O Clico da Vida |
Há
alguns anos atrás, sendo uma fã dos filmes dos Estúdios
Disney e apaixonada pelo filme “O Rei Leão”, comprei uma
versão em DVD duplo, com o filme, novas músicas e o
making off.
Depois de curtir novamente essa maravilha, fui procurar
os famosos “extras”.
De
repente topei com o link “Musical da Brodway”, do qual havia
ouvido falar, mas não possuía muitas informações.
Tive a sorte de ter acesso à história da criação
do Musical que, de um grande potencial, se tornou um enorme problema,
pois como essa história seria passada para uma linguagem
teatral sem perder a magia e a capacidade de envolvimento do público
como tinha o filme?
Somente
quando a Diretora e Artista Plástica Julie Taymor foi chamada
para dirigir e desenvolver a “concepção artística”
do espetáculo esse rico material pôde ser dramatizado ao
vivo.
Naquele
momento, assistir ao espetáculo parecia um sonho muito
longínquo que guardei no coração. Quando tive a
notícia de que o musical seria encenado em São Paulo,
com atores brasileiros, vi o sonho chegar mais perto e nesse ano tive
a imensa felicidade de compartilhar com meu irmão Iuri e meu
amado cunhado Luciano esse momento mágico. Passei a noite da
virada do meu aniversário assistindo ao Rei Leão.
Phindile
Mkhise como Rafiky |
O início
já é um arrebatamento que leva crianças,
artistas, informatas, arquitetos, todo ao mesmo patamar, vivenciando
uma superprodução rica em detalhes que nos transporta a
outro universo coroado pela interpretação primorosa de
todos os atores e bailarinos. Mesmo se tratando de “leões”,
a história que ali se passa é total e absolutamente
humana, e isso é a base do fascínio que o filme e o
musical tem mostrado por todo esse tempo.
Em uma
história clássica como é a do Rei Leão,
cujo argumento principal foi inspirado em Hamlet, o público
tem que se apaixonar pelo personagem principal, a figura do herói,
no caso, Simba.
O herói
nesse caso representa todas as nossas fraquezas, inseguranças,
tristezas e sensação de solidão diante da
realidade que se coloca de maneira fria e, aparentemente, impossível
de ser suplantada. O público então tem que se
identificar com o personagem principal, tem que se apaixonar, sofrer,
cair e criar coragem com ele. Isso não se consegue só
com uma superprodução irretocável, como é
o caso do Rei Leão. A interpretação dos dois
atores que fazem o papel de Simba é fundamental nessa viagem
na qual o acompanhamos desde o nascimento até a maturidade.
Inicialmente
Simba é apresentado como um bebê na Pedra do Rei em uma
cena extremamente marcante, embalada pela bela canção
“O Ciclo da Vida” interpretada pela atriz sul-africana Phindile
Mkhise, que interpreta o personagem Babuíno Shaman Rafiky.
Mufasa e Simba |
O tempo
passa e o Simba criança é interpretado por Matheus
Braga com um talento enorme e raro que nos torna fãs
imediatos. Ele nos faz sentir a brincadeira cantando “Mal Posso
Esperar para Ser Rei” com técnica apurada que só é
suplantada pela alegria e a inocência que ele transmite. A
inocência fica clara porque ele não entende que, para
ser Rei, o pai que ele respeita, ama e tem como exemplo, deve morrer.
Na morte
de Mufasa, apesar de tudo o que já fora apresentado até
então surge a expectativa e o susto do tipo “como eles
fizeram isso?!!!”, porque se trata do estouro de uma manda de
antílopes em cima do palco!!!!!
Novamente
é incrível como Matheus Braga, esse jovem grande
talento passa toda a fragilidade da criança que se vê
perdida diante de um momento tão triste e cruel. Ele consegue
nos fazer sentir a sensação de culpa, tristeza e
abandono, que só tem alívio na amizade inesperada com
Pumba e Timão, terminando o primeiro ato com a célebre
Hakuna Matata e tentando deixar o passado para trás, como se
não tivesse existido. Novamente o jovem ator mostra uma força
de renovação se adaptando à nova condição
e se despedindo de um público totalmente cativado por ele.
Matheus Braga como Simba |
Tiago
Barbosa,o Simba adulto, é perfeito na interpretação,
voz rara e também beleza, trazendo todas as dificuldades de um
jovem procurando seu lugar na vida. Simba cresce tentando esquecer um
passado traumático e vivendo de maneira despreocupada, um dia
de cada vez.Tiago passa essa inquietação interna para o
público com uma movimentação inspirada em
movimentos felinos e posições de luta africana,
trazendo inclusive, a brasileira Capoeira. Com o reencontro com
Rafiky,Simba acaba tendo que tomar atitudes adultas que são
exigidas dele, mesmo sem se sentir preparado. Quem não se
identifica com isso?
Tiago Barbosa como Simba |
Simba
encontra forças em um dos momentos mais emocionantes da
história quando o Espírito de Mufasa volta e exige que
ele se lembre de quem é na verdade e assuma seu lugar
superando todos os medos. Nesse momento em especial a técnica
teatral e a interpretação do ator se casam e trazem ao
espectador novamente a sensação “como eles fizeram
isso?!!!”. Daí Tiago mostra cantando com vigor e
expressão física a força e a coragem para
resgatar seu passado.
Agora,
para que todo o espetáculo tome forma, por mais incoerente que
possa parecer, temos que nos apaixonar também pelo vilão. E Osvaldo Mil traduz todas as emoções humanas que
temos e tentamos bravamente evitar que aflorem. Scar, como um típico viláo shakespeareano tem sua
humanidade distorcida revelando fraqueza de caráter, inveja,
covardia e cobiça, que são traduzidas por um figurino
maravilhoso inspirado em Samurais.
Scar enfrenta Mufasa |
Sua máscara deformada, e
sua interpretação que mescla momentos de maldade com
humor conseguem transformar um ser covarde e desprezível, em
uma figura absolutamente fascinante. O “Demônio da
Perversidade”, como diria Edgar Allan Poe.
Essa
história clássica tem sido contada por diferentes
autores de diferentes formas ao longo do tempo. Mesmo conhecendo o
filme, tendo lido sobre o espetáculo, ter durante minha vida
inteira contato com a arte através da prática do
desenho e da pintura, não estava nada preparada para o que
iria vivenciar.
Todas as pessoas deveriam ter acesso a essa
celebração à arte, à música, à
dramaticidade dos atores e aos efeitos visuais inacreditáveis,
que nos levam a uma emoção tão intensa que fica,
mesmo com todo o carinho dedicado a esse post, impossível de
descrever.
Niara e Iuri |
Bjo
Iuri e Luciano, obrigada por compartilharem este momento comigo.
Iuri e Luciano |
1 comment:
Olá,
Li seus comentários sobre o Rei Leão e concordo em grande parte com ele.
Minha grande diferença com você é sobre o Simba (adulto). Realmente não me convenceu. A voz é boa mas a interpretação fraca, não transmite emoção. A atuação - como ator - é bem ruim. Em síntese, para mim o Tiago é o elemento fraco do espetáculo, juntamente com as hienas que são muito "chatas". Falta "poder de convencimento" nesses personagens.
José Miguel
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