Hino do Blog - Clique para ouvir

Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
Clique para ouvir

Wednesday, May 08, 2013

Palco giratório SESC–Luis Antonio Gabriela

Luis-Antonio-Gabriela-Foto-Bob-Sousa_2-680x1024Uma das coisas que mais me incomoda em teatro é a tal da “transgressão”.

Ou seja,  aquele tipo de montagem “ousada”, “diferente”,  cheia de “idéias” e “referências”,  repleta de “recursos cênicos”  que remetem a isto ou aquilo, mas que no fim das contas não dão em nada. 

Em tais peças vemos muita nudez (odeio nudez gratuita em teatro), muita mídia,  muito grito, muita baba, muito choro e corpos crispados, tudo a serviço de um vazio e tédio absolutos.

Então, é realmente impressionante (pelo menos para mim, confesso), ver algo como “Luis Antonio Gabriela”, onde, dentro de uma montagem, digamos, “cheia de recursos”,  temos pela frente uma obra forte, consistente, adulta, corajosa e inesquecível.

Aqui, cada elemento cênico, tem seu sentido.  Nada é gratuito.  Música, canto, vídeos, artes plásticas, filmes, displays, papel, plástico, madeira, água, ferro, pano.

Sólido e o líquido conjugados  (de forma harmônico-caótica) para emoldurar belamente um texto – odeio dizer o óbvio  – “impactante”. 
Mas é isto o que é “Luis Antonio Gabriela” : impactante.  Um sôco no estômago, um desconforto nas
tripas. Um revirar necessário.

Com uma coragem única – só quem vê a peça entende -
Nelson Baskerville (juntamente com  Verônica Gentilin e a Cia. Mungunzá de Teatro) mexe em sua história –e na história da sua família-  para contar a trajetória do seu irmão mais velho, Luis Antonio (interpretado pelo ótimo ator Marcos Felipe),  que virou travesti, foi rechaçado pela família e acabou morrendo de Aids na Espanha em 2006.

E esta história nada cor de rosa é oferecida mais ou menos na linha da desconstrução (do estilhaçar),  o que revela-se  como a linha correta para o que se pretende mostrar  em cena.

Os atores estão – no seu conjunto – ótimos, com destaque óbvio para o já citado Marcos Felipe.

Obs : Gostei muito da “diva de fundo”.  Aquela “deusa” que não tem personagem e fica só “divando” na periferia das cenas e arrasando no cabelão (peruca é  óbvio) e na voz.

A peça é cheia de surpresas e vai espantando os presentes com alguns truques certeiros (amei a utilização do rolo gigantesco de papel em duas cenas cruciais).

luis-antonio-gabrielaUma coisa que particularmente me chocou foram as telas que “caem” do teto, na cena em que Gabriela e a irmã  visitam o museu Guggenhain de Bilbao.

As figuras  são assombrosas formas humanas criadas pelo (depois vim a saber) artista plástico Thiago Hattner.

Pirei total e reproduzo algumas abaixo (no final do post)

E tudo vai bem até o final emocionante, com o elenco cantando “Your Song” do Elton John.

Aqui acontece meu único senão para a montagem.

Esta música traduz quase que fielmente todo o sentido da peça, mas sua mensagem só funciona para quem conhece sua letra (quem conhece inglês).  

Eu,  que conheço a canção de cor e salteado, acompanhei cada palavra com lágrimas nos olhos. Mas e aqueles que  não conhecem inglês?  Será que não mereciam um tradução simultânea?

Este sentimento cresceu ao ver que, no livro oriundo da peça, Baskerville diz que a canção “se encaixa perfeitamente naquilo que eu queria dizer ao meu irmão”. E na sequência  –  no livro - vem a tradução da canção.

Vejam abaixo.

Tirando este “problema”,  “Luis Antonio Gabriela” é puro êxtase, pura magia.

Um rapto bestificante dos sentidos que ecoa nascimento, vida e morte de forma única.
---------------------------

Livro “Luis Antonio Gabriela”

luis-antonio-gabriela_capa

Tributo a um irmão morto

Tributo a um irmao morto

------------------------
Obras de Thiago Hattner

Thiago_Hattner_001Thiago_Hattner_002Thiago_Hattner_003Thiago_Hattner_004Thiago_Hattner_005Thiago_Hattner_006Thiago_Hattner_007Thiago_Hattner_008Thiago_Hattner_009

No comments: