O documentário “Rocco” – disponível no Netflix – começa com o porn star italiano Rocco Siffredi tomando banho e, de cara, somos convidados a contemplar, num close anatômico generoso, o motivo do seu sucesso … e tu já fica tipo “Ôpa! Se a coisa começa assim, o que será que vem por aí?”
Confirmado. O que vem a seguir é um mergulho porrada na vida pessoal e profissional deste que é considerado o maior astro do gênero, com mais de 32 anos de carreira.
Não aconselhado para corações fracos (mesmo sem sexo explícito), o filme mostra Rocco já meio cansado de guerra, um tanto assombrado por algum tipo de sentimento de culpa e em fase de despedida da indústria pornô. Pensando em dar um toque religioso ao seu último filme –com ele vivendo um Cristo hardcore -, Rocco busca exorcizar seus demônios e, de alguma forma, expiar seus pecados.
Mas, ante disto, Rocco começa falando da sua infância, da descoberta precoce da sua sexualidade exacerbada, da figura forte e ambígua da sua mãe, da perda do seu irmão (o que lhe marcou profundamente) e do seu, um tanto apagado, pai..
Neste momento fica evidente que o sexo tomou um viés de redenção e culpa logo cedo na sua vida. O relato do que aconteceu entre ele e uma senhora idosa no velório da sua mãe é simplesmente bizarro, mas dá o tom de como seu pau vai comandar suas emoções e sua vida.
Logo depois começamos a conhecer Rocco na intimidade do lar, com esposa e filhos (que não acompanham sua carreira) e, também, ele realizando alguns trabalhos. E é aqui que a porca torce o rabo.
Se por um lado, nossa curiosidade de ver como um pornô é realizado é saciada, por outro é chocante ver alguns abusos pelos quais algumas atrizes passam. Quer dizer, “abuso” talvez não seja o termo correto, afinal elas estão ali de própria vontade (aparentemente). Mas fica evidente que pelo menos uma (uma loirinha de dentes acavalados) fica totalmente desconfortável com o que acontece com ela (o diretor Thierry Demalziere disse que ela buscava a fama e acabou num frigorífico).
Também é super estranho ver o comportamento de outras profissionais que agem como verdadeiras bitches ambiciosas. O que elas querem é grana e ficar famosas e, para isto, agem como verdadeiras bonecas de sexo robotizadas, sem o menor resquício de personalidade, o tempo todo.
Finalmente, lá pelo final, surge Kelly Stafford, a atriz escolhida por Rocco para ser sua partner na derradeira cena. Kelly entra com outra pegada. É uma mulher forte, decidida, aparentemente dona da sua sexualidade e que está ali justamente por ser reconhecida por seu vigor diante das câmeras. Mas aqui também rola um sentimento fake, com ela mandando discursos de empoderamento um tanto óbvios o tempo todo.
Sei lá.
Enfim, Rocco é um filme sem grandes méritos que pretende mostrar uma persona numa espécie de crise existencial, mas que, na verdade, serve apenas para saciar nosso desejo voyeurista.
E só.
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