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Wednesday, November 02, 2005

Autor ou Obra ?

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O que vale mais, o autor ou sua obra? Pode-se dizer que a obra exprime o autor ou um está desassociado do outro? Onde começa um e termina outro? O quanto podemos ou devemos separar um do outro? Estive fazendo estas indagações ao ler o extraordinário livro "Viagem ao fim da noite" de Louis-Ferdinand Celine, um dos maiores escritores do século passado e também, de certo modo, um monstro genocida.

Celine alcançou os píncaros da gloria em 1932 ao publicar "Viagem ao fim da noite" , uma obra-prima que quebrou, inverteu a lingua francesa. Foi um um escândalo. Diante da novidade os críticos não conseguiram enquadrar o livro em qualquer estilo até então conhecido. Celine ocasionou uma revolução literária e obteve fama e reconhecimento instantâneos.

Porém, com a ascenção do nazismo na Europa e a consequente invasão da França, Celine tornou-se um vil e ativo colaboracionista. Durante a ocupação francesa, escreveu e publicou três furiosos manifestos anti-semitas que pregavam o extermínio dos judeus de forma irrestrita. Quem os leu, diz que os conteúdos eram mais terríveis que os discursos do próprio Hitler
(estão até hoje proibidos de circular). Com o final da guerra Celine se tornou um pária e acabou seus dias maldizendo a humanidade.

Mas voltando a questão inicial, podemos ou devemos separar o autor da obra? O caso de Celine é exemplar : pode-se ler sua magnifica obra sem pensar que existe um monstro por trás?

Não tenho esta resposta mas o exercício de pensá-la é interessante.

6 comments:

Anonymous said...

Teoricamente, a obra deveria valer mais que o autor, mas o grande problema é que quando conhecemos a historia do autor e não aceitamos, ou não identificamos a obra passa a ser secundaria. Isso vemos quotidianamente acontecendo. Quantas vezes não gostamos de determinados membros de grupo e ai sem ler suas obras, já o deletamos? O sujeito infelizmente vem antes do objeto.
abraços,
Ataíde

Dark Side said...

Depende.
Já conversei com escritores que confessaram colocar muito de si nas histórias.
Outros conseguem surpreender a cada livro, e até assumir faces diferentes (fernando pessoa?)

Acho possível desassociar, mas não necessariamente comum.

Dayse Batista said...

Estou mais com o Rodrigo -- acho que dificilmente o autor seria "inocente" em relação ao que escreve. Explico: se seu alter-ego (seus personagens) são o que são e ele, o autor, parece um sujeito pacato,*só* parece. Não assume seu lado escuro porque não quer, ou porque não pode. Mas que há, há.
Jorge Amado era um sátiro, mas quem o visse não diria ;-); Mario Simmel, que adorei durante minha adolescência, não poderia ser apolítico, jamais, dadas as idéias que permeavam suas tramas tão humanas.
E por aí vai.
Pretendente a autora, me defendo (ou me decapito desde já), dizendo que só não sou mais libertina por falta de espaço -- mas mentalmente. Na "vida real", me controlo muito.
Enfim, autor e obra não podem ser separados (em minha humilde opinião).
BEIJO, cérebro lindo!

Anonymous said...

Meu Rei !
Embora ambas (obra e autor)estejam de certa forma ligadas, no meu ponto de vista, a obra é mais importante. Lembra quando decidimos fazer o SARAU "homenagem a....", logo fomos dizendo....não interessa o lado pessoal do artista e sim a obra (música dele), pois se fososemos levar em consideração isto....poucos se salvaríam....
Bjo
T amando sempre
ludwig

Dark Side said...

ha eu não sei... eu jah considero muito o lado pessoal no artista. E acredito que muitos refletem parte da vida nas suas obras. E se eu não gosto da pessoa, provavelmente eu não vou gostar do que ela faz, canta ou escreve. Parece meio idiota, mas só sei que foi assim.

bjão!

Gata Guu said...

Há quem consiga "apreciar a obra" de um autor mesmo não o apreciando como pessoa, e isso é muito bom, ou melhor, vejo isso como muito bom, demonstra maturidade saber separar que não gostamos das atitudes pessoais do fulano, mas gostamos da sua produção literária, musical, seja lá o quer for.