Barcelona |
Chegamos em Barcelona por volta do meio dia e fomos direto
resgatar nossa bagagem na esteira giratória junto com nossos companheiros de
viagem
Logo as malas foram aparecendo.
Muitas, muitas e muitas, E as nossas, nada. O povo alegre e sorridente resgatando seus pertences. E as nossas, nada. O povo indo embora com suas malas, E as nossas, nada. A sala esvaziando, e as malas sumindo da esteira. E as nossas, nada. A esteira girando vazia. E as nossas, nada.
Muitas, muitas e muitas, E as nossas, nada. O povo alegre e sorridente resgatando seus pertences. E as nossas, nada. O povo indo embora com suas malas, E as nossas, nada. A sala esvaziando, e as malas sumindo da esteira. E as nossas, nada. A esteira girando vazia. E as nossas, nada.
A esteira parando. E as nossas malas não apareceram.
Que legal.
Fomo direto reclamar no balcão da Air France.
Eu não domino o espanhol e quem buscou uma aprendizagem
básica na língua foi o Lu. Portanto
durante toda nossa estadia na Espanha ficou quase sempre a cargo dele a comunicação com os nativos
(quando entrava o inglês a coisa ficava mais comigo).
E ele se saiu tri
bem.
Ele explicou a situação à atendente. A mocinha simpática e
sorridente consultou o sistema e
informou que nossos pertences ficaram
em Paris, mas que “estariam vindo no próximo vôo”. Profissional
- e mantendo a simpatia - pediu que não nos preocupássemos pois os
mesmos nos seriam entregues até as 19
horas do mesmo dia.
Sem mais o que fazer, e acreditando na informação, fomos para o hotel fazer o chek-in e logo em
seguida saímos para a locadora pegar o
carro reservado.
Primeiro destino : Sagrada Familia.
Primeira descoberta : dificuldade para estacionar.
Lu |
Eu |
Depois de algumas voltas só encontramos vaga num
estacionamento pago. Sem problemas.
Largamos o coche e passamos rapidamente por um restaurante para comer uma paella (eu, vegetariana).
Muito boa.
Largamos o coche e passamos rapidamente por um restaurante para comer uma paella (eu, vegetariana).
Paella |
A Sagrada Familia é majestosa, exuberante,
impressionante. É o monumento mais
visitado da Espanha, com cerca de 3 milhões de pessoas por ano. Pode-se comprar ingresso com acesso
restrito à nave e subterrâneo, ou
incluir visita às torres (além, é claro das visitas guiadas) – e é permitido
filmar e fotografar os locais públicos.
Compramos o ingresso com acesso
às torres..
Pois bem, entramos e eu simplesmente choquei .
Mesmo já impressionado com a vigorosa fachada externa,
não estava preparado para o poder, força e audácia do interior. Minha sensação foi a de que entrei num mundo paralelo construído por
alienígenas.
Me pareceu inconcebível que estava num local erigido por
mãos humanas. Nenhuma foto ou filmagem
jamais fará juz à pujança do que se revela aos
olhos dos visitantes.
Caí em prantos logo
de cara ( e o Lu também)
Pela primeira vez na vida vivenciei a força da arquitetura agindo no
espírito. Senti que tudo o que está lá foi cuidadosamente planejado para a elevação, para a celsitude . Tudo
remete à exortação. E não estou falando aqui daquele estilo clássico de
quadros, estátuas e demais itens, digamos “normais”, da arte sacra. Não, o que
temos na Sagrada é a força da criação, da inovação, da ousadia em serviço de um
tema tão caro ao humano (a religiosidade).
Passado o impacto (e as lágrimas), circulamos bastante e entramos
na fila do elevador para o horário da próxima visita às torres (por motivos de segurança,
algumas restrições são impostas, tipo não permitir muita gente ao mesmo tempo
lá em cima, crianças com menos de 8 anos, menores de 14 desacompanhados,
pessoas com dificuldade de caminhar, cadeiras de roda, etc).
Gaudi projetou a igreja com 18 torres (12 que simbolizam os
apóstolos, 4 os evangelistas e mais duas, representando Maria e Jesus). A visita é permitida a apenas a algumas, mas
é mais que suficiente para, como se diz, “sentir a vibe”.
É até ridículo ficar repetindo superlativos,
mas afirmo que a visão lá do alto é
grandiosa. Estamos no coração de
Barcelona e para todo o lado a cidade se
descortina com sua arte, sua vibração.
O acesso entre as torres se faz em corredores e escadas
minúsculas que são compartilhadas pelos visitantes. Portando paciência e
cordialidade são fundamentais.. As
pessoas saltam e soltam gritos de excitação a cada “eyesight around”, e nós tambem entramos na
onda, of course.
Porém eu não estava preparado para o que aconteceu em
seguida, na descida.
Para voltar à terra há duas opções : o amigável
“ascensor” ou as escadas. Como não sabíamos a altura certa de onde
pegar o elevador, fomos descendo as escadas.
Só que chega-se a um ponto onde apenas os degraus são a opção. E aí
voltar atrás é meio difícil, pois a largura da construção dificulta o tráfego.
Continuamos a descer na
esperança de que outra parada de elevador surgisse. Engano total. Logo nos
vimos presos no espiral da descida. Foi
quando então percebi qual é jogada da
“escadinha” e entrei em pânico.
Descrevendo :
2 - Do
lado direito da criatura, sem nenhum tipo de apoio, há apenas um buraco sem fundo (sim,
propositalmente Gaudi projetou esta idéia de visão “infinita”).
3 - Repetindo
: não há nenhum apoio para a mão direita
e olhar para baixo nesta direção é ouvir
as sereias chamando à queda.
4 - Para
o destro fica evidente que a partir dali
sua vida tem que ser garantida pela segurança da mão esquerda (lado onde tem um
corrimão). Largou a esquerda, encontrou Jesus.
Completamente
zonzo e fora da casinha, me atraquei no corrimão com as duas mãos e fui descendo de frente para
a parede sem a mínima coragem de olhar para qualquer outro lado.
Me
sentia vitorioso a cada degrau para baixo, mas onde era o final? E para “ajudar” a situação,encontrei pela
frente várias portas `a esquerda; locais
onde simplesmente o corrimão sumia e onde, mais uma vez , entregava minha alma
ao Senhor.
Perdi
completamente o foco e só pensava que “isto tem que acabar em algum local”. Quando
e onde não sei, mas não é possível que isto não tenha fim.
O
absurdo da situação é que pela razão é óbvio que eu “sabia” que a
escada tinha fim, mas minha mente já tava tão dominada pelo pânico que
perdi o raciocínio e só enxergava minha entrada no além.
Tempo,
espaço e local perderam o sentido e eu só vivenciava o terror puro e cru destruindo minhas vísceras.
A certa altura,
tomado pelo certeza do desencarne, não sei como, ouvi a voz do Luciano “É só mais
uma escada!”. O que? Como? Eu tô aqui, perdido no meio do nada, sozinho, tonto,
grogue, aterrorizado e já to chegando?
Num arroubo de
coragem olho para baixo à direita para confirmar o que ouvi e continuo “apenas a avistar o infinito”.
Então como “só falta uma escada”? Já tô ouvindo vozes? É o
Luciano quem me chama ou são os anjos? Será que são os agentes celestes
disfarçados de Luciano que querem me enganar e fazer com que eu corra degraus abaixo? É um truque urdido para
garantir meu local na Barca de Creonte?
Continuando a “louvar o nome do Senhor” – e assim tentar
garantir uma vaga no Nosso Lar - desci mais uns poucos degraus e, surpreendentemente,
me vi novamente na nave central com o
povo circulando despreocupadamente.
Não sei como não caí de joelhos transfigurado e em prantos agradecendo aos Deuses por
continuar aqui.
Me senti resgatado do
além. Tipo Fênix, Lázaro, ou uma criatura do Pet Cemetery.
Me apoiei no Lu e aos poucos fui me acalmando e retornado ao
perfil de turista abobado.
Tudo certo, saímos da Catedral e fomos para o subterrâneo onde pode-se
conhecer o atalier do Gaudi, seus projetos, sua vida e muito mais.
Depois da passadinha básica pela lojinha, saí da
Catedral com a forte sensação de ter
vivido uma “experiência”.
Não sei exatamente qual, mas o que mais se aproximaria seria tipo “uma
quase morte” – algo simples assim.
Com certeza quero voltar e revivê-la.
Pensar sobre o que vi e vivi no local, me levou a reflexão
entre o que seria um artista e um gênio.
Gaudi foi um
“artista” ou um gênio ? O que seria um gênio?
O que seria um artista genial? ...
Sem querer ir muito a fundo, registro que, para mim, o que diferencia um “artista” de um
gênio é que o último é resultado da mistura de talento genuíno –
alguém realmente tocado pelos deuses da arte – com uma profunda capacidade de aprendizado e reflexão, e que erige uma obra marcada pela
diferença, sob a qual novos caminhos,
inspirações e escolas se abrem.
Gaudi é um gênio.
O legal é que no dia seguinte, durante o passeio panorâmico que
realizamos, voltamos a Catedral para uma visita externa, quando o guia forneceu
diversos detalhes adicionais sobre sua
arquitetura e histórico.
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Barcelona – Primeiro dia (noite)
Voltamos ao hotel por volta das 19 e milagrosamente
conseguimos uma vaga para o carro na mesma rua da nossa hospedagem.
Nossa bagagem não tinha chegado e o Lu ligou para a Air
France.
Foi informado então de que as malas poderiam ser entregues
até as nove da manhã DO DIA SEGUINTE!
Como assim ? E nossas roupas e demais pertences?
Para remediar a situação, a companhia reembolsaria gastos de
até 100 euros por pessoa, em aquisições emergenciais.
Sem a certeza da
entrega para o mesmo dia, nos tocamos para o El Corte Ingles para garantir pelo
menos mais uma muda de roupa. No meu caso, comprei apenas uma camiseta de manga
comprida (64 euros), mas o Lu meio que enfiou o pé na jaca e acabou gastando
mais de 250 euros em tudo.
Guardamos as
notas para pedir o reembolso (que foi encaminhado ontem já aqui no Brasil), e
voltamos para o hotel para uma relaxada antes de cair na balada.
(Obs : hoje aconteceu uma coisa com uma das roupas compradas, que vou revelar – com fotos- no final da publicação deste
diário de viagem. É inacreditável)
Seguindo :
O curioso é que nossa bagagem acabou sendo nos entregue
naquela mesma noite, porém por volta das 22 e 30.
Descansados, revestidos e tranquilos fomos para as
redondezas da Calle Casanova, local onde concentra a efervescência da vida Gay
em Barcelona.
Acabamos conhecendo dois bares, o NightBerry e o Woofy.
O
primeiro rechado de bees um tanto carão
(mas não podemos afirmar que sempre seja assim). O segundo bem mais relax,
divertido, com os gays estilo ursos cantando junto com as divas espanholas, no estilo Ivete Sangalo, Claudia Leite ou
Joelma.
Bem legal.
Voltamos ao hotel e é claro que não tinha vaga para
estacionar. Tivemos que deixar o carro num local proibido e fomos dormir.
Fim do primeiro dia.
O tosco clipe abaixo mostra nossa visita à Sagrada Familia.
No final parece a fatídica Escada para o Infinito.
Sagrada Famila - Video com comentarios do guia da City Tour (Parte 1)
Sagrada Famila - Video com comentarios do guia da City Tour (Parte 2)
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