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Sunday, November 17, 2013

(Autor : Iuri) Quem tem medo de Virginia Woolf ? - Teatro dos Quatro RJ

Zezé Polessa deu piti em cena. 

A certa altura da apresentação do clássico “Quem tem mêdo de Virginia Woolf?” ela parou o texto e disse “Assim não dá pra continuar”. 

O teatro silenciou geral. 

Ela então dirigiu-se a uma senhora na platéia : “Você está desde o inicio mexendo em papel de bala. O barulho me tira a concentração. Assim não dá. Ou você para de mexer ou se retira do teatro..... O que você vai fazer ? ... (tensão de espera).... A senhora responde : “Eu não tinha a intenção”. E a diva do palco responde : “Eu sei que não. A senhora pode colocar as balas na sua bolsa e deixá-las lá ou sair do teatro.... (pausa)..... Então, o que você vai fazer ?”. 
 
E o público bége também querendo saber como a “cena real” iria terminar 

Então a “abridora de balas”, pediu desculpas, e colocou todas suas delícias na bolsa. 

A diva agradeceu, respirou fundo, baixou a cabeça e voltou a incorporar Marta, um dos personagens imortais da história do teatro.

Sim, isto aconteceu na apresentação de “Quem tem medo...” que assisti no Teatro dos Quatro no RJ no dia 3 de Novembro. 

Foi constrangedor mas, ao mesmo tempo, coerente com muita coisa que tava rolando desde o incio da apresentação. Sim, as pessoas conversavam. Sim, celulares tocavam (e não pararam mesmo depois do “surto chique” da Zezé), Sim, as pessoas desembrulhavam guloseimas. E eu pensava  : “O que esta gente tá fazendo aqui?”.

Eu absolutamente não sou um espectador que diviniza o teatro, que acha que tudo que é mostrado em cena seja “arte”. Já vaiei, já xinguei, já debochei em cena aberta montagens canhestras, amadoras, ridículas.

Mas diante do texto primoroso do Edward Albee como as pessoas podem não se envolverem, não se entregarem? Será porque a peça é “longa” ? (mais de duas horas) . Será porque o texto é “difícil”, “pesado” e requer concentração e raciocínio da platéia? Será porque no embate travado no palco não se salva um personagem sequer? Todos são meio “feios, sujos e malvados”. Sabe-se lá.

O que eu sei é que “Quem tem medo..” é especialmente caro para mim por questões até familiares (os motivos obviamente não serão explicitados aqui). Só tinha visto o filme do Mike Nichols de 1966 (que é fantástico e traz interpretações matadoras de todo o elenco, com destaque óbvio para Elizabeth Taylor), e o meu sonho era ver uma montagem teatral do texto. Isto finalmente se concretizou naquela noite no RJ.

Então, mesmo incomodado com as “intervenções” da platéia, saí maravilhado com o que vi.

“Quem tem medo..”, mostra uma madrugada de bebedeiras e revelações envolvendo dois casais.

Um é George e Marta, ele professor de História, ela, filha do reitor da universidade em cujo campus moram.

Outro é Nick e Mel, casal recém-chegado ao local onde ele também vai trabalhar como professor.

Os veteranos George e Marta, chegando já meio calibrados de um jantar estilo oficial do campus, recebem em sua casa , a pedido do pai de Marta, o jovem casal para uma “pós-party” a fim de promoverem uma espécie de boas vindas.

Mas o que poderia ser uma “saideira light” se transforma num show de horrores com brigas, ataques, humilhações, revelações, traições, e “otras cositas más” que dilacera todos.

A “diversão” proporcionada pelos beligerantes George e Marta, com seus jogos e provocações mútuas, acaba arrastando o jovem e (nem tão) inocente casal para a mesma lama emocional na qual chafurdam.

No fim,como se diz, não sobra pedra sobre pedra. e a ruína humana é geral.

Zezé Polessa está impecável como a impiedosa, debochada e destemperada Marta,   brilhando numa interpretação sensual, carnal e intensa.

Ana Kutner (Mel) e Erom Cordeiro (Nick) dignificam a arte de atuar com desempenhos impecáveis..

Mas é Daniel Dantas quem, como se diz, “rouba o espetáculo. Seu George é nada mais nada menos que perfeito. Daniel consegue pintar / tocar de forma virtuosa todas as nuancias do professor naufragado numa armadilha de fracasso e frustração. Simplesmente impressionante.

Só espero que “Quem tem medo de Virginia Woolf?” saia em turnê pelo Brasil e pouse em Porto Alegre para eu ter novamente ter a oportunidade de me maravilhar com esta obra prima.

1 comment:

Carla Soares said...

Amei o filme. Falta ver a peça. Bjos, meu querido!