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Saturday, December 17, 2005

O Doce Veneno do Escorpião

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O que dizer do livro da Bruna Surfistinha, “O doce veneno do escorpião (O diário de uma garota de programa)”?

Seria uma nova forma de literatura oriunda da velocidade dos blogs? Um texto altamente descartável produto desta era da Internet? Um diário confessional com complexas revelações psicológicas? Um registro de encontros e fantasias eróticas ousadas? Um veículo de auto-promoção?

Impossível classificar.

Acredito que para a maioria dos que leram o livro a tendência é logo começar a jogar pedra e taxar a obra de lixo e sub-literatura (emprestei para dois amigos e ambos retornaram com este tipo de comentário. Mas, atenção, leram até o fim!).

De qualquer forma é inegável que olhar a intimidade do outro é sedutor. Até mesmo para sabermos que alguém, muitas vezes, realiza na prática muito do que fantasiamos ou sonhamos.

Mas Bruna não se restringe só a contar suas peripécias sexuais com coragem ímpar (o que sem dúvida é o grande chamariz para os leitores). Com a mesma coragem ela se assume como uma menina, e depois adolescente, extremamente problemática que, a despeito de ter acesso a uma vida de elite, acaba por desenvolver comportamentos cada vez mais comprometedores como mentira compulsiva, roubo e tendências suicidas.

De certa forma fica claro que o fato gerador de toda sua saga foi ela ter descoberto ter sido adotada. A partir daí ela “pira”, sente-se rejeitada, não se reconhece mais na família; olha para seus pais e irmãs e não encontra identificação. Seu comportamento muda. Perdida, com uma auto-imagem negativa, busca a aceitação dos outros pelo inverso (ingenuamente ela quer parecer “adulta” através do fumo e da bebida).

Isto sem falar na sua libido intensa, sua excitação que a leva a vários contatos íntimos (quentes mas sem penetração) com meninos da sua faixa etária nas baladas e na escola . Fica evidente que o que ela encontra com estes meninos é a emoção de ser querida que lhe faz falta. O afeto, o carinho e a aceitação são encontrados através da sensualidade (talvez ela mesma não tenha percebido isto).

Infelizmente suas atitudes cada vez mais desregradas a levam a uma situação limite junto à familia onde, no final, só lhe resta buscar seguir sua vida longe de todos. E ela vai em busca da sua independência, do seu destino através da prostituição.

Sobre sua experiência como artesã do sexo (uma “prima”, conforme ela registra) ela fala sobre suas expectativas (até ingênuas antes de conhecer a verdadeira face o trabalho); seus temores (alguns infundados e outros concretizados); seu aprendizado prático como profissional (experiências que vão do nojo até o gozo real); seu aprendizado sobre o ser humano (ela torna-se uma expert ao ouvir as histórias e conhecer a intimidade dos clientes).

Ela também fala sobre sua descoberta do prazer com mulheres, sobre disputas e intrigas no meio, sobre suas fantasias eróticas, sobre suas regras de comportamento, valores de programas, etc.

É interessante também conhecer suas reflexões sobre os motivos que levam os homens a buscar garotas de programa (a imensa maioria casados ou comprometidos) e também suas dicas para um sexo feliz.

Paralelamente ela relata sua luta para livrar-se do vício da cocaína e como, a partir daí, projetou um caminho para abandonar a dita “vida fácil” . O que ela quer para seu futuro : estabilidade financeira, parceiro, filhos, uma nova profissão e também ser esquecida por todos.

Bem, diante disto parece que estamos diante de uma obra que traz “uma densa história de vida”. Não é nada disto. O livro é rápido, rasteiro, superficial e sem foco, afinal a autora tem apenas 21 anos (não que isto seja um determinante de incapacidade, mas para quem quer registrar uma biografia -ou algo parecido- é). Isto deve ficar bem claro para os possíveis leitores.

Por isto mesmo, voltando ao início, reafirmo que a tendência é achar o livro um lixo. Mas eu diria que, despindo-se de preconceitos, da tendência de julgar o comportamento alheio e de rotular o certo e o errado, o leitor que se aventurar por este "veneno" encontrará, no mínimo, um interessante relato sobre a trajetória incompleta de uma garota interrompida.

4 comments:

greentea said...

não li este livro e não sei se aparecerá por cá. Mas tenho lido alguns posts que não diferem muito desta interpretação - a falta de afectividade em criança e em adulto leva a situações sexuais por vezes complicadas por vezes talvez desajustadas em relação aos comportamentos ditos normais. Leia-se o blog "Sociedade Anónima", por ex. Em tempos li um artigo numa revista de grande tiragem , em q um psicóloga, bem casada oficialmente com um Director de grande empresa, aparentemente "feliz", uma psicóloga dizia eu , mudava de roupa mudava de cara de maquilhagem de EU e ia para a rua, para a prostituição porque isso lhe dava um prazer louco. Só procurava carros de alta cilindrada e parceiros de bom nível social dizia ela... mas em fiat 500 ou Ferrari a desgraça é a mesma e certamente no final a permanente insatisfação.
Um dia o marido descobriu a cena (andaria ele tb no engate?) e foi o fim : o casamento desfez-se, aquele casamento q lhe trazia tanta "segurança" e a dualidade acabou. São facetas das pessoas, são dualismos, são as nossas várias caras. É chocante? ... É estranho? Não nos compete a nós julgar mas nem sempre é fácil aceitar e compreender.São mecanismos muito profundos do EU

Dark Side said...

é, esta fazendo sucesso... não creio que tu comprou :P
me empresta??

bjos

Dark Side said...

hahaha, tbém quero, tbém quero!!!!

Dayse Batista said...

E a pergunta que eu faço é: precisamos disso?

Quer dizer: mais um? Mais um livro asism? Mais uma "história de vida trágica"?

I mean, gimme a break, Iuri, te amo mas é melhor fazer que ler, melhor fazer que gastar dinheiro com a menina (cá pra nós, não estaríamos pagando por um programa com ela, de outro modo, comprando seu livro?)

(desse jeito todo mundo começará a lançar confissões libidinosas. Até eu! :-))