Um encontro de Titãs.
Assim pode ser definido o show do Toquinho e Joao Bosco apresentado neste sábado, dia 26, aqui em Porto Alegre.
Com um caráter intimista – tipo um banquinho e um violão - , era de se perguntar se este tipo de proposta seria adequada à imensidão do Teatro do Sesi (lotado, diga-se de passagem).
Mas, tudo bem. Fomos lá para ver no que ia
dar..
Toquinho entra muito simples, muito humilde, exalando simpatia. Pega seu violão e logo de cara nos alveja com “Minha profissão”, que nos versos inicias já diz tudo :
“Debaixo dessas luzes coloridas,
Nesse palco, minha vida, minha voz, meu violão.
O artista, meio mito, meio gente,
Vira assim meio parente de uma grande multidão”
Depois de ouvir isto, quem resistir há de ?
Em seguida – pegando o rabo da musica –
ele fala sobre a alegria em compor e cantar como profissão. E
começa a mandar um clássico atrás do outro.
“Que Maravilha” (uma surpresa para
mim pois adorava esta musica quando criança ), “Samba de Orly”, “O caderno”,
“Aquarela” , “A casa” e outras são entregues de forma generosa.
As
canções são intercaladas por casos saborosos da época em que Toquinho
conviveu com os monstros sagrados Vinicius, Tom, Baden e outros.
No set
instrumental – introduzido com uma homenagem a Paulinho Nogueira - o poeta
prova ser um virtuose do violão. Bachianinha, Gente Humilde e Asa Branca são executadas
de forma sublime e a galera delira.
Revelando o que ele considera o marco zero de sua carreira – o momento em que Vinicius passou a respeitá-lo como musico – Toquinho chama ao palco João Bosco, e ambos cantam “Tarde em Itapoã”.
Toquinho sai e João assume o show.
A esta altura do campeonato o teatrão do Sesi
já se transformou numa coisa tipo roda de amigos num barzinho. É inegável a
aproximação entre os artistas e o publico.
E seguindo nesta mesma linha, Joao alterna
casos e canções.
Fala especialmente de Elis Regina – sem duvida a melhor
cantora que este país já teve - e de como aconteceu o primeiro encontro entre
eles.
Aí realmente a coisa me surpreendeu. João revela que a primeira
musica que apresentou à diva foi “Bala com Bala”, um “samba” que ela acabou
gravando. Acontece que “Bala com Bala” não tem nada de fácil, nem no seu ritmo
– bem acelerado – nem na sua letra, digamos “estilhaçada” :
"A sala cala e o jornal prepara quem está na sala
Com pipoca e com bala e o urubu sai voando, manso
O tempo corre e o suor escorre, vem alguém de porre
Há um corre-corre, e o mocinho chegando, dando.
Eu esqueço sempre nesta hora (linda, loura)
Minha velha fuga em todo impasse;
Eu esqueço sempre nesta hora (linda loura)
Quanto me custa dar a outra face.
O tapa estala no balacobaco e é bala com bala
E fala com fala e o galã se espalhando, dando.
No rala-rala quando acaba a bala é faca com faca
É rapa com rapa e eu me realizando, bambo.
Quando a luz acende é uma tristeza (trapo, presa),
Minha coragem muda em cansaço.
Toda fita em série que se preza (dizem, reza)
Acaba sempre no melhor pedaço"
Me caiu os butiá. Eu nunca esperava ouvir esta canção (que eu cantava a plenos pulmões quando adolescente).
E para não deixar as
surpresas só por ai, ele acaba apresentando outra musica, digamos, “difícil” :
a emocionante “Agnus Sei”- sua primeira gravação, lado B de um compacto
simples, cujo lado A era nada menos do que “Aguas de Março”, com Tom Jobim – ao
revelar isto ele manda ver com “Aguas de Março”.
Os demais petardos foram, entre outros que posso ter esquecido, “Corsário” (outra das minhas preferidas), “Desenho de Giz”, “Quando o amor acontece”, “Papel marché”, “Nação” , “Ronco da cuíca” (maravilha), “Mestre Sala dos Mares” (clássico em homenagem a João Cândido Feslisberto, gaúcho de Encruzilhada do Sul, que liderou a Revolta da Chibata em 1910), “O bêbado e a equilibrista” (que o povo cantou junto de cabo a rabo).
Uma em especial, que confessando minha
ignorância eu não conhecia, me emocionou muito. Fruto de parceria do Joao
com Chico Buarque, “Sinhá” traz a marca dos grandes compositores. Fui às
lágrimas com a interpretação emocionada do artista.
A roda foi chegando ao final. Toquinho volta
ao palco e eles cantam – após revelarem a importância do mito João nas suas
formações – a indecentemente perfeita “Chega de Saudade”. Ai meus sais ! Que
momento mágico !
Se despedem da platéia após a imortal “Saudosa Maloca”.
São ovacionados.
Retornam para o bis e encerram a noite com “Se acaso você chegasse”, do Lupicinio.
Precisa mais ?
Na verdade, sim.
Para mim ficaram faltando “apenas duas
músicas” : “Onde anda você” , com o Toquinho, e “Memória da Pele”, com o Joao
(esta tem um sentido determinante / fundamental na minha vida).
Mas, mesmo com estes “furos” (olha minha pretensão),
não dá pra dizer que o show é nada menos que absolutamente fantástico, inesquecível, único.
As emoções que o conjunto de canções
apresentadas desperta nas gerações que as conheceram nas suas épocas é algo que
sacode a memória, reaviva descobertas, lutas, amores, derrotas, alegrias
e tristezas.
Perfeito ! Salve os bruxos !
2 comments:
Nossa, que emoção! Queria ter ido, mas não deu. Beijo, saudade :D
Saudades, querida.
bjao
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