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Wednesday, June 20, 2018

Filme - Safári


 

Alguém que não come absolutamente nenhum tipo de carne ir ao cinema para assistir um documentário sobre o prazer de matar animais em safáris na África parece sem sentido.

Porém, no meu caso, encarei como um desafio pois acredito que pior é a hipocrisia dos homens “de bem” que se recusam a ver este tipo de filme (“não tenho coragem”) mas comem carne normalmente todos os dias.

Decidido a me incomodar, encarei uma sessão na qual, além de mim, havia apenas mais duas pessoas.

O cinema era uma desolação só e o filme confirmou o horror.

Em “Safári”, o diretor Ulrich Seidl coloca a câmera para acompanhar alguns turistas hospedados num hotel na Namíbia e dispostos a torrar uma boa grana para matar animais “selvagens”.

Para eles é oferecido uma espécie de “cardápio” no qual constam os preços pela morte de cada espécie (os valores variam dependendo da raridade e da dificuldade de encontrar cada uma).

Para facilitar as incursões, eles são acompanhados de nativos encarregados de “benefícios”, tipo rastrear os animais, recolher cartuchos e estripar os cadáveres, reservando os troféus – cabeças, couro e a melhor carne – para os pagantes.

Um pacote completo.

No documentário, além de relaxarem em aprazíveis banhos de sol entre uma morte e outra, os europeus ocupam a tela para dissertar, de modo bem íntimo e familiar, sobre as técnicas, estratégias, filosofia e emoção da caça.

Ao ouvi-los falar fica evidente que, além de serem experts em armas, calibres e projéteis, para eles o fenômeno de tensão e alívio gerados na morte de um animal é praticamente o mesmo de um orgasmo.

E isto fica evidente nas cenas dos abates.

Realmente eles se transformam e só começam a voltar ao normal quando já podem acariciar o corpo ainda quente do bicho morto. 

Neste momento eles se abraçam, se elogiam, se congratulam e tiram fotos (são a cara da felicidade).

Já em relação aos africanos, para eles os nativos são pessoas elogiáveis (solícitas / honestas) e “necessitadas”. E eles, como bons ricos e civilizados, estão ali para trazer dinheiro e, se possível, oferecer um pouco de educação - um casal reclama que os políticos da Namíbia são ossos duros de roer e que, por isto, perdem a oportunidade de “aprenderem” através do contato com os europeus-.

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Os africanos, mesmo sendo os legítimos “donos” do local, são a parte muda do filme.

Eles são mostrados em condições miseráveis, executando o trabalho sujo e devorando os restos -as piores partes - das carnes abatidas. Tudo em sequências estáticas.

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E os animais?

Em nenhum momento suas vidas, necessidades e direitos são levadas em consideração. São apenas alvos de admiração, cobiça e fonte de prazer através da morte.

A cena da caça de uma girafa é particularmente devastadora.

O animal é baleado e não morre imediatamente. Os caçadores, então, ficam ao redor aguardando sua morte, isto enquanto as girafas companheiras do animal agonizante observam tudo de longe (chorei nesta cena).

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Sim, o filme é chocante.

Mas enquanto eu assistia me perguntava : “Qual a diferença entre ter prazer em matar animais num Safári na África e uma pesca – esportiva ou não – em qualquer parte do mundo?”. 
Para mim, nenhuma.

A intenção é absolutamente a mesma : prazer, passatempo, alegria, confraternização.

Ah, e é claro : matar animais.









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