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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Monday, July 26, 2004

Calliope

Para iniciar este Blog escolhi publicar um pequeno trecho de uma história do Sandman, chamada Calliope. Já a tinha lido há muitos anos atrás quando toda a saga do Lorde dos Sonhos (Morpheus) foi publicada aqui no Brasil. Porém ao relê-la agora, num determinado trecho acabei refletindo sobre o processo e as motivações que levam ao desenvolvimento de um blog. Nesta história conhecemos Richard Madoc, um escritor que havia lançado um livro de sucesso no passado mas que agora está em profunda crise por falta de inspiração para iniciar um novo romance. Buscando superar este problema, ele então faz um trato com um velho escritor de sucesso, chamado Erasmus Fry, que, em troca de receber alguns objetos bizarros, lhe promete um presente que trará toda a inspiração da qual ele necessita. No início da história Madoc recebe, de um jovem admirador, um Triquinobezoar – algo que Fry havia pedido. O Triquinobezoar consiste de um bolo de fios de cabelos retirado do estômago de uma moça que sofria da Sindrome de Rapunzel (esta síndrome fazia com que ela chupasse e engolisse seus longos e belos fios de cabelos). Madoc recebe o Triquinobezoar e leva-o a Fry que fica maravilhado com o objeto e revela então qual é o presente prometido.

Este presente é nada mais nada menos do que a própria musa inspiradora Calliope, uma habitante do Olimpo que Fry havia capturado há 50 anos e que vinha mantendo cativa em sua casa. Durante todos estes anos de prisão Calliope foi obrigada, além de ser estuprada sistematicamente por Fry, a inspirá-lo com idéias para diversos romances que fizeram grande sucesso e lhe trouxeram toda a fama e fortuna que ele buscava. Porém agora, já no fim da vida, Fry não vê mais necessidade em manter a musa cativa e a entrega a Madoc.


Os quadrinhos reproduzidos aqui, mostram exatamente o momento no qual Fry entrega Calliope a Madoc e faz uma revelação.










Esta história apresenta duas questões que considero presentes, em maior ou menor escala, na mente de quem publica um blog : uma é a necessidade da busca de inspiração constante para a criação dos textos, e outra é saber até onde -em qual grau- podemos nos revelar através de um blog. Sem entrar na questão da inspiração - que é obviamente necessária para qualquer um que pense em criar textos periódicos -, acredito que o cuidado que temos em publicar somente aquilo que pode ser revelado sobre nós faz com que surja a tal mentira natural de todo escritor citada por Fry. Para mim, em termos de blog, esta mentira é conseqüência direta da necessidade que temos de nos apresentar aos outros como pessoas interessantes e cativantes; é nossa necessidade de sermos aceitos e queridos pelos outros. Esta necessidade de projetar uma imagem “do bem” faz com que desenvolvamos um processo de criação de uma persona publica (alter ego ?) simpática e agradável que, de certa forma, esconde nosso verdadeiro eu. Tudo aquilo que pode nos comprometer perante os outros - como confissões íntimas, angústias profundas, desejos secretos, necessidades emocionais e sexuais -, acabam ficando fora do perfil do “nosso ser” projetado na Internet. Eu não pretendo ser diferente neste blog. Por isto, o que se verá aqui é muito do que eu sou e do que penso, mas, com certeza, não estarei inteiramente representado.

Talvez volte a este assunto no futuro.



3 comments:

Unknown said...

Uh-te-re-rê!!

O primeiro a comentar!!

Muito bem escrito Oscar, bom começo! Quero ver se o padrão vai se manter...

Ah, uma dica: permita que pessoas que não estejam cadastradas no site comentem, fica melhor pra elas.

té + !

Dark Side said...

uau!!! tu me deu uma injeção de adrenalina agora pela manha!!! Oscar, q tudo! amei... chique, profundo... mas eu conheço uma que faz do seu blog um diário sobre todas essas coisas q vc disse q as pessoas não publicam.
arrasou!!! i love you!
Mari

Dayse Batista said...

Acho que não preciso te dizer que adorei, porque isso seria dizer o banal.
Desejo acrescentar que PRECISO ler mais o teu texto (estou na corrida com traduções pra ontem), porque és bom demais.
Obrigada pela precisa na casa do Sísifo (hehehe). Eu voltarei à tua casa.
BEIJO