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Friday, December 14, 2018

Livro - A Vegetariana (Han Kang)




Yeonghye é uma mulher sul coreana apagada e desprovida de graça, casada com um homem patético que a enxerga como uma serviçal e utilitário.

Sua vida é vazia, cinza e medíocre até o dia em que surpreende ao comunicar que não comerá mais carne.

O motivo? Nada a ver com direito dos animais, saúde, tomada de consciência ou algo do tipo, e sim um sonho que teve que envolvia imagens de pessoas, florestas e sangue.

A explicação de Yeonghye não convence, e isto acaba atraindo sobre ela as reações mais diversas advindas de seu marido e familiares.

Vista como uma transgressora, ela, além de mergulhar sem trégua num processo de alienação e transformação radicais – que revelarão um anseio brutal de transfiguração de corpo e alma-, acaba provocando experiências e mudanças assustadoras nos demais.

O livro de Han Kang não é, como a princípio poderia se pensar, uma obra de militância vegana (se bem que a obra tem um viés que permite algum tipo de identificação com os veganos, especialmente quando se trata de mudar e desafiar o convencional).

“A Vegetariana” é uma fábula intensa que fala sobre as consequências que surgem quando os pesadelos, desejos e dores afloram e “destroem” aquilo que convencionalmente poderia se chamar “razão”.

Muito bom e perturbador

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Abaixo, o ótimo trecho de abertura do livro

“Nunca tinha me ocorrido que minha esposa era uma pessoa especial até ela adotar o estilo de vida vegetariano. Para ser bem franco, não me senti atraído por ela na primeira vez em que a vi. Estatura mediana. O cabelo não era nem comprido nem curto. Tinha uma pele levemente amarelada, as maçãs do rosto um pouco pronunciadas. Vestia-se de forma neutra, como se tivesse algum receio de se destacar. Calçando um par de sapados pretos bastante sem graça, ela se aproximou da mesa em que eu a esperava. Não andava nem rápido nem devagar, sem firmeza, mas também sem muita fragilidade.

Acabei me casando porque ela não tinha nenhum charme especial, e também por não ter notado defeitos muito gritantes. Uma personalidade dessas, sem frescor, brilhantismo ou refinamento, me deixava confortável. Não sentia necessidade de bancar o inteligente para conquista-la e não precisava correr tentando não chegar atrasado aos nossos encontros. Tampouco sentia complexo de inferioridade ao me comparar com os típicos galãs dos catálogos de moda. Ganhei uma barriguinha já na segunda metade dos meus vinte anos. Meu corpo não desenvolvia massa magra nem mesmo com meus repetidos esforços para me exercitar. Até mesmo meu pênis pequeno, que costumava me deixar um tanto apreensivo, parou de me incomodar quando estava com ela.”

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