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Monday, October 30, 2017

Teatro - Além do que nossos olhos registram


Preconceito : sentimento inerente ao humano utilizado para rebaixar outros da mesma espécie através da canalização dos seus instintos naturais de ódio e nojo.

Quem é alvo, é excluído do que é bom, aceitável e correto definido pelos outros, e, consequentemente, sente-se oprimido por sua própria condição, sente-se errado por não ser digno de pertencer ao mundo no qual os demais se afinam na mesma forma mental.

“Além do que nossos olhos registram”, peça que fez sua estreia nacional no Teatro São Pedro no final de semana passado, fala sobre o preconceito, o preconceito contra gays, negros e pobres através de um núcleo familiar em crise.

Na trama, Luiza Tomé é Delfina, a avó experiente e acolhedora, Priscila Fantin é Sofia, a neta que bagunça a família com uma revelação íntima e Leticia Birkheuer é Violeta, a mãe socialite e altiva que rejeita qualquer ameaça ao seu mundo de aparências.

Estabelecido o conflito, temos então um embate entre as três mulheres com xingamentos, acusações e revelações brotando a cada minuto. Durante a ação, a plateia, estupefata, é bombardeada com uma voltagem dramática e cômica fenomenais, numa verdadeira montanha russa de sentimentos. Choque, gargalhadas e lágrimas surgem a todo momento.

Luiza Tomé entrega uma interpretação mediana, linear, que não consegue alcançar a dimensão humana que a personagem propõe.

 A Fantin (vigorosa e linda) tá ótima como a neta e filha que luta entre a rebeldia e o amor à genitora.

Mas é a Birkheuer quem surpreende. Carregando o personagem mais complexo, Letícia (uma aparição de tão linda) tem que dar conta de vários sentimentos durante toda a ação. Num verdadeiro tour de force, em alguns momentos ela deixa a desejar - principalmente quando tem que reagir à fala das companheiras de palco-, porém em outros - quando ela explode em várias passagens, indo do cômico ao trágico - dá um show. Realmente me caiu os butiá.

O texto de Fernando Duarte é bom, porém senti duas falhas: uma no meio da peça, quando Violeta descobre algo sobre seu pai e que poderia mudar seu discurso de repulsa (porém não é o que acontece), e o final abrupto – apesar de belíssimo - onde tudo se resolve de forma muito rápida.

A direção do Fernando Philbert é muito boa, e o cenário, luz e música se harmonizam com a montagem. Tudo funciona.

Enfim,“Além do que nossos olhos registram”, apesar de algumas falhas, vale muito a pena por manter o assunto “preconceito” na pauta, pela ótima pegada cômica e dramática, e pelo recado sobre a necessidade de se cultivar valores de amor, amizade e respeito.

Show de bola.

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