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Thursday, June 07, 2012

MPB GLS - Parte 2

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MÚSICA POPULAR BRASILEIRA E OS GUEIS (gays)

Panorama Histórico – Social - Cantos e Representações

- Segunda Parte -


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Trabalho apresentado na conclusão do "CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM LITERATURA BRASILEIRA" da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2009.
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A publicação deste trabalho no Blog foi dividida em 5 partes
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Para acessar a Primeira Parte, tecle AQUI.
Para acessar a Terceira Parte, tecle AQUI.
Para acessar a  Quarta Parte, tecle AQUI.
Para acessar a Quinta Parte, tecle AQUI
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4 - Retrospectiva Século XX (anos 60 e 70 – transformações culturais / sociais).
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4.1 - (Anos 60) Revolução Social / Luta pela igualdade de direitos
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Nos anos 60, o que até então era visto como certo, correto socialmente (religião, costumes, cultura, sexualidade, comportamentos, tradições), passou a ser questionado, e, novas formas de pensar e agir surgiram.

Ainda sob o efeito do movimento beatnik que desde os anos 50 interrogava a ordem social vigente -, acrescentando ao quadro o surgimento e disseminação do rock, da difusão do uso de drogas, da busca de formas alternativas de viver e pensar, nos questionamentos intelectuais, etc, - a década de 60 veio para mudar tudo. 

Life Magazine 60´s
O homem não mais se satisfazia com o herdado. As novas gerações queriam o novo, queriam radicalizar atos e pensamentos, na busca utópica da renovação alicerçada em novos conceitos

Neste processo, o movimento hippie, através do revolucionário lema “paz e amor”, avançou em todas as áreas do comportamento acirrando o atrito entre o velho e o novo. A rebeldia revelava-se como um potencial criativo, associada a um idealismo e ações concretas que propunham novas formas de viver, de atuação, de movimento, totalmente diferenciadas do que até então era tido como certo, como exato.

A valorização dos sentimentos “puros”, a busca da paz e harmonia entre os homens, criaram espaços sociais e novos modos de vida onde a igualdade e o respeito existiam – ou deveriam / pretendiam existir.

Neste contexto a busca da realização humana dos grupos marginalizados poderia embarcar no caminho da luta (ex, movimento negro americano – Martin Luther King (luta pacífica) , Malcom X, etc), e/ou a pura virada de costas a tudo que representasse “o sistema” e partir para a busca de uma vivência alternativa (comunidades hippies, cultura oriental, drogas, etc).

Diante desta realidade, negros, mulheres, gueis, países colonizados, etc, puseram-se em marcha – uns com maior sucesso, outros não – na busca de sua autonomia, direitos e liberdade.
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4.2 - (Anos 60) Movimento guei brasileiro até os anos 60
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Analisando o crescimento do movimento (cultura / sub-cultura) guei no Brasil - especificamente no Rio e em São Paulo – durante o período 1945 – 1970, James N. Green (1999) registra :

Nesses 25 anos, houve também alterações significativas na composição e no desenvolvimento das subculturas homossexuais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Novas noções de identidades sexuais e de gênero surgiram, colocando em xeque a polaridade entre homens "verdadeiros" e bichas efeminados. As opções da vida noturna ampliaram-se e bares exclusivamente para gays foram inaugurados. Os homossexuais passaram a ocupar novas áreas das maiores cidades brasileiras. Os fãs-clubes dos cantores de rádio constituíram outro meio para criar uma comunidade e integrar os homens nessa subcultura em ebulição. A participação nos concursos anuais de beleza para a escolha da "Miss Brasil" permitia demonstrações públicas do estilo e da atitude camp, além de oferecer a oportunidade de avaliar e desafiar as noções tradicionais da beleza, da moda e do glamour femininos. Apesar da oposição de certos machões, que tentaram afastar os bichas das praias, uma faixa de Copacabana tornou-se território homossexual. Os bailes de carnaval que aceitavam a participação dos gays recebiam ampla cobertura da imprensa, e travestis glamourosos surgiam desses bailes para atuar nas produções teatrais tradicionais que atraíam o grande público. Um grupo de homossexuais no Rio de Janeiro começou a fazer circular um pequeno jornal, O Snob, recheado de fofocas, humor camp e auto-afirmação. O jornal, por sua vez, inspirou trinta publicações similares por todo o país. Dentro dessas redes sociais, alguns até mesmo sonharam com uma "comunidade imaginária" de homossexuais que se uniriam num esforço de transformar a hostilidade social que havia em relação a eles.

Ou seja, o guei avançou na visibilidade, conquistando, ainda que de modo tímido, alguns espaços sociais.

4.3 - (Anos 60) – Tropicalismo

O Tropicalismo foi um movimento de vanguarda que abalou as estruturas da cultura brasileira na segunda década de 60. Num caldeirão que misturava música, artes plásticas, literatura e outras manifestações, teve como mentores, artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Mutantes, Gal Costa, Rogério Duarte, Duprat e outros.

Tropicalismo
No que se refere especificamente a MPB, o Tropicalismo representava um chute no traseiro da tendência cada vez mais politizada das canções. No clima de contestação à ditadura militar, a MPB vinha – como por exemplo nas canções de Edu Lobo, Geraldo Vandré, Sergio Ricardo, e outros – num crescente tom esquerdista, com a proposta de compromisso com composições engajadas, alinhadas com a resistência e denúncia social.

O Tropicalismo rompia com esta idéia e assumia uma mistura de influências que iam da nova ordem jovem mundial - como o rock, a psicodelia, guitarra elétrica, etc -, até a vanguarda erudita por meio dos arranjos de maestros como Rogério Duprat e Júlio Medaglia. A idéia era avançar o experimentalismo, agregando elementos do popular ao erudito, do regional ao universal, rompendo com sectarismos / preconceitos e promover uma espécie de “tudo ao mesmo tempo agora”.

No que se refere ao homoerotismo, não se pode dizer que o Tropicalismo tenha gerado alguma canção; porém, devido ao seu caráter transgressor, sem dúvida alguma influenciou corações e mentes dos gueis de então que viram ali, naquele movimento escandaloso e combativo, uma forma de expressão libertária, uma derrubada de muro, uma quebra de portas e janelas – um hino de determinação e (r)evolução.

Pode-se afirmar que a partir do impacto do Tropicalismo, artistas seminais – com forte influência homo – surgiram a partir dos 70´s, como o grupo Secos e Molhados e os transformistas Dzi Croquetes.

4.4 - (Anos 70) Desbunde, Ditadura e Abertura


Os anos 70´s no Brasil foram marcados desde a mais dura repressão militar, perseguição, cassação política, amordaçamento da cultura, censura, até, já na segunda metade da década, o início da lenta “abertura”, que previa a restituição da democracia e dos direitos civis.

Foi uma década de grandes transformações também no comportamento humano, com a consolidação do “women´s lib”, a conquista do direito ao divórcio, a dissolução da idéia formatada de família, a ocupação dos espaços sociais pelas minorias, o desenvolvimento científico, o avanço das idéias, a valorização do indivíduo, enfim, a estrutura formal social se viu frente a frente com desafios que avançavam em novos atos e comportamentos.

O início da década foi marcado pelo “desbunde”, uma espécie de “movimento punk num luau” (festa noturna de verão na praia). O desbunde seria um

[...] termo originado do verbo desbundar, que, segundo os dicionários, significa "perder o autodomínio, enlouquecer, loucura, desvario". Foi apenas isso? Quem era jovem no Brasil, teria dois bons motivos para desbundar : 1) acompanhar a possibilidade de sonhar com uma nova era, voltada a valores espirituais e pouco materialista; 2) esquecer a repressão política e o estado sem direito instaurado pela ditadura militar. Aliás, nos anos 70, a América Latina era um antro de ditaduras por todos os lados.
Sonhar com novos rumos fazia parte do pensamento libertário e da estética contracultural da época. A Guerra do Vietnam chegava ao fim, com milhões de vítimas. Richard Nixon era acuado pelo caso Watergate. Os cabelos cresciam, as barbas ficavam compridas, as idéias cada vez mais radicais, as artes plásticas se misturavam a perfomances ou instalações, o sexo virava amor livre e a humanidade até pensava que podia ser feliz.(http://www.galcosta.com.br..., 2005)

Falando do desbunde e da sua influência no mundo guei, Trevisan (2007, pág. 284) comenta :

“Alguém desbundava justamente quando mandava às favas – sob aparência freqüente de irresponsabilidade – os compromissos com a direita e a esquerda militarizada da época, para mergulhar numa liberação individual, baseada na solidariedade não-partidária e muitas vezes associada ao uso de drogas ou à homossexualidade (então recatadamente denominada “androginia”). Talvez fosse possível detectar o início deste fenômeno em três núcleos deflagradores – nas áreas de teatro e na música popular. Estou me referindo aos compositor-cantor Caetano Veloso, ao grupo teatral Dzi Croquetes e ao cantor Ney Matogrosso.

Enquanto os punks – que surgiram mais tarde - urravam “Esqueça os estúpidos e gritem !!”, os desbundados sussurravam “Esqueçam os estúpidos e compartilhem a rede...”

Dzi Croquettes


Nota : Os Dzi Croquetes foi um grupo composto exclusivamente de homens que causou furor nos palcos nacionais no início dos 70. Com o intuito de embaralhar as fronteiras dos gêneros, os Croquetes, homens de bigode e barba, apresentavam-se


[...] com vestes femininas e cílios postiços, usando meias de futebol com sapatos de salto alto e sutiãs em peitos cabeludos. Assim, nem homem nem mulheres (ou exageradamente homens e mulheres), eles dançavam em cena e contavam piadas cheias de humor ambíguo, tentando furar o cerco repressivo deste período ditatorial em que a censura e a polícia mobilizavam-se ao menor movimento que destoasse dos parâmetros permitidos. (TREVISAN, 2007, pág. 288)
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Trabalho apresentado na conclusão do "CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM LITERATURA BRASILEIRA" da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2009.
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