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Thursday, November 29, 2012

Oficina "Revisitando os Clássicos"

Iniciou ontem na Casa de Ideias, a oficina “Revisitando os Classicos”, com o professor  Voltaire Schilling que propõe discutir “... alguns dos maiores nomes da cultura ocidental, alinhando-os com a época a que pertenceram e avaliando a notável contribuição de cada um deles para a formação da cultura superior e de uma idéia mais elevada do homem”.

Ontem foi a vez de serem analisadas “A Odisséia” (Homero) e “A Eneida” (Virgilio).

O professor iniciou o encontro explicando as raízes da palavra “clássico”.  

Inicialmente, para os gregos, a palavra “clássico” era utilizada para identificar um modelo de embarcação construído de acordo com determinadas regras.  Se o produto final estivesse totalmente de acordo com tais regras (tipo uma ISO da antiguidade),  recebia a alcunha de “clássico”.  Depois, para os romanos, “clássico”  relacionou-se com “classe”, no sentido social.

Hoje o “clássico”, em termos de arte, identifica uma obra que permanece no tempo (caráter perene) e, ao mesmo tempo, “é superior”  - ou seja,  contem algum elemento que a destaca e “fala”  – talvez – ao inconsciente  (alma ?) humano (a).  

Não se sabe quais são as “regras” para se criar um clássico. 
Uma obra de grande sucesso num determinado período  não necessariamente irá permanecer no tempo . 

Também o clássico não possui caráter universal. Uma obra seminal para determinada cultura,  pode não representar absolutamente nada para outra. Conforme o professor,   “A Odisséia “  não causou impacto algum nas traduções para os povos  árabes e orientais.

Voltaire seguiu falando sobre a “morte” dos clássicos no mundo contemporâneo.  

Citando a revolução industrial, a revolução dos costumes  ocorrida a partir dos 60´s , a imposição das regras do direito anglo-saxão, a dominação ocidental levada a cabo pela Inglaterra e EUA,  a tomada das instituições de ensino  e meios culturais  por profissionais “revolucionários” (que desdenharam a arte “antiga”  feita por “ homens brancos e mortos” – Dead White Men ), a valorização do politicamente correto, etc, o professor afirmou que todo estes movimentos resultaram numa modernidade onde o que vale é a ciência, a tecnologia,  a máquina. 

Um espaço onde o humanismo não tem vez, não tem valor.

No caso da literatura, Schilling criticou os "revolucionários"  que passaram a celebrar obras “de gênero”, tipo literatura “feminista”, “gay”, “confessional”. Ou seja  obras “de palanque”  onde os autores estão mais preocupados em  projetar / registrar experiências e idéias pessoais do que realmente construir “algo maior".  

Ele insinuou  que, para estes obtusos,  uma obra do tipo “eu sou gay e me assumo”  teria mais valor do que um Hamlet.  Que uma obra, num “tom clásico”,  que celebra   o “homem superior”,  já nasce arcaica, ultrapassada.

Porem diante de outra, que enaltece o “homem fraco”,  o povo se ajoelha e cobre de elogios. 

Para exemplificar o sucesso de obras sobre o "homem fraco", o mestre acabou largando um comentário absolutamente preconceituoso ao dizer que o livro mais premiado ultimamente no Brasil (o fantástico “O filho eterno”, do Cristovão Tezza) versa sobre um pai relatando sua experiência com um “filho retardado” (palavras dele), e que agora o Diogo Mainardi embarca nesta linha  tambem largando uma pérola (A queda) sobre seu “filho retardado”. 

Choquei  ! -  ainda mais pelo fato de aparentemente algumas pessoas concordarem – vi alguns risinhos pela sala .

(Obs : particularmente acho o Diogo Mainardi uó. Um boçal, um imbecil que considera o Brasil o fiofó do mundo, mas devo admitir que “A queda” – que estou lendo – é uma “obra superior”)

Mas vamos lá.  

Quando o sábio Voltaire deixou de fazer considerações pessoais infelizes  e passou a ministrar o conteúdo do primeiro encontro, o ambiente se iluminou (mas eu tive um pequeno contratempo auxiliando uma colega que teve uma espécie de AVC light, com direito a cadeira de rodas e tudo, o que me fez perder parte da aula).

Sem dúvida é inegável o domínio absoluto do historiador sobre o tema.

De forma brihante ele dissecou A Odisséia e A Eneida (tanto em relação aos conteúdos, quanto a suas  inserções política e sociais nas épocas em que surgiram e repercussões posteriores ), puxando  paralelos para a Divina Comédia, Os Lusíadas e outros.  

Que maravilha ouvir sobre personagens imaginários (Enéas, Ulisses, Telemaco, Dido, Penelope, Circe e muitos outros) e reais (César, Virgilio, Otávio Augusto, Ovídio, Mecenas, etc).  

Fiquei mesmerizado pela fluência, pela clareza na exposição da beleza das histórias e suas  relações,  influências e conseqüências no “mundo real”, na construção da sociedade,   na geração de arquétipos,  na  definição do homem ocidental.

Fantástico.

Semana que vem continua.

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