Neste momento no
qual se discute o que é ou não arte, o que dizer de um artista cuja
obra surgiu em revistas gays semi-clandestinas de quinta qualidade
da década de 50, e que hoje conta com itens no acervo no Museu de
Arte Moderna de Nova Yorque, e que também foi objeto de exposição
no Instituto Cultural Finlandes (Paris), Casa da Cultura (Estocolmo),
Museu de Arte Contemporânea (Los Angeles), Instituto de Arte
Contemporânea (Londres) e outros, além de ter sido publicado pela
editora Taschen em item de luxo ?
O artista em questão
é o Touko Valio Laaksonen, que agora tem sua vida, obra e
influência mostrada no filme “Tom of Finland” (2017) de Dome
Karukoski, uma produção de cinco milhões de euros que demandou três anos de filmagens na Finlândia, Suécia,
Alemanha, Espanha e Estados Unidos
Segundo
seu diretor, a obra foi
proibida
em mais de 50 países por seu tom abertamente homossexual, sobretudo
em países de
expressão árabe.
Verdade ou não, o lance é que o filme pode
incomodar alguns
“não iniciados” por suas cenas homoeróticas,
que afinal nem são tão “perturbadoras” assim.
De
qualquer forma, o grande mérito do filme é revelar a influência de
Touko (depois rebatizado como Tom of Finland), para a cena gay
mundial.
Numa
época (anos 50) quando
a visão sobre os gays ainda era fortemente influenciada por Oscar
Wilde com seus rapazes diáfanos, e
em meio ao tenebroso Macartismo,
Tom
esculhambou tudo criando um
mundo composto por motociclistas, policiais, soldados, marinheiros
cowboys e outros “símbolos
de machismo”, vivendo
sua sexualidade de forma absolutamente descarada.
Fortemente
influenciado por sua experiência como
tenente durante a segunda
guerra – que o fez um fetichista de uniformes -, e devoto fanático
da figura de Marlon Brando
em “O Selvagem” - que o transformou num
“leather” para o resto da vida - , Tom permitiu aos gays “se
empoderarem” e se afastarem daquela imagem afetada de dândis
recostados em
chaise-longes e
se esfumaçando com
piteiras enquanto ouviam
Marlene Dietrich.
Nada
disto.
Segundo o
poeta, critico de arte e autor Edward
Lucie-Smith, Tom “alterou o modo como os gays pensavam sobre si
mesmo. Ele também mudou a forma como os héteros pensavam a respeito
dos homossexuais. Enquanto alguns héteros sentiam-se desconfortáveis,
ou mesmo ameaçados pela nova forma de comportamento gay proposta por
Tom, outros, mesmo contra sua vontade, a acharam sedutora, e, na
maioria das vezes inconscientemente, absorveram aspectos do
imaginário de Tom nos seus próprios estilos de vida. Ele mudou não
apenas seus
jeitos
de vestir, como
também afetou alguns de seus aspectos de comportamento como postura e gestual”
(Fashion in Popular Culture – Literature, Media and Contemporary
Studies). ...(Pausa
: Será
verdade? Sei lá, mas de uma coisa eu sei : muitas vezes os
gays são os primeiros a adotar algum estilo para, depois, os heteros
virem na cola.)
Mas
voltando ao Tom – que
entre seus fãs temos Camille Paglia e John Waters - ,
a partir dos seus desenhos ,
os gays se apropriaram de muitos dos
ditos “símbolos
masculinos” e construíram toda uma nova cultura para o meio
(inclusive o Village People), que perdura até
hoje.
O
filme não é grande coisa,
por conta do seu enredo
“fraquinho”, mas cumpre
muito bem seu papel de resgatar a obra
e influência deste
artista tão importante.
Vale
a pena
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Algumas obras :
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