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Friday, December 21, 2018

Sistema Opressor e Narrativas – Entendendo a Rejeição aos Veganos e a outras minorias



O Sistema Opressor e o Equilíbrio de Poder

Uma das formas que o sistema opressor influencia nossas relações é criando entre nós um desequilíbrio de poder quando somos integrantes de diferentes grupos dentro de um sistema.

O sistema define a cada um de nós um papel (personagem), e a um papel é permitido (definido) mais poder do que a outro.

O papel que interpretamos é definido pelo grupo social que pertencemos – branco/preto, homem/mulher, veganos/não-veganos e assim por diante.

Se pertencemos ao grupo dominante, muitas vezes referenciado como “maioria”, temos mais poder do que teríamos se pertencêssemos ao grupo não dominante (ou minoritário).

Porém, é claro que pertencemos a vários grupos, e cada um dos grupos afeta o montante de poder que temos em nossas relações.

Por exemplo, quanto você pertence a um grupo dominante e a um grupo não dominante, e a pessoa com a qual você se relaciona também, o poder se desequilibra um pouco.

 Talvez, por exemplo, você seja um homem (dominante) e também vegano (não-dominante), enquanto a pessoa de sua relação é mulher (não-dominante) e não-vegana (dominante)

Mesmo assim, não significa que o poder estará perfeitamente equilibrado pois alguns papéis nos dão mais poder que outros.

Gênero, por exemplo, tem muito mais influência na quantidade de poder que podemos ter do que a ideologia vegana/não-vegana.

 (Mas) Não é possível nem necessário calcular a quantidade exata de poder que trazemos à nossas relações.

 É suficiente importante entender as bases das dinâmicas de poder nas nossas relações que são oriundas dos papéis que nos foram definidos pelo sistema social.

Talvez a forma mais contundente que o sistema opressor utiliza para causar problemas nas nossas relações seja distorcendo nossas percepções da realidade.

Quanto mais poder temos no sistema, mais poder temos para vermos nossa versão de realidade aceita e vista como verdadeira, mesmo que isto contradiga a realidade objetiva e a verdade da experiência dos outros.  

Nenhum de nós pediu tal poder, e a maioria de nem percebe que o tem.

Mas mesmo assim ele afeta a todos nós, e, ao menos que entendamos como é sua dinâmica, não conseguiremos enfraquecê-lo nas nossas vidas e relações.


Narrativa e Sistema Opressor.

Nossa narrativa é a história que criamos baseadas nas nossas crenças e percepções; é a nossa versão da realidade.

Narrativas podem ser o resultado de nossa experiência pessoal ou da nossa condição social herdada da nossa sociedade.

Por exemplo, se temos uma história pessoal de traição nas nossas relações, podemos ter uma narrativa de que as pessoas são falsas.

Se crescemos numa sociedade heterossexista, nossa narrativa herdada será que a heterossexualidade é normal e natural e que outras sexualidades não anormais e não naturais.

E, se crescemos numa sociedade de consumo de carne, nossa narrativa herdada será que comer animais é natural e normal, e que não comer animais é anormal e não natural .

Nem todas as narrativas são criadas iguais. Algumas narrativas têm mais poder que outras, significando que possuem “mais peso” e que, automaticamente, são vistas como mais verdadeiras – mesmo que não sejam realmente válidas.

Estas narrativas são as narrativas dominantes, ou narrativas sociais dominantes. São as narrativas das pessoas ou dos grupos sociais com mais poder num sistema específico.

Narrativas sociais dominantes são narrativas da sociedade cujos membros de todos os grupos – dominante e não dominantes – são ensinados a aprender e acreditar.

Por exemplo, tanto os heterossexuais quando os não-heterossexuais aprendem a acreditar na narrativa social dominante que a heterossexualidade é natural e que as outras sexualidades são anormais e não naturais;  o que é uma das razões dos altos índices de suicídios entre adolescentes gays e lesbicas.

E os não-veganos crescem aprendendo e acreditando que comer animais é normal e natural (praticamente nunca somos encorajados a pensar de outra forma).

Quando impomos nossa narrativa aos outros, estamos definindo suas realidades e ditando o que é a verdade para eles – e as narrativas sociais dominantes são aquelas impostas a todos.

Todos nós trazemos narrativas sociais dominantes de casa que acabam influenciando nossos relacionamentos pessoais.  
Como resultado, muitos veganos e não-veganos podem cair numa batalha (entre eles) que tem muito menos a ver com a forma pessoal de ser de cada um,   do que com o grande sistema do qual fazem parte.

Por exemplo, a narrativa social dominante que diz que comer carne é necessário à saúde tem muito mais poder do que a narrativa vegana que diz que comer carne não é necessária à saúde – mesmo que os dados não sustentem a narrativa de consumo de carne.

Então, se um não-vegano e um vegano estão discutindo o assunto, a experiencia e narrativa do não-vegano, apoiada pela maioria da sociedade, é automaticamente vista como mais válida do que a experiência e a narrativa do vegano.

Desta forma, debates ferozes podem surgir – não apenas sobre os fatos mas também pelo sentimento dos veganos de que suas opiniões não têm valor e pelo sentimento dos não-veganos surgido daquilo que eles entendem como “radicalização” dos veganos.

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Texto extraído e traduzido por mim do livro
“Beyond Beliefs: A Guide to Improving Relationships and Communication for Vegans, Vegetarians, and Meat Eaters” da Melanie Joy

Texto original abaixo



Oppressive Systems and Power Imbalances

A key way in which oppressive systems influence our relationships is by creating a power imbalance between us when we belong to different groups within a system.
The system assigns us each a role, and one role comes with more power than the other.
The role we play is determined by the social group we belong to—white/non-white, male/female, veg/non-veg, and so on.
If we belong to the dominant group, sometimes referred to as the “majority,” we have more power than we do if we belong to the non-dominant, or minority, group.
Of course, we belong to many groups, and each of our groups affects the amount of power we have in our relationship.
For example, when you belong to one dominant and one non-dominant group, and so does the person with whom you’re relating, power balances out a bit.
Perhaps, for example, you are a male (dominant) and also a vegan (non-dominant), while your partner is female (non-dominant) and non-vegan (dominant). Still, this doesn’t mean the power will be truly balanced, because some roles give us more power than others.
Gender, for example, has far more influence on how much power we have than does veg/non-veg ideology. It’s neither necessary nor possible to calculate the exact amount of power we bring to our relationships.
It’s simply important to understand the basic power dynamics in relationships that come with the roles assigned to us by social systems.
Perhaps the most important way in which oppressive systems cause problems in our relationships is by distorting our perceptions of reality.
When we have more power in the system, we have more power to have our version of reality accepted and seen as true, even when it contradicts objective truth or the truth of the other’s experience.
None of us asked for this power, and most of us don’t realize we have it.
Nevertheless, it affects all of us, and unless we understand some of these power dynamics, we cannot loosen their grip on our lives and relationships.

Oppressive Systems and Narratives

Our narrative is the story we create based on our beliefs and perceptions; it is our version of reality.
Narratives can be the result of our personal experience or of our social conditioning, inherited from our society.
For example, if we have a personal history of being betrayed in our relationships, we may have a narrative that people cannot be trusted.
If we grow up in a heterosexist society, our inherited narrative will be that heterosexuality is normal and natural and that other sexualities are abnormal and unnatural.
And if we grow up in a meat-eating society, our inherited narrative is that eating animals is normal and natural and that not eating animals is abnormal and unnatural.
Not all narratives are created equal. Some narratives have more power than others, meaning they carry more weight and are automatically seen as more believable—even if they are not actually more valid.
These narratives are dominant narratives, or dominant social narratives, the narratives of the person or social group with more power in a closed system.
Dominant social narratives are society’s narratives, which members of all groups—dominant and non-dominant—grow up learning and believing.
For example, both heterosexuals and non-heterosexuals learn to believe the dominant social narrative that heterosexuality is normal and natural and that other sexualities are abnormal and unnatural, or deviant, which is one reason for the high rates of suicide among gay and lesbian teenagers.
And non-vegans and vegans grow up learning and believing that eating animals is normal and natural; we are virtually never encouraged to think otherwise.
When we impose our narrative on others, we are defining their reality, dictating what is true for them—and dominant social narratives are those that are imposed on everyone. We all bring dominant social narratives home with us, to influence our personal relationships.
As a result, many vegans and non-vegans can become ensnared in a struggle that has far less to do with their personal ways of being than with the broader system of which they are a part.
For example, the dominant social narrative that eating meat is necessary for health has more power than the vegan narrative that eating meat is not necessary for health—even though the data do not support the meat-eating narrative.
So if a non-vegan and a vegan are discussing the issue, the non-vegan’s narrative and experience, supported by the broader society, is automatically seen as more valid than the vegan´s narrative and experience. Heated debates can break out – not only about the facts but also about the vegan feeling like ther opinion isn´t being given equal weight and the non-vegan feeling imp




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