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Wednesday, September 11, 2013

Livro - O Deus dos Insetos / Monique Revillion


O Deus dos Insetos - Monique Revillion

O novo livro da Monique Revillion ( O Deus dos Insetos / Editoria Dublinense - 2013)  reafirma seu talento como contista. 

Eu que não sou muito fã do gênero, me rendo aos textos curtos desta escritora de São Leopoldo desde a antologia anterior,  Teresa que esperava as uvas”. 

Aqui, com ecos de Clarice Lispector, Monique  mergulha nas almas dos personagens de modo, digamos,  “paralelo”. 

Explicando : em suas histórias, um evento externo, tipo uma enchente, a queda do Sputnik, um fenômeno na superfície do sol, um resto de maçã podre, o vôo de uma libélula, o trajeto de um avião no céu, etc, são motivos  para os personagens projetarem sobre eles suas dores  e os reinterpretarem  como uma desculpa, uma revelação, uma identificação, uma transferência , uma fuga.   
 Sobre seus dramas vão acumulando camadas  que resultam em espanto, surpresa, desilusão e solidão.

Por fim veem-se  encerrados em momentos de tristeza, desespero,  culpa e abandono.  Presos em estados mentais angustiantes, limítrofes.  Em frágil equilíbrio.  Solidão é o tom.

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Confesso que senti falta de um conto no nível de “Os primeiros que chegaram” (que rendeu uma super polêmica com o Mec em 2010). 

A ausência de um texto no estilo curto e seco de Rubem Fonseca, me passou a impressão de que Monique não quer correr novo risco de ser criticada caso exemplares de  “O Deus dos Insetos” venham a ser adquiridos para o ensino médio. 
 
De qualquer forma, dentre os contos deste novo livro, destaco : “Coronal Mass Ejection” (um primor de ironia), “No avesso” (que me lembrou passagem da minha infância), “Números” (com seu assustador espiral ladeira abaixo) e “Funghi” (surreal total)
.
“Jonatas”  me incomodou  ao descrever a mãe (vendedora de rapaduras)  do protagonista : “Ele também tinha mãe, atrasada na subida da rua íngreme, as muletas ajudando o andar coxo e a mochila vergando-lhe os ombros, ainda cheia naquele sábado de manhã em que tão pouco tinha vendido”. 

Ora,  só o fato de ser uma vendedora de rapadura,  andando nas ruas com o filho pequeno num sábado de manhã já pinta um quadro de dificuldade. 
Monique Revillion

Era necessário acrescentar as tais “muletas ajudando o andar coxo”? 

Achei desnecessário.

Por outro lado, até por estar passando por um momento de luto na família, me debulhei em lágrimas com os petardos “Constelar” e “O Deus dos insetos”.

 Ambos tragicamente perfeitos. 

Livraço.

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