Iniciou
ontem na Casa de Ideias, a oficina “Revisitando os Classicos”, com o professor Voltaire Schilling que propõe discutir “... alguns dos
maiores nomes da cultura ocidental, alinhando-os com a época a que pertenceram
e avaliando a notável contribuição de cada um deles para a formação da cultura
superior e de uma idéia mais elevada do homem”.
Ontem foi
a vez de serem analisadas “A Odisséia” (Homero) e “A Eneida” (Virgilio).
O
professor iniciou o encontro explicando as raízes da palavra “clássico”.
Inicialmente, para os gregos, a palavra “clássico” era utilizada para
identificar um modelo de embarcação construído de acordo com determinadas
regras. Se o produto final estivesse totalmente de acordo com tais regras
(tipo uma ISO da antiguidade), recebia a alcunha de “clássico”.
Depois, para os romanos, “clássico” relacionou-se com “classe”, no sentido
social.
Hoje o
“clássico”, em termos de arte, identifica uma obra que permanece no tempo
(caráter perene) e, ao mesmo tempo, “é superior” - ou seja, contem
algum elemento que a destaca e “fala” – talvez – ao inconsciente
(alma ?) humano (a).
Não se
sabe quais são as “regras” para se criar um clássico.
Uma obra de grande
sucesso num determinado período não necessariamente irá permanecer no
tempo .
Também o clássico não possui caráter universal. Uma obra seminal para determinada cultura, pode não representar absolutamente nada para outra. Conforme o professor, “A Odisséia “ não causou impacto algum nas traduções para os povos árabes e orientais.
Também o clássico não possui caráter universal. Uma obra seminal para determinada cultura, pode não representar absolutamente nada para outra. Conforme o professor, “A Odisséia “ não causou impacto algum nas traduções para os povos árabes e orientais.
Voltaire
seguiu falando sobre a “morte” dos clássicos no mundo contemporâneo.
Citando a revolução industrial, a revolução dos costumes ocorrida a
partir dos 60´s , a imposição das regras do direito anglo-saxão, a dominação
ocidental levada a cabo pela Inglaterra e EUA, a tomada das instituições
de ensino e meios culturais por profissionais “revolucionários”
(que desdenharam a arte “antiga” feita por “ homens brancos e mortos”
– Dead White Men ), a valorização do politicamente correto, etc, o professor
afirmou que todo estes movimentos resultaram numa modernidade onde o que vale é
a ciência, a tecnologia, a máquina.
Um espaço onde o humanismo não tem vez, não tem valor.
Um espaço onde o humanismo não tem vez, não tem valor.
No caso da literatura, Schilling criticou os "revolucionários" que passaram a
celebrar obras “de gênero”, tipo literatura “feminista”, “gay”,
“confessional”. Ou seja obras “de palanque” onde os
autores estão mais preocupados em projetar / registrar experiências e idéias pessoais do que
realmente construir “algo maior".
Ele insinuou que, para estes obtusos, uma obra do tipo “eu sou gay e me assumo” teria mais
valor do que um Hamlet. Que uma obra,
num “tom clásico”, que celebra o “homem superior”, já nasce arcaica, ultrapassada.
Porem diante de outra, que enaltece o “homem fraco”, o povo se ajoelha e cobre de elogios.
Porem diante de outra, que enaltece o “homem fraco”, o povo se ajoelha e cobre de elogios.
Para exemplificar o sucesso de obras sobre o "homem fraco", o mestre acabou largando
um comentário absolutamente preconceituoso ao dizer que o livro mais premiado ultimamente no Brasil (o fantástico “O filho eterno”, do Cristovão Tezza) versa sobre um pai relatando sua experiência com um “filho retardado” (palavras
dele), e que agora o Diogo Mainardi embarca nesta linha tambem largando
uma pérola (A queda) sobre seu “filho retardado”.
Choquei ! - ainda mais pelo fato de aparentemente algumas pessoas concordarem – vi alguns risinhos pela sala .
Choquei ! - ainda mais pelo fato de aparentemente algumas pessoas concordarem – vi alguns risinhos pela sala .
(Obs :
particularmente acho o Diogo Mainardi uó. Um boçal, um imbecil que considera o
Brasil o fiofó do mundo, mas devo admitir que “A queda” – que estou lendo – é uma
“obra superior”)
Mas vamos
lá.
Quando o sábio Voltaire deixou de fazer considerações pessoais
infelizes e passou a ministrar o conteúdo do primeiro encontro, o
ambiente se iluminou (mas eu tive um pequeno contratempo auxiliando uma colega
que teve uma espécie de AVC light, com direito a cadeira de rodas e tudo, o que
me fez perder parte da aula).
Sem
dúvida é inegável o domínio absoluto do historiador sobre o tema.
De
forma brihante ele dissecou A Odisséia e A Eneida (tanto em relação aos
conteúdos, quanto a suas inserções política e sociais nas épocas em
que surgiram e repercussões posteriores ), puxando paralelos para a
Divina Comédia, Os Lusíadas e outros.
Que
maravilha ouvir sobre personagens imaginários (Enéas, Ulisses, Telemaco, Dido,
Penelope, Circe e muitos outros) e reais (César, Virgilio, Otávio Augusto,
Ovídio, Mecenas, etc).
Fiquei mesmerizado pela fluência, pela clareza na
exposição da beleza das histórias e suas relações, influências e
conseqüências no “mundo real”, na construção da sociedade, na
geração de arquétipos, na definição do homem ocidental.
Fantástico.
Semana
que vem continua.
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