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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Monday, May 16, 2011

Filme - Priest

Com ecos de Blade Runner, Mad Max, John Ford (literalmente calcado em Rastros de Ódio), Priest é uma beleza para quem curte quadrinhos, terror e um bom filme de ação.

História :

Para combater os vampiros numa guerra, travada desde tempos imemoriais, a Igreja (como comandante da Terra), cria um exércido de “Padres”, uma tropa de elite especializada em combater os filhotes de Drácula. Este exército de superhomens e mulheres acaba por derrotar os dentudos, mas caem no ostracismo após a vitória final.

Quando o filme inicia, os Padres estão debaixo do fiofó da sociedade, em subempregos e totalmente desacreditados (a margem total). Mas eis que os vampiros estão com planos de voltar às luzes (noturnas é claro) , e os Padres têm que voltar à ativa, mesmo que o alto clero seja contra.

O filme é tri bom (os confessionários automáticos são geniais), com um elenco ótimo, especialmente a participação em papel pequeno - mas fundamental - do Stephen Moyer, o super vampiro Bill Compton, da série “True Blood”.

A ação é ininterrupta, a direção de arte é fantástica, a maquiagem expressiva (os “Familiares” parecem clones do Marilyn Manson), enfim diversão pura.

Que venha logo a sequencia.

Cotação : ótimo

Link IMDB

Filme - Tirza

Filme que a Holanda enviou para concorrer ao Oscar 2011.

Achei pretensioso na tentativa de construção de uma obra “adulta”, “chocante”, “impactante” .

Uma miscelânea de “assuntos sérios” tipo : “conflitos conjugais”, “conflitos familiares”, “incesto”, “pedofilia”, “pobreza do terceiro mundo”, “mortes”, “arrependimento”, “redenção”, “educação dos filhos”, “final de vida”, “impotência” , “inutilidade da cultura”, “terrorismo”, “intolerancia religiosa” e outros tais – com uma assim chamada “surpresa final” daquele tipo “veja como enganamos voces até agora !” - e tu diz “ ah, tá, então era isto ?” – abobalhado com a facilidade do absurdo da situação (tipo, “explica” mas não convence ).

Ou seja, tudo se resume a muito tempero para pouco sal.

Com uma boa cena aqui e outra ali, o filme é ruim no conjunto.

Pífio na sua tentativa de impressionar.

Cotação : ruim

Link para dados completos no IMDB


Filme - Sobrenatural


Uma típica família classe média americana muda-se para um belo lar.

Mãe (compositora) - uma Rose Byrne cada vez mais esquelética - , pai (professor) e três filhos, sendo um um bebê. Tudo muito limpo, muito clean, muito home sweet home.

Só que o mal (o invertido, o pés pra trás) está à espreita e logo a belo conjunto começa a ser perturbado por sons e movimentos estranhos (objetos movem-se sozinhos). Para piorar o quadro, um dos filhos sofre uma queda e entra em uma espécie de sono profundo (que não é coma).

Os pais desesperados acabam se envolvendo com padres, médiuns e parapsicólogos para tentar recuperar o filho do "Nosso Lar", não sem antes descobrirem que uma maldição maior já os rondava.

O filme impressiona por ser tão ruim. Resume-se àquele tipo de crime "artístico" que representa o fim de carreira dos envolvidos (até do vendedor de pipoca do cinema).

Os personagens esforçam-se para agir estritamente dentro dos limites da imbecilidade, da estupidez. Não há como se identificar com o drama, com o sofrimento da bela família. Tudo acaba virando piada.

Pra se ter uma idéia, o demônio mais malvado tem todo o fisic du role de uma drag-queen (bem tipo Priscila A Rainha do Deserto), tanto que se chama The Lipstick Face-Demon.

Acreditam?

Cotação : Uó (mas serve para dar algumas risadas )

Link completo para a bobagem :

Sobrenatural (Insidious) - IMDB

Saturday, May 14, 2011

Livro - 3096 Dias / Natascha Kampusch


Na manhã do 2 de março de 1998, Natascha Kampush, de 10 anos deixou sua residência no distrito vienense de Donaustadt para ir a escola e não retornou. Capturada por
Wolfgang Priklopil, um ex engenheiro da Siemens, Natasha passou os próximos 8 anos enclausurada na casa do seqüestrador onde passou por toda a sorte de humilhação psicológica e graves agressões físicas.

Agora ela relata estes anos de martírio no livro “3096 Dias”, recente lançamento no mercado brasileiro.

Obviamente não é uma leitura light, fácil, tranqüila. Ao contrário, o livro é apavorante, assustador. As descrições dos sofrimentos pelos quais ela passa são terríveis. Vivemos com ela cada segundo, cada minuto, cada hora. Cada dor, cada tormento nos impacta como um soco no estômago. Uma menina de 10 anos, isolada, enterrada numa cela escura, à mercê de um adulto doente é o retrato de um pesadelo inimaginável.

Mas Natasha nos desafia a, em meio a todo o horror, abrirmos os olhos para a complexa teia psicológica que se cria entre ela e o seqüestrador. Dentro da sua mente infantil, debaixo de forte pressão, ela começa a construir frágeis ferramentas de sobrevivência que servem como âncoras de esperança para sua alma, corpo e espírito torturados. E para isto ela desenvolve, entre outros mecanismos, uma “simpatia” pelo seqüestrador, uma espécie de "compreensão" e " aceitação" dos seus atos, o que depois vai lhe causar várias acusações e julgamentos públicos.

Ela questiona o que é o "bom" e o que é o "mal' quando fala sobre o comportamento e atitudes do seu algoz . A dicotomia, a diferença entre o preto e branco, noite e dia, feio e bonito, bondade e maldade cai por terra quando ela afirma, baseada na sua experiência, que o ser humano é cinza, cheio de nuâncias, uma Babel na tempestade - nem totalmente bom, nem um monstro total - . Isto é a mais pura verdade, mas quem quer se ver assim ?

O mundo, a vida, tudo fica mais confortável quando temos tudo claramente definido, claramente rotulado e etiquetado. O julgamento, o conceito, o veredito, é fácil. A sentença sai na hora, quentinha. Porém, quando nos deparamos com o labirinto humano, com o angu da existência, vemos que os matizes se confundem, que a dualidade cai por terra e caímos num complicado que nos surpreende e tira o tapete debaixo dos nossos pés. - Natasha chorou quando soube que Priklopil havia cometido o suicídio -

A jovem não nos poupa e faz com que, ao olhar para sua história, nós nos questionemos também sobre o que vem a ser a prisão do corpo e a prisão da mente. O corpo pode estar preso e a mente não ? Ou, ao contrário, o corpo estar livre a mente aprisionada ? Para isto ela dá um exemplo categórico : qual seria, em última análise, a diferença entre apanhar de um carcereiro numa cela ou de alguém próximo, sob a luz do sol de uma respeitável residência ?

Em ambos os casos existe a agressão, em ambos os casos existem as vítimas. Porém quem tem o corpo impedido de movimento, não tem alternativa, mas quem tem a oportunidade de escapar (de mudar uma realidade incômoda) porque não o faz ? Assim vemos que, mesmo com a possibilidade de se afastar fisicamente de um tormento (seja pequeno, médio ou grande), muitas vezes uma cela na mente é mais eficaz em impedir uma libertação do que uma porta fechada.

Natasha é minuciosa, fria e implacável ao relatar seu padecimento nos anos de cativeiro. Sentimos com ela seu espirito e carne fustigados, atormentados, dilacerados. Com ela somos tragados a um abismo de pavor onde a unica saída parece ser a morte.

Mas, ao mesmo tempo, vivemos com ela cada pequena vitória, cada pequena conquista, cada pequeno passo na crença na vida, os quais, no final das contas somaram-se e serviram de suporte para que enfim ela se libertasse.

Um livro poderoso

Cotação : Excelente

Links com matérias sobre Natasha

Isto é :

Veja :




Thursday, May 05, 2011

Pequena Abelha - Chris Cleave


Tirado das capas do livro :

“Uma obra de arte : perturbadora, excitante e muito comovente” – The Independent; “Uma história arrebatadora” – The New York Times; “Impressionante” – Peple; “Vai extasiar você” – The Washington Post; “Belamente escrito” – The Sunday Tribune...

Apresentação do livro : “Não queremos lhe contar O QUE ACONTECE neste livro. É realmente uma HISTÓRIA ESPECIAL e não queremos estragá-la. AINDA ASSIM, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte : Esta é história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então uma delas precisa tomar uma decisão terrível (...). Dois anos mais tarde, elas se reecontram. E tudo começa... Depois de ler este livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes dia o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como esta narrativa se desenrola”

Com tantos comentários deste tipo, quem não ficaria interessado neste livro ? Ainda mais sabendo que a obra foi finalista em vários prêmios literários Europeus.

Mas, de verdade, qual foi minha impressão ?

Bem , primeiro fica evidente a boa intenção do autor em trazer à luz questões políticas, econômicas e sociais da Nigéria, através da terrível história da Abelinha (ou Pequena Abelha).

Isto conta ponto.

O que me incomodou – e muito – foi o tom pesado de drama, de tragédia, de tristeza da história. Isto temperado com muitas passagens virtuosas, nobres. Muitas passagens onde os personagens demonstram coragem, força de espírito, valentia.


São tantas “cenas dramáticas” que o livro avança perigosamente na área do piegas, do dramalhão – do novelão - total.

Particularmente não sei dizer se gostei ou não – estou mais para o “não gostei” -

Se recomendo?

Diria que somente para aqueles que gostaram, por exemplo, do ‘Caçador de Pipas’ e principalmente do “O menino com o pijama listrado”. Confesso que não é o meu tipo de leitura preferido, porém acredito que tenha seu valor.

Cotação : ruim (ou bom – depende o ponto de vista)

Obs :

Diz que a Nicole Kidman comprou os direitos e vai protagonizar um filme baseado no livro. Porém uma passagem ela estará impedida de interpretar. É quando Sarah, a inglesa chiquérrima, se olha no espelho e percebe que “ Havia bolsas debaixo dos meus olhos e vincos novos e profundos na minha testa. A máscara estava finalmente rachando...”

Gente, fala sério ! Botozada do jeito que ela tá, alguém acredita que ela ainda pode gerar alguma expressão facial ?

Monday, May 02, 2011

Filme - O primeiro que disse


É inacreditável que alguma bicha goste desta porcaria chamada “O primeiro que disse”.

Li em diversos sites gays que o filme é “hilário”,” humano”,” bonito” entre outras atrocidades.

O filme não é nada disso e se resume a uma única palavra : homofóbico.

Disfarçada de um pseudo liberalismo a obra ataca, torpedeia, agride, estupra a comunidade gay, com comentários, diálogos e piadas absolutamente infames, podres, lamentáveis.

Senão vejamos : o roteiro conta a história de dois irmãos,Tommaso (Riccardo Scamarcio) e Antonio Cantone (Alessandro Preziosi), filhos de uma tradicional e rica família de Lucce, pequena cidade do interior da Itália, onde o primeiro – que mora em Roma, mas está visitando a familia – confessa a Antonio que irá revelar à familia que é gay no jantar que irá ocorrer.

O que acontece então é que Antonio, antes da confissão de Tommase, aproveita o tal jantar e confessa ele ser gay, o que ocasiona sua expulsão de casa pelo pai Vincenzo (Ennio Fantastichini).

Nesta situação, e porque o pai passa mal – quase morre - , a bicha numero 1 (Tommase) faz a linha hetero e acaba assumindo a empresa da família.

Daí pra diante, a barbaridade oscila (ou tenta) entre drama, romance e comédia, sem atingir nenhuma das propostas.

O desfile de personagens é patético : o pai é um personagem nojento, escroto. Expulsa o filho gay de casa, sem direito a nada, em nome da tradição familiar. – a sequencia dele no café, quando imagina que todos estão rindo da sua situação, dá vontade de jogar o que tiver a mão na tela – A mãe é uma boboca de marca maior. A avó – a matriarca humana – é ridícula. A bicha-hetero é covarde total. As “bichas amigas” são estereotipadas até o último pentelho.

Enfim, nada sobra.

O final é vergonhoso, podre, na sua tentativa de “recuperar os laços emocionais", através das belas cenas de “amor familiar”. É ofensivo , é agressivo, é repugnante.

As bichas que porventura gostam deste filme, são aquelas que pensam sobre si mesmas como “inferiores” e agradecem de joelhos qualquer migalha de pseudo-amor que recebem,

Cotação : Uó total

Sunday, May 01, 2011

Bethania e as Palavras




















Não, não vou me posicionar contra ou a favor da Bethania estar autorizada pelo governo, através da lei Rouanet , a buscar na iniciativa privada os tais de 1,3 milhões de reais para montar um blog de poesia.

Sobre isto tenho minha opinião e prefiro não me manifestar. O que quero falar é sobre o encontro “Bethania e as palavras” que teve sua primeira edição aqui em Porto Alegre ontem à noite.

Dentro de um formato simples, enxuto, apenas com dois instrumentistas -excelentes é claro -, o espetáculo é um misto de música, poesia e textos de livros que de fazem parte do universo emocional e afetivo da diva.

E que universo !

Definitivamente não é sempre que vemos num mesmo espetáculo um desfile de imortais como Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Carlos Drumond de Andrade, Capinam,, Villa –Lobos, Ferreira Gullar, Amália Rodrigues, Manuel Bandeira, Chico, Caetano, Renato Teixeira, e tantos outros.

Dividido em “temas”, se é que se pode chamar assim, o ritual inicia com uma invocação a Iansã, deusa dos raios, ventos e tempestades. Com força e gentileza, a dona da casa nos convida a penetrar no mundo mágico das palavras, da escrita.

Genipapo Absoluto (Caetano), - juntamente com textos de Jorge de Lima, Guimarães Rosa e Antonio Vieira - vêm em seguida, no resgate afetivo e na afirmação da importância, poder e necessidade da poesia.

O sertanejo, - sua saga, sua história, suas dores, sofrimentos, afetos, valores, sua mitologia enfim - , é retratados em dois blocos distintos. Um mais, como dizer, “do interior” – com “Vou danado pra catende” (Ascenso Ferreira),” Trenzinho Caipira” (Villa-Lobos), “Trem de Ferro (Manual Bandeira), etc - e outro que mostra o sofrimento, o desalinho, o estranhamento do matuto obrigado a migrar para a grande cidade – com “Lamento Sertanejo” (Gil), Patativa do Assaré, Último pau de arara (J. Guimarães).

O incrível é que o link, a ponte entre estes dois blocos se dá com “Francisco, Francisco”, de Roberto Mendes e Capinam, e “Águas e Mágoas do Rio São Francisco” (do Drumond), o que dá o tom exato de uma das causas do padecer do sertão. Emocionante.

Mas como a poderosa acredita e sonha, o tema “sertão” se encerra de forma sublime e engraçada com “ABC do Sertão” (Luiz Gonzaga)

Depois de um brevíssimo intervalo instrumental – no qual ela não sai do palco - Bethania volta matadora.

Ai meu Jesus!

De uma tacada só ela, totalmente impiedosa – sem cuspe nem vaselina – vai de “Poema de um funcionário cansado” (Ramos Rosa), “Nenhuma saudade já me resta” (Fernando Pessoa), “Solidão” (citação da “Dança da Solidão” do Paulinho da Viola ) , Mestre, meu mestre querido (Pessoa), “Estranha forma de vida” (Amália Rodrigues”), “Velha Chácara” (Manuel Bandeira) e vários outros nesta linha “saudade”, “lembranças”, “desamor”, “desespero”, “cortar os pulsos”.

E o problema é que a bandida, a malvada, não facilita e mastiga, rumina cada palavra com o destemor exato para sangrá-las e atingir as alma dos incautos. Os blocos assassinos se encerram com uma das minhas poesias preferidas : “`Poema do Menino Jesus (Alberto Caeiro)”, que já vi ela interpretar outras vezes, sempre me fazendo debulhar em lágrimas - e ontem não foi diferente... Fazer o que ?? Fiasco puro. – Nada como a discrição da escuridão do teatro para restabelecer a make-up.

Logo surge a memória cristã em homenagem a Nossa Senhora, com as belíssima “Ladainha de Santo Amaro” (Mabel Veloso – irmã de Betha) e “Romaria” (Renato Teixeira).


Entrando no mundo dos amores, das paixões ( o que é a cara dela), somos brindados com Fausto Fawcet, Bruna Lombardi, “Meu Primeiro Amor” e principalmente com Guimarães Rosa - “Diadorim e Riobaldo”. Não é sempre que podemos estar diante de uma obra mastodônica como esta. Guimarães extrapola qualquer conceito de bom, ótimo ou excelente em arte. Guimarães é mais do que um “escritor”, um “autor”. É um artesão, um bruxo , um abençoado, que utilizou (reinventou) as palavras para interpretar, decodificar, explicitar a alma, o espírito e tudo o que representa, tudo o que significa ser humano. Soberbo, pra dizer o mínimo.


O negro e o Indio, as matas e o caipira “são lidos” através Craveirinha, Castro Alves, Joubert de Carvalho, Capinam e outros. Bethania brilha especialmente em “Os Sapos” (Manuel Bandeira) - engraçada e lírica ao “imitar as vozes” dos diferentes sapos.

Por fim, no estilo “sou brasileiro e me orgulho”, nosso país, suas origens portuguesas, e tudo o que representa nossa língua – nossa, nação, afirmação e realidade - encerra o espetáculo nas vozes de Moraes Moreira, Caetano, Vinicius e outros.


A diva é ovacionada – os da fila do gargarejo jogam pétalas de rosas a seus pés (quer coisa mais “deusa” ? )- , sai do palco e retorna para um bis improvisado (pelo menos foi o que ela representou) e acaba com o povo com “Mensagem” (Isaurinha Garcia) e “Todas as cartas de amor (Fernando Pessoa).

Depois disto ? ... Um jantar com vinho Cabernet...

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Friday, April 29, 2011

A Odisseia de Homero (gato cego) - Gwen Cooper

Não, não se trata do poema épico atribuído a Homero, e sim do livro sobre um gato cego da escritora americana Gwen Cooper .

Homero é o nome do bichano que teve os olhos extirpados no pós-nascimento devido a uma doença, foi abandonado em uma veterinária e que teve a sorte de ser adotado por Gwen.

Isto num momento complicado da vida dela (pós-separação, morando de favor, emprego frágil, etc). Mesmo assim, Gwen apaixona-se pelo bichano e acompanha surpresa o desenvolvimento de várias de suas habilidades ( localizar a comida, usar a caixa de areia, correr, brincar, pular sobre os móveis, esperá-la na porta, etc).

Com momentos hilarios e emocionantes, o livro alterna o relatos das aventuras de Homero (uma em especial é absolutamente absurda de fantástica – aquela em que Gwen acorda no meio na noite e ouve Homero rosnar ... ), com as próprias vivências da escritora. Gwen muitas vezes vê Homero como um mestre - principalmente diante da sua intrepidez para superar sua deficiência - e em determinados momentos age em sua própria vida de acordo com o que aprende com ele.

O livro é eficiente naquilo que pretende e certamente é indicado principalmente para os amantes dos bichanos, já que muitas passagens só vão ser devidamente apreciadas por aqueles que entendem e aceitam a psicologia felina ( a mesma que afasta muita gente do contato com os peludos).

Conceito : Muito bom

Para constar : tenho três gatos em casa (um é zen que dorme comigo, outro bi-polar que chega perto quando quer, e o terceiro totalmente selvagem que odeia os humanos )


Site da Gwen

http://gwencooper.com/

Thursday, April 28, 2011

Edney Silvestre - Se eu fechar os olhos agora

Uma das coisas que devemos aprender é não cair facilmente na conversa alheia quando se trata de adquirir alguma coisa, seja ela qual for.

Infelizmente , ignorei este sábio conselho e mais uma vez caí como um patinho ao comprar o premiadíssimo “Se eu fechar meus olhos agora”, do jornalista Edney Silvestre.

Este livro venceu o Jabuti 2010 de melhor romance de forma polêmica, foi muito elogiado e alçou seu autor ao patamar de celebridade literária nacional.

Ledo engano.

O livro é uma porcaria. Não conseguir avançar e acabei largando, totalmente abismado com a ode à curteza das faculdades literárias cometida a cada página.

Ou eu estou muito ranzinza ou realmente não consegui entender a “beleza da escrita do autor”.

Gente, o que é aquela cena logo no início onde os dois garotos de 12 anos (sim, 12 anos) são torturados e acusados pela polícia de estuprar e matar uma mulher ? O “diálogo” entre os policiais e os garotos é vergonhoso de tão canhestro e primitivo. E o pai malvado ? E depois, a história do velhinho fugitivo do asilo ? E os garotos são motivados exatamente pelo que ? - (do nada eles decidem bancar os detetives ) -

As cenas absurdas vão se enfileirando e não há um resquício de inteligência a que se apegar para motivar a continuidade da leitura.

Com a profundidade de pires de formiga, o autor demonstra querer construir uma alegoria da época da ditadura através dos olhos inocentes da infância. Quer coisa mais batida ? Mas este não é o problema. A questão é que o livro é escrita barata, óbvia, rasteira.

É inacreditável que alguém tenha encontrado qualidade neste cambalacho literário.

Cotação : Uó total

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Em entrevista a Folha, Edney comenta não saber o motivo do sucesso do livro.

Vejamos alguns trechos :

Folha : "Tudo começou de verdade com uma crítica elogiosa que recebi na Folha. Aí começou a repercussão." A razão do sucesso ele não sabe, mas arrisca uma hipótese.

Meu comentario : Recebeu uma crítica elogiosa na Folha : só pode ter sido de um compadre.

Folha : "Talvez porque o livro seja um balanço sobre a história do Brasil. E também uma história policial, em termos. E também por ser um romance de formação", divaga.

Meu comentário ; “balanço sobre a história do Brasil”, “história policial”, “romance de formação”, - Ah, ... a modéstia é comovente...

Folha : “Silvestre fará 56 anos em 2011. A estreia tardia, na opinião dele, foi fundamental para amadurecer a criação. "Mas estou em boa companhia. Cervantes também começou em idade madura na literatura. Nada mal, não?" “

Meu comentário : Gente do céu, comparar-se a Cervantes ? Só pode estar brincando ! O bonito tá se achando ...

Folha : Agora Silvestre prepara um novo romance. Sobre o livro, adianta apenas que "envolve o sentimento de ser estrangeiro no mundo".

Meu aviso : Que mêda ! Fiquem alertas !! Fujam !

Wednesday, April 27, 2011

Livro Retrato de um Viciado Quando Jovem ( Bill Clegg)

Bill Clegg era um jovem e bem sucedido editor de livros em Nova York. Bem estabelecido, circulava nas nos melhores ambientes intelectuais e mantinha um relacionamento com Noah, um cineasta (na verdade um psedônimo do cineasta Ira Sachs).

Fora isto, Bill era um “drug addict” genérico; alcool, maconha, cocaina, faziam parte da sua dieta.

Aparentemente, de uma forma zoneada é claro, ele conseguia se equilibrar com estes aditivos, porém tudo muda quando ele adentra o nevoeiro do crack.

Daí para diante sua vida vira um espiral rumo à vala da escória, um mergulho no sangradouro do abate humano.

Bill é impiedoso consigo. Sua narrativa é crua, direta, totalmente despida de máscaras, de hipocrisias ou palavras mansas.

Acompanhamos sua trajetória desde uma infância problemática a um adulto perturbado, lado a lado com seus traumas, loucuras, delírios, paranóias. Vivemos com ele sua vertigem, suas obsessões, carências. Seguimos seu frenesi pela selva da alienação, da demência – Apavorados, para dizer o mínimo.

Particularmente fiquei impressionado com a descrição (primorosa) da sua primeira experiência com o crack.

Isto acontece num momento em que ele encontra um senhor de aparência respeitável na rua, que o convida a acompanhá-lo a um quarto de hotel (com segundas intenções é claro).

Lá, este senhor (Fitz) lhe oferece o crack.

Neste trecho, Bill descreve detalhadamente (na terceira pessoa) o que sentiu ao fumar a pedra pela primeira vez.

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“Fitz lhe entrega o cachimbo com cuidado e, enquanto tira um isqueiro do bolso, pede que coloque os lábios ali. O tubo de vidro é delicado e suas mãos estão tremendo. Ele tem mêdo de derramar o crack no chão , mas isso não acontece. Fitz acende o isqueiro e passa a chama na ponta do cachimbo. Ele inala devagar ao ver aquela substância branca fazer bolhinhas e estourar no calor da chama. Uma fumaça perolada vem descendo pelo cachimo e ele suga mais para trazê-la atá a boca. Fitz pede que ele vá com calma, e ele obedece. Logo seus pulmões estão cheios , e ele segura a fumaça como faz com a fumaça da maconha. Ele exala e imediatamente começa a tossir. Tem gosto de remédio, ou de desinfetante, mas também um toque adocicado, como o sabor da lima. A fumaça forma vagalhões no ar, passando por Fitz como um grande dragão abrindo as asas. Ele vê aquela nuvem se espalhar e formar anéis e sente a onda primeiro como uma vibração , depois como um terremoto. Um raio de energia renovada eletriza cada centímetro do seu corpo, e há um momento de esquecimento perfeito, quando ele está consciente de nada e de tudo ao mesmo tempo. Uma espécie de paz surge por trás de seus olhos. Espalha-se das têmporas para o peito, depois para as mãos, depois para todo o resto. É algo que bombardeia – algo cinético, sexual, eufórico – como um magnífico furacão girando na velocidade da luz. É a carícia mais terna que já sentiu, mas quando recua, torna-se o mais gelado dos toques. Ele sente falta dessa sensação antes mesmo de ela ir embora, e não apenas quer mais, como precisa de mais.”

A idéia da ...

“ ...carícia mais terna que já sentiu, mas quando recua, torna-se o mais gelado dos toques Ele sente falta dessa sensação antes mesmo de ela ir embora, e não apenas quer mais, como precisa de mais.”

... é uma descrição porrada do efeito imediato do crack na criatura.

Bem, dizem que para o crack não há recuperação. Conheço um caso de um carinha que ficou afastado da droga uns sete anos, e acabou recaíndo. Seria o caso do Bill Clegg ? Ao que tudo indica ele continua limpo.

De qualquer forma seu livro é ótimo

Cotação : ótimo

Tuesday, April 26, 2011

Livro - Eu mato


A capa chama : “4 milhões de exemplares vendidos na Italia”.

Depois de acabar a leitura pensei : “4 milhões de idiotas compraram por lá (e eu no Brasil)”.

Fala sério.

Um thriller de serial killer que começa muito bem. Um louco – psicopata –ensandecido (sic) começa a matar o povo - na chiquérrima Monte Carlo - arranca a pele das caras dos defuntos e ... (deixa prá lá, prá não estragar as “surpresas”.)

Paralelamente, um DJ de sucesso começa a receber telefones do tal assassino, a policia européia e americana (um cara sequelado do FBI) se envolvem, um general linha-dura busca vingança, uns traficantes são presos nos EUA, aparece uma garota com um filho do pai (sim, incesto), etc, etc.

Começa a ficar uma coisa samba do crioulo doido. Mas até aí tudo bem.

O que começa a acabar (e acaba) com a trama é maneira banal, fácil, ridícula como as investigações e descobertas acontecem. A partir do momento em que um sortudo (nem tanto) detetive faz uma viagem para seguir uma pista (conseguida de uma maneira completamente inverossímel), encontra alegremente pela frente várias pessoas bem dispostas a relatar histórias escabrosas da vida alheia (fofoca pura), e, deste modo, permitir a descoberta de tudo sobre o vilão da maneira absolutamente mais fácil do mundo.

Mas a coisa fica muito pior. Depois da revelação de quem é o assassino, o livro avança para cenas constrangedoras que pretendem misturar sentimentalismo (da pior espécie envolvendo um garoto down), romance (garota sofrida em busca de protetor), ação ( uma mistura de Jack Bauer – Chuck Norris e Sherlock Holmes), redenção (tipo, mostra o “lado humano” do serial) e assim por diante.

Inacreditável.

Cotação : Uó total.

Nunca mais chego perto bobagens do tal de Giorgio Faletti.