Hino do Blog - Clique para ouvir

Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
Clique para ouvir

Monday, October 09, 2017

Teatro - A Fala do Silêncio



Com sua narrativa estruturada da frente pra trás no tempo , “A fala do Silêncio” me lembrou de cara a peça “Besame Mucho” do Mario Prata de1982 - que foi transformada em filme com a Gloria Pires, Antonio Fagundes, Giulia Gam e José Wilker em 1987 –, apesar de ser divulgada como baseada na peça “Traição”, do Harold Pinter, que vai nesta mesma brincadeira temporal.

O caso é que a obra do Mario Prata também se utilizava a “narrativa inversa” para contar a peripécias amorosas de dois casais, tendo sempre como pano de fundo o momento histórico - político de cada época retratada.

“A fala do Silêncio” vai exatamente nesta jogada (porém aqui é um trio).

Enquanto o tempo vai correndo pra trás - Leonardo Machado (vigoroso), Priscilla Colombi (excelente) e Evandro Soldatelli (ótimo) ,dão vozes a personagens digamos, um tanto perturbados, que “se conflituam”, individualmente ou aos pares (ou trio) , em vários devaneios existenciais, sociais, filosóficos, sexuais, culturais, etc, enquanto se corneiam mutuamente – tudo sob o verniz da intelectualidade óbvia e pedante das pessoas “da arte” (aquelas que comprovam sua cultura e sensibilidade diferenciada com passagens pela Europa, e que trabalham, por exemplo como é o caso aqui, com literatura e poesia).

Sim, mais uma vez temos pela frente o tal do “vazio da contemporaneidade” (seja lá que porra for esta), e que na real se resume em uma boa desculpa pra muita putaria e traição.

Mas a montagem é ótima e vale muito a pena.

A ação, vibrante, é permeada de música ao vivo executada pelos próprios atores (todos tocam e cantam). O texto - beeeem viajandão às vezes - flui muito bem, com poucas passagens monótonas ou desinteressantes. O trio de atores apresenta uma ótima preparação física, perfeitamente de acordo com a exigência do dinamismo das cenas. A ocupação cênica é espetacular, com poucos elementos que são habilmente transformados em diversos cenários. As projeções no fundo do palco se integram perfeitamente à narrativa, sublinhando e expandindo diversos momentos da ação. Enfim, tudo muito bem orquestrado pela diretora Patricia Fagundes.

Na verdade, “A fala do Silêncio, com sua montagem exemplar, apresenta provas concretas de potencial para botar no chinelo muita bosta que vem de fora.

Show de bola.

No comments: