Zezé Polessa deu
piti em cena.
A certa altura da apresentação do
clássico “Quem tem mêdo de Virginia Woolf?” ela
parou o texto e disse “Assim não dá pra continuar”.
O teatro silenciou geral.
Ela então dirigiu-se a uma senhora na platéia : “Você está
desde o inicio mexendo em papel de bala. O barulho me tira a
concentração. Assim não dá. Ou você
para de mexer ou se retira do teatro..... O que você vai fazer
? ... (tensão de espera).... A senhora responde : “Eu não
tinha a intenção”. E a diva do palco responde : “Eu
sei que não. A senhora pode colocar as balas na sua bolsa e
deixá-las lá ou sair do teatro.... (pausa)..... Então,
o que você vai fazer ?”.
E o público bége também querendo
saber como a “cena real” iria terminar
Então a “abridora
de balas”, pediu desculpas, e colocou todas suas delícias na bolsa.
A diva agradeceu, respirou fundo, baixou a cabeça
e voltou a incorporar Marta, um dos personagens imortais da história
do teatro.
Sim, isto aconteceu na
apresentação de “Quem tem medo...” que assisti no
Teatro dos Quatro no RJ no dia 3 de Novembro.
Foi constrangedor mas,
ao mesmo tempo, coerente com muita coisa que tava rolando desde o
incio da apresentação. Sim, as pessoas conversavam. Sim, celulares tocavam (e não pararam mesmo depois do “surto
chique” da Zezé), Sim, as pessoas desembrulhavam guloseimas.
E eu pensava : “O que esta gente tá fazendo aqui?”.
Eu absolutamente não sou um espectador que diviniza o teatro, que acha que tudo que é mostrado em cena seja “arte”. Já vaiei, já xinguei, já debochei em cena aberta montagens canhestras, amadoras, ridículas.
Eu absolutamente não sou um espectador que diviniza o teatro, que acha que tudo que é mostrado em cena seja “arte”. Já vaiei, já xinguei, já debochei em cena aberta montagens canhestras, amadoras, ridículas.
Mas diante do texto
primoroso do Edward Albee como as pessoas podem não se
envolverem, não se entregarem? Será porque a peça
é “longa” ? (mais de duas horas) . Será porque o
texto é “difícil”, “pesado” e requer
concentração e raciocínio da platéia?
Será porque no embate travado no palco não se salva
um personagem sequer? Todos são meio “feios, sujos e
malvados”. Sabe-se lá.
O que eu sei é
que “Quem tem medo..” é especialmente caro para mim por
questões até familiares (os motivos obviamente não serão explicitados aqui). Só tinha visto o filme do Mike Nichols
de 1966 (que é fantástico e traz interpretações
matadoras de todo o elenco, com destaque óbvio para Elizabeth
Taylor), e o meu sonho era ver uma montagem teatral do texto. Isto finalmente se
concretizou naquela noite no RJ.
Então, mesmo
incomodado com as “intervenções” da platéia,
saí maravilhado com o que vi.
“Quem tem medo..”,
mostra uma madrugada de bebedeiras e revelações
envolvendo dois casais.
Um é George e Marta, ele professor de História, ela, filha do reitor da universidade em cujo campus moram.
Outro é Nick e Mel, casal recém-chegado ao local onde ele também vai trabalhar como professor.
Os veteranos George e Marta, chegando já meio calibrados de um jantar estilo oficial do campus, recebem em sua casa , a pedido do pai de Marta, o jovem casal para uma “pós-party” a fim de promoverem uma espécie de boas vindas.
Um é George e Marta, ele professor de História, ela, filha do reitor da universidade em cujo campus moram.
Outro é Nick e Mel, casal recém-chegado ao local onde ele também vai trabalhar como professor.
Os veteranos George e Marta, chegando já meio calibrados de um jantar estilo oficial do campus, recebem em sua casa , a pedido do pai de Marta, o jovem casal para uma “pós-party” a fim de promoverem uma espécie de boas vindas.
Mas o que poderia ser
uma “saideira light” se transforma num show de horrores com
brigas, ataques, humilhações, revelações,
traições, e “otras cositas más” que dilacera
todos.
A “diversão” proporcionada pelos beligerantes George e Marta, com seus jogos e provocações mútuas, acaba arrastando o jovem e (nem tão) inocente casal para a mesma lama emocional na qual chafurdam.
No fim,como se diz, não sobra pedra sobre pedra. e a ruína humana é geral.
A “diversão” proporcionada pelos beligerantes George e Marta, com seus jogos e provocações mútuas, acaba arrastando o jovem e (nem tão) inocente casal para a mesma lama emocional na qual chafurdam.
No fim,como se diz, não sobra pedra sobre pedra. e a ruína humana é geral.
Zezé Polessa
está impecável como a impiedosa, debochada e
destemperada Marta, brilhando numa interpretação sensual, carnal e intensa.
Ana Kutner (Mel) e Erom Cordeiro (Nick) dignificam a arte de atuar com desempenhos impecáveis..
Mas é Daniel Dantas quem, como se diz, “rouba o espetáculo. Seu George é nada mais nada menos que perfeito. Daniel consegue pintar / tocar de forma virtuosa todas as nuancias do professor naufragado numa armadilha de fracasso e frustração. Simplesmente impressionante.
Ana Kutner (Mel) e Erom Cordeiro (Nick) dignificam a arte de atuar com desempenhos impecáveis..
Mas é Daniel Dantas quem, como se diz, “rouba o espetáculo. Seu George é nada mais nada menos que perfeito. Daniel consegue pintar / tocar de forma virtuosa todas as nuancias do professor naufragado numa armadilha de fracasso e frustração. Simplesmente impressionante.
Só espero que
“Quem tem medo de Virginia Woolf?” saia em turnê pelo
Brasil e pouse em Porto Alegre para eu ter novamente ter a
oportunidade de me maravilhar com esta obra prima.
1 comment:
Amei o filme. Falta ver a peça. Bjos, meu querido!
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