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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Saturday, September 10, 2005

Gays em Cristo

Navegando em alguns grupos de discussões sobre religião ocidental mais uma vez me deparo com a irrelevante e estéril discussão “Gays e cristandade – devemos aceitar ou condenar?”. Como um masoquista, que já sabe o que o espera, começo a ler as intermináveis considerações, réplicas, tréplicas, xingamentos, mensagens conciliatórias, mensagens de “esclarecimentos”, mensagens “divinas”, desaforos e assim por diante, o que acaba redundando num nada generalizado.

De qualquer forma, o curioso é que nestes forums nota-se um esforço, entre os participantes que condenam o homossexualismo, de provar aos que pensam diferente que a verdade (com V) é prerrogativa deles. Para isto se apegam de forma asfixiante ou às doutrinas da sua profissão religiosa ou às escrituras bíblicas, demonstrando mais uma vez que é muito mais fácil recacarejar, de forma absolutamente superficial, pensamentos, dogmas e ensinamentos pré-formatados (e deglutidos como manjares), do que realizar um esforço próprio no sentido de questionar o que é imposto como correto. Mostram como foram bem amestrados.

Sei que a preguiça é inerente ao ser humano, tanto a física quanto a mental. É ótimo não termos que fazer ou pensar muito. Pra que? Se podemos nos preocupar pouco, ou fazer pouco, porque nos incomodar em perguntar ou procurar saber mais? Porque levantarmos da cama se desde que nascemos somos criados dentro de um mundo pronto onde os outros vão nos dizer o que está certo ou errado e a nós só cabe aceitar? Por exemplo : quando nos dizem que Deus condena os homossexuais, cabe a nós questionar? Ora se DEUS deu a procuração lavrada e assinada para os doutores da lei afirmarem isto, o que resta a nós pobres mortais?... Sim, sim, os doutores têm esta procuração. Sim, aquela que todo mundo sabe... Sim, a Bíblia..... Sim, este mesmo : o livro que brandem na nossa frente com uma baba bovina (como diria Nelson Rodrigues) quando querem provar nossa escuridão mental. Sim, a obra maior! A única luz divina da humanidade. O livro cujas páginas registram as únicas verdades admitíveis para qualquer ser racional deste planeta...... Não, não, o Alcorão, Bhagavad Gita, Vedas, e outras literaturas das outras grandes religiões não servem para nada..... São textos menores de hereges perdidos nas trevas e na ignorância. O único livro a encerrar toda a necessidade moral e espiritual do homem pertence aos cristãos...... Parênteses. Disto surge a idéia : que bom seria se todos fôssemos cristãos, não? Se pudéssemos extirpar o câncer que os pecadores representam à humanidade, e deixarmos os cristãos herdarem a terra, com certeza o mundo seria um paraíso, um lugar de amor, conciliação, paz e harmonia, não é mesmo?... Mas peraí, a cristandade não existe há séculos? A doutrina e os ensinamentos não existem há séculos? Sim, mas o que se vê estudando este histórico são, principalmente, cenários de intolerância, perseguições, guerras, tortura e morte. Então...(melhor deixar isto prá lá) . Fecha parênteses.

Mas voltando à Bíblia : é interessante perceber que as pessoas que têm o conteúdo do livro sagrado como única argumentação não possuem a mínima cultura que as esclareça como tal coletânea foi formada, sob quais regras foi composta, que interesses refletiu. E mais, falta cultura e conhecimento também no que se refere às próprias origens do cristianismo. Por exemplo: de onde sairam muitas das parábolas, dos ritos, das histórias e verdades reproduzidas hoje em qualquer templo de esquina? Com certeza estas pessoas teriam um baque enorme ao saber que muito do que é colocado como verdades cristãs nada mais são do que cópias quase que literais de religiões e tradições mais antigas (vide a própria história do nascimento milagroso, reis magos e outras). Mas saber disto, ter este conhecimento, ter esta cultura histórica, invalida o conteúdo da Bíblia? O livro passa a ser um festival de mentiras inúteis e estéreis? Perde o caráter sagrado? Para mim não, apesar de, quem sabe, ter deixado esta impressão ha pouco. Para mim, a Bíblia mantém o caráter de livro santo assim como qualquer outra obra da literatura universal que busque a reconexão do homem com o Divino - O que não pode ser aceito é que qualquer excerto destas obras antigas seja usado como prova incontestável de alguma pretensa verdade universal que pregue a discriminação e a intolerância entre os homens-

Reafirmo : a Biblia e as obras sagradas de todas as religiões e filosofias estão disponíveis para auxiliar aqueles que buscam trilhar o caminho espiritual. São fontes de conhecimento, inspiração e meditação mas não encerram em si o início, meio e fim da verdadeira transcendência,. Por isto qualquer fato histórico ou argumentação que queira desmascarar ou ratificar a Bíblia (ou qualquer outro livro santo); que queira provar que um ponto de vista é o único certo (muitas vezes baseado em textos das próprias escrituras), ou que uma religião é mais correta do que outra, se torna irrelevante quando atingimos a verdadeira religiosidade.

Falo daquela religiosidade interior desassociada de qualquer denominação, daquela religiosidade maior que une coração e mente. Que integra. Religiosidade de pensamento isento de qualquer gesso, onde o espírito manifesta o “religare” livre de conceitos ou preconceitos. Religiosidade de acolhimento, onde a convivência, ratificação e celebração das diferenças acontecem. Onde o julgar e a condenação (explícita, parcial ou velada) inexistem. Que inclui verdadeiramente o outro como ele é. A religiosidade do respeito consigo próprio e com demais, onde cada um é incensado no seu individual, na sua felicidade de ser uno, de ser íntegro (independente da sua sexualidade ou qualquer outra característica)....

O encontro com este “religare”, além das aparências e das convenções sociais, é um processo doloroso pois prevê sairmos no nosso estupor, da nossa zona de conforto pré-formatada e questionarmos, quebrarmos paradigmas, mexermos com o que nos foi servido, destruirmos “muros de verdades”. É doloroso, mas afirmo que o que resulta é uma reconstrução moral e espiritual baseada numa tranquilidade, numa serenidade de conexão com o superior que proporciona uma visão maior e onde discussões como estas passam a ser apenas objetos de contemplação e lamentação.

2 comments:

Anonymous said...

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Anonymous said...

Fantastico texto!..a quebra de paradigmas é inerente aos que tem coragem. E, infelizmente, coragem, também é para poucos. Um abraço e parabens!..:*)