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Wednesday, August 06, 2014

Teatro–A Coisa no Mar

Por Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Teatro realmente é tudo. Para mim é uma das manifestações artísticas mais empolgantes quando o resultado é o evidente triunfo do talento. Quando o que se vê em cena não é simplesmente um veículo capenga para celebrar a vaidade dos “envolvidos” (autor, atores, diretor e toda a cambada da arte).

Ai meu saco.

Já vi muita – mas muita mesmo – merda travestida de “espetáculo”. Desde jostas premiadas e celebradas pela críticas até coisas rasteiras de fundo de quintal supostamente “de conteúdo”.

Ai meu saco.

Então.

Na sexta passada uns amigos nos convidaram para assistir no Goethe aqui em Poa uma peça chamada “A coisa no mar”. O que ? Confesso que não sabia absolutamente nada a respeito. Mas, como não tínhamos nada para fazer e a tal peça era “de grátis”, lá fomos nós. E de qualquer forma, se fosse mais uma bomba oferecida “pelo povo da arte”, já tínhamos muita experiência no assunto. No mínimo seria mais um “espetáculo” para a lista de “Ai meu saco”

O que posso dizer ? Uma coisa só : “me caiu os butiá”. Fiquei pasmo com a qualidade do texto (de Rebekka Kricheldorf) e da montagem. Saí do teatro empolgado, eletrizado, totalmente abobado.

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A história é um non-sense só. Um grupo bem heterogêneo (uma escritora, uma médica, um editor, um menino meio nerd e uma “serviçal”) estão numa festa num barco, quando a âncora cede e eles são lançados sem rumo mar adentro. Passado o “susto” inicial, o povo, já um tanto “sem perspectivas” , gradativamente entra num processo de loucura e destruição mútua, temperado com muita crueldade, ironia e humor negro.

Perdidos, os personagens deixam cair suas máscaras e partem uns para cima dos outros numa carnificina exemplar (de chiques iniciais acabam totalmente “desmontados”). Isto sem falar que os dito cujos são assombrados por uma “criatura do mar” (um “monstro”) que ronda o barco, à procura (ou aguardando) do quê (ou o quê) mesmo ?

Nada se explica, nada é entregue de bandeja, nada “se esclarece”. Tudo é metafórico, simbólico, nublado. O tom é de apocalipse, catástrofe, derrota, fim.

Na linha do Teatro do Absurdo, “A coisa no mar” definitivamente não agrada a todos . Para pegar o “sentido do sem sentido” do texto é preciso que se entre no espírito da coisa, o que não impulsiona as mentes, digamos, “mais formatadas”. O que é uma pena, pois o absurdo , o inesperado, o “sem noção” – desde que dentro de um “sentido” - podem ser altamente instigantes e vibrantes, e esta montagem no Goethe traz uma pérola no gênero.

No mais, a direção de Jéssica Lusia é, como se diz, “segura”. Não deixa a peteca cair em nenhum momento e tudo funciona em detalhes. Palmas para ela.

Os atores estão excelentes, com destaque para Gabriela Poester. Gente, esta guria é uma atriz do caralho. Sua personificação da Berenice (a escritora maldita e sarcástica) é de um primor exemplar.

Só vendo para crer.

Os demais (Joana Kannenberg, Eduardo Cardoso, Natália Karam, Eduardo Schmidt), como já dito, seguram seus personagens “com culhão” – vibro quando os atores se desintegram “a olhos nus” - .

Show de bola.

Resumo da ópera : vou ver novamente esta semana.

 

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