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Thursday, February 07, 2019

Rajneesh / Osho - Série Wild Wild Country (Netflix)



Fui discípulo direto do Mestre Bagwan Shree Rajneesh (hoje conhecido por Osho) nos meados das décadas 70 e 80, um guru indiano, radicado em Poona na Índia, que espalhou sua doutrina pelos quatro cantos do mundo.

Aqui em Porto Alegre frequentávamos o Kevalam, um centro de meditação no bairro de Ipanema onde, através de diversas técnicas de meditação e/ou terapias “alternativas”, passamos por várias experiências emocionais e psíquicas realmente poderosas.

Quando decidi me tornar um sannyasin, um discípulo do Mestre, me lembro que minha mãe ficou louca por eu passar a usar somente roupas vermelhas, conforme o guru pregava. E lá ia eu (um gremista) 24 horas por dia sendo confundido com um Colorado, um torcedor do Internacional.

Uma viagem...

Com uma mensagem radical e iconoclasta, Bagwan se anunciava como um Novo Iluminado dum quilate de Cristo ou Buda, e sua intenção era promover o surgimento de um Novo Homem no planeta.

Um Homem que uniria o Oriente e o Ocidente, integrado consigo mesmo e com os demais vivendo numa sociedade libertária e espiritualizada.
Para espraiar mundialmente sua mensagem ele fundou Rajneespuram, uma cidade hiper moderna construída do nada no meio do deserto, no estado do Oregon nos EUA-.

Para nós, aqui no terceiro mundo, Rajneeshpuram era nossa Meca, o local obrigatório de peregrinação para todos os seguidores do Bagwan.

Só que ir para lá era caro pra cacete, e eu, um mero trabalhador do Bradesco, só pude pensar em começar a poupar uma grana para, no futuro – quem sabe-, conhecer o Mestre face a face.

Mas Rajneeshpuram já nasceu cercada de polêmicas, e, conforme as tretas surgiam, criou-se por lá um cenário envolvendo intrigas, conspirações, terrorismo, sabotagem, fraudes, traição e tentativas de assassinato, entre outras amenidades (reais ou não).

Líder deste Bizarro Mundo de Alice, Bagwan passou então a ser alvo dos políticos e órgãos de segurança dos EUA que não enxergavam um mensageiro de paz e bondade naquele sorridente e silencioso velhinho.

Para nós, aqui no cú do mundo, as notícias do que “tava” rolando por lá chegavam truncadas e filtradas pelos líderes da comunidade gaúcha.
Me lembro que, num momento especialmente crítico – quando o Bagwan foi preso nos EUA -, fomos conclamados a participar de uma manifestação que iria tomar o centro de Porto Alegre para pedirmos um “Free Rajneesh!”.

Claro que ninguém se lembra disto pois nada aconteceu. E mesmo que se tivesse acontecido, o povo da Rua da Praia não ia entender porra alguma do que aquele grupo de fanáticos de vermelho estaria trovejando na esquina democrática.

Só sei que, refletindo o que estava ocorrendo nas terras do Tio Sam, as coisas por aqui também entraram em colapso e, no fim das contas, meio que explodiram.
Para completar o quadro da dor, para mim ficou claro que tudo estava virando uma bela duma bosta a partir do momento em que o Bagwan pirou de vez na batatinha ao anunciar, lá por 1985, o Apocalipse para 1987, e conclamar seus discípulos a construírem bunkers para sobreviverem à Guerra Atômica.

Diante deste cenário absurdo acabei me afastando para outras plagas, mas nunca soube o que realmente tinha ocorrido nos EUA (e isto sempre me intrigou).

Depois de muitos anos li “Don’t Kill Him”, livro de Ma Anand Sheela, a secretária pessoal do Osho.
Sheela é considerada a Judas da história do Osho.

Ela é a víbora acusada pelo próprio Mestre de ter fugido com milhões de dólares de Rajneeshpuram, não sem antes ter cometidos atos de sabotagem, envenenamento e conspiração para assassinatos de políticos americanos (a fofa).

Em “Don´t Kill HIm”, Sheela, obviamente, dá sua versão de tudo que rolou. É um livro ótimo mas fica evidente que a história não foi toda contada.
Só que, para o meu mais absoluto deslumbre, a Netflix lançou semana passada a série “Wild, Wild Country”, um monumento de seis horas que conta em detalhes o nascimento, apogeu e derrocada de Rajneeshpuram.

De forma fantástica, a série é estruturada através de depoimentos de diversos protagonistas dos acontecimentos da época.

Então, finalmente, temos a oportunidade de ouvir diretamente os habitantes das cercanias de Rajneeshpuram (uns “jecas ignorantes” na visão dos discípulos de Bagwan), do Swami Prem Niren (advogado de Bagwan), da própria Sheela, da Ma Shenti B (a sannyasin “assassina”), de políticos, de jornalistas, de policiais, etc.

Tudo entremeado de preciosas e antigas imagens da mídia e outras filmadas na própria comuna.

Pirei.

Entrei em binge-watch direto pois finalmente tive acesso a um imenso panorama sobre o que rolou.
E o que é fenomenal, é que a série não tira partido de nenhum lado.
Não há mocinhos ou bandidos explícitos na jogada. Não há julgamentos.

O que vemos todo o tempo são pessoas defendendo suas ideias, suas ações, suas crenças, seus espaços e seus interesses (escusos ou não).
Pessoas cujas ações foram “punidas”, mas que mesmo assim, relativizam o conceito de “vitória” e “derrota”.
Pessoas que tiveram seus sonhos estraçalhados, que tiveram sua fé roubada, que choram a ausência do Mestre.
Pessoas vingativas, triunfantes, vitoriosas.
Pessoas tristes e machucadas.
Pessoas mais sábias.

Enfim, depois da maratona, depois de tudo visto e dito, o que fica é a certeza da radical transformação de vida, transformação emocional e espiritual (para o “bem” ou para o “mal”) que os sannyasins do filme vivenciaram ao aproximarem-se do Osho.

Transformação esta que eu, reconheço, também passei.
Show.

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