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Tuesday, February 26, 2013

Diario de Viagem - Barcelona dia 16/02



Barcelona
Chegamos em Barcelona por volta do meio dia e fomos direto resgatar nossa bagagem na esteira giratória junto com nossos companheiros de viagem

Logo as malas foram aparecendo.  

Muitas, muitas e  muitas, E as nossas, nada.  O povo alegre e sorridente resgatando seus pertences. E as nossas, nada. O povo indo embora com suas malas, E as nossas, nada.  A sala esvaziando, e as malas sumindo da esteira. E as nossas, nada.  A esteira girando vazia. E as nossas, nada. 

A esteira parando. E as nossas malas não apareceram.

Que legal.

Fomo direto reclamar no balcão da Air France.

Eu não domino o espanhol e quem buscou uma aprendizagem básica na língua foi  o Lu. Portanto durante toda nossa estadia na Espanha ficou quase sempre a  cargo dele a comunicação com os nativos (quando entrava o inglês a coisa ficava mais comigo).

E ele se saiu tri bem.

Ele explicou a situação à atendente. A mocinha simpática e sorridente consultou o sistema e  informou que nossos pertences  ficaram em Paris, mas que “estariam vindo no próximo vôo”.  Profissional  -  e mantendo a simpatia -  pediu que não nos preocupássemos pois os mesmos nos  seriam entregues até as 19 horas do mesmo dia.

Sem mais o que fazer, e acreditando na informação,  fomos para o hotel fazer o chek-in e logo em seguida saímos  para a locadora pegar o carro reservado.

Primeiro destino : Sagrada Familia.

Primeira descoberta : dificuldade para estacionar. 

Lu
Eu
Depois de algumas voltas só encontramos vaga num estacionamento pago. Sem problemas.

Largamos o coche e passamos rapidamente por um restaurante para comer uma paella (eu, vegetariana).  


Paella
Muito boa.

A Sagrada Familia é majestosa, exuberante, impressionante.  É o monumento mais visitado da Espanha, com cerca de 3 milhões de pessoas por ano.  Pode-se comprar ingresso com acesso restrito  à nave e subterrâneo, ou incluir visita às torres (além, é claro das visitas guiadas) – e é permitido filmar e fotografar os locais públicos.  Compramos o ingresso  com acesso às torres..

Pois bem, entramos e eu simplesmente choquei .

Mesmo já  impressionado com a vigorosa fachada externa, não estava preparado para o poder, força e audácia do interior.  Minha sensação foi a de que entrei  num mundo paralelo construído por alienígenas. 

Me pareceu inconcebível que estava num local erigido por mãos humanas.  Nenhuma foto ou filmagem jamais fará juz à pujança do que se revela aos  olhos dos visitantes.

Caí em prantos logo de cara ( e o Lu também)

Pela primeira vez na vida vivenciei  a força da arquitetura agindo no espírito.  Senti  que tudo o que está  lá foi cuidadosamente planejado  para a elevação, para a celsitude . Tudo remete à exortação.  E não estou  falando aqui daquele estilo clássico de quadros, estátuas e demais itens, digamos “normais”, da arte sacra. Não, o que temos na Sagrada é a força da criação, da inovação, da ousadia em serviço de um tema tão caro ao humano (a religiosidade).

Passado o impacto (e as lágrimas), circulamos bastante e entramos na  fila do elevador para  o horário da próxima  visita às torres (por motivos de segurança, algumas restrições são impostas, tipo não permitir muita gente ao mesmo tempo lá em cima, crianças com menos de 8 anos, menores de 14 desacompanhados, pessoas com dificuldade de caminhar, cadeiras de roda, etc).

Gaudi projetou a igreja com 18 torres (12 que simbolizam os apóstolos, 4 os evangelistas e mais duas, representando Maria e Jesus).  A visita é permitida a apenas a algumas, mas é mais que suficiente para, como se diz,  “sentir a vibe”.   

É até ridículo ficar repetindo superlativos, mas  afirmo que a visão lá do alto é grandiosa.  Estamos no coração de Barcelona  e para todo o lado a cidade se  descortina com sua arte, sua vibração.

O acesso entre as torres se faz em corredores e escadas minúsculas que são compartilhadas pelos visitantes. Portando paciência e cordialidade são fundamentais..  As pessoas saltam e soltam gritos de excitação a cada  “eyesight around”, e nós tambem entramos na onda, of course. 

Porém eu não estava preparado para o que aconteceu em seguida, na descida. 

Para voltar à terra há duas opções : o amigável “ascensor”  ou as escadas.  Como não sabíamos a altura certa de onde pegar o elevador, fomos descendo as escadas.  Só que chega-se a um ponto onde apenas os degraus são a opção. E aí voltar atrás é meio difícil, pois a largura da construção  dificulta o tráfego. 

Continuamos a descer na esperança de que outra parada de elevador surgisse. Engano total. Logo nos vimos presos no espiral da descida.  Foi quando então  percebi qual é jogada da “escadinha” e  entrei em pânico.

Descrevendo :

1 - Os degraus são da largura que dá para  mal e mal  uma pessoa.

            2 - Do lado direito da criatura, sem nenhum tipo de apoio,  há apenas um buraco sem fundo (sim, propositalmente Gaudi projetou esta  idéia de visão “infinita”).
      
      3  -  Repetindo :  não há nenhum apoio para a mão direita e olhar para baixo nesta direção  é ouvir as sereias  chamando à queda.

      4 - Para o destro  fica evidente que a partir dali sua vida tem que ser garantida pela segurança da mão esquerda (lado onde tem um corrimão). Largou a esquerda, encontrou Jesus.

Completamente zonzo e fora da casinha, me atraquei no corrimão  com as duas mãos e fui descendo de frente para a parede sem a mínima coragem de olhar para qualquer outro lado.

Me sentia vitorioso a cada degrau para baixo, mas onde era o final?  E para “ajudar” a situação,encontrei pela frente várias portas `a esquerda;  locais onde simplesmente o corrimão sumia e onde, mais uma vez , entregava minha alma ao Senhor.

Perdi completamente o foco e só pensava que “isto tem que acabar em algum local”. Quando e onde não sei, mas não é possível que isto não tenha fim.

O absurdo da situação é que pela razão é óbvio que eu  “sabia” que a  escada tinha fim, mas minha mente já tava tão dominada pelo pânico que perdi o raciocínio e só enxergava minha entrada no além.

Tempo, espaço e local perderam o sentido e eu só vivenciava  o terror puro e cru destruindo minhas vísceras. 

A certa altura, tomado pelo certeza  do desencarne,  não sei como, ouvi a voz do Luciano “É só mais uma escada!”. O que? Como? Eu tô aqui, perdido no meio do nada, sozinho, tonto, grogue, aterrorizado e já to chegando?
  
Num arroubo de coragem olho para baixo à direita para confirmar o que ouvi  e continuo  “apenas a  avistar o infinito”.

Então como “só falta uma escada”? Já tô ouvindo vozes? É o Luciano quem me chama ou são os anjos? Será que são os agentes celestes disfarçados de Luciano que querem me enganar e fazer com que eu  corra degraus abaixo? É um truque urdido para garantir meu local na Barca de Creonte?

Continuando a “louvar o nome do Senhor” – e assim tentar garantir uma vaga no Nosso Lar - desci mais uns poucos degraus e, surpreendentemente,  me vi novamente na nave central com o povo circulando despreocupadamente.  

Gaudi
Inacreditável. 

Não sei como não caí de joelhos transfigurado e  em prantos agradecendo aos Deuses por continuar aqui.

Me senti  resgatado do além. Tipo Fênix, Lázaro, ou uma criatura do Pet Cemetery.  

Me apoiei no Lu e aos poucos fui me acalmando e retornado ao perfil de turista abobado.

Tudo certo, saímos da Catedral  e fomos para o subterrâneo onde pode-se conhecer o atalier do Gaudi, seus projetos, sua vida e muito mais.

Depois da passadinha básica pela lojinha, saí da Catedral  com a forte sensação de ter vivido uma “experiência”.  

 Não sei exatamente qual,  mas o que mais se aproximaria seria tipo “uma quase morte” – algo simples assim.

Com certeza quero voltar e revivê-la.

Pensar sobre o que vi e vivi no local, me levou a reflexão entre o que seria um artista e um gênio. 

Gaudi  foi um “artista” ou um gênio ? O que seria um gênio?  O que seria um artista genial? ...

Sem querer ir muito a fundo, registro que,  para mim, o que diferencia um “artista” de um gênio é que o último  é  resultado da mistura de talento genuíno – alguém realmente tocado pelos deuses da arte – com uma profunda capacidade  de aprendizado  e reflexão, e que erige uma obra marcada pela diferença,  sob a qual novos caminhos, inspirações e escolas  se abrem.

Gaudi é um gênio.

O legal é que no dia seguinte, durante o passeio panorâmico que realizamos, voltamos a Catedral para uma visita externa, quando o guia forneceu diversos detalhes  adicionais sobre sua arquitetura e histórico.

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Barcelona – Primeiro dia (noite)

Voltamos ao hotel por volta das 19 e milagrosamente conseguimos uma vaga para o carro na mesma rua da nossa hospedagem.

Nossa bagagem não tinha chegado e o Lu ligou para a Air France.

Foi informado então de que as malas poderiam ser entregues até  as nove da manhã  DO DIA SEGUINTE!

Como assim ? E nossas roupas  e demais pertences?

Para remediar a situação, a companhia reembolsaria gastos de até 100 euros por pessoa, em aquisições emergenciais.

Sem a  certeza da entrega para o mesmo dia, nos tocamos para o El Corte Ingles para garantir pelo menos mais uma muda de roupa. No meu caso, comprei apenas uma camiseta de manga comprida (64 euros), mas o Lu meio que enfiou o pé na jaca e acabou gastando mais de 250 euros em tudo.  

Guardamos as notas para pedir o reembolso (que foi encaminhado ontem já aqui no Brasil), e voltamos para o hotel para uma relaxada antes de cair na balada.  

(Obs : hoje aconteceu uma coisa com uma das roupas compradas, que vou revelar – com fotos- no final da publicação deste diário de viagem. É inacreditável)

Seguindo :

O curioso é que nossa bagagem acabou sendo nos entregue naquela mesma noite, porém por volta das 22 e 30.

Descansados, revestidos e tranquilos fomos para as redondezas da Calle Casanova, local onde concentra a efervescência da vida Gay em Barcelona.

Acabamos conhecendo dois bares, o NightBerry e o Woofy. 

O primeiro rechado de bees um tanto  carão (mas não podemos afirmar que sempre seja assim). O segundo bem mais relax, divertido, com os gays estilo ursos cantando junto com as divas espanholas,  no estilo Ivete Sangalo, Claudia Leite ou Joelma.

Bem legal.

Voltamos ao hotel e é claro que não tinha vaga para estacionar. Tivemos que deixar o carro num local proibido e fomos dormir.

Fim do primeiro dia.

O tosco clipe abaixo mostra nossa visita à Sagrada Familia. 

No final parece a fatídica Escada para o Infinito.



Sagrada  Famila - Video com comentarios do guia da  City Tour (Parte 1)



Sagrada  Famila - Video com comentarios do guia da  City Tour (Parte 2)



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