Hino do Blog - Clique para ouvir

Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
Clique para ouvir

Wednesday, March 28, 2018

Teatro - Pequenos Trabalhos Para Velhos Palhaços


Atualmente ir ao teatro significa ser perturbado por basicamente três itens : celular tocando, pessoas conversando e um “Somos Todos PT!” inserido (do nada) no meio da apresentação.

Ontem à noite no Teatro São Pedro, a regra se confirmou com a peça “Pequenos Trabalhos Para Velhos Palhaços” de Matei Visniec (um dramaturgo Romeno, naturalizado francês).

Primeiro, duas fulanas, exatamente nas poltronas atrás, falavam sem parar. Finalmente um “schh” mais alto fez as tagarelas pararem (mas não por muito tempo). 

Depois – como sempre – toca um celular (de uma destas mesmas faladeiras) que desconcentra todo mundo.

E a cereja do bolo – como não podia deixar de ser – foi o momento “resistência socialista” enfiado dentro na trama.

Aí é aquela hora dos artistas virem à beira do palco, olharem bem na cara do público, fazerem uma cara bem corajosa e séria, e derramarem o “discurso”.

No caso, foi uma canção de Alvaro Costa e Leandro Maia – que não tem nada a ver com texto original – e que fala (é óbvio) do “bater panela”, do “usurpador”, da “imbecilidade do povo” e outros clichês.

Ai meu cú! Que coisa mais óbvia!

E no final da canção, obviamente, os atores continuam a encarar o povo até que os aplausos surjam e eles sintam que “o recado foi dado”.

Afff... que sono

É triste que esta anomalia tenha sido enxertada, pois, com ecos de Becket (Esperando Godot) e Sartre (Entre Quatro Paredes), o texto tem méritos suficientes para sustentar seus propósitos.

---------------------------

Nicollo (Arlete Cunha), Filippo (Sandra Dani) e Peppino (Zé Adão Barbosa) são velhos palhaços que se encontram na antessala de uma (provável) agência de emprego.

Chegaram ali atraídos por um anúncio um tanto obscuro que não deixou bem claro qual seria a função da única vaga (eles imaginam que pode ser até para domador).

Os três foram amigos e trabalharam juntos no passado, porém agora são o retrato da absoluta decadência.

Patéticos e solitários eles veem na vaga uma oportunidade de retorno às glórias dos palcos. Mas, como apenas um será contratado, acabam entrando em jogos de disputas que passam por recordações, brigas, maldades, mesquinharias, mentiras, afeto e amor.

As situações vão fluindo num misto de delírio e realidade, e não tem como não se emocionar com o misto de desespero e graça dos clowns a espera de uma entrevista que nunca acontece.

Os atores estão excelentes. Zé Adão e Arlete Cunha estão sublimes, mas, para mim, Sandra Dani acaba com tudo. Sua atuação é assombrosa, hipnótica. Mesmo quando não está com a palavra, seu Filippo é todo atenção e reação. Para minha surpresa, várias vezes me vi olhando para ela enquanto os outros atores falavam.

Fantástica.

Então a peça vela a pena? Sim.

Tirando a o momento “petista”, o espetáculo é bom, principalmente pela atuação primorosa de todos.
Valeu (apesar de não ser nenhuma maravilha)

No comments: