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Thursday, October 16, 2014

Classic Illustrated (Clássicos Ilustrados)

Classic Illustrated (Clássicos Ilustrados) é uma série de histórias em quadrinhos que traziam adaptações de clássicos literárias, como por exemplo Moby Dick, Hamlet, O Médico e o Monstro e outros. Criada por Albert Kanter, a série iniciou em 1941 e finalizou sua primeira etapa em 1971, produzindo 169 edições.

As séries voltaram a ser publicadas a partir dos anos 1990, alcançando também o formato digital.

Alguns artistas que ilustraram as capas fantásticas : Jack Abel, Stephen Addeo, Matt Baker, Dik Browne, Lou Cameron, Sid Check, L.B. Cole, Reed Crandall, George Evans, Denis Gifford, Graham Ingels, Henry C. Kiefer, Alex Blum, Everett Raymond Kinstler, Jack Kirby, Roy Krenkel, Gray Morrow, Joe Orlando, Norman Nodel, Rudolph Palais, Norman Saunders, John Severin, Joe Sinnott, Angelo Torres, Al Williamson and George Woodbridge.


A Guerra dos Mundos

Cleopatra

Frankenstein

Hamlet

Jane Eyre

Moby Dick

O Conde de Monte Cristo

O Corcunda de Notre Dame

O Médico e o Monstro

O Morro dos Ventos Uivantes

Os Miseráveis

Os Primeiros Homens na Lua

Os Últimos Dias de Pompéia

Robin Hood

As Aventuras de Sherlock Holmes

Viagem ao Centro da Terra

Friday, October 03, 2014

Livro - Rin Tin Tin - A Vida e A Lenda


“Rin Tin Tin - A Vida e A Lenda”, de Susan Orlean (Editora: Valentina) é um livro para a terceira idade? Para aquela geração, tipo dos anos 60 e 70, que cresceu assistindo “As aventuras de Rin tin tin” nas velhas televisões preto e branco ?

Crianças que acompanhavam mesmerizadas as aventuras do valente cão pastor alemão, companheiro do garoto Cabo Rusty ( que gritava Yo ho Rinty! Toda vez que necessitava de ajuda), juntamente com o atrapalhado Sargento O`Hara e o Tenente "Rip" Masters ?


Bem, sim e não.

Para mim, que fiz parte desta geração, o livro me levou a reviver emoções e sonhos da infância quando eu meus irmãos e amigos sonhávamos ter um cão tão nobre e inteligente quanto Rinty (e chegamos a ter um pastor alemão, mas ele acabou sendo dado a um fazendeiro depois de morder a bunda de um garoto numa festa de aniversário lá em casa).

Mas o livro não é só para os saudosistas. Na verdade “Rin Tin Tin - A Vida e A Lenda”, é uma saga de obsessão, paixão, sucesso e ruína quase inacreditável, retratada na vida de várias pessoas que dedicaram suas existências a construção e defesa de um sonho, e que sofreram (alguns duramente) as consequências das suas escolhas e caminhos.

E isto, afinal, é universal.

No livro acompanhamos basicamente três figuras :

1) Lee Duncan, um jovem soldado americano (com um forte sentimento de orfandade), que encontra – numa campanha na França durante a Primeira Guerra em 1918 - uma ninhada de cães numa cidade arruinada, e faz das tripas coração para cuidar e transportar dois filhotes para os EUA (um macho e uma fêmea).
Lee e Rinty filhote

Lee fica obcecado com o“machinho” (chama-o de Rin Tin Tin. Como surgiu este nome ? Leiam olivro. É muito legal mesmo sua origem),  e dedica praticamente todo seu tempo para treiná-lo.

Nesta relação, Rin Tin Tin acaba desenvolvendo habilidades extraordinárias e um comportamento “inteligente”, o que leva Lee a crer estar diante de um cão superior, com um diferencial único (o que era verdade).

Nesta época (início dos anos 20), a indústria hollywoodiana crescia nos EUA e Lee – depois de algumas bênçãos do destino – consegue transformar Rinty num astro das capaz de arrastar multidões aos cinemas.

Então dono e cão tornam-se personalidades nacionais com direito a muitos prêmios, red carpet, mordomias e muita grana.

 Mas a coisa não podia durar para sempre e Lee passa da glória à bancarrota com o advento do cinema falado e a morte do pioneiro Rin Tin Tin (a descrição do envelhecimento e últimos anos de vida do primeiro Rinty é “de chorar”).

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Herbert Leonard
2) Herbert “Bert” Leonard, um gerente de produção nova-iorquino (super brigão), que decide investir num programa de TV tendo Rin tin tin como astro, nos anos 50, resgatando o herói canino do ostracismo.

Não preciso dizer que o programa foi um sucesso mundial, o que tornou Leonard um milionário muito influente no negócio de entretenimento televisivo (ele produziu mais duas séries de sucesso “Rota 66” e “Cidade Nua”).

Com a morte de Lee, Bert assume (na verdade herda) o legado de Rin Tin Tin. Porém, a partir daí – com o mundo em mudança, onde a figura do cão herói se torna um tanto anacrônica - , a carreira do produtor só vai ladeira abaixo com uma mistura de “idéias geniais”, fracassos, investimentos, dívidas enormes e decisões absurdas num conjunto de estripulias que o levou cada vez mais ao fundo do poço.

De qualquer forma é impressionante acompanhar a fixação de Bert com a figura de Rin Tin Tin e sua luta para, mesmo causando danos materiais e emocionais a si próprio, manter a integridade da simbologia do cão.
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3) Daphne Hereford uma mulher determinada cuja avó, apaixonada pelo cão, ... “estava tão decidida a ter um herdeiro dele que em 1956 descobriu o endereço de Lee Duncan e enviou-lhe uma carta pedindo um filhote.

 “Toda a vida eu quis ter um Rin Tin Tin”, ela escreveu, acrescentando, antes de perguntar o preço: “Eu não sou uma dessas texanas ricas que tem por aí. Sou uma mulher simples, criada num sítio.” 
Daphne Hereford

Disse que queria começar “um legado vivo de Rin Tin Tins em Houston”, e prometeu que se Lee lhe enviasse um filhote, ela devolveria imediatamente a caixa de transporte por correio. Impressionado com tanta determinação, Lee concordou em conceder-lhe um filhote de Rin Tin Tin IV, “de excelente qualidade”. 

Quando a avó morreu, em 1988, Daphne assumiu a tutela do legado. Ressuscitou o Fã-Clube Rin Tin Tin e registrou todas as patentes que pôde, relativas a Rin Tin Tin. 

Todo o seu dinheiro ia para os cães, o fã-clube e outros projetos relacionados. Morava numa pequena casa de cômodos em Latexo, Texas, e se virava como podia com as despesas.

Para Daphne, tratava-se de preservar a estirpe dos Rin Tin Tins, que se podia traçar passado adentro — cão após cão, geração após geração, com um ou outro percalço, mas jamais interrompida — de Old Man (que era o seu Rinty) até o primeiro Rin Tin Tin e, o mais importante, a ideia original: aquilo que você ama de verdade nunca morre.
 
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Após a morte de Lee, Daphne e Bert, distantes um do outro e cada um a sua maneira, dedicaram suas vidas a preservar a iconografia do cão. Porém, num absurdo acaso do destino, envolvendo o astro Lee Aaker (Cabo Rusty), acabam entrando em conflito.

Lee Aaker - decadência total
E por falar em Lee Aaker e demais atores da série, de modo geral o saldo para todos, depois do encerramento de “As aventuras de Rin Tin Tin”, foi negativo. Principalmente para o astro infantil. Aliás o lance dele com o impostor Paul Klein (leiam o livro) é algo, digamos, “bizarro”.

Mas “A Vida e A Lenda” vai além da história de Rin Tin Tin e os humanos que se envolveram com ele. Vai além e muito. Na narrativa, Susan constrói um fenomenal panorama histórico e social relacionado a relação do homem x cão (e de resto com outros animais domésticos).

É maravilhoso acompanhar as transformações das “utilidades” dos cães através das décadas; partindo de animais de pastoreio e vigilância, passando por “soldados” de guerra e outros usos (principalmente em shows), até transformarem-se em leais companheiros e amigos do homem, no sentido que vemos hoje (com até certo exagero, é verdade).

Enfim, um livro magnífico para qualquer um que se interesse pelo Rin Tin Tin, por história, por cães, por televisão, por cinema, por amizade, por companheirismo e sonho.

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EXCERTOS :
 
A AUTORA FALA DA SUA RELAÇÃO PESSOAL COM RINTY :
 
Naquela época, a década de 1950, Rin Tin Tin era universal: estava em toda a parte, como que impregnado no próprio ar. Eu tinha só 4 anos por ocasião da sua primeira temporada na TV, de modo que a minha lembrança se resume a alguns rabiscos esmaecidos. 

Susan Orlean
Como, porém, meu irmão e minha irmã assistiam ao programa religiosamente, o mais provável é que eu me aboletasse ao lado deles para assistir também. 

Quando se é tão pequena, coisas assim são simplesmente absorvidas: elas se tornam parte de você. A sensação que trago em mim é a de ter conhecido Rin Tin Tin a vida inteira, como que por osmose. 

Ele é parte do meu ser, como uma cantiga de ninar que sou capaz de repetir sem saber de onde tirei. Sobre o ruído de fundo da minha primeira infância, eu percebo nitidamente um toque de corneta, um menino chamando “Yo Rinty” e um cachorrão saltando de um lado para o outro da tela, sempre a postos para salvar a pátria.
 
LEE ENCONTRA A NINHADA NUMA CIDADE ARRUINADA DURANTE A PRIMEIRA GUERRA (1918)


Seu relato nos garante que ele caminhou pelo campo inventariando o lugar (...) Familiarizado com cães, ele notou que a construção de concreto, longa e baixa, localizada na margem do campo era um canil, provavelmente construído pelos alemães para seus soldados caninos. Lee foi até lá dar uma espiada. 

Quando seus olhos se adaptaram à escuridão, o que viu foi uma carnificina infernal: vinte e poucos cães mortos por bombas de artilharia. Entrou no canil, passando por entre os corpos. 

Eram claramente cães militares. Um deles tinha uma gaiola de pombo-correio amarrada às costas, com dois pombos ainda vivos. Lee os libertou. Em meio ao silêncio, escutou ganidos. Seguindo o som até o fundo do canil, encontrou, no canto mais afastado daquela ruína sinistra, uma desesperada fêmea de pastor-alemão com uma ninhada de cinco filhotes.
 
DESCRIÇÃO DO PRIMEIRO RIN TIN TIN 
 
( ...) Rinty tinha 3 anos. Perdera a fofura de filhote, mas adquirira um manto lustroso e escuro, quase  negro, com raias douradas nas patas, mandíbula e peito. 


A cauda era peluda como a de um esquilo. Não era demasiado alto nem demasiado largo, não tinha um peito particularmente profundo nem patas especialmente longas e musculosas, mas era vigoroso e ágil, tão ligeiro quanto um cabrito montês. 

Tinha orelhas comicamente grandes, como duas tulipas, e bastante afastadas pelo largo crânio. 

Seu focinho era mais impressionante do que belo e a expressão preocupada, compassiva e generosa: em lugar da típica excitação canina, expressava um quê de sensibilidade, a melancolia de quem observa com tolerância e resignação a aventura de viver, lutar e ter esperança.
 
O PRIMEIRO RINTY PARTICIPA DE UM CONCURSO DE HABILIDADES, É FILMADO E, COMO SE DIZ, O RESTO É HISTÓRIA
 
Rin Tin Tin e uma fêmea chamada Marie foram os finalistas na competição de salto. A barreira, um muro de pranchas de madeira, foi colocada a 3,50m de altura. Ambos a superaram. A barreira foi, então, elevada 8cm para o desempate. O árbitro e seus assistentes se reuniram ao lado para ver de perto. Marie foi a primeira. 

Ela saltou por sobre o muro, mas bateu na prancha superior com as patas traseiras. Rin Tin Tin se preparou. “Charley Jones manteve o foco da câmera em Rinty enquanto ele levantava voo e aterrissava do outro lado”, escreveu Lee. “Rinty saltou mais alto que a cabeça do árbitro e todos os outros.” 

Vencera um obstáculo de quase 3,60m, um feito impressionante para qualquer cão, que dirá para um que pesava apenas 38kg. Jones ficou encantado com a nova câmera e a filmagem. Lee presumindo tratar-se de um experimento fortuito, pareceu não lhe dar
muita atenção: estava mais interessado nas menções que Rinty recebeu nos jornais de Los Angeles. 

Decidiu, então, iniciar um álbum de recortes, “sem jamais ter sonhado”, como escreveu, “que um dia Rinty estaria nos jornais de todo o mundo”. 

O filme do salto de Rin Tin Tin permaneceu, no entanto, na mente de Lee, porque nas semanas seguintes à exposição ele foi tomado por um renovado desejo de colocá-lo em Hollywood. 

“Eu fiquei tão excitado com a perspectiva do cinema que pensava nisso dia e noite”, escreveu. “Eu estava interessado em filmes, não em armas.”
 
(...) 

O prazer de Lee era o seu cachorro. Pelo que se deduz de seus cadernos, tinha poucos amigos, nenhum interesse por garotas e hobby algum que não incluísse o seu cão. Achava, também, que Rin Tin Tin dava “sinais de gênio”. 

Depois de ler “Por que Não Fazer o seu Hobby Render Dinheiro?” em 1921 e de sentir a influência de Hollywood, que ficava bem perto de sua casa, decidiu fazer exatamente isto: escrever um roteiro para um filme que tivesse Rin Tin Tin como astro. Queria ganhar o concurso da revista, mas começou também a pensar no passo seguinte — convencer um estúdio a fazer um filme “estrelando Rin Tin Tin”.
 
LEE PENSA NO ROTEIRO DO PRIMEIRO FILME DE RINTY (WHERE THE NORTH BEGINS)
 
Lee não só acreditava ter essa “faculdade de escrever histórias” como até já produzira uma, inspirada num conto popular sobre um príncipe e seu amado cão. Dizia o conto que o príncipe Llewellyn caçava lobos em sua propriedade certa manhã quando deu pela ausência de seu cão, Gelert, companheiro de todas as horas. 

Retornando ao castelo, Llewellyn foi ao quarto do filho imaginando que o cão estivesse dormindo ao seu lado. O que encontrou, no entanto, foi uma desgraça: a cama ensopada de sangue e o cão encolhido num canto. 

Entendendo que o cão havia matado o seu filho, o príncipe, furioso, desembainhou a faca de caça e estripou-o. Enquanto o cão agonizava, porém, Llewellyn percebeu um movimento ao lado da cama. 

O menino estava deitado,incólume, junto ao corpo de um lobo, que Gelert obviamente matara para protegê-lo. Llewellyn logo se deu conta do terrível engano, mas era tarde demais para salvar o cão. O ato final de Gelert, antes de sucumbir, foi lamber a mão do príncipe, perdoando-lhe o erro fatal

Lee deu ao seu roteiro o título Where the North Begins. Em lugar do príncipe, seu personagem principal era um caçador de peles; o cão era um animal extraviado que fora criado por lobos. 

O caçador, Dupre, passa a confiar no cão por tê-lo ajudado a enfrentar o proprietário de uma feitoria e seu capanga. Um dia, Dupre é instado a sacrificar o cão por ele ter matado uma criança. Ele concorda, relutante, mas o cão foge e se junta a um bando de lobos. 

Quando, mais tarde, Dupre descobre que a acusação era falsa, vai à floresta e encontra o cão. Em vez de rejeitar Dupre por tê-lo traído, o cão o recebe sem rancor e eles voltam a ser leais companheiros. 

O cenário era outro, mas a história de Lee mantinha intactos os temas da lenda de Llewellyn: a intimidade entre um homem e seu cão; a virtude do cão e sua muda resignação à falsa denúncia; o efeito obnubilante da ira; a capacidade do cão de absolver e perdoar; a necessidade humana de culpar; o generoso martírio do cão, assimilável ao de Cristo.

 Para um homem como Lee, que fora abandonado pelo pai, a história de um pai tão devotado ao filho que seria capaz de matar por ele devia ser uma deliciosa fantasia
 
TRECHOS DE CARTAS DE FÃS A LEE
 
001 . “Esse pastor-alemão teve uma participação tão destacada na minha infância que eu nunca poderei esquecê-lo. Finalmente tenho a oportunidade de agradecer-lhe, Sr. Duncan, por ter tido um papel nessa história tão bonita, por ter tido um papel nos dias felizes da minha infância, por ter encontrado esse prodigioso cão-prodígio que é Rin Tin Tin.”


002. “Caro Sr. Duncan, nós adoraríamos ter um cachorro igual a Rin Tin Tin. Dawn trabalha de babá para juntar dinheiro, e Chris vende manteiga para a gente poder comprar um. Michael economiza tudo o que ganha, e Gail também trabalha de babá e vende manteiga. Já juntamos mais de 22 dólares e 55 centavos. Se não for suficiente, por favor escreva-nos dizendo quanto precisamos economizar.” Lee respondeu-lhes dizendo que eles teriam um filhote se conseguissem juntar 25 dólares no fim do mês. ( ... as crianças ganharam seu cão e ficaram maravilhadas...)

CAROLYN, FILHA DE LEE, QUE SEMPRE TEVE A IMPRESSÃO DE QUE SEU PAI GOSTAVA MAIS DOS CÃES DO QUE DELA.

Em meio à torrente de atenções criada pelo programa (de televisão), Carolyn e sua mãe se esforçavam para se adaptar à versão mais recente da sua vida doméstica.

 Nunca fora fácil conviver com o cão famoso, e com o homem famoso por trás do cão, mas agora era menos ainda, especialmente para Carolyn, que certa vez me disse ter tido “a infância mais estranha do mundo”. 

Todas as crianças que conhecia assistiam ao programa e fantasiavam viver a vida dela, com Rin Tin Tin em seus quintais.  Ela, no entanto, sentia-se perdida, uma espécie de adendo — a reles e deselegante irmãzinha de um cão.

A SÉRIE DE TV PERDEU O SENTIDO DIANTE DAS MUDANÇAS SOCIAIS DA DÉCADA DE 50 E 60
 
(crianças e jovens) ... mudavam de atitude e, sobretudo, que começavam a se tornar independentes de seus pais, elas se convertiam numa força renovada e poderosa, refletida pela cultura popular. Em 1956, surgiram Marlon Brando, Elvis Presley, o American Bandstand e Uivo, de Allen Ginsberg; em 1957, On the Road, de Jack Kerouac, e em 1959, Almoço Nu, de William S. Burroughs. 

Em 1955, o filme Rebelde sem Causa, com James Dean fazendo o papel de um adolescente desajustado, foracelebrado como o retrato definitivo dos subúrbios norte-americanos, e Sementes de Violência, com seu elenco de jovens antissociais e a primeira trilha sonora de rockand-roll da história do cinema, mostrara os adolescentes urbanos como indivíduospredatórios e cruéis. 

A doce promessa do pós-guerra — uma vida cômoda e abastada em comunidades-dormitório povoadas de bebês de bochechas rosadas — vinha azedando. 

As comunidades-dormitório afluentes eram mortalmente enfadonhas, e seus bebês, agora, adolescentes entediados. Um cão herói e uma tropa de cavalaria começaram a parecer relíquias de um passado distante.
(…)
Ele (o seriado) era antiquado, construído sobre a crença na bravura e a afeição inocente de um menino por um cão. Não bastasse, havia também um inabalável respeito pela autoridade oficial — como disse Rip Masters, em mais de um episódio: “Desafiar a autoridade do governo dos Estados Unidos não compensa!” Afinado, em seus primórdios, com o espírito da época, o seriado parecia agora um tanto fora de passo. O mundo vinha mudando. Contestar era a palavra de ordem.

RINTY, VALORES E RECOMPENSAS.


“Essa receptividade universal só pode ser entendida tendo-se em conta que o seriado de TV e os valores que ele projeta e defende — coragem, lealdade e decência — se tornaram tão identificados com a tradição norte-americana de justiça, fraternidade e liberdade quanto o beisebol, o hambúrguer e o futebol das tardes de domingo.”
(…)
“Porque”, disse Bert, vagarosamente, “nós (...) pensávamos — eu, pessoalmente, achava que essa era uma excelente maneira de contar pequenas histórias morais. 

Por isso Rin Tin Tin foi um grande sucesso: durante todos esses anos, ele veiculou experiências de vida simples e positivas que expressam a mais autêntica recompensa pelas boas ações, o amor e a relação com o cão, o menino, a cavalaria e tudo o que há de positivo na vida americana. 

E fizemos isso não apenas... não era só uma questão de dinheiro. Eu sempre acreditei que, se você fizesse uma coisa que valesse a pena, ganharia muito dinheiro. 

E era esse o objetivo, fazer uma coisa maravilhosa com que as pessoas se identificassem, algo de que elas gostassem, e daí viria o sucesso e todas as demais recompensas, morais e financeiras. Foi por isso que eu adotei Rin Tin Tin”.
 
A OBSESSÃO DE ALGUMAS PESSOAS COM O PERSONAGEM.
 
Em que momento a devoção se converte em cegueira? É impossível uma pessoa idolatrar algo, ou alguém, sem ter alguma capacidade de autoengano e esquecimento. 

Afinal, não há nada perfeito neste mundo — nada que, para continuar merecendo o amor de outrem, não exija, de vez em quando, um desvio do olhar, umouvido seletivo ou um bem calibrado lapso de memória. 
Apaixonar-se por algo ou alguém requer capacidade de relevar o que pode haver de errado com o outro. Até onde, porém, é razoável relevar? 

Até que ponto a lealdade supõe a capacidade de esquecer, de gostar de estar apaixonado; até que ponto ela precisa da verdade? 

Saber graduar a nossa devoção — isto é, ter clara a diferença entre insistir em fazer de conta que não vimos e renunciar rápido demais — parece ser uma aptidão vital, um talento. 

Conhecer nosso limite já seria uma bênção. Parece, no entanto, que estamos condenados a pesar as coisas com um dedo na balança, ora loucos para desistir, ora entusiasmados em excesso.

UM CÃO ETERNO

“Sempre haverá um Rin Tin Tin”, disse Lee Duncan, repetidas vezes, a repórteres, visitantes, revistas de fã-clubes, vizinhos, familiares e amigos. No começo, devia soar absurdo — uma doce ilusão a respeito do animal que amenizara a sua solidão e o fizera famoso em todo o mundo. Mas Lee estava certo: sempre houve um Rin Tin Tin. 

 segundo Rin Tin Tin não tinha o talento do pai, mas era assim mesmo Rin Tin Tin, levando adiante o que o primeiro começara. Depois de Rin Tin Tin Jr. houve Rin Tin Tin III, depois outro Rin Tin Tin, depois outro e mais outro: sempre houve mais um. 

E Rin Tin Tin sempre foi mais do que um cão: foi uma ideia e um ideal — um herói, mas também um amigo, guerreiro zeloso, gênio sem fala, ermitão e sociável. 
 
Foi ao mesmo tempo um cão e muitos cães, animal de verdade e personagem inventado, cachorro de estimação e celebridade internacional. 
 
Nasceu em 1918 e nunca morreu.



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VÍDEOS 
 
Abertura da Série (infelizmente com som meio baixo)


 
Episódio “A Última Patrulha (1955)” -  Dublagem Original


 
Trecho do Filme “Where The North Begins” – Primeiro filme de Rin Tin Tin