Existe um site que disponibiliza filmes mais alternativos e cults, chamado Making Off, no qual entro todos os dias para ver o que tá rolando.
Qual não foi minha surpresa hoje ao ver que um dos colaboradores (o Robson – um dos mais ativos) disponibilizou um filme quase desconhecido chamado Amargo Despertar, uma obra de 1973, dirigido pelo Vitorio de Sica e estrelado pela brasileira – então famosa na Europa – Florinda Bolkan.
Pois bem, dito isto não há nada de especial, mesmo porque, repetindo, tal filme não tem nada de especialmente especial (sic) para a maioria das pessoas. Mas o curioso é que para mim tem, e muito.
Senão vejamos : minha cultura cinematográfica (que pretensão..) começou em casa. Minha mãe e meu pai eram cinéfilos devotos.
Tiveram sua formação impregnada pela máquina hollywoodiana – com seriados, filmes de aventura, clássicos românticos, dramas épicos e tudo o mais –, e transferiram este mundo a seus filhos.
Lembro das matinês (alguém moderno sabe o que é isto ?), nas tardes de domingo onde éramos um bando de crianças conduzidas para penetrar na escuridão das salas e vivenciar bangue-bangues, filmes de monstro, capa e espada, Tarzan, romances, musicais, filmes “de Cristo” etc, etc...
Era a nossa maravilha e diversão que replicávamos em brincadeiras pelos quintais. E assim fomos crescendo, sempre com este mundo imaginário povoando nossas emoções.
Sim, mas e o que tem a ver o filme citado com isto ? O lance é que este filme representa a primeira vez em que a coisa se inverteu, ou seja, foi a primeira vez que levei minha mãe (já viúva) ao cinema. Para mim foi um evento – afinal eu já era um homenzinho, com um pequeno emprego de entregador de pão e leite (que meigo...) e com uma graninha no bolso. Então quis proporcionar a ela este programa. E especialmente este filme pois o mesmo era dirigido pelo Vitorio de Sica, diretor de um outro que ela sempre falava, o Duas Mulheres. Então quando vi que teriamos uma película do mesmo diretor passando na cidade resolvi convidá-la.
O tragicômico da situação é que o Amargo Despertar só passaria numa quinta-feira em programa duplo (vejam só – ninguem mais sabe o que é isto), sendo o segundo. O primeiro era um daqueles famigerados filmes de kung-fu só de lutas e carões. Tudo bem, fizemos a linha gafanhoto (para quem sabe) e aguentamos o quebra-quebra interminável. Mas valeu a pena. O filme do de Sica é realmente muito bom - sensível e profundo sem ser melodramático.
Então hoje quando vi o filme no MakingOff me lembrei da minha mãe (já falecida) e do seu mundo fantasias.
Foi um retorno ao passado que muito me emocionou. A lembrança deste legado de belas ilusões é um bem incomensurável que eleva a alma e nos remete ao sonho.
Hoje eu e minhas irmãs somos fanáticos por cinema e devemos este estigma a nossa criação. E esta ferida é uma marca formidável que nos diverte e faz crescer.
Thansk mom and dad.
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