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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Saturday, December 17, 2005

O Doce Veneno do Escorpião

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O que dizer do livro da Bruna Surfistinha, “O doce veneno do escorpião (O diário de uma garota de programa)”?

Seria uma nova forma de literatura oriunda da velocidade dos blogs? Um texto altamente descartável produto desta era da Internet? Um diário confessional com complexas revelações psicológicas? Um registro de encontros e fantasias eróticas ousadas? Um veículo de auto-promoção?

Impossível classificar.

Acredito que para a maioria dos que leram o livro a tendência é logo começar a jogar pedra e taxar a obra de lixo e sub-literatura (emprestei para dois amigos e ambos retornaram com este tipo de comentário. Mas, atenção, leram até o fim!).

De qualquer forma é inegável que olhar a intimidade do outro é sedutor. Até mesmo para sabermos que alguém, muitas vezes, realiza na prática muito do que fantasiamos ou sonhamos.

Mas Bruna não se restringe só a contar suas peripécias sexuais com coragem ímpar (o que sem dúvida é o grande chamariz para os leitores). Com a mesma coragem ela se assume como uma menina, e depois adolescente, extremamente problemática que, a despeito de ter acesso a uma vida de elite, acaba por desenvolver comportamentos cada vez mais comprometedores como mentira compulsiva, roubo e tendências suicidas.

De certa forma fica claro que o fato gerador de toda sua saga foi ela ter descoberto ter sido adotada. A partir daí ela “pira”, sente-se rejeitada, não se reconhece mais na família; olha para seus pais e irmãs e não encontra identificação. Seu comportamento muda. Perdida, com uma auto-imagem negativa, busca a aceitação dos outros pelo inverso (ingenuamente ela quer parecer “adulta” através do fumo e da bebida).

Isto sem falar na sua libido intensa, sua excitação que a leva a vários contatos íntimos (quentes mas sem penetração) com meninos da sua faixa etária nas baladas e na escola . Fica evidente que o que ela encontra com estes meninos é a emoção de ser querida que lhe faz falta. O afeto, o carinho e a aceitação são encontrados através da sensualidade (talvez ela mesma não tenha percebido isto).

Infelizmente suas atitudes cada vez mais desregradas a levam a uma situação limite junto à familia onde, no final, só lhe resta buscar seguir sua vida longe de todos. E ela vai em busca da sua independência, do seu destino através da prostituição.

Sobre sua experiência como artesã do sexo (uma “prima”, conforme ela registra) ela fala sobre suas expectativas (até ingênuas antes de conhecer a verdadeira face o trabalho); seus temores (alguns infundados e outros concretizados); seu aprendizado prático como profissional (experiências que vão do nojo até o gozo real); seu aprendizado sobre o ser humano (ela torna-se uma expert ao ouvir as histórias e conhecer a intimidade dos clientes).

Ela também fala sobre sua descoberta do prazer com mulheres, sobre disputas e intrigas no meio, sobre suas fantasias eróticas, sobre suas regras de comportamento, valores de programas, etc.

É interessante também conhecer suas reflexões sobre os motivos que levam os homens a buscar garotas de programa (a imensa maioria casados ou comprometidos) e também suas dicas para um sexo feliz.

Paralelamente ela relata sua luta para livrar-se do vício da cocaína e como, a partir daí, projetou um caminho para abandonar a dita “vida fácil” . O que ela quer para seu futuro : estabilidade financeira, parceiro, filhos, uma nova profissão e também ser esquecida por todos.

Bem, diante disto parece que estamos diante de uma obra que traz “uma densa história de vida”. Não é nada disto. O livro é rápido, rasteiro, superficial e sem foco, afinal a autora tem apenas 21 anos (não que isto seja um determinante de incapacidade, mas para quem quer registrar uma biografia -ou algo parecido- é). Isto deve ficar bem claro para os possíveis leitores.

Por isto mesmo, voltando ao início, reafirmo que a tendência é achar o livro um lixo. Mas eu diria que, despindo-se de preconceitos, da tendência de julgar o comportamento alheio e de rotular o certo e o errado, o leitor que se aventurar por este "veneno" encontrará, no mínimo, um interessante relato sobre a trajetória incompleta de uma garota interrompida.

Thursday, December 15, 2005

Encontrando Deus através do sexo

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A idéia de transcendência espiritual, da experiência mística através do sexo é antiga. De imediato podemos lembrar a antiguíssima tradição Tantrica que prega o auto-conhecimento o desenvolvimento da consciência, da sensibilidade, da aceitação, da naturalidade, da totalidade do ser através de técnicas de energia corporal.

Toni Bentley é uma mulher que alcançou esta transcêndencia através da prática do sexo anal. No livro “A entrega – Memórias Eróticas” Tony relata sua trajetória nesta viagem pelo caminho da descoberta da espiritualidade através da carne.

Vinda de uma família que a registrou como “agnóstica” na certidão de nascimento, -isto sem falar nas formas de violência emocional a que foi submetida pelos pais, exemplificada cruamente numa passagem envolvendo uma banana- Toni cresceu sentindo-se uma diferente, uma estranha num mundo onde parecia que todos tinham uma religião de onde tiravam, na visão da garota, um sentimento de comunidade, de inclusão o qual ela nunca iria alcançar. Para ela as demais pessoas encontravam na religião todas as respostas para suas necessidades de conforto e até para os dissabores. E ela tinha o que para confortá-la sendo rotulada desde bebê como “agnóstica” ?

Esta falta de sentimento místico tornou-a uma estranha no ninho, a fez sentir-se excluída. Cresceu nela um sentimento de falta, de ôco, de vazio existencial. Sentindo-se culpada e raivosa, sem saber ao certo porque, torna-se uma bailarina extremamente exigente e rigorosa consigo mesma, o que a faz buscar a superação através da dor dos exercícios físicos e na abstinência alimentar. O sofrimento provocado pelo uso das duras sapatilhas a reconforta.

Depois, já adulta, transfere esta raiva para os homens. Nos seus encontros sexuais assume o papel de dominadora. Quer ter sua vagina adorada, exige submissão dos parceiros. Consegue isto, mas seus encontros, seus orgasmos, suas experiências a frustram. A troca de parceiros, namorados e até um casamento não a completam, não a realizam.

Após a separação torna-se quase que uma predadora sexual exigindo cada vez mais dos parceiros e em contrapartida frustrando-se cada vez mais.

Até que encontra o Homem-A que com o qual experimenta o sexo anal. É uma revelação. Neste momento seu mundo gira, inverte-se. De dominadora passa a dominada. Neste ato, a experiência da necessidade de expandir a conexão íntima com seu próprio corpo para proporcionar uma entrega ao parceiro a transforma. Através da âmago da experiência carnal seu espírito cresce, sua mente liberta-se, as amarras se rompem e ela sente-se livre. Agora, sentindo-se dominada, nâo existe mais a exigência, a reclamação, a insatisfação. Não existe mais a dualidade. Agora ela pode relaxar e sentir uma profunda união física, emocional e espiritual com o outro.

A prática da sodomia -baseada intimamente na confiança, na transmutação da dor e no encontro de um novo prazer- proporciona a ela o desapego de traumas, tabus, ódios, ressentimentos e tudo o que representa obstáculo para a “entrega”. Sem pai nem mãe mais a ditar conceitos e preconceitos na sua cabeça, sem bloqueios, longe da noção pecado, sujeira, certo ou errado, ela liberta seu físico, mente e coração. O fluxo, a energia vital toma sua totalidade, a preenche, não deixando mais espaço para dúvidas ou inquietações. Toni sente-se renascida, renovada. Sua alma levita. A entrega, a doação irrestrita do seu ser emocional e físico a conecta com o Superior. Através da penetração anal ela encontra seu caminho para Deus.

Mas a experiência não termina aí. Como todo aquele que busca o caminho espiritual sabe, após encontrá-lo e trilhá-lo (com suas alegrias, dificuldades e sofrimentos), deve-se deixá-lo pois, de outra forma, corre-se o risco de apaixonar-se pelo caminho e, assim, prender-se a ele como num labirinto. Como uma legítima peregrina Toni também relata seu processo de ruptura, de afastamento daquilo que ela amava. Isto, apesar de destruí-la emocionalmente, a leva à descoberta de uma nova mulher em si. Uma mulher plena, senhora dos seus desejos e de sua vida.

Realmente um livro ousado, inteligente e religioso.


Para os juízes, preconceituoso e horrorizados de plantão registro abaixo uma passagem do livro “Espiritualidade “ do Leonardo Boff com a qual concordo integralmente :

“O universo é um grande sacramento. A matéria é sagrada. A natureza é espiritual. Por que? Porque é o templo de Deus. Deus está em tudo e tudo está em Deus. .. (...)... a fé deve ser vigorosa para poder ver Deus, realmente, em todas as coisas, mesmo nas mais contraditórias...”

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Mais informações sobre o livro nos links abaixo

http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=1744

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT1053076-1655,00.html

http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT1052878-1661,00.html



Monday, December 12, 2005

Vingança, vingança, vingança

Engraçado, neste final de semana acabei assistindo quatro filmes que falam sobre vingança. Não tive nenhuma intenção em selecionar este tema mas fiquei surpreso ao perceber que todos eles tratavam deste sentimento, desta energia das mais variadas maneiras. Seria alguma coisa subconsciente? Algo que me ronda? Algo que preciso executar? Uma mensagem? .. Sei lá...

Seguem os comentários.

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Jogos Mortais 2

Jigwaw, o assassino canceroso e jogador, está de volta para dar mais uma lição aos humanos. A motivação de Jigsaw é : “o ser humano só dá valor a vida quando confrontado com sua própria morte iminente”. Para provocar isto ele coloca algumas pessoas frente a frente em situações limites onde ou elas unem-se para lutar por suas vidas ou acabam matando-se umas as outras para salvar, cada uma, a sua própria pele. É claro que se tratando de um filme de horror os personagens imbecis acabam optanto por brigar uns com os outros. E o que se vê é um festival de mortes horrenda com sofisticados requintes de crueldade. A exemplo do primeiro “Jogos Mortais”, o final é surpreendente e causa uma reviravolta interessante na história (que sem dúvida terá continuação). A vingança aqui é o centro e grande motivadora desta reviravolta. Mas o filme não passa de um terror barato para assustar e impressionar os sádicos de plantão.

Curiosidade : o ator que interpreta (bem) o policial é Donnie Wahlberg (foto abaixo), que iniciou carreira artística cantando no grupo teen “New Kids on the Block”. Depois Donnie passou para o cinema onde destacou-se em “Sexto Sentido”, fazendo o pequeno mas fundamental papel do assassino do personagem do Bruce Willis. Também fez o papel de ET no horrendo “O apanhador de sonhos”. Donnie é irmão de Mark Wahlberg, também cantor e ator, casualmente o protagonista do próximo filme comentado.

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Quatro Irmãos


O diretor John Singleton volta ao seu universo bem conhecido de gangues, violência e hip hop. Aqui temos a história de quatro irmãos adotivos (dois brancos e dois negros) que têm sua mãe assassinada aparentemente num assalto “comum”. Logo a polícia incrimina genericamente “alguns garotos negros” mas os irmãos, não convencidos, partem para investigar e fazer justiças com as próprias mãos. Eles acabam entrando num universo de poder, violência e corrupção que os leva a perceber que apenas a força bruta (e alguns assassinatos) não os livrarão das implicações relacionadas com a morte da gentil senhora. Daí partem para um plano de vingança supreendente e bem fechado.

Uma obra acima da média que serve para passar o tempo.

Curiosidade : Mark Wahlberg (o protagonista - foto abaixo), também começou carreira como cantor. Seu grupo Marky Mark and the Funky Bunch foi fundado com a ajuda do seu irmão Donnie (veja filme acima) e chegou a excursionar com o NKOTB (New kids on the block). Mark alcançou sucesso tanto como cantor quanto como modelo principalmente pela campanha de cuecas que fez para Calvin Klein.

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Pirataria : fui procurar este filme para comprar nas banca de camelô aqui em Porto Alegre. Chegava e dizia que queria o DVD “Quatro irmãos”. Ninguém tinha, ninguém conhecia. Exceto um : o rapaz olhou bem para mim e pediu para aguardar. Foi até um companheiro, conversou um pouco e voltou. Cheio de razão, sério, me disse : “Olha moço, este filme que o senhor quer não existe. O filme que o senhor quer é “Os dois filhos de Francisco” e não “Quatro irmãos””

...pano rápído

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Marcas da Violência

O bizarro diretor David Cronemberg volta em uma obra mais convencional, bem diferente das loucuras tipo “Videodrome” e “Scanners”.

Baseado numa graphic novell, o filme conta a história de uma pacata família numa pequena cidade do interior dos EUA que tem sua vida transformada quando o pai, Tom Stall (interpretado por Viggo Mortensen – o inesquecível Aragorn do “Senhor dos Anéis”), vira uma celebridade ao matar dois ladrões e assassinos que tentam assaltar sua lanchonete.

Com a divulgação da sua foto na mída nacional logo surgem na cidade alguns gangsters que afirmam que o herói na verdade é um frio assassino que tem contas a pagar com seu passado. Um destes gangsters apresenta um olho destruído o qual, afirma, é resultado da violência inerente ao pacato cidadão. É claro que Tom afirma não ser a pessoa em questão, porém pouco a pouco a verdade vem à tona desequilibrando totalmente aquela típica família americana.

Daí para diante o filme vira uma fábula sobre vingança, mentiras, resgate do passado, eliminação dos fantasmas, mudanças, traição, redenção e possibilidade de uma nova vida.

Um filme adulto com duas boas cenas eróticas : uma no início quando a esposa se traveste de lider de torcida e rola uma sequência de sexo oral bem realista e outra, já quando as mentiras vieram à tona, onde o casal transa violentamente numa escada.

Vale a pena.

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Oldboy

Fantástico. Inesquecível. Neste filme a palavra “vingança” atinge sua plenitude, sua glória, seu sucesso. Oldboy conta a história de Daesu (vivido pelo excelente ator Choi Min-sik) que, sem motivo aparente, fica preso durante 15 anos numa cela que parece mais um hotel de quinta categoria. Subitamente ele é solto e, completamente perdido, raivoso, com ódio do mundo, parte para vingar-se daqueles que prenderam. Nas suas andanças acaba se envolvendo com Mido uma jovem garçonete que o acolhe e torna-se sua amante.

Também Daesu logo descobre quem foi o mandante do seu infortúnio : trata-se de Lee Woo-jin, um magnata que não deixa claro imediatamente qual foi a causa da sua prisão. Isto faz com que Daesu o poupe de início.

Propositalmente o filme vai seguindo meio confuso e sem coerência, alternando passagens de lutas bem coreografadas, cenas de tortura explícita (sem falar na famosa cena onde um polvo vivo é devorado por Choi Min-sik) com outras bem mornas, principalmente aquelas que envolvem o casal de namorados.

Deste modo a saga segue com o infeliz ex-prisioneiro perdido (e o público também) numa busca de vingança aparentemente desfocada e sem objetivos.

Porém, inesperadamente, a história toma um caminho totalmente novo que vai levar o protagonista ao encontro do maior pesadelo da sua vida. O que acontece é um soco da cara do público, é de cair o queixo. A cena onde Daesu finalmente compreende o porque de ter passado pelo inferno é absolutamente fantástica onde o personagem mescla incredulidade, horror, súplica, humilhação e ódio. Fiquei chocado.

Oldboy mostra um círculo onde uma vingança alimenta a outra, onde os personagens definem suas vidas por este sentimento, por esta energia que os motiva e destrói.

Depois de tudo, o belíssimo final levanta mais questões do que soluções. Assim, fica a cargo do público julgar se o destino proposto ao personagem representa uma benção e sua salvação ou o definitivo empurrão para o abismo.

Thursday, December 08, 2005

Depois da Vitória vem o Destino

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Há alguns dias eu estava escutando uma música do ABBA (sim, aquele grupo pop-cult da década de 70 e 80) e ouvi a seguinte frase “beyond the victory lies the destiny” (trad : além –depois- da vitória existe o destino). Fiquei pasmo, achei genial. Fui procurar a letra para confirmar. Que decepção !..tinha entendido errado. A letra diz : “beside the victory that’s her destiny” ( trad: junto à vitória está seu destino – ou algo que o valha). Mas o meu entender errado não tirou da minha cabeça o sentido que me fascinou.

Me peguei a pensar sobre isto.

Muitas vezes buscamos a vitória, buscamos um objetivo e para alcançá-lo nos empenhamos, investimos energia, sangue, suor e lágrimas. Traçamos um caminho e perseveramos nele. Alcançamos o sucesso, atingimos a meta. Comemoramos, sentimos felicidade. Vibramos com a realização, a concretização de um sonho. Saboreamos o final da jornada. Recebemos a recompensa.

Sim, mas e daí? O que vem depois do “felizes para sempre”? O que vem depois do beijo final? O que vem depois do “the end” triunfante? O que vem depois da vitória?

Conforme “entendi” o Abba, vem o “destino”. E este determinante, este destino muitas vezes pode nos mostrar que a vitória anterior nada mais era do que o início de um caminho que nos levou a grandes sofrimentos.

Isto é bem típico observar em relacionamentos amorosos. Nestes, é investida toda uma energia para a conquista, para a sedução, para o estabelecimento de laços e a prática da convivência. Pronto! Agora eu tenho alguém! Tenho um relacionamento! Tenho um amor! Mas e o dia seguinte? E o outro? E depois? Como manter a felicidade da vitória?.. do êxito?

O tempo é inexorável com nossas conquistas. Não existe vitória imutável, não existe a perpetuação do gozo. Isto gera angústia, gera mêdo pois gostaríamos que as felicidades fossem perenes, que pudéssemos nos despreocupar, que pudéssemos relaxar. É claro que com uma observação atenta, com um cuidado cotidiano, podemos agir para que muitas das coisas que nos agradam perdurem.

Porém muitas vezes nos vemos incapazes de atuar sobre todas as variáveis e situações que fazem a roda da vida girar e que acabam deslocando os elementos antes bem conhecidos. Assim, novos cenários surgem, novas paisagens se revelam. Novos desafios e dramas nos são impostos. Surgem finais e outros recomeços. Para enfrentá-los necessitamos de novas ferramentas, de novas energias, de novos objetivos. Vamos em frente, traçamos caminhos. Lutamos. Perseveramos na jornada, na busca de renovados êxitos.

Encontramos novamente o sucesso. Alcançamos a vitória. Novo sabor, nova alegria.

O tempo volta ... e conhecemos novos destinos...

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obs : a música em questão é “The winner takes it all”

Monday, December 05, 2005

Vanessa da Mata, Exorcismo, Bas-Fond e Eletrônica

REGISTROS DO FINAL DE SEMANA

SHOW - VANESSA DA MATA : Dentro do Programa de Circuito Cultural do Banco do Brasil (Identidade Brasileira), foi apresentado neste final de semana o show de Vanessa da Mata, no Salão de Atos da UFRGS. Com ingresso a R$ 5,00 o teatro estava lotado. Pontualmente às 21 horas as cortinas foram abertas e iniciou o show de abertura com o compositor local Mario Falcão. Um show absolutamente morno que quase me fez dormir. Show de abertura encerrado, novamente fecham-se as cortinas. Por volta das 22 horas é anunciada a atração principal. As cortinas se abrem e o teatro é invadido por um sons belíssimos onde se destacam os lamentos do acordeão. Fora de cena Vanessa começa a cantar “Vem” do seu último CD (Esta boneca tem manual). Logo ela entra, exuberante, com um vestido longo, leve e rústico. Os cabelos crespos domados com laços e um belo e discreto adereço. O cenário simples, decorado apenas com alguns panos pintados tem o acompanhamento ideal de uma iluminação corretíssima e alguns efeitos de fumaça. O efeito cênico é perfeito. Assim, no início, nota-se que sua voz ainda está fria além de um certo nervosismo ou insegurança em cena. Mas logo ela ataca com “Esta boneca tem manual” seguida o grande hit “Não me deixe só”. É o bastante para a festa, para a entrega começar. De ambas as partes. A platéia responde com gritos, assovios e palmas entusiasmadas. No palco, Vanessa responde com um crescimento vigoroso. Sua voz, seu corpo, seu gestual, sua emoção passam a dominar o teatro. Ela agarra o publico de modo certeiro e não irá largar mais até o final. O espetáculo segue com “Ainda bem”, sem dúvida uma das mais belas canções românticas da MPB, que tem a capacidade de provocar lágrimas em todos os apaixonados presentes. Logo depois vêm “Case-se comigo” ( também emocionante), “Música” e outras. Algumas canções do show me marcaram de modo especial. Antes de cantar “A Força que nunca seca”, Vanessa relembra que fez a letra –musicada pelo Chico César- para a avó. A música foi gravada pela Maria Bethania quando Vanessa tinha 21 anos e ela deixa claro que a partir daí as coisas começaram a acontecer na sua vida. Esta canção traz, na minha opinião, uma das imagens mais fortes da MPB quando descreve a força física, o sacrifício que as mulheres são obrigadas a fazer para equilibrarem latas dágua na cabeça. Diz a letra em determinado trecho : “...a lata não mostra / o corpo que entorta / pra lata ficar reta...” (lágrimas novante). Adiante ela canta “História de uma gata” da obra “Os Saltimbancos” do Chico Buarque. É impressionante! Inacreditável! Sua voz desdobra-se, reinventa-se. Sua “interpretação” da gata que troca o apartamento pela vida na rua é espetacular. Impossível aplaudir sentado. Ao final da música todo o teatro levanta e ela é ovacionada. O show segue perfeito até o final – com destaques para “Eu sou neguinha” do Caetano Veloso e “Joãozinho” (hilária). No bis, a grande surpresa da noite : sentada no chão, diretamente em frente ao público, totalmente despojada e acompanhada apenas por uma discreta guitarra, Vanessa simplesmente arrasa com uma interpretação dilacerante de “Tempos perdidos” da Legião Urbana. Os presentes babam de emoção. Após, a grande noite encerra-se com o repeteco de “Não me deixe só”. Todo o teatro em pé, dança e canta junto com Vanessa. O show acaba, fecham-se as cortinas.Clima de felicidade absoluta. A noite estava ganha.

FILME - CIDADE BAIXA : Um triângulo amoroso formado por dois semi-marginais e uma prostituta. Passado no bas-fond de Salvador, este filme apresenta personagens que gradativamente submergem num labirinto de perturbações com as quais não conseguem lidar e que acabam por enredá-los em uma teia de sentimentos desencontrados. Atração, repulsão, amor, ódio, raiva, ciúme, vingança, tristeza, solidão e desamparo, tudo regado a muito sexo, formam o universo de emoções onde as figuras debatem-se perdidas. Wagner Moura, Lázaro Ramos e Alice Braga estão ótimos, mas o destaque sem dúvida fica com Wagner. Confesso que tinha um grande preconceito por achá-lo um galãzinho global, mas ele arrebenta na interpretação. Um filme intenso, corajoso, com um final aberto (assim como a vida). Ao sair do cinema leva-se a sensação de ter assistido um dos melhores filmes nacionais recentes.

FILME - O EXORCISMO DE EMILY ROSE : Ridículo, patético, imbecil. Uma piada com pretensa aura de terror. Dito baseado em uma história real, o filme apresenta o julgamento de um padre acusado de negligência por ter tratado de uma garota doente (que teria um diagnóstico de epilepsia e psicose) com água-benta e Bíblia, deixando de lado o tratamento médico convencional. A garota, sem os remédios corretos, teria entrando num processo de anemia profunda além de apresentar surtos de auto-mutilação e coisas do gênero. É claro que o filme se propõe a levantar questões importantes, que no caso seria : a garota realmente estava possuída pelo Invertido –e neste caso surge toda uma discussão “profunda” a respeito de fé e religiosidade- ou era uma louca varrida que deveria ser internada? Equilibrando-se sobre este mote o filme apresenta cenas “fortes”
da tal garota se contorcendo e gritando igual a um porco no matadouro. Haja ouvido !! No final, a resolução, a “mensagem” é ridícula. Ou melhor, nem é tão ridícula; o problema é como, de uma hora para outra, o filme sai da linha terror e vira uma coisa religiosa, na linha “aparição da virgem”. Realmente não dá para aguentar. Fujam.

CD – CANSEI DE SER SEXY : Comprei ontem o cd desta banda paulista que está causando um certo buchicho no meio musical e que tem uma trajetória curiosa. Vinda da cena independente, a CSS (sigla da banda) começou a ser conhecida em outros pagos através da divulgação de suas músicas na internet. Daí, só cresceu o interesse pelo seu trabalho e que agora foi coroado com o lançamento de um CD pela gravadora Trama. Um pop-rock despretensioso, com largas cargas de eletrônica, letras “modernas” e alguma distorção. Me lembrou em algums momentos a banda Le Tigre (só que eletrônica) e a TATU. O curioso é que o CD é sem dúvida muito bem produzido, só que, para mim, algumas músicas soavam melhor nos arranjos antigos, como por exemplo “Meeting Paris Hilton”. De qualquer forma o álbum é muito bom e vale a pena.