Apostar na busca de um diálogo entre o texto do Fernando Pessoa e medalhões da MPB (tipo Chico Buarque, Cazuza, Belchior e outros) é uma proposta ousada que pode resultar em, dependendo do tamanho da pretensão, desde algo sublime a um imbroglio ridículo.
“Fernando em Pessoa”, espetáculo do Fernando Buergel, apresentado domingo passado no teatro do CIEE, intercala ( dentro de vários focos, mas sendo o “desassossego” o principal ) momentos realmente bons com outros perigosamente atingindo – e alguns casos ultrapassando - o limite do over, do excesso, do caricato.
O que se viu, de um modo geral com um tom solene - e muitas vezes over dramático –, foi Buerger enfileirando (em alguns momentos misturando) texto e musica, de forma a tentar criar um clima de sarau chique e moderno.
Só que não.
As excessivas idas ao fundo do palco (para beber água e fazer outra coisa que não identifiquei) e as marcações rígidas na linha de frente, confundiram mais do que atraíram o olhar para sua (bela) figura.
Por outro lado o som do teatro não ajudou em nada – pelo menos onde sentamos – fazendo com que não se entendesse determinadas letras e textos.
Aliás, os textos do mestre são imortais, mas fica evidente que a idéia do Buergel é mostrar a sua contemporaneidade, e para isto encerra vários poemas informando as datas nas quais foram escritos.
Tipo com “Ultimatum” onde encerra com : “Alvaro de Campos 1917 !”
E o povo : “Ah ! Que Moderno”
E tu te pergunta : “Por que isto?”
Achei desnecessário.
De algumas canções Burgel tenta sem sucesso extrair uma dramaticidade inexistente (tipo em “O que é o que é?” do Gonzaguinha, com uma introdução num clima de tragédia que soou fake), e em outras perde o caminho da contundência e encaixa tipo um “caco fôfo” para agradar os presentes – como na violenta” Deus lhe pague” (do Chico) onde a frase “pelas mulheres daqui” foi entoada com um sorriso largo e braço estendido rumo a platéia (sei que isto está soando bem rabugento, mas estes lances me incomodaram).
Voltado ao Pessoa, a maioria dos textos é dita (“interpretada”) de maneira honesta, porém em alguns a máscara da “cant-ator” exagera a expressão e acaba criando mais um estranhamento / distanciamento do que uma tradução emocional do que se ouve.
De qualquer forma, e isto realmente fez a diferença, a seleção musical e dos poemas foi exemplar.
Tirando as duas músicas do Robson Serafini (seu companheiro de palco e tambem diretor musical) – a primeira eu não entendi porra nenhuma devido ao som e a segunda achei média -, o repertório é irrepreensível.
Em termos de voz, sinceramente eu não viraria a cadeira numa blind audition para o The Voice, mas o rapaz não compromete de modo geral.
No final ficou a sensação de que Buergel tem todas as ferramentas para arrasar numa partida. Só que falta estratégia e um bom técnico para direcionar o jogo e marcar uma bela duma goleada.
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