Capa |
Estes bichos estranhos, bizarros, amorosos, indiferentes, inteligentes, bagunceiros, auto-centrados, brincalhões, malvados, difíceis, e muito mais.
Porém sempre animais nobres e inspiradores.
O gato não é animal para qualquer pessoa. Qualquer humano autoritário e/ou carente não suporta a independência do gato e busca como companheiro o cachorro, um animal sempre presente e submisso ao dono.
O humano que convive com o gato sabe que, de certa forma, o gato é quem domina o ambiente e isto faz uma das belezas de se ter um felino em casa ( vá entender...).
Animal misterioso e intrigante, o gato sempre fascinou as pessoas e mereceu destaque em diversas culturas, em várias épócas, como um ser superior e digno de admiração, o que continua e continuará sendo.
O texto e os cartoons abaixo foram retirados do livro "The New Yorker Cartoons - Gatos", que, conforme o nome diz, traz "quadrinhos" de gatos publicados na revista "The New Yorker".
O livro é muito bom e vale o investimento.
Para adquiri-lo, clique aqui.
-----------------------------
O maior rival do cachorro
SÉRGIO AUGUSTO
Sim,
eles são bem diferentes dos cachorros. Arredios, introvertidos,
avessos a manifestações intensas de apreço pelo ser humano, só quando lhes
aprazem pedem e oferecem carinho, em geral enroscando-se nas nossas pernas, a ronronar e ondular lentamente o rabo, se satisfeitos com o cafuné. Bajular é um verbo ausente do dicionário dos gatos. Independentes e rebeldes por natureza, só fazem o que querem — e quando querem
.
"Se você pretende conquistar o mundo, não conviva com um animal que se recusa a ser conquistado por quem quer que seja", recomendou o zoólogo Desmond Davis, referindo-se aos felinos, mas não sei se pensando em Hitler e Alexandre Magno, dois notórios elurófobos, que é a maneira mais chique, mais New Yorker, de dizer felinófobo.
Os
gatos foram deuses no Antigo Egito e filósofos em outra encarnação. Montaigne, que
muito duvidava da suposta superioridade do homem sobre os bichos, acreditava
que os gatos trocavam idéias entre si. Altas idéias, diga-se. Até em chinês.
Desde
sua primeira aparição na New Yorker — num cartum de John HeldJr.,
publicado na edição de 17 de outubro de 1925, com cinco siameses se
estranhando num beco de Chinatown — o gato nunca perdeu o posto de segundo maior xodó do reino animal. 0 primeiro sempre foi o cachorro,
beneficiado pela milenar fama de "o melhor amigo do homem" e,
sobretudo, pelo fato de as pessoas gostarem mais de ficção que de versos.
Cachorro é prosa, gato é poesia.
Praticamente
todos os gênios gráficos da New Yorker — de
Peter
Arno e Saul Steinberg a Sam Gross e George Booth — bolaram um gato, explorando essa
ou aquela faceta de sua índole, esse ou aquele aspecto de sua personalidade,
esse ou aquele traço fisionômico marcante. Na vasta bicharada da
revista, há gatos de todos os tipos, de todas as raças: aristocráticos e
vagabundos, urbanos e rurais, afetuosos e distantes, rueiros e caseiros,
geniosos e matreiros, vaidosos e gozadores, narcisistas e vingativos, gordos,
magros, orelhudos - sedutores, sempre.
E, por instinto, exímios
caçadores. Basicamente de ratos, camundongos e pássaros. Mas seu perfil
"Tom" tem mais valor de mercado que seu perfil "Frajola".
Quando procuram emprego (num cartum, claro), logo perguntam por suas
referências como caçadores de ratos. Para eles, montar guarda diante de um buraco
no rodapé de uma parede é incomparavelmente mais divertido do que assistir a
um programa de televisão, ver um filme ou jantar fora, preferência que Sam Gross,
Tom Chenej e Mick Stevens exploraram de forma magnífica.
Os
gatos matam de inveja os cachorros com sua incrível habilidade para saltar,
escalar e jamais cair ao solo de lado, de barriga para cima ou de cabeça para
baixo. Por essas e outras, costumam esnobar seus maiores rivais, tratando-os
como criaturas inferiores, até no paladar. "Você comeria
comida de gato, mas eu nem encostaria numa comida de cachorro", comenta um
gato de Sidney
Harris, no balcão de um bar, enquanto almoça com
um... "inferior".
Preguiçosos
e pachorrentos,
dormem tanto (média de vinte horas por dia) que
podem até dar a impressão de que adoeceram ou morreram, situação que o sempre
mórbido Gaham Wilson
não resistiu à tentação de transformar em cartum em 1987. Porque são indolentes (ou
lânguidos
e sensualistas, como preferem qualificá-los os seus
mais refinados admiradores), fizeram de sofás, poltronas, almofadas e
gavetas os seus refúgios domésticos favoritos. E não apenas para tirar uma
soneca. Afiar as unhas em estofados é um dos maiores prazeres do gato. Há cinco
cartuns neste livro (assinados por Tom Cheney, Sam Gross, Mike Trvohy,
David Cipress e William Haufeli) dando conta dessa idiossincrasia.
E um
sexto, de Gaham Wilson, demonstrando que, na falta de um estofado, um bem
torneado pedaço de madeira serve, mesmo que seja a perna-de-pau
de um
pirata de maus bofes, como Eongjohn Silver.
Mas nada se compara a um bom
estofado. No céu dos gatos há uma poltrona para cada felino contemplado com a
vida eterna, insinua um cartum de Cheney. E como todo gato vai para o céu, haja
poltrona.
2 comments:
Sendo irmã do Iuri posso dizer que convivo com gatos a minha vida inteira. Minhas fotos de criança são, quase todas com gatos no colo e posso dizer que a conviência com esses felinos me ensinou a respeitar os limites dos outros (tente forçar um gato a fazer algo que ele não quer), a admirar o diferente e dar valor à liberdade, sem me preocupar com o que os outros estão achando, como minha gata Bjork, que está com o firme propósito de comer as capas dos meus vinis Antigos, mas adquiridos recentemente. Minha gata mais velha, a Nicky a cada dia me surpreende com mais uma atitude para me tirar do sério, como dormir no meu travesseiro e enche-lo de pêlos. Mesmo assim quando penso nelas lembro da música brega do conjujnto Aviões do Forró: "Você não Vale Nada, Mas Eu Gosto de Você". E continuo amando os Gatos.
Post a Comment