O Deus dos Insetos - Monique Revillion |
O novo livro da Monique Revillion ( O Deus dos Insetos / Editoria Dublinense - 2013) reafirma seu talento como contista.
Eu que não
sou muito fã do gênero, me rendo aos textos curtos desta escritora de São
Leopoldo desde a antologia anterior, “Teresa que esperava as uvas”.
Aqui, com ecos de Clarice Lispector, Monique mergulha nas almas dos personagens de modo,
digamos, “paralelo”.
Explicando : em suas
histórias, um evento externo, tipo uma enchente, a queda do Sputnik, um
fenômeno na superfície do sol, um resto de maçã podre, o vôo de uma libélula, o
trajeto de um avião no céu, etc, são motivos para os personagens projetarem sobre eles suas
dores e os reinterpretarem como uma desculpa, uma revelação, uma
identificação, uma transferência , uma fuga.
Sobre seus dramas vão acumulando camadas que resultam em
espanto, surpresa, desilusão e solidão.
Por fim veem-se encerrados em momentos de tristeza, desespero,
culpa e abandono. Presos em estados mentais angustiantes,
limítrofes. Em frágil equilíbrio. Solidão é o tom.
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Confesso que senti falta de um conto no nível de “Os
primeiros que chegaram” (que rendeu uma super polêmica com o Mec em 2010).
A
ausência de um texto no estilo curto e seco de Rubem Fonseca, me passou a
impressão de que Monique não quer correr novo risco de ser criticada caso exemplares de “O
Deus dos Insetos” venham a ser adquiridos para o ensino médio.
De qualquer forma, dentre os contos deste novo livro, destaco : “Coronal Mass
Ejection” (um primor de ironia), “No avesso” (que me lembrou passagem da minha
infância), “Números” (com seu assustador espiral ladeira abaixo) e “Funghi”
(surreal total)
.
“Jonatas” me
incomodou ao descrever a mãe (vendedora
de rapaduras) do protagonista : “Ele
também tinha mãe, atrasada na subida da rua íngreme, as muletas ajudando o
andar coxo e a mochila vergando-lhe os ombros, ainda cheia naquele sábado de
manhã em que tão pouco tinha vendido”.
Ora, só o fato de ser uma vendedora de rapadura, andando nas ruas com o filho pequeno num
sábado de manhã já pinta um quadro de dificuldade.
Monique Revillion |
Era necessário acrescentar
as tais “muletas ajudando o andar coxo”?
Achei desnecessário.
Por outro lado, até por estar passando por um momento de
luto na família, me debulhei em lágrimas com os petardos “Constelar” e “O Deus
dos insetos”.
Ambos tragicamente perfeitos.
Livraço.
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