Hino do Blog - Clique para ouvir

Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
Clique para ouvir

Monday, January 30, 2006

O exorcismo de Anne Frank

Image hosting by Photobucket

Ontem eu estava dando uma olhada, pela primeira vez, nesta edição do Big Brother Brasil no sistema pay per view. Varios participantes estavam reunidos num quarto comentando que uma das garotas presentes parecia a Regan (personagem de Linda Blair em “O Exorcista”). Todos concordavam e a tal fulana só ria.

Entusiasmados, o assunto evoluiu para filmes de terror, tipo “quem viu qual”, “o que achou”, etc. Até que um deles saiu com a seguinte pérola : “Tem um filme novo de exorcismo no cinema, é o “Exorcismo de Anne Frank”, alguém viu?”....??!!..... Quase tive uma síncope! Caí na gargalhada! Acho que nem nos meus delírios mais absurdos conseguiria pensar numa mistura destas... Anne Frank exorcisada !!?? ... bem, quem sabe?... de repente seria uma nova idéia...... Ou então poderíamos pensar, invertendo as bolas, em “O diário de Emily Rose”? .. ou quem sabe “O diário de Regan”? .. Meu Deus do Céu !! .. Onde estamos ?? .. E o pior é que nenhum dos demais presentes contestou este absurdo...

Depois da recuperação do choque -e de rir muito mesmo-, me peguei pensando no tipo de pessoas que são colocadas nestes programas e que acabam cultuados na mídia como os “novos famosos”. Estas pessoas, talvez com raras exceções –e aqui incluo o Jean da edição passada- , não têm mais nada a oferecer ao público a não ser uma imagem bela, porém ôca, vazia e inconseqüente.

E o pior é que isto nem pode ser considerado culpa delas pois infelizmente sabe-se que a idéia de um programa “popular” que busque audiência não está vinculada a reunião de um grupo de intelectuais fechados em uma casa discutindo os mistérios da vida –se bem que seria interessante pensar em algo assim. Com certeza seria muito engraçado... –. Mas, pelo menos, as produções destes programas poderiam pensar em tentar injetar alguma dose de formação no público selecionando participantes com nível cultural um pouco superior – e olha que nem precisa ser muito não-.

Mas as coisas não se processam assim. A realidade é que a imagem desvinculada de conteúdo basta para seduzir, chamar a atenção e vender. Eu não quero dizer que acho isto errado, mesmo porque a celebração da estética, da beleza é fundamental para o exercício da sensibilidade, do interesse e da sexualidade. O problema surge quando esta imagem vazia é colocada como única regra para o interesse e notoriedade. Então dá-lhe corpos sarados, muito silicone e tinta no cabelo como prerrogativas para a atração, para a fama.

Assim, aquilo que no início é engraçado e divertido torna-se lamentável quando sabemos que estas celebridades descerebradas acabam sendo cultuadas -mesmo que temporariamente- como ícones de sei lá o que. E também é assustador saber que muitas vezes é através destas regras da exaltação da superficialidade que a voracidade da mídia se impõe na mente e no desejo do público.

E o que resta fazer? .. Imaginar Anne Frank sendo exorcisada?

... é de rir ... ou chorar...

Monday, January 23, 2006

Papai Transexual

Image hosting by Photobucket

Um transexual que deve reencontrar seu filho, o qual não sabia existir e que agora está preso por posse de drogas e prostituição, antes de realizar a cirurgia de correção de sexo marcada para dali a uma semana. Esta é a sinopse de “Transamérica”, um filme excelente que, pelo que eu saiba, ainda não tem data para estrear no Brasil (graças à Internet é possível assistirmos muitos filmes ainda inéditos).

“Transamérica” conta a história de Stanley 'Bree' Osbourne (“Stanley”, masculino e “Bree”, feminino”), um transexual (intepretado de forma absolutamente magnífica pela atriz Felicity Huffman) que finalmente consegue marcar sua cirurgia para correção genital. Porém, inesperadamente, ele/ela fica sabendo da existência de um filho seu , fruto de um rápido caso com uma colega lésbica dos tempos de colégio. Este filho está preso em New York e fornece o telefone do “pai” (o qual ele não conhece) como referência pessoal, já que sua mãe está morta.

Stanley fica surpreso com a notícia mas não deixa que isto interfira nos planos da sua sonhada cirurgia. Porém, casualmente, comenta a novidade com sua terapeuta, a qual interfere nos seus projetos e impõe que ele deve conhecer e, de certa forma, integrar-se com o filho antes da intervenção cirúrgica – na opinião da médica, o transexual deve “zerar” sua vida anterior antes que possa assumir completamente sua futura identidade. Stanley fica indignado mas não tem outra alternativa senão seguir as ordens da terapeuta para conseguir sua transformação.

Ao conhecer Toby, seu filho, na cadeia, "Bree" apresenta-se como uma missionária de uma ordem cristã chamada “A Igreja do Pai em Potencial” (o que é hilário). Depois de algumas tentativas frustradas de ajuda imediata, e de mais alguns percalços, eles iniciam uma longa viagem de automóvel através de vários estados –Stanley "Bree" deve encontrar um local para Toby ficar- a qual revelará muito de cada um ao outro (Toby não sabe que "Bree" é um homem e muito menos que ele/ela é seu pai).

Nesta jornada, o que se inicia como repulsa mútua aos poucos vai se transformando em carinho, atenção e cuidado entre os dois personagens marginais.

“Transamérica” é uma belíssma obra sobre descobertas, encontros, desencontros, dores, mágoas, ressentimentos e possibilidades de perdão e redenção. Porém, acima de tudo, é uma obra sobre transformação. "Transformação" aqui manifestada na sua plenitude : no sentido físico, emocional e espiritual.

Pai e filho, vivenciando juntos ou em separados diversas situações trágicas e/ou cômicas, vão num crescendo de conhecimentos mútuos e individuais que os levam a revolverem suas naturezas, suas emoções. Estes dolorosos e intensos processos os levam ao encontro dos seus fantasmas, dos seus traumas e dores da vida. Assim, no final, isto tudo acaba por os tornarem novos seres. Porém estes “novos seres” não se revelam dentro do que a sociedade comumente define como “homens –ou mulheres- de bem” (o que é extremamente louvável pois torna os personagens verdadeiramente humanos).

Com a direção de Duncan Tucker, “Transamérica” é um refresco neste mundo de filmes padrões Hollywoodianos. Felicity Huffman brilha e dá alma ao(à) atormentado(a) Stanley “Bree”, numa performance digna de um Oscar – ela já foi agraciada com o Globo de Ouro de melhor atriz dramática por este papel. O resto do elenco também não fica atrás, especialmente Kevin Zegers (Toby) e Fionnula Flanagan (Elizabeth Osbourne, a mãe Stanley “Bree”) .

Só resta agora aguardar a estréia de “Transamérica” por aqui a fim de que todos possam ter acesso a esta pequena jóia cinematográfica.

Wednesday, January 18, 2006

Perguntas Bizarras

Image hosted by Photobucket.com

Perguntas :

É verdade que o aborto diminui a criminalidade?

É verdade que existem nomes para crianças negras e nomes para crianças brancas?.. e que estes nomes são objetos de discriminação tanto por parte dos negros quanto dos brancos?

É verdade que existem nomes para crianças pobres e nomes para crianças ricas?.. e que os pobres copiam os nomes dos ricos?

É verdade que os corretores de imóveis vendem melhor suas próprias casas do que a casas dos clientes?

É verdade que os professores alteram as respostas dos alunos para receber o mérito de um bom ensino?

O que é mais perigoso ter em casa : uma arma ou uma piscina?

Devemos sempre confiar nos especialistas das áreas de conhecimento?

-----------------------------------------------------------------------------

Estas perguntas (e muitas outras) são efetuadas, analisadas e respondidas no best-seller Freakonomics, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, um livro de economia muito diferente do que se conhece nesta área.

Através de questões imaginativas, onde os objetos analisados são colocados sob novas perspectivas, a obra explora diversas áreas da economia social gerando idéias provocantes, muitas vezes invertendo o que se denonima "senso comum" ou “sabedoria convencional”.

Sem tendencionismo, baseados apenas em diversas fontes de dados analisadas sob rigorosos critérios, os autores, através de uma linguagem acessivel aos leigos, instigam a mente dos leitores com idéias originais e um tanto bizarras. Neste sentido é impossível não se chocar com a conclusão crua de que a legalização do aborto nos EUA, na década de 70, foi responsável pelo decréscimo dos índices de criminalidade observada, mas não muito bem explicada até Freakonomics ser publicado, na década de 90. O fato é que os abortos realizados por mães pobres, sem educação ou sem condições psicológicas de criar filhos, diminuíram drasticamente o número de crianças com potencial tendência à criminalidade na sociedade americana.

Por outro lado é triste constatar como a opinião pública pode ser manipulada através de afirmações sem consistência dos especialistas que lançam frases de efeito para causar terror na população ou obter benefícios. Neste aspecto é levantada, por exemplo, a seguinte questão : num discurso onde o medo seja o motivador, é mais fácil para os políticos obterem verbas para combater ameaças de ataques terroristas ou para uma campanha de prevenção de doenças cardíacas?.. a resposta é óbvia, né?...mesmo com a comprovação de que o coração mata muito mais do que os virtuais terroristas.

Dentro desta linha de análise, na sua simplicidade, Freakonomics traz um rojão de novos conceitos com potencial efetivo de mudar nossa nossa maneira de ver as coisas. O texto é fascinante e motivador.

No fim de tudo os autores nos recomendam a não acreditar em tudo o que se oferece como verdade absoluta e também nos instigam a usar nossa capacidade intelectual imaginativa no sentido de questionarmos os juízos estabelecidos e assim gerarmos novos conhecimentos e conceitos.

Urgente, atual e polêmico, Freakonomics merece o destaque que tem obtido.

Thursday, January 12, 2006

Mentiras e Interesses da Sedução (Freakonomics)

Image hosted by Photobucket.com

O quanto mentimos para conquistar alguém? Dizem que no jogo da sedução vale tudo : pose, charme, olhares, sorrisos e, claro, algumas pequenas mentiras ou omissões (para ficar mais light). Isto é certo ou errado? Eu seria hipócrita se dissesse que é errado pois afinal sei bem que ninguém se revela totalmente logo de cara ao aproximar-se de alguma pessoa que lhe interessa.

De qualquer forma é interessantíssimo conhecer alguns resultados de uma pesquisa, realizada por dois economistas americanos, sobre os dados de um site de encontros dos EUA.

O texto foi retirado do best-seller “Freakonomics” de Steven. D. Levitt e Stephen J. Dubner.

“Ali Hortaçsu, Günter J. Hitsch e Dam Ariely analisaram os dados de um dos principais sites de encontros, direcionando seu foco para cerca de 30 mil usuários, metade deles em Boston e a outra metade em Sam Diego. Cinquenta e sete por cento deles eram homens, e a idade média válida para todos os usuários era de 26 a 36 anos. Embora representassem uma miscigenação racial adequada para se chegar a algumas conclusões sobre raça, eram predominantemente brancos.

Igualmente, eram mais ricos, altos, magros e bem-apessoados do que a média. Ao menos a confiar no que haviam escrito sobre si mesmo. Mais de 4% dos paqueradores online afirmavam ganhar mais de $200 mil por ano, embora menos de 1% de usuários da Internet efetivamente ganhe tanto, o que sugere que três em quatro desses abonados tenham exagerado.

Usuários de ambos os sexos declaram ser cerca de uma polegada mais altos que a média nacional. Quanto ao peso, o dos homens se mostrou em compasso com a média nacional, enquanto as mulheres quase sempre se declaravam cerca de nove quilos abaixo da média nacional.

O mais notável é que 70% das mulheres afirmavam ser donas de uma beleza “acima da média”, incluídas aí 24% delas que se diziam “lindas”. Os homens não ficavam atrás: 67% descrevem a si próprios como “acima da média”, incluíndo aí 21% “muito bonitos”. Isso reduz a apenas 30% o percentual de usuários com aparência “média”, incluíndo aí 1% com aparencia “abaixo da média” o que indica que o típico usuário dos sites de encontros seja ou um fantasista ou um narcisista ou meramente avesso ao significado de “médio” (...).

Vinte e oito por cento das mulheres no site disseram ser louras, um número bem acima da média nacional, o que indica a presença de muita tinta ou de muita mentira, se não de ambas.

Alguns usuários, porém, mostraram-se estimulantemente honestos. Oito por cento dos homens – cerca de 1 em 12 – admitiram ser casados, sendo que metade se declarou “feliz no casamento”. A honestidade, porém, não os faz temerários. Desses 258 “bem casados” da mostragem, apenas 9% optaram por juntar uma foto. O lucro de ganhar uma amante evidentemente foi desbancado pelo risco de ter o próprio anúncio descoberto pela esposa. (“E o que você foi fazer nesse site?”, o marido poderia protestar, embora de nada fosse adiantar.)

De todas a receitas para se dar mal em um site de encontros, deixar de juntar uma foto certamente é mais infalível ( não que a foto precise ser, obrigatóriamente, do próprio; muitos usam a de um estranho mais bonito, mas tal feitiço em geral acaba virando contra o feiticero). Um homem que deixa de incluir sua foto recebe apenas 1/4 do volume da correspondência eletrônica enviada a outro que a inclua; no caso das mulheres, 1/6.

Um homem de baixa renda, pouca instrução, insatisfeito no emprego, não muito atraente, ligeiramente acima do peso e careca que inclua a sua foto tem mais chance de receber alguns e-mails do que outro que declare receber $200 mil e ser estonteantemente lindo, mas deixe de incluir uma foto. Existem múltiplas razões para alguém não incluir uma foto – trata-se de uma dificuldade técnica, o freguês tem vergonha de ser flagrado pelos amigos ou, simplesmente, é feio – mas, como no caso de um carro zero com a tabuleta de “vende-se”, os interessados concluirão que algo muito errado se esconde sob o capô.

Arrumar um encontro não é fácil. Cinquenta e sete por cento dos homens que põem anúncio não se recebem sequer um e-mail; 23% das mulheres não obtêm uma única resposta. Por outro lado, as características que suscitam melhor retorno não surpreenderão ninguém que conheça minimamente os dois sexos. Com efeito, as preferências expressas pelos paqueradores online combinam direitinho com os estereótipos mais comuns de homens e mulheres.

Por exemplo, os homens que dizem querer um relacionamento duradouro se saem muito melhor do que os que buscam um namoro passageiro. No entanto, as mulheres atrás de namoros passageiros dão-se maravilhosamente bem.

Para os homens, a aparência da mulher é fundamental.

Para as mulheres, a renda do homem é da maior importância. Quanto mais rico, mais e-mails um homem recebe. No caso das mulheres, ao contrário, o apelo da renda apresenta uma curva que sobe e desce: os homens não querem sair com mulheres que ganham pouco, mas quando elas começam a ganhar demais, eles fogem apavorados.

Os homens gostam de sair com estudantes, artistas, musicistas, veterinárias e celebridades (evitando secretárias, aposentadas e integrantes das forças armadas e da polícia). As mulheres preferem os militares, políciais e bombeiros (...), bem como advogados e executivos financeiros. As mulheres evitam operários, atores, estudantes e homens que trabalham com comida ou com atendimento.

Para os homens, ser baixo é uma grande desvantagem (o que talvez explique por que tantos mentem nessa área), mas o peso não tem tanta importância. Para as mulheres, ser gorda é mortal (o que explica por que elas mentem).

Para um homem, ter cabelo vermelho ou encaracolado é ruim, assim como ser careca, mas tudo bem se a cabeça for raspada. Para uma mulher, cabelo grisalho é péssimo, enquanto madeixas louras são o máximo. No mundo da paquera eletrônica, uma cabelera loura numa mulher vale mais ou menos o mesmo que um diploma universitário – e, com a tinta custando $100 e a anuidade acadêmica $100 mil, o preço é um bocado mais barato.

Além de todas as informações sobre renda, instrução e aparência, homens e mulheres no site de encontros incluem a raça a que pertencem. Indicam, também, suas preferencias com relação à raça de potenciais namorados. As duas respostas campeãs foram “a mesma que a minha” e “ não faz diferença”. (...)

Cerca de metade das mulheres brancas no site e 80 % dos homens brancos declaram que a raça não fazia diferença, mas os dados relativos às respostas contam uma outra história. Os homens brancos que afirmam que a raça lhes era indiferente enviaram 90% de seus e-mails de sondagem para mulheres brancas. As mulheres brancas que disseram não se importar com a raça mandaram 97% de seus e-mails de sondagem para homens brancos.”

Thursday, January 05, 2006

A tristeza de uma vida inobservada.

Image hosted by Photobucket.com

Ah ! ..a alegria de uma consulta médica ! – bem feita, é claro- ... Quando o doutor começa a questionar sobre nossa vida, nossos hábitos, nosso histórico. Quando ele pergunta sobre doenças na família, problemas de saúde dos consanguíneos, sobre nossa genealogia. E vai tomando nota, registrando nosso perfil, construindo uma memória. E nós incentivamos alguns dramas, lamentamos algumas perdas, nos entristecemos com algumas recordações. Porém, neste momento, nos sentimos vivos, com histórias para contar, com informações a revelar. Neste momento percebemos que alguém, mesmo que profissionalmente, se importa. Que alguém nos olha, escuta e nos valoriza.

Esta reflexão meio enviesada, mas com um fundo de verdade, retirei do livro “Quando Nietzsche chorou”, do escritor Irvin D. Yalom.

Nesta obra, em determinada passagem, quando Nietzsche realiza sua primeira consulta com o Dr. Breuer buscando tratamento para sua enxaqueca crônica, e passa a relatar seu histórico de saúde, o doutor sabiamente reconhece novamente esta “alegria padrão” que faz com que os pacientes se entusiasmem em falar de si mesmos.

Breuer pondera que esta alegria surge quando o paciente reconhece estar sendo escutado, quando percebe que alguém presta atenção, quando sabe que o outro está dando significado às suas dores. Neste momento o paciente destaca-se, torna-se especial, diferente. Ele assume uma identidade, uma unicidade.

Particularizando, o doutor associa esta manifestação mais e diretamente à velhice, situação onde muitos já perderam as referências pessoais e não têm mais com quem compartilhar suas histórias de vida. Daí, quando não existem mais interessados, quando não existem mais observadores, a pessoa sente o peso da solidão e do esquecimento. Assim, nos consultórios estes tristes sentimentos são amenizados, de maneira meio torta, através da necessidade de um relato de vida necessário para a construção de um diagnóstico profissional.

Transcrição do trecho :

“Durante todo o procedimento, Nietzsche se manteve totalmente atento: de fato, anuía reconhecidamente a cada pergunta de Breuer. Nenhuma surpresa, é claro, para Breuer. Jamais encontrara um pacinte que não gostasse secretamente de um exame microscópio de sua vida. Quando maior o poder de ampliação, mais paciente gostava. A alegria de ser observado era tão arraigada que, na crença de Breuer, a verdadeira dor da velhice, do luto, de sobreviver aos amigos estava na ausencia de escrutínio: o horror de viver uma vida inobservada.”

Monday, January 02, 2006

North Country

Image hosted by Photobucket.com

Um pênis de borracha no local da comida, esperma nas roupas do armário, palavrões (tipo "putas", "buceta" e "vadias") escritos com fezes nas paredes do vestiário feminino. Estes são alguns dos exemplos de violência a que estavam submetidas as primeiras trabalhadoras da mina de ferro Northern Minnesota nos EUA por volta do ano de 1975.

Pagando o preço do pioneirismo estas mulheres sofriam, no dia a dia, o assédio e agressão de vários de seus colegas em um ambiente onde eram vistas como intrusas e inferiores. Esta situação de horror perdurou durante muito tempo até que uma delas, Louis Jenson, ousou desafiar a situação e buscou recuperar sua dignidade, seu amor-próprio através da justiça.

A história desta luta é contada, com algumas liberdades dramáticas, no filme “North Country”, ainda sem título em português (acho que será “País do Norte”) ou data para estrear no Brasil, que traz a magnífica Charlize Theron em mais uma poderosa interpretação dramática que sem dúvida a colocará no páreo do Oscar 2006.

Em “North Country” acompanhamos a saga de Josey Aimes, uma jovem mulher que sai de um casamento violento com dois filhos para sustentar. De volta à casa dos pais (e o pai especificamente a rotula de “perdida e “inútil”) ela começa a trabalhar como cabelereira até saber que a mina de ferro local está contratando operárias. Certa de que este é o caminho para sua independência financeira ela passa a trabalhar na mina e celebra o começo de um novo horizonte para si e seus filhos.

Porém o que seria uma benção, um começo de nova vida, transforma-se num pesadelo quando Josey percebe que ela e suas colegas, para manterem o emprego, devem submeter-se às piadas e agressões dos colegas operários.

Depois de sofrer diversos tipos de violência e buscar em vão meios de resolver os problemas dentro da mina –com chefes e colegas-, Josey decide processar a empresa. E isto não será nada fácil. Na luta pela sua honra a trabalhadora enfrenta diversas barreiras no trabalho, familiares e sociais, além de ter sua vida sexual exposta no tribunal como forma de acusação (uma maternidade de “pai desconhecido”). É impressionante a clima crescente de abandono e solidão que a personagem enfrenta à medida em que seu processo torna-se público.

O filme também mostra a fragilidade da coragem quando enfrentada com a necessidade de sobrevivência. Nestas situações pergunta-se: vale a pena expor-se, sofrer represálias, correr riscos, ser despedida, discriminada, excluída mas buscar seus direitos ou, ao contrário, deve-se calar e continuar sofrendo mas manter o seu meio de subsistência? Esta questão é bem colocada em “North Country”.

Na vida real o drama de Louis Jenson foi tamanho que ela acabou desenvolvendo “desordem de stress pós-traumático” o que acabou por afastá-la das minas. A ação coletiva liderada por ela, arrastou-se durante mais de 10 anos nos tribunais até que as impetrantes saíssem vencedoras.

Um filme que vale a pena.