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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Tuesday, February 27, 2018

Livro - O Terror (Dan Simmons)





Em 1845,  quando os navios  Erebus e  Terror partiram da Inglaterra para tentar encontrar a passagem que liga os oceanos Atlântico e Pacífico através do Círculo Polar,  não sabiam na treta que tavam se metendo. 

Depois de vários incidentes, sempre buscando escapar das armadilhas do tempo,  os navios acabaram presos de vez no mar congelado. Ali, sob temperaturas glaciais e sem comida, todos os 128 tripulantes encontraram a morte, depois de (não) comerem o pão que o diabo amassou. 

Baseado neste fato, Dan Simmons  cometeu “Terror”, um tijolaço de 751 páginas que reconta o destino dos infelizes europeus de forma beeem livre.

No seu livro, como se já não bastasse o drama do povo faminto, exausto e com doenças sinistras e letais, Dan introduz o Tuunbaq, um monstro da mitologia Inuit (uma nação indígena que habita o norte do Canadá) para dar um upgrade na trama e assim causar terror nos leitores.

O tal do Tuunbaq é uma criatura muito malvada e assustadora, porém protetora dos esquimós (por assim dizer),  que se alimenta da carne e das almas dos britânicos. Então dá-lhe marujo arrebentado, almirante destroçado, mestre devorado, tenente deglutido e assim por adiante em cenas patéticas que não assustam nem um Miniom.

O livro é uma droga fenomenal. 

Primeiro, a leitura é de chorar de tão cansativa. O autor gasta centenas (sim, centenas) de páginas para descrever em detalhes como os tais navios funcionam, como é a hierarquia interna, quais são as funções de cada um, como é a geografia do Ártico, como o povo perde tempo indo pra lá e pra cá em excursões inúteis tentando escapar do congelador. Aliás, a inutilidade destas passagens são evidentes já que todo mundo sabe que eles não vão se salvar. Então é um tédio mortal acompanhar o povo girando pela  terra do Papai Noel sem chegar a lugar nenhum.

Em adição, os personagens (inúmeros) são péssimos. Não se salva um. É um monte de gente tão sem personalidade que tu nem se importa quando eles vão morrendo um atrás do outro (aliás, tu torce pra que todos morram logo e o livro acabe). 

O único ser que faz diferença é uma bixa bem maldita que se torna líder dos amotinados canibais.
Mas a construção deste vilão é super rasteira e homofóbica : a bixa é pintada como uma sodomita devassa, insubordinada, rancorosa e vingativa – além de ter apetite por carne humana –, totalmente exagerada e destoante da intrépida tripulação.

 O autor até tenta dar uma disfarçada no seu preconceito introduzindo um outro gay “do bem”. Mas este segundo personagem é tão sem sal que entra e sai de cena sem relevância alguma.

Para completar, lá pelo final (inteiramente previsível desde o início -  mesmo que o autor queira surpreender), somos brindados com uma interminável explicação da tal mitologia Inuit imaginada por Simmons, o que não acrescenta nada ao nada que já é o livro,  e só reafirma a inutilidade do conjunto.

Resumindo,  “Terror” é uma bomba épica sem suspense, sem terror e sem emoção alguma,  indicada apenas aos fanáticos que curtam se entediar com geografia, geleiras e navios antigos. 

Quem procura algo pra se assustar, trate de correr pra bem longe.

Wednesday, February 21, 2018

Filme - The Game Changers - James Cameron produz filme contra o consumo de carne



Publicação no Jornal Zero Hora em 21/02

DIRETOR DE "TITANIC" PRODUZ FILME CONTRA O CONSUMO DE CARNE
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Comendo carne não se consegue correr mais rápido, nem ser mais forte, argumenta um documentário apresentado na segunda-feira no Festival de Berlim, no qual até o ator e ex-fisiculturista Arnold Schwarzenegger se soma à causa vegetariana em nome da saúde e do meio ambiente.

Dirigido pelo documentarista vencedor do Oscar Louie Psihoyos e com produção de James Cameron (diretor de Titanic), o documentário The Game Changers busca desmontar o mito em torno do consumo de proteínas animais, entrevistando os esportistas de elite que chegaram ao topo com uma dieta vegetariana.

Os corredores Cari Lewis, Scott Jurek e Morgan Mitchell, o nadador Murray Rose, o levantador de pesos Kendrick Farris e até um dos homens mais fortes do mundo, Patrik Baboumian, capaz de levantar mais de 500 kg, são provas de que é desnecessário consumir carne para ganhar em energia e força.

Até “os gladiadores eram vegetarianos”, aponta o documentário de Psihoyos, fazendo eco a um estudo elaborado a partir de cerca de 5 mil ossos pertencentes aos lutadores romanos.

Mas para além do que poderia ser uma constatação curiosa, o filme, exibido na seção Cinema Culinário da Berlinale, mergulha em estudos científicos e opiniões de especialistas, que advertem sobre os riscos para a saúde de ingerir proteínas animais, especialmente relacionados com as doenças coronárias.

Nesse contexto, Schwarzenegger reconhece ter passado de consumir 110 gramas por dia de proteína animal a levar uma dieta vegetariana.

- Aos meus quase 69 anos, tenho o nível de colesterol mais baixo da minha vida - assegura o Exterminador.

Psihoyos, um ambientalista que em 2010 ganhou um Oscar com o filme The Cove, no qual denunciava a pesca de golfinhos no Japão, chegou à conclusão de que a melhor maneira de lutar pela preservação do planeta era apelando aos hábitos alimentares.

- Comprar um carro híbrido ou mudar o tipo de lâmpadas tem muito menos impacto do que a alimentação, dado que comemos três vezes ao dia - defende o cineasta americano.

Psihoyos assegura que cada um pode encontrar o argumento que melhor lhe convenha no documentário para parar de comer carne.

Tuesday, February 20, 2018

Filme - Mulheres Gato da Lua (Cat Women of the Moon)


Cenários catastróficos, roteiro desastroso, direção deplorável, efeitos especiais medonhos (na cena da aranha dá pra ver os fios sustentando a marionete), atores medíocres, tudo reunido num esforço épico para erigir a pérola “Mulheres Gato da Lua”, um sci-fi de 1953 que, visto hoje, torna-se uma comédia absurda.

É tanto disparate, tanta asneira que tu acaba na expectativa de ver qual a barbaridade seguinte.

E elas vêm fartas, acumulando-se sem dó nem piedade.

Amei várias, como por exemplo a astronauta que quando acorda na astronave após a decolagem, imediatamente tira um espelho e um pente de uma gaveta para pentear as melenas (“coisa de mulherzinha” diz um companheiro de viagem).

Esta mesma astronauta, ao fazer seu primeiro passeio na lua, faz questão de levar fósforo e cigarro pois “não consegue ficar longe deles”.

Outro astronauta, mais beligerante, mesmo sabendo que a Lua é desabitada, leva um revólver “pra garantir”.

E por aí vai.

Já as tais Cat Women são bizarríssimas.

Ambiciosas, elas vão tentar enganar os homens para roubarem a nave e virem para a terra, onde irão recrutar as terráqueas e dominar o mundo.

Só que elas não contavam com a traição de uma gatinha apaixonada.

A “felininha lunar” em questão cai de loves com um dos machos (ela nunca tinha visto um homem anteriormente), a quem confessa que seu maior desejo é tomar coca cola numa praia da terra.Oi ?

Também, a estratégia das malvadas para ludibriar os astronautas é tola ao ponto de tu te perguntar se elas próprias acreditavam que a coisa daria certo.

Elas são muuuitoooo burras.

Umas antas que se julgam espertas e que, é claro, serão derrotadas pelos machos dominantes.

Coitadinhas das gatinhas. Elas só queriam viver feliz com as mulheres da terra, mas se estreparam bonito.

Miau.

A verdade é que, visto hoje na época do politicamente correto, “Mulheres Gato da Lua” passa uma forte impressão de misoginia e certamente – e com razão – pode desagradar muita gente.

Mas deixa pra lá.

O lance é esquecer qualquer preconceito e julgamento e mergulhar nesta verdadeira bomba que merece sim estar entre os 10 piores filmes de todos os tempos.

Vale

Artes Plásticas - Miguel Anselmo - Fósseis Contemporâneos



A ideia de que somos hoje os possíveis fósseis de amanhã toma corpo no trabalho do artista plástico Miguel Anselmo, que abre hoje exposição na Biblioteca Mario de Andrade em São Paulo.

Miguel é um conhecido nosso de longa data e esta exposição representa o coroamento de uma carreira que tivemos a oportunidade de acompanhar desde o início aqui em Porto Alegre.

Para mim, nesta amostra, os trabalhos do artista propõem que os lugares que hoje habitamos, por mais que pensemos ser nossos, são apenas testemunhas indiferentes da nossa efemeridade. 

Com a nossa ausência, estes locais permanecerão e serão passados adiante, enquanto nós sumiremos e seremos esquecidos pelas gerações e/ou habitantes seguintes.

Mas, será que permanece algo de nosso impregnado nas suas estruturas, na sua massa, na sua “alma”?

Penso que não.

Mesmo que fique alguma “marca” – tipo “eu estive aqui” (como as caveiras fossilizadas em papel de parede, azulejos e outros materiais contemporâneos propostos por Miguel) -, isto nada significará no futuro, pois o nosso “eu” – quando visto “a posteriori” - não passará de uma curiosidade sem maior interesse, imediatamente esquecida.

Assim, Miguel nos propõe – de uma maneira poderosa - a refletir sobre o presente, sobre a vida, sobre o tempo, e, fundamentalmente, sobre transcendência e eternidade.
 

 

  

Monday, February 19, 2018

Fato - Allan Kardec e os negros.


Allan Kardec, um adepto da pseudociência Frenologia (bobagem que diz que o caráter, a personalidade e a tendência à criminalidade pode ser definida pela forma da cabeça da pessoa), fala sobre a raça negra na Revista Espírita de Abril de 1862.

Kardec reconhece que os negros podem sim evoluir espiritualmente, desde que reencarnem em um “envoltório em melhores condições” (seria este envoltório uma pele branca?)

…. Veja só.....
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Excerto :



"Diz-se a respeito dos negros escravos: "São seres tão brutos, tão pouco inteligentes, que seria trabalho perdido querer instrui-los. É uma raça inferior, incorrigível e profundamente incapaz." A teoria que acabamos de dar permite encará-los sob outra luz. Na questão do aperfeiçoamento das raças, deve-se sempre levar em conta dois elementos constitutivos do homem: o elemento espiritual e o elemento corporal. É preciso conhecer um e outro, e só o Espiritismo nos pode esclarecer sobre a natureza do elemento espiritual, o mais importante, por ser o que pensa e que sobrevive, enquanto o elemento corporal se destrói.

Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos; como Espíritos, trata-se, sem dúvida, de uma raça inferior,isto é, primitiva; são verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar. Mas, por meio de cuidados inteligentes é sempre possível modificar certos hábitos, certas tendências, o que j á constitui um progresso que (os) levarão para outra existência e que lhes permitirá, mais tarde, tomar um envoltório em melhores condições. Trabalhando em sua melhoria, trabalha-se menos pelo seu presente que pelo seu futuro e, por pouco que se ganhe, para eles é sempre um a aquisição. Cada progresso é um passo à frente, facilitando novos progressos."

Friday, February 16, 2018

Filme - Sem Amor (Loveless)



“E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?” (Lucas 11 – versículos 10 & 11)

Quando Jesus fez estas perguntas aos discípulos, certamente não conhecia o tenebroso casal Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak), os pombinhos do filme “Sem Amor”, do diretor Andrey Zvyagintsev .

Sim, porque que casalzinho mais filho da puta!

Senão vejamos :

Em um processo de divórcio pra lá de barraquento, marido e mulher são o próprio retrato do ódio, do endurecimento e do egoísmo.

Ambos estão loucos pra pular fora do casamento (cada um já está em uma nova relação), porém existe um “problema” a ser resolvido : quem irá ficar com Alyosha (Matvey Novikov), o filho de 12 anos?

Nenhum dos dois quer assumir o “fardo”.

Zhenya (viciada em celular) odeia o filho desde a gravidez e não está nem um pouco interessada em ficar com o “pequeno traste”.

Já Boris está focado numa nova relação (sua namorada está grávida), e em manter sua imagem de bom esposo no seu emprego, mesmo que sob mentiras.

O desinteresse e o desprezo pelo filho são tão grandes que eles nem notam que, em um determinado dia, a criança some. Os alienados só vão tomar pé do acontecido quando a escola os procura para questionar a ausência do menino nas aulas.

A polícia é então chamada e um grupo de voluntários peritos em procurar crianças sumidas entra em cena – após alguns dias - para auxiliar nas buscas.

Neste quadro, o curioso é que quando os pais são questionados sobre os hábitos e características de Alyosha, acabam mostrando que o menino era quase que um desconhecido para eles (principalmente para a mamãe Zhenya).

Assim, diante de um fato tão grave, não tem como os genitores desnaturados não se envolverem na busca e acompanharem de perto a ação dedicada de estranhos para recuperarem o menino.

Mas a questão é :

Com um filho desaparecido, com o tempo passando - e a indicação de uma possível tragédia -, Boris e Zhenya conseguirão aprender com a dor, superar o rancor e se tornarem pessoas melhores?

Ou permanecerão os mesmos, sem nenhum pingo de remorso ou arrependimento?

Pois então…

Thursday, February 15, 2018

Livros - Uma Breve História da Humanidade & O que nos faz bons ou maus




O homem é a única espécie que acredita em coisas que não existem na natureza, como dinheiro, Estados, direitos humanos, tradição, etc. Além de também ser a única espécie que é predadora de todas as demais existentes na Terra (inclusive sua própria).

Movido pela curiosidade e pela capacidade cognitiva , o Sapiens desenvolveu a agricultura, a escrita, inventou a religião, construiu a civilização, criou mitos, leis, regras, ideias, ciência, políticas, sabedoria.

Tudo isto o auxiliou a ler e interpretar o mundo a sua volta, porém nunca com a intenção de integrá-lo à natureza (como as demais espécies fazem) e sim, sempre, com a intenção de explorá-la e dominá-la.

No livro SAPIENS: UMA BREVE HISTORIA DA HUMANIDADE, o professor israelense Yuval Noah Harari, traça um panorama gigantesco da história do Homem, desde sua origem até a modernidade.

Seu desenvolvimento, sua expansão pelo planeta, suas conquistas, sua criação das intrincadas estruturas sociais, sua relação com a natureza e com os da sua espécie.

É impressionante a capacidade que o autor tem de resumir em 460 páginas tanta informação e tanta reflexão sobre quem somos e o que nos move.

Diz ele que as tão valorizadas sabedoria, inteligência, ciência e civilização (prerrogativas do Sapiens) praticamente em nada ajudaram o homem como espécie (vide as guerras, fome, escravidão, exploração, etc).

Isto sem falar que estas “qualidades” também não ajudaram em absolutamente nada as demais espécies sencientes (muuuuitoooo pelo contrário - vide a exploração animal em todos os níveis) e, muito menos, a natureza.

Por outro lado, o livro O QUE NOS FAZ BONS OU MAUS, do Cientista Cognitivo Paul Bloom, mostra uma série de experimentos sociais aplicados em bebês (sempre antes de falar e andar), na Universidade de Yale, com o intuito de investigar com que tipo de instintos sociais somos providos ao nascer.

Alguns experimentos envolveram bebês distribuindo doces aos seus pares.

Quando o número de doces poderia ser igualmente dividido, o instinto do distribuidor era entregar quantidade de doces iguais para todos (e assim todos ficavam felizes)

Mas quando o número de doces era ímpar, o instinto do distribuidor era guardar a maior quantidade para si (e o resto que se exploda).

Outro experimento incluía o bebê praticar uma ação que, como recompensa, gerava a entrega de um brinquedo para si e para outro bebê. O bebe agente da ação ficava satisfeito com este resultado e a praticava com prazer.

Mas quando esta mesma ação resultava a entrega de um brinquedo apenas para a outra criança, o bebê dono da ação se recusava a executá-la.

E por aí adiante.

É claro que os bebês também demonstraram emoções / ações nobres, tipo compaixão, justiça e solidariedade. Mas o que ficou evidente é que os instintos para o ressentimento e “maldade” são inatos e que, de certa forma, prevalecem sobre os "bonzinhos".

Então estes livros nos levam a seguinte reflexão : que merda de espécie somos?

Para que servem as aclamadas qualidades superiores (que dizemos ser nossas) se o homem só faz bosta?

Para mim, na verdade elas não existem.

São besteiras que inventamos para “dar um verniz” nos nossos instintos pérfidos e egocêntricos.

É legal pensarmos em paz, harmonia, e outras benesses do tipo. Mas tudo isto são utopias que definitivamente não predominam no nosso DNA.

Simplesmente não há uma única evidência (biológica, histórica, cultural, religiosa) que indique que o Homem tem condições de viver em harmonia com seus pares e/ou com a natureza.

Muito pelo contrário.

O que temos é realidade nua e crua de que somos mesquinhos, sectários e destruidores.

Somos nosso próprio vírus mortal (exatamente como disse o Agente Smith no filme Matrix).

É isto.

Monday, February 05, 2018

Filme - Os Iniciados ("Inxeba")

O que é ser homem? Como um menino se reconhece e é reconhecido socialmente como homem?

Para a cultura da etnia Xhosa – da África do Sul – tornar-se homem requer que o jovem passe por um ritual de iniciação que envolve retirar-se para a montanhas (sob os cuidados de um tutor), ser circuncidado a sangue frio e passar oito dias aprendendo e exercitando os modelos de masculinidade tribal. Estes incluem cortar lenha, matar animais, falar publicamente sobre orgulho, família e tradição, fazer troça sobre mulheres, entre outros.

“Inxeba” (“Os iniciados” no Brasil), do estreante John Trengove, acompanha um grupo destes jovens, os tais "iniciados" do título.

Mais especificamente a iniciação de Kwanda (Niza Jay), um rapaz afeminado e urbanizado (tem IPhone, Adidas, curte techno, etc), que é obrigado pelo pai a participar do tal ritual a fim de aprender a ser homem.

Para dar uma “dura” no jovem gay, o pai do garoto contrata Xolani ( Nakhane Touré) como tutor de Kwanda.

Xolani, um jovem operário, é conhecido por ter participado da iniciação de vários jovens nos anos anteriores, e o pai contratante pede que ele seja implacável com o filho frutinha, pois ele quer que Kwanda volte da montanha “macho pra valer”.

Só o que ninguém sabe é que Xolani é gay, e, pior que isto, é apaixonado por Vija (Bongile Mantsai), outro tutor que também vai ao retiro tomar conta de outros iniciados.

Xolani e Vija mantêm uma espécie de romance há tempos, porém se veem apenas uma vez por ano, nas montanhas, quando ocorrem as iniciações.

Assim que se encontram, os dois enrustidos partem logo para trepadas rápidas e furtivas, com Xolani sendo usado quase como um depósito de esperma do ansioso Vija.

Xolani deixa claro à Vija sua paixão, porém este é um macho casado e nem cogita ter um relacionamento verdadeiro com outro homem.

O lance entre eles fica na foda relâmpago, logo esquecida entre papos banais.

Então o cenário bafão se monta :

De um lado a bichinha afrontosa deixando bem claro que detesta toda aquela merda de iniciação e que tá doida pra voltar para Johanesburgo.

De outro, dois gays “de armário” vivendo uma paixão pra lá de perturbada, cheia de remorso e culpa.
Isto sem contar os outros iniciados fazendo bullying direto com moninha rica e deixando claro que sacam toda a veadagem dos tutores.

Este panorama faz com que, aos poucos, o clima do local fique super tenso.

Para desestabilizar mais a situação, os tempos são outros. A tradição está cada vez mais fraca. Os jovens já não respeitam os ritos. A rebeldia e o questionamento surgem a todo momento e de forma cada vez mais ostensiva. O velho, o passado, os costumes estão em cheque. Tudo está mudando.

Neste verdadeiro caldeirão erótico-social-tribal, Kwanda, Xolani e Vija vão se enredando cada vez mais em mentiras, descobertas e enfrentamentos que acabam colocando em cheque a verdade de cada um.

Depois da merda jogada no ventilador, só resta os personagens agirem de acordo com seus instintos - o que não significa o bem de todos.

O filme do John Trengove (que é homossexual) é surpreendente por trazer uma poderosa trama gay ocorrendo na África tribal, um mundo fortemente machista e tradicional.

E, para acrescentar lenha na fogueira,surpreende também por mostrar como a cultura e a tradição (sejam quais forem) estão condenadas à extinção (como conhecidas historicamente), por conta da invasão dos valores da aldeia global até mesmo nas aldeias mais longínquas do planeta.

Diante disto, não é à toa que o filme foi alvo de denúncias e pedidos de boicote por parte de alguns ativistas xhosa ("Inxeba Must Fall”, proclama um dos cartazes).

Dizem eles que o filme é profano por revelar rituais agrados, que é usurpador por apropriar-se da cultura negra, que é ofensivo por mostrar os negros como selvagens e incivilizados e que se só vai beneficiar os brancos opressores que o fizeram. (ver link abaixo).

Sei lá. Nem vou entrar no mérito.

Só sei que eu amei.

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Protestos contra o filme :

http://xhosaculture.co.za/banning-wound-inxeba-movie/