Antes de iniciar a sessão de Brokeback Mountain eu e uma amiga estávamos discutindo sobre as dificuldades de vida das pessoas que não assumem suas emoções, paixões ou desejos.
Refletíamos que estas pessoas, além de causarem mal a sí próprias, acabam também por afetar seu meio social (casamento, filhos, amigos, etc); sendo que, muitas vezes, este meio não percebe ou não entende o que está acontecendo. Ou então percebe, mas faz questão ou prefere manter-se calado ou neutro a fim de não suscitar embates ou dores.
Falávamos de duas situações específicas : gays mal assumidos que acabam, por força do preconceito, buscando um relacionamento “normal” e pessoas casadas -ou comprometidas- que acabam tendo histórias ou até mesmo grandes paixões paralelas – muitas vezes por toda a vida-.
Mas eis que o filme começa. Não vou falar sobre o enredo pois acredito que todo mundo já tá careca de saber que a princípio –e vendo de uma forma bem simplista- Brokeback conta uma história de amor entre dois cowboys que nasce quando eles passam alguns meses retirados em uma bela montanha cuidando de ovelhas..
Mas a coisa não é bem assim. Sim, eles se apaixonam; sim, eles transam; sim eles se separam; sim, eles se reencontram, e assim por diante (até parece um novelão). Mas a obra começa a tomar uma dimensão épica emocional a partir do momento em que estes cowboys voltam para a sociedade “normal” e começam a constituir famílias, ter filhos, desenvolver relações profissionais, sociais,etc.
Então, gradativamente (num ritmo quase oriental), o filme passa a acompanhar a saga de cada um e cresce muito. A penosa necessidade de ocultar um amor proibido e, ao mesmo tempo, desenvolver uma vida social regrada é mostrada com uma riqueza de nuances e situações que perturbam.
Econômico nas falas, e sabiamente fugindo do estereótipo do bem e mal, Brokeback Mountain contempla as ações dos personagens, mostra suas ações e motivações sem julgar. É impressionante o universo emocional que se vê na tela. Esposas, amantes, filhos, pais -e, obviamente, os protagonistas- são afetados, são feridos pelo romance proibido direta ou indiretamente.
E porque tudo isto? Porque todo este sofrimento? Neste ponto o filme é revelador: quando não assumimos nossos desejos, nossas vontades e necessidades acabamos, em maior ou menor grau, nos frustrando, nos machucando e arrastando nesta negatividade pessoas ao nosso redor.
Sim, mas e daí? Onde está a culpa? De quem é a culpa por isto acontecer?
A princípio pode-se pensar que aquele que não se apropria do seu querer e parte para a ação é o errado. Aquele que não busca sua felicidade de maneira concreta acaba se desviando do caminho correto. Mas isto pode ser assim tão simples? A resposta pode ser tão imediata?
Mesmo que se possa pensar ao contrário, vivemos numa sociedade que não nos assegura o direito de chamarmos para nós mesmos as rédeas da nossa satisfação de forma positiva. O peso do medo de ser alvo de preconceito –sexual ou moral- é enorme. O julgamento, a perseguição a hostilidade subjuga e traz temor. A força das tradições, das regras sociais é feroz.
E como fica então o embate entre o desejo e o preconceito? Como fica o querer individual e a opinião alheia? As respostas podem ser muitas: encontros fortuitos, amantes, traições, romances e paixões paralelas quando se busca algum tipo de realização. Ou então, frustração, sofrimento e doença, quando a luta é para abafar e ocultar os sentimento -às vezes até para nós mesmos-.
E mostra que quando este caminho não foi escolhido por nós, acaba por nos enredar numa teia de frustrações, mentiras e sofrimento que nos traga e fere juntamente com quem está ao nosso redor.
Filmaço!!
16 comments:
andas fixado nos filmes!
Não tenho ido ao cinema por aqui pois o tempo é pouco e as ocupações várias. Hoje aproveitei o sol e o dia lindo a cheirar a primavera (daqui). Um abraço.
Não vi o filme, mas suas palavras estão realmente corretíssimas. A sociedade é medíocre e nos empurra a sermos medíocres também. A diferença (não apenas sexual, mas em todas as áreas), que deveria ser encorajada, é punida com escárnio e a marginalização.
Sinto-me pessimista com relação ao futuro deste
mundo.
Julio César Mulatinho
http://esfarrapado.blogspot.com
Iuri,
Suas considerações são nteressantes, muito interessantes. Ainda que a história da "culpa", foro íntimo, fique destoando do conjunto, mas tudo bem... são idiossincrasias!
Ainda não vi o filme, mas tenho colhido os mais diversos omentários.
Pode ser que no correr desta semana eu me anime a enfrentar, baldes coca-cola, convivendo com carrinhos de mão de pipoca e celulares tocando all the time.
Mas fazer o quê???
O tempo do "cinema" acabou... agora é salinha em shopping, cinemark,
multiplex, etc...
Uma coisa...
Obrigado por suas reflexões!
Abraço
José Luiz
Dentro do que vc falou, eu fiquei "passado" com a cena em que a esposa do Enis vê eles se "cumprimentando" depois de não 4 anos sem se ver...meu Deus, imagine vc ficar 4 anos casado com alguém e em segundos ter que rever tudo que sabe da pessoa...
E esta mulher ainda ficou com o cara por vários anos...fiquei morrendo de pena dela...
rokeback é realmente um bom filme. Cinematograficamente falando, não há inovações, somente uma boa história bem contada. Ora, mas é isso mesmo que faz um bom filme. Também escrevi sobre ele no meu blog. www.altazorblog.blogspot.com
Belo página a sua. Voltarei mais vezes. Um abraço.
Olá,
Obrigado pela visita ao meu blog. Gostei muito do seu post sobre o filme "Brokeback". Não vejo a hora de assistir.
Se você me permitir gostaria de remeter os leitores do meu blog ao seu. Eu colocaria um link em um dos posts ? Posso?
Um abração,
Felicidades.
Hal
Oi gente, bom dia!!!
è, eu mesmo não gostei do filme, exatamemte por algumas caracteristicas mencionadas; filme muito parado, poucas falas...
O q tirei do filme, ja cansado, foi em relação as escolhas, nisso concordo.
Eles passaram 20 anos se amando e só se viram pouquissimas vezes, ate q um belo dia se morre, e nao se vive mais.
Talvez eu realmente nao esteja preparado pra esses Grandes Filmes, do tipo Dogville, q tb nao gostei, pelas mesmas coisas, filme longo e parado demais, mas claro q tb tirei as minhas conclusoes de tal.
Mesmo nao gostando, respeito e aplaudo.
Agora a vida é um complexo mesmo, cada pessoa interpreta vc de um jeito e ao mesmo tempo vc é unico e quer ser o q vc gostaria de ser realmente.
MAs vc nao é um individuo só, vc vivie em sociedade, uma sociedade q precisa ser melhor, menos egoista, menos vaidosa. Civilizações q se interessam apenas por desenvolvimento tecnologico, enquanto o ser humnso é cada vez mais esquecido.
Temos a Floresta Amazonica maravilhosa, "nossa", e não fazemsos nada para preserva-la, e temos a Maior Potencia q nao assina o protocolo de Kioto e gera 400 bilhoes ou mihoes em guerra.
E no meio disso tudo vc e eu. Nao da pra resolver os problemas do mundo, mas dá pra consertar algumas coisas.
Dá pra nao jogar lixo no chao (deixem no onibus se for o caso ), dá pra dizer q vc ama as pessoas q vc realmente ama, mesmo q vc nao consiga falar, expresse de algum jeito, um presente, um gesto, um sorriso, uma ligaçao. E se for necessario briga, fala a verdade, abre os olhos, isso nunca matou ninguem.
Dá pra gente ser um pouco melhor do q somos, e isso já ajuda pra caramba.
Engraçado q hj lembrei de uma musica assim " e meus amigos parecem ter medo de quem fala o q sentiu, de quem pensa diferente, nos querem todos iguais, assim é bem mais facil nos controlar, e mentir, mentir, mentir, e matar matar, matar, o q eu tenho de melhor, minha esperança. Q se faça o sacrificio e cresçam logo as criancas.".
Pois é, este é o nosso mundo, nossas vidas, e se hj nao fizermos alguma coisa para sermos mais amorosos, podem ficar despreocupados, nao dura muito nao.
Força Sempre!!!!
Rayf
"Se eu soubesse o lugar certo onde colocar o desejo..." (caetano???)
Eu não vi o filme mas não resisto a participar da discussão. Na maioria das vezes a gente acha que está fazendo o melhor, está atrás dos nossos desejos. Só depois é que mudamos de opinião. Então nem sempre a questão é de simplesmente ir atrás de nossos desejos. Se nós nem os conhecemos e frequentemente nos enganamos.
Tem outra frase:
O desejo satisfeito é um erro conhecido e o novo, um erro ainda desconhecido.
(Schopenhauer, em Preleções sobre a metafísica do belo)
Roberto
Saí do cinema com a mesma impressão que você. O filme é magnifíco, mas, definitivamente, não foi feito para o grande público.
E não estou falando isso pq acho que as pessoas são preconceituosas. Na verdade, são. E talvez por isso, os cinemas não estivessem totalmente lotados, nem mesmo na estréia no Brasil.
Mas nem todos podem compreender a força desse verdadeiro turbilhão de emoções que explodem e também se retraem em Brokeback Mountain.
O filme incomoda. Pelo menos a mim, incomodou muito.
Passei a noite toda em reflexões e confesso, a história ainda não me saiu da cabeça. Poucos filmes fazem isso. Poucos filmes como Brokeback Mountain, valem tanto a pena serem vistos.
Realmente o filme e muito bom, tive a oportunidade de ver um pouco da minha vida naquele filme Graça a Deus eu acordei a tempo e hoje quero assumir a minha grande paixao. o Luis
Carlos Jose Araujo
deixei um "filme " para ti no fasesdalua. Bjs
Cara,
Pasmo eu fiquei foi com certos comentários deste post. Como as pessoas ainda tem preconceitos.
Putz!
Tem um que alardeia de forma profético-escatológica que não é bem assim, que a gente não deve dar vazão a nossos desejos. E ainda cita de forma pedante um comentário recalcado de um certamente infeliz Schopenhauer, dizendo: O desejo satisfeito é um erro conhecido e o novo, um erro ainda desconhecido.(Oh my God!!!)
Oh meu Povo! Para demonstrar Preconceito, não precisa de tanto luxo e citações metafísicas sobre o "belo". Nem lançar dúvidas sobre o sucesso ou malogro daqueles que seguem seus sonhos em um artigo que trata sobre assumir sua essência de sexualidade.Ficou bem claro que o leitor não está lançando seus infortúnios e frustações de forma genérica, mas claramente querendo atingir os homossexuais, levantando dúvidas se essa seria a melhor "escolha". Certamente a sugestão melhor de nosso pobre leitor seria administrar a frustração e infelicidade. Falemos bom português. Assumam que são preconceituosos, e não fiquem querendo de forma "cult" manifestar seu atraso em entender que o ser humano é diferente um do outro, diferente inclusive para buscar o caminho de sua felicidade da forma que sente em seu interior. Ainda tem um outro que ficou mais preocupado com um momento de desencanto da mulher do Ennis, e foi incapaz de captar toda a dor e limitações pelas quais passaram os protagonistas, que é a história principal enfocada no filme. Brokeback tem que ser massificado ao máximo para começar a abrir a cabeça de muita gente. Sou Otimista e acredito em coisas impossíveis!Amém!
Oi!!! Estou contente por descobrir este blog. Vi o filme e tb fiquei com a mesma sensação que vc descreve. Concordo com tudo, tudo mesmo o que vc disse. Gostaria de colocar um link do que vc escreve sobre o filme no meu blog, onde eu tb referenciei o filme. Vc se importaria?
O filme ainda não saiu da minha cabeça. É realmente uma obra prima e como vc disse, não é para o grande público. Mas isso não interessa nada.
Só a título de curiosidade, aqui em Portugal passou com o título: "O segredo de Brokeback Mountain".
Saudações
Estava pesquisando o autor Lawrence Lipton e referências cruzadas me trouxeram até aqui. Lindo este lugar onde se pode pensar, falar e sentir, sem tentar esconder verdades atrás da cortina.
Estou apaixonada.
Voltarei.
Antes quero assistir ao filme, mas logo em seguida voltarei a este e outros artigos que vi com o cantinho dos olhos.
Ganhaste uma leitora assídua.
Concordo com seu comentário, mas vejo muito além nesse filme, nao compreendi somente a impossibilidade do amor entre iguais, mas a impossibilidade do amor pelos preconceitos, pela prisão a valores, casamento, bens e filhos, e isso vemos ao nosso lado, mesmo entre heteros, onde se deixa de viver um grande amor devido a covardia.
E muito difícil ver a pessoa que vc ama fazer o que o Ennis fazia com o Jack, pelas convicções de que nao daria certo, pelo medo, e com certeza já fizemos isso, já fizeram isso comigo, aquela cena em que o Jack vai visitar o Ennis e ele está com as filhas e entao ele vai embora, já aconteceu comigo, chorei como ele, doí demais, a gente sofre por um sim ou um nao de quem amamos, infinitamente!!!!!
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