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Hino do Blog : " ...e todas as vozes da minha cabeça, agora ... juntas. Não pára não - até o chão - elas estão descontroladas..."
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Tuesday, May 29, 2018

Musical - A Noviça Rebelde






“Dançando no Escuro” é considerado um dos filmes mais tristes de todos os tempos.

E realmente é.

Acompanhar a tragédia de Selma (Bjork), é pedir para ter o coração esmagado pela dor.

E uma das cenas mais tristes do filme é quando Selma, para se “alegrar”, canta na cela da prisão “My Favorite Things” de “A Noviça Rebelde”, música esta que nos diz que devemos nos lembrar das coisas que gostamos quando nos virmos diante de algum sofrimento ou medo.

E eu concordo pois “My favorite...” é verdadeiramente mágica.

Porém, em termos de “A Noviça...”, “My Favorite Things” (“Coisas que amo” em português) não está sozinha na lista das “músicas inspiracionais”.

Não.

“The Sound of Music (O Som da Música)”, “Dó-Ré-Mi”, “Climb Ev’ry Mountain (A Montanha)”, “Edelweiss” , “Sixteen Going on Seventeen (Dezesseis e Dezessete)” e todas as demais, evocam, de um modo ou de outro, algum tipo de “mistério da alma” (seja alegria, saudade, força, fé, ou algo no gênero).

Então assistir ao musical “A Noviça Rebelde”, no Teatro Renault em Sampa, foi quase como participar de um ritual criado para promover um mergulho “almático-espiritual”

Que grande emoção.

Inesquecível.

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Links :

Dó-Ré-Mi

'16 anos' (Sixteen Going on Seventeen)

 "O Som da Música" (The Sound of Music)





Musical : Bibi - Uma Vida em Musical




Ir ao teatro e ver trechos de musicais como My Fair Lady, O Homem de La Mancha, Hello Dolly, Gota D´Água e Piaf.

Ouvir canções de Dolores Duran, Antônio Maria, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Tom Jobim e Frank Sinatra.

Ver em cena números de Circo, Teatro de Revista e Escola de Samba.

O que poderia unir tudo isto – e muito mais?

A resposta é “Bibi – Uma Vida em Musical”, o espetáculo que conta a vida de Bibi Ferreira, quiçá nossa maior atriz.

O resultado é grandioso e talvez pensar em conjunção astral, alinhamento de planetas, conexão espiritual ou conspiração dos deuses ajude a explicar o que é o musical.

Mas não.

O que temos em “Bibi” é uma preciosa soma de talentos unidos na construção de um algo que define o que é um espetáculo (fantasia, diversão e emoções verdadeiras).

Tudo funciona : texto, figurinos, cenografia, luz, figurinos, danças e, é claro, a Música.

Os atores estão perfeitos e seria maldade destacar algum.

Porém, Amanda Costa no papel título é inacreditável e entrega uma performance para a qual faltam superlativos.Acredito que poucas vezes o público teve oportunidade de testemunhar ao vivo a grandiosidade de um talento a serviço de algo tão pleno. Amanda destrói com tudo e é acachapante acompanhar sua transformação (corpo, trejeitos, voz) de menina à idosa, passando pelas diversas fases da vida de Bibi. Ela é muitas e nem parece que é a mesma atriz que inicia e fecha o espetáculo.

Fantástico.

Um dos melhores musicais que vi na vida.

Rezando para que venha para Porto Alegre para podermos assistir novamente..

Link - Medley O Homem de La Mancha
Medley O Homem de La Mancha


Amanda Costa como Bibi





Links :

 Bibi na Fatima Bernardes

Agradecimentos na Estréia Vip





































Musical - A Pequena Sereia


- “Pai, o que é boy magia?”

A pergunta feita por um menino de uns 6 anos ao seu pai, no banheiro masculino do Teatro Santander em São Paulo, no intervalo do musical A Pequena Sereia, me deixou paralisado.

Quando na minha inocente vida eu imaginaria ouvir algo assim de uma criança ? ... e de modo tão espontâneo e inocente?

“Boy Magia”, para quem não sabe, é uma gíria que nasceu no mundo gay e que foi rapidamente absorvida e popularizada através de alguns grupos das redes sociais.

Sendo assim, até então eu estava convicto que esta expressão era de uso exclusivo deste povo “alternativo e ligado” .

Mas, para minha absoluta surpresa, não é que “boy magia”, junto com outras gírias gays tipo “o bofe é bafo”, “gongar”, “uó” e “visu”, surgiram na boca da vilã Úrsula no musical “A Pequena Sereia” ? .... da Disney !!

Pois então.

“O bofe é bafo”, “gongar”, “uó” e “visu” (juntamente com a já clássica “bela, recatada e do lar”) aparecem no número “Escravos da Dor”, quando a vilã “vende” o trabalho de macumba à Ariel (ela terá pernas mas perderá a voz).

O trecho é hilário e é uma das melhores coisas do espetáculo (link abaixo).

Link para o vídeo "Escravos da Dor"
Mas, mesmo com toda a jogada cênica da tia má, Ariel não se convence logo de cara e titubeia.

Daí Úrsula chega bem nas fuças da fedelha e define :  “ - Assina !!! Tu não quer ficar com o boy magia?!!!”.

É claro que Ariel assina e “esmudece” imediatamente

.... e o ato termina....

E o pai responde o quê no banheiro do Teatro?

Muito circunspecto me sai com esta :“ - Eu acho que é um rapaz bonitão...”

Muito bem! ... Pai ligado é isto!

( Mas o que será que ele responderia se o garoto perguntasse “- Pai, o que é bofe bafo?” .... Mêêdo)

Que dificuldade ser pai na modernidade !

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A Pequena Sereia não é um musical todo bom.

Muito pelo contrário.

Tem diversas passagens tediosas e a história não ajuda.

Ariel talvez seja uma das princesas mais chatas “ever”.

Que garota mais revoltada e impertinente, além de alienada e burra.

Como é que uma “peixa” pode se apaixonar por um humano?.... que mata e come peixes?!

A coisa é tão imbecil que no banquete oferecido a ela no palácio, são servidos diversos dos seus amiguinhos para serem degustados, mas a estúpida só fica com nojinho....

Como assim? ...

.... seus amigos mortos e prontos para serem devorados e a doida não me sobe nas tamancas e condena todo o holocausto gastronômico ?!

Bizarro.

Isto sem falar na cena quando o “Lagosto” Sebastião é perseguido pelo cozinheiro, de facão em punho, que quer levá-lo para a panela.

Este seria um trecho de horror ou de humor?

Mas, para não dizer que nada se salva no musical, os efeitos especiais são de cair os butiá.

Os atores voando pelo palco como se estivessem no fundo do mar,em alguns momentos chaves, são fantásticos.

Tu fica tipo “Uau!”.

E também algumas músicas, como “No nosso mar” (Under the Sea), são ótimas.

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O elenco não poderia ser melhor.

Fabi Bang (Ariel) é linda e canta “pra cacilda”. Já a tínhamos visto em Wicked e aqui ela também detona.

Rodrigo Negrini tá muito bem como Príncipe Eric.

Conrado Helt é uma aparição como Rei Tritão (aliás, Helt seria o típico bofe bafo).

Elton Towersey é a gaivota Sabidão e Lucas Cândido é o peixe Linguado, os amigos de Ariel.

E, para nossa decepção, na sessão que assistimos não foi Tiago Abravanel quem fez o Sebastião (por causa do seu compromisso com o Show dos Famosos no Programa do Faustão). Quem fez o Sebastião foi o Willian Sancar que já tínhamos visto no Cinderella. Felizmente Willian é legal, canta bem e tem uma boa veia cômica.

Mas quem rouba a cena é a Andrezza Massei como a vilã Úrsula.

Andrezza recebeu o prêmio Bibi Ferreira de Atriz Coadjuvante pelo sua performance brilhante como Madame Thenardier no Les Miserables, e comprova aqui seu talento descomunal. Que atriz magnífica.

De resto, A Pequena Sereia tem todos os predicados que fazem os grandes espetáculos : música, dança, luz, figurinos, efeitos, cabelos, adereços, maquiagem, tudo impecável.

Tudo certinho, redondinho.

Pena que toda esta excelência não tenha resultado em algo inesquecível.

Valeu, mas nada excepcional




Friday, May 25, 2018

Teatro - Boca de Ouro




Mulher recalcada é perigosa.

Mulher arrependida é falsa.

Mulher acuada inventa.

Assim é Dona Guigui (Lavínia Pannunzio), uma mulher multiplicada que toma a voz e conta três versões diferentes da mesma história conforme seu humor.

O cenário é a periferia do Rio dos nos 50 onde um bicheiro famoso e sanguinário chamado Boca de Ouro (Malvino Salvador) - por ter trocado sua arcada dentária perfeita por uma dentadura de ouro-, está morto.

O Jornal O Sol, perfeito exemplo da imprensa marrom, manda o repórter Caveirinha (Chico Carvalho) entrevistar Dona Guigui, uma ex-amante do Boca, para ver se é possível descobrir alguma história escabrosa envolvendo o falecido.

Dona Guigui é casada com Agenor (Leonardo Ventura) uma espécie de corno manso que a aceitou de volta depois que ela foi dispensada por Boca.

Ela, sem saber que Boca está morto e com ódio por ter sido “devolvida”, alegra-se ao denunciar ao repórter um crime cometido por Boca por um motivo fútil : ele matou Leleco (Claudio Fontana), marido de Celeste (Mel Lisboa) - outra provável (ou não) amante de Boca-, por este ter feito chacota do seu nascimento – Boca teria nascido na pia de uma gafieira.

Porém, ao ser informada por Caveirinha que Boca está morto, Dona Guigui se arrepende e reconta o crime. Desta vez dizendo que foi Celeste quem matou Leleco, ao mesmo tempo que humilha Agenor chamando-o de banana.

Agenor, sentindo-se um cocô e vendo o grau de intimidade de Guigui com o Boca, bate boca com a “viúva” e decide cair fora.

Caveirinha se sente responsável por todo o bafão e faz de tudo para o casar se reconciliar, o que acontece.

Acuada, a esposa apresenta (ou inventa) novos fatos, desta vez elogiando Agenor e acusando Boca de, além de ser parceiro de Celeste na morte de Agenor, ser também o assassino da própria Celeste. Isto não sem antes trazer ao rolo uma quarta pessoa : Maria Luisa, uma grã-fina que mantem com o Boca um tipo de “relação espiritual”.

Guigui sai de cena e no final revela-se, através da imprensa, que Maria Luísa é a assassina de Boca.

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“Boca e Ouro” não é das melhores peças do Nelson Rodrigues.

A trama não “avança” e os personagens não são bem desenvolvidos, talvez porque surjam diferentes conforme a versão da história muda.

De qualquer forma, o conjunto vale a pena, principalmente pelas personagens femininas Dona Guigui e Celeste.

O elenco está bom, mas o destaque vai para Mel Lisboa (numa interpretação over) e Chico Carvalho que, além de fazer o Caveirinha, faz uma Maria Luísa absurda e hilária.

Lavínia Pannunzio, Claudio Fontana e Leonardo Ventura mostram talento, e Malvino Salvador faz um Boca de Ouro debochado, energético e disperso.

Vale.

A carne dos países ricos tem um alto custo para os países pobres.


 A carne dos países ricos tem um alto custo para os países pobres.

A equação é simples : 1 hectare de terra pode alimentar 50 vegetarianos ou 2 carnívoros.
Produzir 1 kg de carne requer a mesma área de terra que o cultivo de 200 kg de tomates ou 160 kg de batatas ou 80 kg de maçãs(12). 

De acordo com outra estimativa, feita por Bruno Parmentier, economista e ex-diretor da Escola Superior em Angers, na França, 1 hectare de terra boa pode alimentar até 30 pessoas com legumes, frutas e cereais, mas se a mesma área for dedicada à produção de ovos, leite ou carne será capaz de alimentar não mais que 10 pessoas(13).

Para se conseguir 1 caloria de carne bovina na pecuária intensiva são necessárias 8 a 26 calorias de alimento de origem vegetal que poderiam ter sido consumidos de forma direta por seres humanos(14). 

Com o plantio de aveia é possível obter 6 vezes mais calorias por hectare do que se a mesma área for destinada à produção de carne de porco, e 25 vezes mais do que o total de calorias obtido com a produção de carne bovina. O rendimento, como se vê, é deplorável. 

Não é de admirar que Frances Moore Lappé tenha qualificado esse tipo de agricultura como “fábrica de proteínas às avessas”(15).

A pecuária, como vimos, consome anualmente, 775 milhões de toneladas de trigo e milho, o que seria suficiente para alimentar de modo adequado a faixa do 1,4 bilhão de seres humanos mais pobres (16).
Em 1985, durante a crise de alimentos da Etiópia, enquanto a população morria de fome o país manteve a exportação de cerais destinados ao gado inglês(17).

Nos Estados Unidos, 70% dos cereais são destinados à pecuária, enquanto na Índia essa porcentagem é de apenas 2%(18).

Comer carne é, portanto, um privilégio de país rico, exercido em detrimento dos países pobres.

Nos últimos trinta anos, enquanto explodia o consumo de carne, dobrava o número de pessoas subnutridas. De acordo com a FAO e a ONG International Action Contre la Faim (Ação contra a Fome), hoje em dia mais de 900 milhões de pessoas sofrem de desnutrição, e uma criança morre de fome a cada seis segundos, embora sejamos capazes de produzir, em escala mundial, as calorias suficientes para alimentar o mundo inteiro(19).

Como explicou Jocelyne Porcher, diretora de pesquisas do INRA e uma das principais especialistas no assunto: “Os sistemas industriais de produção animal têm como único objetivo gerar lucro. Eles não têm outra meta. Eles não têm como objetivo “alimentar o mundo”, ao contrário do que muitos pecuaristas querem nos fazer crer. Todos nós sabemos muito bem que os setores industriais incentivam nossos filhos, através da publicidade, a engolir salsichas no lanchinho da tarde [...], mas não se interessam pelas 900 milhões de pessoas subnutridas no mundo. O que interessa aos setores industriais é, obviamente, o mundo ‘que pode pagar’(20).


Quanto mais as populações enriquecem, mais aumenta o consumo da carne (21). 

Um francês ingere 85 kg de carne por ano e um americano 120 kg, contra apenas 2,5 kg de um indiano.  Em média, os países ricos consomem 10 vezes mais carne do que os países pobres (22).
O consumo mundial de carne quintuplicou entre 1950 e 2006, uma taxa de crescimento duas vezes superior ao da população e, mantidas as tendências atuais, esse consumo ainda irá dobrar até 2050(23). 

Não obstante, já há algumas décadas, nos países ricos diminui lentamente o consumo de carne vermelha, que adquire má reputação por seus efeitos nocivos para a saúde, enquanto está em forte alta o consumo de carne de aves.

Nos Estados Unidos, a quantidade anual de bovinos abatidos em matadouros diminuiu 20% entre 1975 e 2009, enquanto o total de frangos abatidos aumentou 200%(24).   

A mesma tendência é observada na França. 

Em contraste, o consumo de carne triplicou em 40 anos nos países em vias de desenvolvimento, e tem agora um crescimento espetacular na China, em especial na classe média.  Existem hoje nas grandes cidades chinesas restaurantes que servem apenas carne, e crianças que comem carne em cada refeição.  Na China, ao longo dos últimos 20 anos, o consumo de frango aumentou 500% e o de carne bovina, 600%(25).

A cada ano, um pouco mais de 1/3 da produção mundial de cereais vai para a pecuária, e ¼ da produção mundial de peixes, transformados em “farinha de peixe”, é reservado para a alimentação de bovinos, suínos e aves(26). 

Como observado por Eric Lambin, professor nas universidades de Lovaina, na Bélgica, e Stanford, nos Estados Unidos: “Essa concorrência entre o homem e os animais no consumo de cereais acarreta um aumento de preço do produto, o que traz consequências trágicas para as populações mais pobres(27).

É preciso levar em conta que as ¼ das 2,8 bilhões de pessoas que vivem com menos de 2 dólares por dia dependem da pecuária para a sua subsistência, e que a pecuária contribui de forma significativa para o desenvolvimento econômico, mas isso não invalida o ponto de vista que acabamos de expressar. 

Não são esses pequenos operadores que contribuem para a produção em massa de carne e, portanto, para os desvios na produção de carne: isso é feito pelas grandes instalações quase industriais destinadas à pecuária intensiva, bem como pelas monoculturas que alimentam essas grandes empresas (28).

No entanto, as pequenas propriedades das populações pobres também estão envolvidas, embora de maneira mais limitada, com a degradação das terras em que vivem.

Em longo prazo, sua subsistência seria mais bem assegurada pelo desenvolvimento de métodos agroecológicos que garantissem a qualidade do solo e da vegetação(29).

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Texto retirado do livro :

 
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 Referências :

 


















Wednesday, May 23, 2018

Teatro - O Jornal The Rolling Stone



Em Uganda ser Kulchu é ser gay.

E lá, ser Kulchu é ter seu nome, sua foto e seu endereço publicados em jornal sublinhados pela chamada “Enforque-os!”.

Este fato (ou seja, real) filho da puta é o inspirador da peça “O Jornal – The Rolling Stone”, obra do inglês Chris Urich, também encenada no Festival Palco Giratório - SESC.

Em “O Jornal..” acompanhamos três irmãos órfãos e carentes : Joe, Dembe e Wummie.

Joe (André Luiz Miranda), o mais velho, é candidato a pastor evangélico que tem que provar à congregação seu valor como religioso e, assim, começar a receber salário. Também sente sobre suas costas o peso de ser o protetor dos irmãos.

Wummie (Indira Nascimento), é a irmã mais nova que é obrigada a deixar os estudos para trabalhar como faxineira num hotel.

Dembe (Danilo Ferreira), é o estudante gay apaixonado às escondidas por Sam (Marcos Guian), um médico irlandês em trabalho em Uganda.

Paralelo a eles temos Mama (Heloísa Jorge) e sua filha muda por trauma emocional, Naome (Marcella Gobatti), amigas dos órfãos mas também às voltas com seus próprios dramas.

Todo este povo acaba se envolvendo numa trama assustadora desencadeada pela condição homossexual de Dembe.

A coisa é punk, trágica pra caralho.

Mas a peça não é isenta de alguns senões pois as ações de alguns personagens soam um tanto sem sentido e forçadas.

Porém o que conta – o que realmente vale - é o conjunto.

E o conjunto deixa bem claro que a intenção do autor é gritar um discurso irado contra a intolerância e o preconceito.

E isto é alcançado com louvor.

Os atores estão magníficos, com absoluto destaque para André Luiz Miranda, o irmão pastor.

A pregação que ele faz para a plateia como se estivesse numa igreja, condenando furiosamente a homossexualidade, é de arrepiar, e o público percebe quão grande é o poder destruidor que o ódio religioso pode alcançar.

Muito boa mesmo.T








Tuesday, May 22, 2018

Livro - Indesejadas (Kristina Ohlsson)



Frustração.

Este foi meu sentimento ao terminar “Indesejadas”, thriller da sueca Kristina Ohlsson.

Que belo balde de água fria.

Sim, pois depois de acompanhar avidamente por mais de 300 páginas uma equipe policial investigando um serial killer de crianças, a autora resolve a parada do modo mais xexelento possível entregando um final mais frouxo do que saco vazio.

O que é uma pena, pois o livro tem um ritmo ótimo, tipo daqueles que não dá pra largar.

Os personagens são ótimos e bem desenvolvidos, especialmente os membros da equipe policial.

A trama é bem construída; inclusive Kristina é esperta e cria uma pegadinha que leva o leitor numa direção. Só que esta tal pegadinha, ao invés de surpreender quando é revelada, só te deixa tipo “ mas que grandessíssima e bela imbecilidade”.

Por outro lado, claro que os assassinatos são solucionados (ainda bem), só que tudo se fecha de modo tão sem graça, tão sem sal - e abruptamente - que tu até te questiona se realmente o caso foi resolvido de tão idiota que é a explicação, e se o assassino era tão genial como a autora vinha dando a entender.

Resumindo, “Indesejadas” é um belo de um engodo.

Uma farsa travestida de thriller.

Nunca mais boto minhas mãos num livro desta fulana.

Monday, May 21, 2018

Teatro - Prata Paraíso



Aí a bicha abre o rabo e pisca o cú cheio de purpurina num close hiper realista no telão no palco do teatro, enquanto grita sua veadagem desbragadamente aos quatro ventos.

E o povo culto delira : que ousado! que artístico! que genial!

E tu pensa : que lixo...

Esta é uma das oferendas entregues aos assistentes de “Prata-Paraíso”, montagem da Cia Espaço Cênico, premiada com o Açorianos de melhor espetáculo e melhor ator (Andrew Tassinari – o do cú piscante) de 2017, vista no Festival Palco Giratório do SESC.

Outro brinde oferecido, mais de uma vez diga-se de passagem, é uma lição de “história verdadeira” quando os atores muito didáticos, além de espinafrarem os coxinhas (é claro), afirmam que “Hitler inventou o Fascismo”. Na primeira vez tu acha que é brincadeira. Mas não. Eles voltam e repetem o texto de forma séria. E aí dá um nó na tua cabeça tipo “que aula de história eu perdi?”.

Só estes dois momentos seriam suficientes para desacreditar toda a pavonada em cena.

 Porém existem muitos outros construídos para “chocar” - com muita nudez, sexo, vômito, incesto, violência, sangue (sempre os básicos) e outras cositas más -, que descambam gloriosamente no vazio.

... ai que tédio...

Para entortar mais a coisa, o release diz que “Prata Paraíso” conta a história de um “.. jovem artista, falecido há muito tempo vitima do HIV, que retorna da escuridão para acertar contas com sua família e a sociedade heteronormativa”.

Cuméquié?

“Retorno da escuridão”? ....

Onde? Como? Quando?

Espírito? Fantasma? Tábua Ouija? Mesa Branca? ... onde ?

O que se vê o tempo todo são três (ou quatro?) atores se revezando em vários papéis de uma família (filho, filha, pai, mãe, empregadx) afetada pelas peripécias de um filho veado, vítima do HIV.

Nada é lógico, nada é coerente.

O povo corre pra lá e pra cá o tempo todo e se revela tri pirado na batatinha, completamente fora da casinha.

Mas nem tudo está perdido.

A peça tem vários momentos belíssimos de plasticidade.

Os elementos cênicos se transformam e são muito bem usados.

A expressão corporal e a maquiagem dos atores (Andrew Tassinari, Douglas Jung e Eduardo D’avila) são magníficas.

A luz, som, música e  imagens projetadas são muito bem utilizadas e criam alguns climas bem interessantes.

O texto e as performances se revelam bem catárticos em vários momentos, o que desconcerta.

No fim o conjunto acaba sendo positivo, apesar da duração excessiva que chega a entediar, do cú purpurinado e da lição ridícula de história.

Teatro - Cadarço de Sapato ou Ninguém está acima da Redenção.



Nudez, gritaria, depressão, estupro, incesto, vômito, fora temer, veadagem, hospício, choro, violência, lesbianismo, desespero, é golpe, suicídio, assombrações, delírio, canibalismo, perversões e outras amenidades compondo (conforme o release) um “...diálogo fragmentado e confessional, onde seres perdidos tateiam em direção à luz”.

Como?

Onde que eu tava com a cabeça para comprar ingressos para ver para uma peça com seres perdidos tateando em direção à luz?

Parece uma coisa "Caroláine no Labirinto".

Que bola fora!

Mas enfim, comprei – dentro de um pacotão de outras mais do Palco Giratório 2018 - e mais uma vez tivemos a oportunidade de conferir asneira travestida de arte na peça “Cadarço de Sapato ou Ninguém está acima da Redenção”.

No caso aqui, uma presepada construída através da colagem de vários textos – acrescida de alguns extras - da dramaturga inglesa Sarah Kane, que se matou em 1999.

Sarah – depressiva e esquizofrênica - ficou conhecida por suas peças agressivas, chocantes, densas e não lineares.

Até aí, nenhum problema.

A questão que se coloca é : por que o povo “da arte” teima sempre em “recriar”, “desconstruir”, “ressignificar” – ou seja distorcer - a obra alheia?

Por que estes pseudo-sei-lá-o-que teimam em fragmentar e adulterar textos de outros, com a intenção de dar uma “releitura”, um “aprofundamento”?

Claro que, para causar, além de “re-textar” (sic), lançarão mão de elementos para dar um “adensamento” no embuste, tipo máscaras, névoa, véus, luzes, sons, música, etc. Aliás, falando em música no caso do “Cadarço...”, a trilha é um desfile de artistas cults, tipo Bowie, Joy Division, Leonard Cohen, New Order, Lou Reed, Radiohead e outros. Todos elencados para confirmar o gosto refinado dos envolvidos nesta "criação coletiva".

Que bela bosta, pois só o que conseguem - mesmo com toda a parafernália - é ocultar o que a obra original tem de impactante, num desfile cretino de bizarrices que não leva a lugar algum.

E o que é mais patético, é que no final – no momento em que os intelectuais e familiares aplaudem em pé – o ator Renato de Campão toma palavra e despeja um lenga-lenga sobre a importância da peça e afirma a necessidade da mesma ser levada a todos os recantos (escolas inclusive) por causa do seu discurso necessário e urgente.

E tu fica tipo : como assim? ...

Ridículo.

Mas nem tudo está perdido, pois o texto realmente consegue se manter em vários momentos e alguns atores mandam muito bem.

Jairo Klein está fantástico como uma figura andrógina que é a cara da loucura.
Rejane Meneguetti, correta.
Adriana Lempert, como uma joker dos pampas, tem seus momentos.
Gustavo Razzera não compromete mas também não brilha. Já Aline Szpakowski tem em mãos alguns dos melhores textos e os desperdiça em uma atuação linear.
E Renato de Campão mais uma vez mostra sua verve que se resume a gritos e caretas.

Friday, May 18, 2018

Especismo & Libertação Animal




"No século XX, de modo mais exato no final dos anos 1960 e na década de 1970, surgiu um momento que cresce sem cessar e que desencadeou uma mudança significativa de comportamento em relação aos animais, nas sociedades de cultura ocidental. 


De início, houve a publicação do livro Animal Machines : The New Factory Farming Industry [...]. 

Logo a seguir, foi formado o “Grupo de Oxford”, que reunia uma dezena de intelectuais e personalidades ao redor do psicólogo Richard Ryder. 


Este publicou alguns artigos e panfletos contra os abusos de que são vítimas os animais, inclusive um, em 1970, que tratava do “especismo”, um novo termo por ele proposto para ressaltar o fato de que a nossa atitude para com os animais reflete a mesma mentalidade como “racismo” ou “sexismo”.


Ele descreveu assim o seu grande momento de descoberta ou “eureca”:


As revoluções da década de 1960 contra o racismo, o sexismo e a discriminação de classe quase chegaram a tratar dos animais, mas não o fizeram. Isso me preocupou. A ética e a política da época esqueceram os seres não humanos. Todo mundo parecia unicamente preocupado em limitar o preconceito contra os seres humanos. Mas eles não tinham ouvido falar de Darwin? Eu também odiava o racismo, o sexismo e a discriminação de classes, mas por que parar por aí? Como cientista atuando em ambiente hospitalar, eu tinha certeza que as outras espécies de animais sentiam tanto medo, tanta dor e tanta angústia como eu. Era preciso pensar a respeito. Era preciso estabelecer um paralelo entre a nossa condição e a condição das outras espécies. Um dia, em 1970, imerso numa banheira num antigo solar em Sunningwell, perto de Oxford, uma palavra me veio à mente “especismo!”. De imediato, escrevi um panfleto e providenciei sua distribuição em Oxford.



No início ninguém deu muita atenção ao panfleto, até que Peter Singer, estudante em Oxford, entrou em contato com Richard Ryder e lançou o conceito de “libertação animal”. 


Em 1975, ele dedicou a esse tema um livro que teve impacto mundial e cujo título – Animal Liberation [Libertação Animal] – acabou batizando esse novo movimento."


Texto transcrito do livro : "Em defesa dos animais - direitos da vida", de Matthieu Ricard

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Meu comentário : 


O livro do Singer mudou minha vida. Recomendo fortemente a todos que se interessam pela causa animal.


Charles Darwin & Os Animais




“O homem, em sua arrogância, acredita ser uma grande obra, 
digna da intermediação de uma divindade. 
Seria mais humilde e, penso eu, mais verdadeiro 
considerá-lo criado a partir dos animais”

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“Vimos que sentimentos, intuições, emoções e faculdades diversas, tais como, entre outras, amor, memória, atenção, curiosidade, imitação e razão, de que tanto se orgulha o homem, 
podem ser observadas em estado nascente, ou mesmo, 
por vezes, até em estado desenvolvido de modo pleno, 
também entre os animais inferiores.”

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 “O senso de humanidade com os animais inferiores é uma das virtudes mais nobres de que o homem é dotado, constituindo o estágio máximo no desenvolvimento dos sentimentos morais. 
É somente quando nos preocupamos com todos os seres sensíveis que nossa moralidade atinge seu nível mais elevado.”