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Saturday, May 14, 2011

Livro - 3096 Dias / Natascha Kampusch


Na manhã do 2 de março de 1998, Natascha Kampush, de 10 anos deixou sua residência no distrito vienense de Donaustadt para ir a escola e não retornou. Capturada por
Wolfgang Priklopil, um ex engenheiro da Siemens, Natasha passou os próximos 8 anos enclausurada na casa do seqüestrador onde passou por toda a sorte de humilhação psicológica e graves agressões físicas.

Agora ela relata estes anos de martírio no livro “3096 Dias”, recente lançamento no mercado brasileiro.

Obviamente não é uma leitura light, fácil, tranqüila. Ao contrário, o livro é apavorante, assustador. As descrições dos sofrimentos pelos quais ela passa são terríveis. Vivemos com ela cada segundo, cada minuto, cada hora. Cada dor, cada tormento nos impacta como um soco no estômago. Uma menina de 10 anos, isolada, enterrada numa cela escura, à mercê de um adulto doente é o retrato de um pesadelo inimaginável.

Mas Natasha nos desafia a, em meio a todo o horror, abrirmos os olhos para a complexa teia psicológica que se cria entre ela e o seqüestrador. Dentro da sua mente infantil, debaixo de forte pressão, ela começa a construir frágeis ferramentas de sobrevivência que servem como âncoras de esperança para sua alma, corpo e espírito torturados. E para isto ela desenvolve, entre outros mecanismos, uma “simpatia” pelo seqüestrador, uma espécie de "compreensão" e " aceitação" dos seus atos, o que depois vai lhe causar várias acusações e julgamentos públicos.

Ela questiona o que é o "bom" e o que é o "mal' quando fala sobre o comportamento e atitudes do seu algoz . A dicotomia, a diferença entre o preto e branco, noite e dia, feio e bonito, bondade e maldade cai por terra quando ela afirma, baseada na sua experiência, que o ser humano é cinza, cheio de nuâncias, uma Babel na tempestade - nem totalmente bom, nem um monstro total - . Isto é a mais pura verdade, mas quem quer se ver assim ?

O mundo, a vida, tudo fica mais confortável quando temos tudo claramente definido, claramente rotulado e etiquetado. O julgamento, o conceito, o veredito, é fácil. A sentença sai na hora, quentinha. Porém, quando nos deparamos com o labirinto humano, com o angu da existência, vemos que os matizes se confundem, que a dualidade cai por terra e caímos num complicado que nos surpreende e tira o tapete debaixo dos nossos pés. - Natasha chorou quando soube que Priklopil havia cometido o suicídio -

A jovem não nos poupa e faz com que, ao olhar para sua história, nós nos questionemos também sobre o que vem a ser a prisão do corpo e a prisão da mente. O corpo pode estar preso e a mente não ? Ou, ao contrário, o corpo estar livre a mente aprisionada ? Para isto ela dá um exemplo categórico : qual seria, em última análise, a diferença entre apanhar de um carcereiro numa cela ou de alguém próximo, sob a luz do sol de uma respeitável residência ?

Em ambos os casos existe a agressão, em ambos os casos existem as vítimas. Porém quem tem o corpo impedido de movimento, não tem alternativa, mas quem tem a oportunidade de escapar (de mudar uma realidade incômoda) porque não o faz ? Assim vemos que, mesmo com a possibilidade de se afastar fisicamente de um tormento (seja pequeno, médio ou grande), muitas vezes uma cela na mente é mais eficaz em impedir uma libertação do que uma porta fechada.

Natasha é minuciosa, fria e implacável ao relatar seu padecimento nos anos de cativeiro. Sentimos com ela seu espirito e carne fustigados, atormentados, dilacerados. Com ela somos tragados a um abismo de pavor onde a unica saída parece ser a morte.

Mas, ao mesmo tempo, vivemos com ela cada pequena vitória, cada pequena conquista, cada pequeno passo na crença na vida, os quais, no final das contas somaram-se e serviram de suporte para que enfim ela se libertasse.

Um livro poderoso

Cotação : Excelente

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