O que vale mais, o autor ou sua obra? Pode-se dizer que a obra exprime o autor ou um está desassociado do outro? Onde começa um e termina outro? O quanto podemos ou devemos separar um do outro? Estive fazendo estas indagações ao ler o extraordinário livro "Viagem ao fim da noite" de Louis-Ferdinand Celine, um dos maiores escritores do século passado e também, de certo modo, um monstro genocida.
Celine alcançou os píncaros da gloria em 1932 ao publicar "Viagem ao fim da noite" , uma obra-prima que quebrou, inverteu a lingua francesa. Foi um um escândalo. Diante da novidade os críticos não conseguiram enquadrar o livro em qualquer estilo até então conhecido. Celine ocasionou uma revolução literária e obteve fama e reconhecimento instantâneos.
Porém, com a ascenção do nazismo na Europa e a consequente invasão da França, Celine tornou-se um vil e ativo colaboracionista. Durante a ocupação francesa, escreveu e publicou três furiosos manifestos anti-semitas que pregavam o extermínio dos judeus de forma irrestrita. Quem os leu, diz que os conteúdos eram mais terríveis que os discursos do próprio Hitler
(estão até hoje proibidos de circular). Com o final da guerra Celine se tornou um pária e acabou seus dias maldizendo a humanidade.
Mas voltando a questão inicial, podemos ou devemos separar o autor da obra? O caso de Celine é exemplar : pode-se ler sua magnifica obra sem pensar que existe um monstro por trás?
Não tenho esta resposta mas o exercício de pensá-la é interessante.
6 comments:
Teoricamente, a obra deveria valer mais que o autor, mas o grande problema é que quando conhecemos a historia do autor e não aceitamos, ou não identificamos a obra passa a ser secundaria. Isso vemos quotidianamente acontecendo. Quantas vezes não gostamos de determinados membros de grupo e ai sem ler suas obras, já o deletamos? O sujeito infelizmente vem antes do objeto.
abraços,
Ataíde
Depende.
Já conversei com escritores que confessaram colocar muito de si nas histórias.
Outros conseguem surpreender a cada livro, e até assumir faces diferentes (fernando pessoa?)
Acho possível desassociar, mas não necessariamente comum.
Estou mais com o Rodrigo -- acho que dificilmente o autor seria "inocente" em relação ao que escreve. Explico: se seu alter-ego (seus personagens) são o que são e ele, o autor, parece um sujeito pacato,*só* parece. Não assume seu lado escuro porque não quer, ou porque não pode. Mas que há, há.
Jorge Amado era um sátiro, mas quem o visse não diria ;-); Mario Simmel, que adorei durante minha adolescência, não poderia ser apolítico, jamais, dadas as idéias que permeavam suas tramas tão humanas.
E por aí vai.
Pretendente a autora, me defendo (ou me decapito desde já), dizendo que só não sou mais libertina por falta de espaço -- mas mentalmente. Na "vida real", me controlo muito.
Enfim, autor e obra não podem ser separados (em minha humilde opinião).
BEIJO, cérebro lindo!
Meu Rei !
Embora ambas (obra e autor)estejam de certa forma ligadas, no meu ponto de vista, a obra é mais importante. Lembra quando decidimos fazer o SARAU "homenagem a....", logo fomos dizendo....não interessa o lado pessoal do artista e sim a obra (música dele), pois se fososemos levar em consideração isto....poucos se salvaríam....
Bjo
T amando sempre
ludwig
ha eu não sei... eu jah considero muito o lado pessoal no artista. E acredito que muitos refletem parte da vida nas suas obras. E se eu não gosto da pessoa, provavelmente eu não vou gostar do que ela faz, canta ou escreve. Parece meio idiota, mas só sei que foi assim.
bjão!
Há quem consiga "apreciar a obra" de um autor mesmo não o apreciando como pessoa, e isso é muito bom, ou melhor, vejo isso como muito bom, demonstra maturidade saber separar que não gostamos das atitudes pessoais do fulano, mas gostamos da sua produção literária, musical, seja lá o quer for.
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