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Wednesday, May 14, 2014

Filme - O apartamento (documentário)

The Flat - Poster
Diante do documentário “The Flat”, perguntamos : vá entender o que se passa no coração e mentes das pessoas. Sim, pois o filme mostra uma improvável porém sólida amizade, que nasceu e durou anos antes e após a segunda guerra, entre um casal judio e outro nazista.

Este relacionamento foi descoberto por Arnon“Arnie” Goldfinger quando, juntamente com sua família (mãe, irmãos, primos, tios, tias), foi dar destino aos pertences da sua falecida avó (Gerda Tuchler) no apartamento onde ela viveu com o marido Kurt durante (tambem falecido) durante70 anos.

Mexendo nos móveis, gavetas, prateleiras, malas e caixas o pessoal tomou conhecimento da amizade íntima que uniu durante anos seus avós com Leopoldvon Mildenstein (um oficial nazista que atuou na Secretaria para Assuntos Judaicos -antes da guerra - e no Ministério da Propaganda - durante a segunda gurra) e sua esposa.

A partir daí o Goldfinger assume uma espécie de cruzada para provar que von Mildenstein foi um criminoso de guerra a fim de, além de perturbar a lembrança e memórias de várias pessoas, exibir em triunfo um relevante fato histórico até então desconhecido. Porque isto ?

O objetivo do filme é assustadoramente questionável.

Para não parecer que “eu não entendi”, reproduzo abaixo uma consistente análise do filme (com a qual concordo) , que foi publicada no site “Alternative Insight”, um site que o publica (como eles mesmo dizem) “comentários alternativos à mídia convencional”.
 Observação : a tradução foi feita por mim, sendo que tomei várias liberdades, introduzindo comentários e “adaptando” diversas frases.
 O texto original pode ser lido aqui.
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COMENTÁRIO PUBLICADO NO SITE “ALTERNATIVE INSIGHT” SOBRE O DOCUMENTÁRIO “O APARTAMENTO”
O apartamento”, um documentário israelita de 2011, escrito e dirigido por Arnon Goldfinger, é um filme importante não pelo seu conteúdo, pois como documentário é algo inútil e sem rumo. Sua relevância reside no fato de ser um ótimo exemplo de algo criado intencionalmente para manipular a público.
Embora “O apartamento” tenha recebido ótimas críticas e recomendações, os críticos, demonstrando ignorância sobre o conteúdo, não captaram inteiramente o que foi apresentado, equivocaram-se na análise e deram uma interpretação descuidada dos fatos.
A aceitação do público em relação a “O apartamento”, é assustadora – quase uma histeria em massa - com multidões de espectadores não absorvendo corretamente ao que foram expostos, e respondendo à narrativa como autômatos programados através de condicionamentos habilmente manipulados.
O HomemUnidimensional, de Marcuse ( um indivíduo bitolado, controlado pela industrialização, padronizado e ligado apenas a aparência das coisas. Homem ôco, conformista, consumista e acrítico) surgiu em cada canto das salas de cinema e provocou a questão : a maioria das pessoas reage da mesma forma às informações sobre acontecimentos mundiais? Se assim for, então sabemos por que o mundo está em apuros.

A HISTÓRIA DO FILME :

Enquanto limpa (organiza, guarda e /ou descarta) décadas de parafernálias do apartamento de sua avó, falecida com a idade de 98, Arnon Goldfinger descobre um velho jornal nazista (DerAngriff).

O jornal amassado apresenta um artigo intitulado "Um nazista na Palestina", e imagens (fotos) de camaradagem entre um Barão chamado Leopold von Mildenstein, sua esposa, e os avós de Goldfinger, Kurt e Gerda Tuchler.

O curioso Goldfinger fica chocado ao descobrir que von Mildenstein era um nazista vinculado à SS e que foi citado por Eichmann durante seu julgamento em Israel (Mildenstein era seu superior no início do funcionamento da Secretaria para Assuntos Judeus (1934-1937)).
Memorabilia dos Tuchler

Também cartas encontradas no apartamento, escritas por Gerda Tuchler, e diários de Frau Mildenstein, recuperados pela filha de Mildenstein, indicam que os Mildensteins e os Tuchlers mantiveram uma relação estreita antes e após a guerra.

Como os avós judeus de Goldfinger, que foram forçados a sair da Alemanha em 1937 e que sabiam que a mãe de Gerda havia sido transferida para um campo no Báltico, onde morreu , socializaram-se com um bem conhecido nazista da SS que, mesmo brevemente, comandou a Secretaria para Assuntos Judeus?

A mãe de Goldfinger não consegue lançar nenhuma luz sobre esta aparente contradição, mostra-se perplexa, porém logo desinteressasse em avançar numa pesquisa para buscar mais informações sobre as revelações.

Porém o mesmo não ocorre com Goldfinger. Ele viaja para a Alemanha, conhece a filha de Von Mildenstein e seu marido (ambos anciãos), vários alemães, e também o velho autor de um artigo publicado, nos meados de 1960, na revista da Alemanha Ocidental, “Der Spiegel”, que trata sobre a vida de Leopold von Mildenstein, então um executivo da Coca Cola.

A esta altura Goldfinger pára de se preocupar com a relação entre avós e von Mildenstein e inicia uma caminhada, de uma única via, a fim de expor o oficial da SS como um criminoso de guerra .

Porém, ninguém que ele encontra é capaz de fornecer quaisquer informações que corroborem tal perfil. O repórter daDer Spiegel” afirma que não conseguiu encontrar qualquer evidência de que von Mildenstein tenha tomado parte em qualquer crime de guerra. Neste ponto, Goldfinger não tem um documentário, apenas algumas fotos e artigos que não levam a nada.

Incomodado pelas incertezas, Goldfinger sustenta que a pesquisa do jornalista da “Der Spiegel” foi insuficiente. Em uma mudança repentina no filme, ele viaja para a Alemanha Oriental a fim de examinar documentos do governo (antes secretos), onde localiza um dossiê sobre von Mildenstein .
 
Neste, numa nota de próprio punho, o alemão registra ter deixado a Secretaria para Assuntos Judaicos - onde Eichmann trabalhou para ele - em 1937 (ou seja antes da Secretaria envolver-se com campos de concentração e de trabalho), quando então transferiu-se para o Ministério da Propaganda.

Embora o filme não mencione especificamento em qual seção do ministério de Goebbels, von Mildenstein trabalhou, a história indica que ele atuou no Departamento de Imprensa.

Com sua “nova informação”, Goldfinger, em um momento particularmente constrangedor do filme, confronta a filha de von Mildenstein e claramente perturba a velha senhora, acusando seu pai, sem provas, de ser um propagandista no Ministério de Goebbels . "Você pode ir aos arquivos da Alemanha Oriental, se você não acredita em mim ", diz o triunfante Goldfinger.

O que isto ( a “descoberta do criminoso”) provoca em Goldfinger e em sua mãe, não fica claro no filme, mas ele parece saborear a desolação da filha de Von Mildenstein e também alegrar-se por finalmente conseguir provar que seus avós “saracotearam” com um conhecido nazista. Agora ele tem um filme.

Só que não.

A verdade é que os "fatos" reunidos por Goldfinger foram incompletos e equivocadamente interpretados / analisados.

A VERDADE

A vida de Leopold von Mildenstein, a qual é bem conhecida na história, não foi devidamente esclarecida no filme.

As viagens do diretor para pesquisar sobre a vida de von Mildenstein, fazendo parecer que ele estava em uma investigação única, a qual ocultava um mistério complexo e revelador, é questionável.

Para facilitar sua vida, tudo o que o diretor tinha a fazer era ficar em casa,”googlar” o nome de Leopold von Mildenstein, ler alguns artigos e, após, entrevistar os autores.

Os artigos contêm tudo o que aparece no filme, além de muito mais informações sobre Leopold von Mildenstein e sua relação com os avós de Goldfinger.

Alguns artigos:

Jacob Boas, 'Baron von Mildenstein and the SS support for Zionism in Germany, 1934-1936' in History Today, January 1980, and
Jacob Boas, 'A Nazi Travels to Palestine', History Today, vol. 30, issue 1, pp. 33-38,
Leopold von Mildenstein (references),
http://en.wikipedia.org/wiki/Leopold_von_Mildenstein, and
Lenni Brenner, 'Zionism in the Age of Dictators' (1983).

A história de Leopold von Mildenstein, para que todos saibam qual é, é a de um alemão que alistou-se ao Partido Nazista e colaborou com o sionismo, muito antes dos nazistas tomarem o poder no seu país.
Parece que foi Kurt Tuchler, como representante judeu, quem procurou Mildenstein a fim de encorajá-lo a apoiar a causa sionista. Mildenstein respondeu que, antes de se comprometer, gostaria de conhecer a saga da movimento judaico.

O Diretor - Arnon Golfinger
Então ambos os homens, juntamente com suas esposas, viajaram à Palestina a fim de observar o sionismo em ação. A partir desta viagem foram publicados vários artigos sob o título Um nazista viaja à Palestina” (no tal jornal “Der Angriff”, aquele encontrado no aparramento da avó de Goldfinger).

Diários de Frau von Mildenstein e cartas de Gerda Tuchler, conforme descrito no filme, indicam que estas famílias desenvolveram uma forte amizade que continuou mesmo após os Tuchlers deixarem a Alemanha, e que foi revigorada após a guerra.

Depois de viajar pela Palestina durante seis meses, Mildenstein convenceu os nazistas, em 1934, a abrir uma secretaria para tratar a questão judaica através de uma abordagem sionista. Eichmann juntou-se a a este escritório, o qual não era, naquele momento, aquele que mais tarde ficou conhecido como o desolução final"; sendo que Mildenstein nunca treinou Eichmann em qualquer de suas atividades nefastas, de acordo com o que um dos autores (dos artigos) registra.

No seu julgamento, ao invés de acusar Mildenstein, Eichmann tentou desculpar-se, alegando ter trabalhado no escritório de Mildenstein, local onde (segundo ele) apenas procurou transferir os judeus de acordo com os objetivos sionistas. Talvez haja mais do que isso, mas nem o filme nem a história mostram que Mildenstein tenha participado ou apoiado o Holocausto

De acordo com o mencionado anteriormente, Mildenstein deixou a Secretária de Assuntos Judeus em 1937, onde Eichmann trabalhava para ele ( isto ocorreu antes da secretaria envolver-se com campos de concentração e de trabalho), e tranferiu-se para o Ministério de Propaganda.

A razão mais aceita para sua mudança é sua decepção em relação aos atos da Secretaria : a migração para a Palestina estava ocorrendo muito lentamente e a SS estava mudando sua política em relação aos judeus.

Durante a guerra, Mildenstein só é conhecido somente por ter escrito artigos e livros. Um livro de 1942, o qual provavelmente levou dois anos para ser concluído intitula-se “Naher osten-vom Straßenrand erlebt” (Viagens pelas estradas do Oriente Médio) e contém alguns pontos de vista sob uma ótica nazista, porém tal publicação não foi uma peça de propaganda de relevante significado.

Não, Goldfinger não explica como Mildenstein poderia manter suas credenciais SS,mesmo quando deixou de trabalhar no departamento que abrigava a SS, ou como ele poderia estar envolvido nos assassinatos de judeus quando ele nunca se encontrou em qualquer posição que pudesse permitir (ou autorizar) tais atrocidades.

Como um dos primeiros membros do Partido Nazista e um oficial da SS envolvido em assuntos judaicos, Leopold von Mildenstein merece censura. No entanto, parece que mais tarde ele perturbou-se com estas ligações.
Goldfinger constrangendo a filha de Milsdentein

Embora seja difícil definir o foco do filme, é óbvio que tal deveria ater-se à exploração da relação aparentemente confortável entre as Tuchlers judeus e os Mildensteins Nazis. Essa é uma história!
Fazendo exatamente o oposto, Goldfinger guiou sua direção para longe do enredo óbvio e transformou o filme em algo confuso e incoerente. Isto foi intencional?

Não teria sido mais válido explorar a relação concreta entre os líderes sionistas e os nazistas (com nada de sinistro aí), e mostrar que os von Mildensteins e os Tuchlers eram apenas nacionalistas que compartilhavam interesse na cultura alemã de Goethe e Heine, no sionismo, e um desejo comum de viver uma vida elegante? Gerda Tuchler assemelhava-se e vestia-se igual à Rainha da Inglaterra naquela época.

Ao invés de serem conspiradoras em tempos sombrios, parece que as duas famílias eram amigas inofensivas que não reconheciam quaisquer atitudes nefastas ou interesses políticos uma na outra. Isto é tudo que sabemos - todo o resto é imaginação.

No fim, Arnon Goldfinger produziu um "pseudo documentário," com conteúdo exagerado a fim de exibí-lo nos cinemas. Sua falta de preocupação que, com o miseravelmente pesquisado documentário. a memória dos seus próprios avós seja prejudicada é preocupante.
Mais preocupante porém são os comentários (desprovidos de qualquer realidade) sobre o filme..

Eis alguns :

"Goldfinger, habilmente afasta-se das acusações mais óbvias que possam acelerar o pulso do documentário : por exemplo, que Mildenstein tenha indiretamente apoiado a arquitetura do Holocausto, e que seu relacionamento pós-guerra com os avós judeus de Goldfinger claramente objetivava estruturar sua inocência em relação aos crimes nazistas de guerra.".

Goldfinger não se coíbe de nada. Ele não encontrou nada. Em nenhum lugar na sua "pesquisa", no filme ou da história. é mostrado que “ ...Mildenstein tenha indiretamente apoiado a arquitetura do Holocausto, e que seu relacionamento pós-guerra com os avós judeus de Goldfinger claramente objetivava estruturar sua inocência em relação aos crimes nazistas de guerra”. Tais comentários absurdos não possuem nenhuma prova histórica. Pode até ser argumentado de que o filme e a história indicam que Mildenstein, por meio da cooperação com a Federação Sionista, permitiu a emigração de judeus à Palestina, conseguindo assim salvar dezenas de milhares de vida. Mais judeus poderiam ter sido salvos se mais judeus tivessem se interessado em imigrar para a Palestina. Porem, evidentemente, um número relativamente pequeno de judeus alemães aderiram ao movimento sionista.


"A Coca-Cola produziu uma biografia lisonjeira por ocasião do aniversário de 60 anos do Mildenstein, somos informados (no filme) por um jornalista da “Der Spiegel” que prescrutou o passado SS do alemão. No entanto Mildenstein parece ter escapado da acusação, afirmando que trabalhava para a CIA. O governo dos EUA, porém, nunca reconheceu isso, e ele não foi processado. Além da cobertura da “Des Spiegel” em 1966, após a morte de Mildenstein nada mais apareceu e sua história foi mantida relativamente quieta”

No filme, e jornalista da “Der Spiegel” afirma claramente : "Pesquisei tudo sozinho e não encontrei qualquer evidência de que von Mildenstein tenha cometido crimes de guerra." Já eu não lembro de ter visto no filme que "Mildenstein parece ter escapado da acusação, afirmando que ele trabalhava para a CIA." O comentarista pode estar se referindo a informações fora do filme. Note-se a observação sinistra "sua história foi mantida relativamente quieta”. Porque tal história deveria ser apregoada aos quatro ventos e como, se ela foi mandida relativamente quieta, ele soube a respeito ?

"A descoberta leva Goldfinger a uma viagem à Wuppertal, na Alemanha, onde ele conhece a filha de von Mildenstein, Edda, que encapsulou-se na sua própria forma de negação sobre o passado de seu pai. No entanto a pesquisa de Goldfinger - que inclui o depoimento de Eichmann em seu julgamento, no qual ele citou von Mildenstein como o seu antecessor, sob ordens de Goebbels, em campanhas de propaganda anti-judaica – revela um retrato de negativo (do Barão).”

Goldfinger e sua mãe
Edda, que tinha cerca de cinco anos no final da guerra, não se encapsulou em si mesma e não tem nada a negar. Eles viveram na Alemanha durante a guerra e seu pai (e não ela) trabalhou para uma parte grotesca do governo, assim como milhões de outros alemães. Ela ficou mais chocada do que “em negação” (ao saber das “revelações” de Goldfinger). 
 
Depois de receber de bom grado Goldfinger em sua casa (juntamente com seu esposo e amigos) e revelando suas memórias agradavéis a respeito dos Tuchlers (os avós de Goldfinger), ela descobre que o que ele quer é apenas encontrar informações acusadoras sobre seu pai e jogá-las na sua cara.
A declaração do comentarista de que a pesquisa de Goldfinger “ .. inclui o depoimento de Eichmann em seu julgamento, no qual ele citou von Mildenstein como o seu antecessor, sob ordens de Goebbels, em campanhas de propaganda anti-judaicanão é plausível. Eichmann não poderia ter dito aquelas palavras pois nunca trabalhou para Goebbels e, portanto, ele e Mildenstein não poderiam ter atuado juntos na realização de qualquer campanha de propaganda anti-judaica.

Na abertura de uma das críticas lê-se "O Apartamento , um documento conciso e meticulosamente pesquisado," Deveria ter sido escrito "um documento exagerada e descuidadamente pesquisado".

CONCLUSÃO :

Arnon Goldfinger informa aos seus espectadores, no início do filme, que Leopold von Mildenstein foi um nazista da SS, para mostrar, no final do filme, que Leopold von Mildenstein foi um nazista da SS.

Documentários são experiências de aprendizagem. Este documentário acrescenta pouco conhecimento após retratar a viagem inicial de von Mildenstein com as Tuchlers para a Palestina - 30 minutos de atração e 60 minutos de pesca - nada de concreto sobre o que os Mildensteins e Tuchlers realizaram à distância ou em conjunto, sem vozes ouvidas e nenhuma pista seguida. Depois de quase duas horas assistindo, os arquivo que surge no final do filme diz-nos apenas um pouco mais do que o que já sabíamos - von Mildenstein realmente levou a Central de Assuntos Judeus até 1937, após o qual se transferiu para o Ministério da Propaganda. 
 
E só....

Os Tuchlers
TRAILER ABAIXO


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