Hino do Blog - Clique para ouvir

Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
Clique para ouvir

Thursday, October 06, 2005

Desejo, necessidade, vontade...

Image hosted by Photobucket.com

Semana passada eu transportei um cadáver no meu carro. Não, isto não é uma figura de linguagem, metáfora ou qualquer coisa assim. È verdade. Uma grande amiga tinha que fazer o translado dos restos mortais de um familiar de um cemitério para outro e eu me ofereci para realizar o transporte. Foi uma experiência digamos “intensa”, tanto para mim quanto para ela. Sem entrar no mérito da ação, o que posso dizer é que tanto eu quanto ela saímos diferentes da situação, nossas emoções ficaram diferentes e isto é o que importa no meu ponto de vista.

Isto me fez lembrar de várias outras situações onde me senti motivado a provar “o novo”, a sair da casca, a arriscar. Por exemplo, em outra ocasião fui conhecer um clube de swing (troca de casais), com uma outra amiga enlouquecida. Morríamos de mêdo do que poderia acontecer, mas, no final, achamos legal, curioso e acabamos nos divertindo (vejam bem, no sentido familiar do termo...).

Também já passei um carnaval inteiro num congresso de ufologia vendo filmes e slides de ets, ouvindo diversas teorias da conspiração e batendo fotos com abduzidos.

De outra feita eu e meu companheiro viajamos até outra cidade para conhecer um grupo de cristãos gays (sim, isto existe) que realizam um excelente trabalho social (educacional, prevenção a aids, inclusão, apoio emocional, etc). Fomos bem recebidos e acabamos criando bons laços de amizade.

Também já transitei por serviços voluntários, religiões, grupos políticos e sociais, terapias alternativas ...e por algumas áreas bem menos ortodoxas...

O que eu quero dizer com tudo isto?

No meu entender não adianta ficarmos esperando que a novidade, o inusitado, algo que instigue bata a nossa porta. Não adianta querermos viver o novo, enriquecer nossa biografia, querermos passar por experiencias diferentes, querermos que as coisas aconteçam sem que antes façamos um movimento em direção ao risco, ao inusitado para nossa mente.

Todos temos desejos, curiosidades, fantasias (em vários níveis : emocional, cultural, social, religioso, sexual, etc). Isto é natural. Porém, o que fazemos em relação a isto? O que nos impede de arriscarmos? Palavras como “estranho”, “excêntrico” e “diferente”, relacionadas com alguma vontade nossa, tornam-se mansas quando nos permitimos.

Nossa mente nos aprisiona : pudores, preconceitos, preocupação com opiniões alheias, falta de coragem ou companhia muitas vezes nos impedem de buscar algo que nos interessa, algo que provoque nosso conhecer, que nos introduza no desconhecido. Esta prisão nos engessa, nos tranca e faz com que entremos cada vez mais num processo de lamentação a respeito da rotina, da falta do novo. Ou então passamos a cultivar sonhos e esperanças de que algum dia ocorra uma mudança e o inesperado faça com que as coisas comecem a acontecer tirando-nos da letargia.

Limites existem – é aquela velha história : nossa liberdade acaba quando inicia a do outro-; mas onde existe intenção, espaço e respeito, tudo pode acontecer.

A vida é ampla. As coisas estão aí, as possibilidades existem, as experiências nos aguardam.. Neste universo cabe a nós decidirmos o que fazer com aquilo que intensifica nossa vontade, que aguça nossa curiosidade. Porém o certo é que não há como gerar transformação, evolução e realização sem ação, sem força, sem coragem, sem disposição ao movimento.

Qual é nossa escolha?

8 comments:

Dark Side said...

esse post está tudo.

no meu ponto de vista, se temos a oportunidade de viver coisas novas (sem correr risco de vida), vale muito a pena. Gostaria de ter mais tempo livre pra essas coisas.
Enfim, a vida é curta e é legal ver tudo antes de parir. Senão fica muito monótomo.

E o congresso de Ufologia... foi o melhor carnaval que eu jah passei, junto com meus tios e ainda por cima no meio de um bando de gente sequelada =)

bjos!!!

Anonymous said...

Belo, Inteligente e Correto, seu depoimento!
Abs,
Jana

Anonymous said...

boa, Iuri....ou se leva a vida sentado coçando as partes ou corre-se atrás dela, no que tem de arriscada e por isso mesmo, saborosa.
valeu.
abraços.
Paulo.

Dark Side said...

Arrisco dizer que, assim como eu, tu és um aquariano nato!

Curioso como a gente tem essa necessidade de ir além, investigar, não se deter por muitas das coisas que detém as outras pessoas.

É isso que me faz ser teu fã =)
òtimo post.
abração!

Anonymous said...

Bem, já que tenho a participação em alguns destes eventos citados,digo que, nunca devemos deixar de lado algo que temos curiosidade em conhecer ou desafios que nos deixem sem saber como vamos agir....
O maravilhoso da vida é a cada dia revermos nossos conceitos e nossa direção, para quem sabe dar uma polida aqui polida lá.
O Iuri p´ra mim é esse amigo indescritível,que tenho todo o respeito e admiração e que topa todas, em nome do conhecer mais.....
beijo

Dayse Batista said...

Não caberá aqui tudo o que eu gostaria de dizer sobre isso.

Bom, o Oscar Wilde (meu ídolo eterno) dizia: "Os pecados da carne não têm nenhuma importância; os da alma, sim."

Acho que a carne precisa provar, para que a alma não peque depois -- quanto falso pudor vemos de quem não se permitiu viver os "pecados da carne"? (sinto vontade de rir com isso de pecados da carne, uma vez que não acredito em pecado, mas que seja -- eu perdoaria o Wilde sempre, mesmo falando em pecado).

Sinto saudade de quando saía com minha mãe (de todas as pessoas no mundo...) de carro, sem rumo. Só marcávamos os dias. 5 dias. E íamos em frente, pra qualquer lugar.

Muita coisa acontecia. Não muitos pecados da carne (e eu sentia falta desses), mas o gosto de não saber o que virá é bárbaro.

Vamos ao novo, sempre, querido pensador.

Beijo

Anonymous said...

Olá,

Primeira vez que passo por aqui, achei super legal. Achei o endereço numa lista...
Sim, eu concordo que é preciso viver o que se tem vontade e de acordo com os seus limites. Eu tb me permito muitas coisas que a moral da TFP condenaria. Entretanto,isso não atrapalha ninguém, cada um pode viver a sua vida de acordo com as suas crenças...ou deveria, né?
Agora, eu penso que a vida mesmo, o mais profundo (hj acredito mesmo nisso) não se dá fora, mas dentro da gente, aí que está a verdadeira experiência, aquele mergulho, sabe? Tem gente que sai por aí, batendo cabeça, experimentando de tudo e termina numa igreja crente pedindo perdão, confessando tudo o que fez e o que não fez. Patético. Sempre me lembro de uma frase de E. Dickson, que tem uma biografia muito pequena de (des)importante, traduzindo seria mais ou menos assim: 'Viver exige tanto, deixa pouco espaço para outras ocupações."Está mal traduzido, mas a idéia é essa. Esse 'outras' diz muito.
Abraços
Márcia

greentea said...

Estou espantada, no minimo!
Com a qualidade e diversidade do teu blog e dos assuntos que abordas.
Por vezes é dificil ser diferente, dar o passo, ir pelo caminho do lado , em vez de seguir a direito - não sei se Deus ou os deuses escrevem por linhas tortas... Não gosto de ir por onde os outros vão, sou pouco convencional, fui sempre, desde o meu nascimento. Hoje estou aqui a escrever-te, por mero acaso. registei-me num blog qualq de novos escritores porque queria escrever, publicar textos, porq ando a tentar escrever um livro, um conto, uma história talvez apenas . E apareces-me tu com o tradicional "Como estás?". Achei piada e OUSEI responder e deparo com esta loucura! Como imaginar que até viria encontrar as poesias de Fernando Pessoa. Leste o Livro do Desassossego?
Só hoje dei uma volta pelos textos , só hoje dei o passo e acho uma maravilha. A nossa PAZ interior reside nisso - ousar, dar de nós próprios, transportar o cadáver ou os seus ossos, viajar num aviao militar sobrevoando a zona do inimigo, ir ao cinema e ver as balas luminosas a voar por cima, ir trabalhar para o interior de África, decidir quem somos nós e sermos nós próprios, saber dizer não...
Não ficar a moer no passado e a falar que antes é q era bom - o bom daquela época hoje já não se enquadra : "If you're yearning for the good old days, just turn off the air conditioning" disse Griff Niblack
Claro que nem sempre todas as experiencias são boas - há as menos boas; qd escolhemos um sandwich novo num pais estrangeiro temos de ousar deixar o Hamburger...
Que todos encontrem a PAZ que nos leva a amar-nos , a amar os outros.
isabel