Com sua narrativa
estruturada da frente pra trás no tempo , “A fala do Silêncio”
me lembrou de cara a peça “Besame Mucho” do Mario Prata de1982
- que foi transformada em filme com a Gloria Pires, Antonio
Fagundes, Giulia Gam e José Wilker em 1987 –, apesar de ser
divulgada como baseada na peça “Traição”, do Harold Pinter,
que vai nesta mesma brincadeira temporal.
O caso é que a obra
do Mario Prata também se utilizava a “narrativa inversa” para
contar a peripécias amorosas de dois casais, tendo sempre como pano
de fundo o momento histórico - político de cada época retratada.
“A fala do
Silêncio” vai exatamente nesta jogada (porém aqui é um trio).
Enquanto o tempo vai
correndo pra trás - Leonardo Machado (vigoroso), Priscilla Colombi
(excelente) e Evandro Soldatelli (ótimo) ,dão vozes a personagens
digamos, um tanto perturbados, que “se conflituam”,
individualmente ou aos pares (ou trio) , em vários devaneios
existenciais, sociais, filosóficos, sexuais, culturais, etc,
enquanto se corneiam mutuamente – tudo sob o verniz da
intelectualidade óbvia e pedante das pessoas “da arte” (aquelas
que comprovam sua cultura e sensibilidade diferenciada com passagens
pela Europa, e que trabalham, por exemplo como é o caso aqui, com
literatura e poesia).
Sim, mais uma vez
temos pela frente o tal do “vazio da contemporaneidade” (seja lá
que porra for esta), e que na real se resume em uma boa desculpa pra
muita putaria e traição.
Mas a montagem é
ótima e vale muito a pena.
A ação, vibrante,
é permeada de música ao vivo executada pelos próprios atores
(todos tocam e cantam). O texto - beeeem viajandão às vezes - flui
muito bem, com poucas passagens monótonas ou desinteressantes. O
trio de atores apresenta uma ótima preparação física,
perfeitamente de acordo com a exigência do dinamismo das cenas. A
ocupação cênica é espetacular, com poucos elementos que são
habilmente transformados em diversos cenários. As projeções no
fundo do palco se integram perfeitamente à narrativa, sublinhando e
expandindo diversos momentos da ação. Enfim, tudo muito bem
orquestrado pela diretora Patricia Fagundes.
Na verdade, “A
fala do Silêncio, com sua montagem exemplar, apresenta provas
concretas de potencial para botar no chinelo muita bosta que vem de
fora.
Show de bola.
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