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Sunday, August 17, 2014

Teatro–Até o Fim

Ate o fim castanhaJoão Carlos Castanha (ou only Castanha) apresenta sua peça como “.. uma comédia sobre a morte “. E é exatamente isto o que se vê em “Até o fim” que está em temporada no Museu do Trabalho.

O palco mostra um ator moribundo em um quarto de hospital, saudoso e abandonado, tendo por única companheira uma enfermeira meio linha dura, que o cuida e com a qual estabelece uma relação “bafenta “ que acaba num processo de descoberta e transformação (no caso, para ela). Assim, o doente entre uma “najice” e outra, através de seus “ensinamentos” , principalmente envolvendo cinema e literatura, a medida em que se esvai, acaba “tocando” e despertando paixão e alegria de viver na seca e solitária mulher.

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É óbvia a pegada autobiográfica da peça. E para quem viveu os tais “loucos anos 80” é uma viagem no tempo, inclusive com a lembrança de personagens porto alegrenses lendários da época, como a Claudiona e a Nega Lu.

Nesta linha de “recordar é viver”, em se tratando do Castanha, eu esperava coisas certas. Tipo David Bowie. Eu só pensava : quando a bicha vai falar do David? E não deu outra. O camaleão aparece na fala sobre o “The Hunger” (Fome de Viver), típico filme que , conforme a peça fala, assistíamos dezenas de vezes (será que alguém ainda faz isto ?).

E por falar em cinema, a peça é prodiga no assunto : James Dean,  Marilyn Monroe, Sunset Boulevard (Norma Desmod... adoro !! ), Morte em Veneza (belíssima imagem do Tadzio), Almodovar (La Lupe – Puro Teatro), Bonequinha de LuxoAlta Sociedade, etc. são citados. Isto sem falar do arrasador “O homem elefante” (Merrick is my name !) , cuja “cena da encenação “ (sic) de Romeu e Julieta é reproduzida na peça.

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Castanha, macaco velho, deita e rola sobre seu próprio texto (irregular). Sua expressão física aguçada, impressiona na construção de um corpo enfraquecido e tomado pela doença.

Rose Canal não alcança a performance do protagonista. Com um personagem óbvio, cujo destino é óbvio desde o início, a atriz carece de naturalidade, o que compromete algumas cenas, principalmente a já citada reprodução de uma passagem de “O homem elefante” ( o que poderia ser “emocionante” revela-se ôco e um tanto vergonha alheia - no caso dela – ).

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O texto (repetindo) é irregular, alternando passagens verdadeiramente hilárias com outras, como se diz, “líricas” ou “sentimentais” – algumas lindas e outras um tanto forçadas –, o que quebra o ritmo em vários momentos. Neste jogo, rolam diversos anti-climax, o que confunde os assistentes (a utilização da poderosa “Meio Termo” da Elis exemplifica bem isto)

A direção do Zé Adão é bacana, assim como a iluminação, cenografia e sonorização. Tudo sem grandes vôos ou invencionices.

No geral o saldo é bom, desde que se tenha em mente que o que é mostrado no palco é a celebração de um artista cuja persona “desenquadra-se”, “descontroi-se”, “desrecria-se” dos formatos óbvios para sempre estar  assombrando os incautos com seu grande talento, desde em inferninhos gays (e bota inferninho de quinta  nisto) até os palcos mais “dignos” de Porto Alegre.

Super Castanha.

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Alguns Vídeos :

Castanha fala sobre a peça

La Lupe – Teatro

Elis – Meio Termo

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