Alguém que não come absolutamente nenhum tipo de carne ir ao cinema para assistir um documentário sobre o prazer de matar animais em safáris na África parece sem sentido.
Porém, no meu caso, encarei como um desafio pois acredito que pior é a hipocrisia dos homens “de bem” que se recusam a ver este tipo de filme (“não tenho coragem”) mas comem carne normalmente todos os dias.
Decidido a me incomodar, encarei uma sessão na qual, além de mim, havia apenas mais duas pessoas.
O cinema era uma desolação só e o filme confirmou o horror.
Em “Safári”, o diretor Ulrich Seidl coloca a câmera para acompanhar alguns turistas hospedados num hotel na Namíbia e dispostos a torrar uma boa grana para matar animais “selvagens”.
Para eles é oferecido uma espécie de “cardápio” no qual constam os preços pela morte de cada espécie (os valores variam dependendo da raridade e da dificuldade de encontrar cada uma).
Para facilitar as incursões, eles são acompanhados de nativos encarregados de “benefícios”, tipo rastrear os animais, recolher cartuchos e estripar os cadáveres, reservando os troféus – cabeças, couro e a melhor carne – para os pagantes.
Um pacote completo.
Ao ouvi-los falar fica evidente que, além de serem experts em armas, calibres e projéteis, para eles o fenômeno de tensão e alívio gerados na morte de um animal é praticamente o mesmo de um orgasmo.
E isto fica evidente nas cenas dos abates.
Realmente eles se transformam e só começam a voltar ao normal quando já podem acariciar o corpo ainda quente do bicho morto.
Neste momento eles se abraçam, se elogiam, se congratulam e tiram fotos (são a cara da felicidade).
Neste momento eles se abraçam, se elogiam, se congratulam e tiram fotos (são a cara da felicidade).
Já em relação aos africanos, para eles os nativos são pessoas elogiáveis (solícitas / honestas) e “necessitadas”. E eles, como bons ricos e civilizados, estão ali para trazer dinheiro e, se possível, oferecer um pouco de educação - um casal reclama que os políticos da Namíbia são ossos duros de roer e que, por isto, perdem a oportunidade de “aprenderem” através do contato com os europeus-.
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Os africanos, mesmo sendo os legítimos “donos” do local, são a parte muda do filme.
Eles são mostrados em condições miseráveis, executando o trabalho sujo e devorando os restos -as piores partes - das carnes abatidas. Tudo em sequências estáticas.
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E os animais?
Em nenhum momento suas vidas, necessidades e direitos são levadas em consideração. São apenas alvos de admiração, cobiça e fonte de prazer através da morte.
A cena da caça de uma girafa é particularmente devastadora.
O animal é baleado e não morre imediatamente. Os caçadores, então, ficam ao redor aguardando sua morte, isto enquanto as girafas companheiras do animal agonizante observam tudo de longe (chorei nesta cena).
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Sim, o filme é chocante.
Mas enquanto eu assistia me perguntava : “Qual a diferença entre ter prazer em matar animais num Safári na África e uma pesca – esportiva ou não – em qualquer parte do mundo?”.
Para mim, nenhuma.
A intenção é absolutamente a mesma : prazer, passatempo, alegria, confraternização.
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