrescentando vocabulário e grunhidos francamente eróticos. O que a princípio parece enredo de piada, na verdade teve desfecho de drama.

Até Suzy se mudar para o apartamento de Taylor, o papagaio limitava sua vocalização ao pedido de biscoitos, imitações razoáveis do som do aspirador de pó e repetição de palavras desconexas. O nome Gary só entrou no discurso depois que o casal resolveu juntar seus trapos. Na véspera do Natal, quando iniciavam uma transa no sofá da sala, Taylor e Suzy foram surpreendidos por Ziggy declarando: "Gary, eu te amo", passando em seguida aos grunhidos claramente sensuais.

De imediato, Taylor riu. Mas ao olhar para a namorada em seus braços notou rubor característico das consciências culpadas.

"Senti um frio na espinha", declarou o analista de sistemas Taylor. Suzy começou a chorar copiosamente, ainda atormentada pelo papagaio que não fechava o bico: "Gary, meu macho!", "Gary, meu benzinho".

A confissão da moça veio em forma raivosa: Gary era colega de trabalho de Suzy numa firma de recados telefônicos e seu amante durante o expediente e fora dele. Parte do romance se dava pelo celular e a troca de juras de amor era ouvida na íntegra por Ziggy. A freqüência deste intercâmbio era tanta que marcou a memória do bicho.

E de lá não saiu mais. Depois do rompimento entre Taylor e a infiel namorada, vários dias foram gastos na tentativa de apagar o nome Gary da mente de Ziggy. Infelizmente, a tarefa se demonstrou impossível. "Toda vez que um celular toca, o nome salta do bico da ave.

Até mesmo quando eu suspirava, era: 'Gary, eu te amo', 'Gary, meu macho'. A vida ficou insuportável", diz Taylor. O resultado é que ele, aos 30 anos, não apenas perdeu a namorada, mas também foi obrigado a se livrar de seu Iago (da peça Otelo, de
Shakespeare). O papagaio foi adotado depois de um anúncio nos classificados. "Eu já não o suportava mais.

E o sentimento era mútuo", diz o traído. Por seu lado, Suzy se defende: "Não culpo o Ziggy pela separação. Minha relação já estava estremecida. O Taylor não queria sair de casa. Só desejava ficar junto do papagaio." O pior é que o Gary também bateu asas e foi se aninhar nos braços de outra colega, que tem a vantagerm de morar com um gato completamente mudo.

Já o papagaio alcagüeta ganhou celebridade e anda freqüentando shows de televisão, nos quais dispara o bordão: "Gary, Gary, Gary", para delírio das platéias. Ah! E Ziggy, o louro que não só dá o pé como aponta o dedo, diga-se, é brasileiro.

Osmar Freitas Jr. - Nova York

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Texto retirado da revista "Isto É" desta semana