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Monday, January 08, 2018

Filme - The Square


Na excelente peça “O Escândalo de Philippe Dussaert”, Marcos Caruso discute e ideia de que a arte contemporânea é somente “discurso”.

Que as obras de arte apresentadas hoje em galerias e museus não se sustentam por sua imagem (ou execução) e sim pelo discurso a ela agregado.
Assim, um caco de vidro atirado no chão de um museu acaba sendo um “retrato da desconstrução capitalista refletida na poética migratória do consumo espiritual do ser oprimido pela objetificação do sexismo contemporâneo”. 

Bah, que profundidade! Que sabedoria! Que lucidez!

“The Square” (de Ruben Ostlund e Palma de Ouro 2017) mostra, de forma sarcástica, este mundo de iluminados portadores de discursos herméticos e indecifráveis que fazem a alegria dos produtores e consumidores de muitas instalações e obras ridículas que permeiam a arte atual.

Acompanhando as peripécias (um tanto esdrúxulas) de Christian (Claes Bang), o curador do pomposo X-Royal Museum, “The Square” é uma sequência de acontecimentos surpreendentes e desconcertantes (des) conectados através de um fio de trama meio sem propósito.

Assim, vemos – aleatoriamente - o herói envolver-se num furto (que traz consequências absurdas), num relacionamento com uma americana misteriosa e meio assustadora, com problemas com uma instalação “artística” que não passa de montes de cascalhos no chão, lidando com suas filhas meio rebeldes, tendo que explicar os motivos de um vídeo chocante criado para promover o museu, etc.

Mas o grande lance do filme é mostrar todo o clima fake que envolve a arte contemporânea dominada por uma elite intelectual medonha

Então temos a tal instalação de montes de cascalhos que não atrai ninguém e que não pode ser fotografada.
Os discursos ridículos explicando as obras que não são entendidos nem mesmo por quem os proferiu.
Um evento super sofisticado no qual as pessoas estão mais interessadas em comer do que ouvir os palestrantes.
Uma apresentação de “um ser primitivo” que ocorre num jantar de gala e que descamba – de modo assustador – para o povo chique agindo de forma mais primitiva que o próprio ser primitivo.
O oportunismo do “chocar pelo chocar” criado apenas para atrair atenção da mídia e público.

Todo este caleidoscópio – com vários momentos lentos e outros inexplicados - desfila diante dos espectadores que, a partir de determinado momento, meio que ficam anestesiados com o estranhamento e acabam aceitando a proposta apresentada em mais de duas horas de projeção.

No final tu fica tipo, “Sobre o que é filme”? “Gostei”? “Não gostei”?

Sei lá

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